Manejo de Pastagens para Ovinos,
com uso de cerca eletrificada móvel.

 por Luiz Eduardo dos Santos;
Eduardo Antonio da Cunha;
Mauro Sartori Bueno;
Cecília José Veríssimo

      O manejo adequado das pastagens a serem utilizadas por ovinos deve, obrigatoriamente, levar em conta dois aspectos: a disponibilidade aos animais de forragem em níveis elevados de qualidade e quantidade e ainda a manutenção de um reduzido nível de contaminação por ovos e larvas de helmintos. Estes dois pontos irão influir na carga animal a ser utilizada, ou seja, no número de matrizes que as pastagens poderão manter, bem como no desempenho dos animais.

        Tendo-se por objetivo a exploração intensiva das áreas disponíveis, determina-se o número total de matrizes da criação, ou seja, a carga animal máxima, tomando-se por base a área total de pastagem efetivamente disponível e o potencial de produção anual de MS da forrageira predominante. Com base nesses valores, estima-se a disponibilidade anual total de forragem e, considerando-se um consumo médio diário, por animal, de 3% do seu peso vivo, pode-se estimar a lotação máxima para a área de pasto disponível.

         Na exploração intensiva das pastagens, com ovinos, estas devem ser manejadas, obrigatoriamente, em esquema de lotação rotacionada, visando possibilitar um manejo mais adequado, garantindo, principalmente, um período mínimo de repouso para a forragem, que possibilite a sua plena recuperação antes de um novo ciclo de pastejo. A adoção desse sistema possibilita o rebaixamento acentuado do relvado, com remoção da quase totalidade da área foliar. Com isso obtém-se a renovação total da massa de forragem a ser pastejada, garantindo a disponibilização, aos animais, de material novo e de elevado valor nutritivo, bem como se estimula o surgimento de novos perfilhos nas touceiras, aumentando a densidade do relvado. O rebaixamento acentuado da forragem, a altura aproximada de 15 cm, possibilita ainda uma insolação plena até a base das touceiras, com alta incidência da radiação solar, notadamente a ultra-violeta, alterando drasticamente as condições do ambiente, tornando-o menos favorável às larvas de helmintos parasitas, colaborando na redução do nível de infestação da forragem por larvas de helmintos.

        Deve-se evitar períodos de ocupação superiores a 5 - 7 dias, tendo por objetivo minimizar a exposição dos animais às larvas infestantes (L 3) eclodidas naquele mesmo ciclo de pastejo (auto infestação). Dessa maneira, quando a população de larvas infestantes tornar-se significativa, os ovinos já terão saído daquela área de pastagem, cuja forragem estará bastante rebaixada, ficando as larvas sem hospedeiros e expostas às intempéries climáticas (radiação solar e ventos). O período de repouso irá variar em função da época do ano, das condições climáticas, da forrageira e das condições de fertilidade do solo e visa possibilitar a recuperação da forragem após ter sofrido o desfolhamento severo. Em média considera-se um período de 30 a 45 dias (verão / inverno), como suficiente para se ter uma boa recuperação da forrageira.

        Vale observar que, para o capim Aruana, o rebaixamento do relvado tem ainda um reflexo importante, que é estimular a emissão de uma maior número de perfilhos, característica típica desse cultivar, aumentando a densidade do relvado, com talos mais finos e alta relação folha/haste. Como resultado dessa prática, desde que seja mantido um bom nível de fertilidade e seja respeitado o período de recuperação e rebrota da forragem, tem-se uma maior produção de forragem, de melhor valor nutritivo.


Perfil do relvado apos pastejo em faixas com uso de cerca eletrificada

        Observa-se, na imagem ao lado, a elevada densidade de perfilhos que, aliada a alta relação folhas/hastes, garantem uma elevada disponibilidade de forragem, de elevado valor nutritivo.

        Pode-se verificar, ainda, a intensa exposição do remanescente de forragem à radiação solar e à maior ventilação, aspectos que auxiliam na redução do nível de infestação da pastagem por larvas de helmintos.

        Resultados bastante positivos podem ser obtidos dividindo-se a área total de pastagem em cinco ou seis piquetes. No inverno serão utilizados em rotação direta. No período de verão cada um desses piquetes será subdividido em três piquetes menores, com uso de cerca eletrificada, liberando-se 1/3 da área de cada vez, para pastejo em faixas. Nos períodos de condições climáticas intermediárias, primavera e outono, pode-se reduzir para duas o número de subdivisões de cada piquete.

