ANÁLISE DE SOLO: Diferenças aceitáveis ou erros de laboratórios?por Heitor CantarellaFreqüentemente os usuários de análise de solo se deparam com resultados diferentes para uma mesma amostra e se perguntam se a variação é normal ou se deve a erro do laboratório.Para responder a essa questão é preciso conhecer um pouco sobre as razões da variabilidade dos resultados de análise de solo. A mais importante é a decorrente de erros na amostragem a campo. É preciso coletar amostras compostas em áreas homogêneas (mesmo tipo de solo, cor, posição no relevo, manejo e adubação anterior etc.) e não misturar amostras de glebas diferentes. Cuidado especial é também necessário para com o número de subamostras por área (para formar a amostra composta): não necessárias pelo menos 15 subamostras por área para se ter alguma garantia de representatividade.
Outro ponto é escolher um laboratório qualificado.
Mesmo assim, os resultados numéricos de análise de uma mesma amostra geralmente não se repetem. O solo é um material heterogêneo. Os fertilizantes e corretivos são distribuídos de forma desuniforme, por maior que seja o cuidado do agricultor. Mesmo uma amostra de solo homogeneizada em um balde tem variações. Uma minúscula partícula de calcário ou de fertilizante que esteja presente na subamostra usada na análise pode provocar alteração no resultado. Conhecer tal variabilidade ajuda a melhor interpretar os resultados.
Veja o exemplo de uma amostra enviada por um agricultor a três laboratórios (exemplo real) e que produziu resultados diferentes. O agricultor comparou os dados, fez alguns cálculos sobre a variação e ficou alarmado.
No caso um dos erros é expressar as diferenças de resultados entre laboratórios em termos porcentuais, o que, geralmente, leva a interpretações erradas. Imagine dois resultados de determinação de P de 2 e 4 mg/dm3. Expressos em porcentagem, a diferença é de 100%, porém, do ponto de vista prático, os resultados são semelhantes, suas interpretações as mesmas, e as doses de adubo recomendadas, iguais. O correto é examinar os resultados, e a sua variabilidade, à luz das faixas de interpretação definidas pela pesquisa e normalmente apresentadas no verso dos formulários de análise. Por exemplo, o teor muito baixo (mb) de P resina varia de 0 a 6 mg/dm3; baixo (b) de 7 a 15 mg/dm3 etc.
Os gráficos abaixo ajudam a entender esse ponto. As barras listradas se referem à mesma amostra, analisada por três laboratórios. Foram incluídos os resultados de análise de cinco amostras de outros locais (barras escuras), com valores bem diferentes, para exemplificar a gama de valores que ocorrem normalmente em solos. As linhas horizontais delimitam as faixas de interpretação da análise do solo. A Figura 1 indica que a variação dos resultados de P da amostra teste (barras listradas) são relativamente pequenas e perfeitamente aceitáveis considerando as faixas de interpretação de análise e os valores encontrados em solos diversos. Valores de 5, 7 ou 8 mg/dm3, embora com diferenças numéricas de até 28% caracterizam o solo como pobre em P frente às várias situações possíveis, e indicam a direção do manejo da adubação de médio prazo com esse elemento.
Os demais gráficos apresentam os elementos que mostraram maior variabilidade para ilustrar esse ponto: K (31%), matéria orgânica (39%), Mg (39%), S (75%), Cu (15%), Mn (33%) e Zn (33%). Levando em conta o panorama mais amplo, na maioria dos casos, as variações apresentadas são aceitáveis. Apesar das diferenças numéricas, os resultados da análise do solo geralmente se localizam na mesma faixa de interpretação e são importantes para a tomada de decisões. Isso não quer dizer que todos os laboratórios estejam trabalhando bem. Aliás, a razão da existência do Programa Interlaboratorial é melhorar o desempenho dos laboratórios e o IAC tem feito grande esforço nesse sentido. A qualidade dos laboratórios, na média, vem evoluindo e os laboratórios que têm desempenho satisfatório no Programa Interlaboratorial (utilizam selos) têm melhores condições de oferecer resultados de qualidade aos seus clientes do que os demais laboratórios. Algumas sugestões para os agricultores com relação à análise de solo
Figura 1. Comparação de resultados de análise de solo de uma mesma amostra feita por três laboratórios (barras listradas). As barras escuras mostram resultados de cinco amostras diferentes, para ilustrar a gama de valores comumente encontrada em solos. As linhas horizontais indicam os limites de classe de interpretação da análise de solo: (mb) muito baixo; (b) baixo; (m) médio; (a) alto e (ma) muito alto.
Figura 2. Comparação de resultados de análise de solo de uma mesma amostra feita por três laboratórios (barras listradas). As barras escuras mostram resultados de cinco amostras diferentes, para ilustrar a gama de valores comumente encontrada em solos. As linhas horizontais indicam os limites de classe de interpretação da análise de solo: (b) baixo; (m) médio; (a) alto Tabelas de Interpretação de análise de soloA meta do agricultor deve ser manter o solo nas faixas de teores médios a alto para garantir boas produtividades.
Teores médios
a altos: otimização do rendimento das culturas e do retorno
econômico
Teores muito altos: a produtividade geralmente não melhora