        Nesse esquema, nova faixa é acrescentada àquelas já utilizadas, as quais, apesar de continuarem acessíveis aos animais, não são mais pastejadas, seja por não possuírem forragem, seja pelo acúmulo de urina e fezes. Essas áreas, por estarem com a forragem rebaixada, são preferidas pelos animais para descanso e ruminação, diminuindo, assim, as perdas por acamamento e pisoteio na área em pastejo efetivo. Esse esquema é visualizado na figura 1:


Figura 1. Esquema de pastejo com lotação rotacionada,
em faixas, com uso de cerca eletrificada.

VANTAGENS NA UTILIZAÇÃO

         O uso da cerca eletrificada no manejo de pastagens utilizadas por ovinos é bastante prático e diminui a necessidade de construção de maiores extensões de cerca convencional, apresentando as seguintes vantagens:

Racionaliza o uso das pastagens, propiciando melhor aproveitamento da forragem produzida;

Reduz os custos de instalação e manutenção das cercas;

Após a sua utilização podem ser removidas e guardadas, garantindo longo período de utilização;

Possibilita alterações na distribuição das áreas de pastagens, permitindo adequações e melhor ajuste de lotações.

 ALTERNATIVAS DE CERCAS ELETRIFICADAS

        Existem diferentes tipos de cercas eletrificadas. A mais comum é com a utilização de arame de aço liso, sustentado por palanques de madeira ou barras de ferro com isoladores plásticos. Esse tipo de cerca normalmente é fixa sendo adequada para as condições de planteis já estabilizados e áreas de pastagens já definidas.

        As mais práticas, por permitiram a montagem e desmontagem rápida e ainda possibilitar a adequação da área e do número de divisões, são as cercas móveis, constituídas de fio de nylon trançado com fios metálicos, formando um cordão leve e flexível, que é sustentado por varas plásticas ou barras de ferro ¼, com isoladores plásticos. Esses cordões são encontrados em diferentes espessuras e cores.


hastes de ferro e de plástico


Fita, cordão simples e cordão reforçado

         Também são encontradas fitas de nylon, igualmente com fios metálicos entremeados, com 1 a 2 cm de largura. Essas fitas são mais visíveis que os cordões e, por apresentarem menor coeficiente de distensão, apresentam menos problemas de rompimento dos fios metálicos, fato comum nos cordões de nylon mais finos que, por isso, apresentam menor vida útil

        Existem, ainda, as telas de malha de nylon eletrificadas, que apresentam alta eficiência na contenção dos animais, todavia apresentam um custo muito elevado, sendo destinadas a usos específicos.


Área de pastagem dividida por cerca eletrificada móvel, com fita de nylon.


Pastagem, manejada com cerca eletrificada, em uso com ovinos Suffolk


Pastagem, manejada com cerca eletrificada, em uso com ovinos Ile de France.


Área de pastagem dividida por cerca eletrificada móvel, tipo tela de nylon.

        É importante frisar que, o desempenho dos ovinos mantidos em pastagens dependerá, tanto da quantidade de forragem disponível, quanto da qualidade da forragem disponível, valendo lembrar que ovelhas em final de gestação e em lactação necessitam de um aporte considerável de nutrientes, que só pode ser obtido em pastagens de forrageiras produtivas e de elevado valor nutritivo, ou seja, de alta palatabilidade, alta digestibilidade e elevada concentração em nutrientes, por outro lado, também é preciso ter em mente que as forrageiras que atendem a esses requisitos apresentam, obrigatoriamente, elevadas exigências de nutrientes no solo, de clima favorável e de manejo adequado.

        Dessa maneira, pode-se concluir que a exploração intensiva de ovinos, visando a produção econômica de cordeiros para abate precoce, depende, entre outras coisas, de boas pastagens, formadas por forrageiras de alta produtividade, adequadamente fertilizadas e corretamente manejadas.


Luiz Eduardo dos Santos; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo -SAA, Graduação em Engenharia Agronômica. Universidade de São Paulo, USP, Brasil; Mestrado em Nutrição Animal - Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Contato:
lesantos@iz.sp.gov.br

Eduardo Antonio da Cunha; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo -SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.

Mauro Sartori Bueno, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo -SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil; Mestrado em Zootecnia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil. ; Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura)-[Cena]. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Pós-Doutorado, Escola Superior Agrária de Bragança Instituto Politécnico de Bragança, ESAB-IPB, Portugal.

Cecília José Veríssimo, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo -SAA, Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ, Brasil.Especialização em Curso de Especialização em Zootecnia (Ruminantes).
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ, Brasil. Mestrado em Zootecnia.
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.

Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SANTOS, L. E. dos; CUNHA, E. A.; BUENO, M. S.; VERÍSSIMO, C. J.. Manejo de pastagens para ovinos, com o uso de cerca eletrificada móvel. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/ovinos/cercaeletrica/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 15/05/2006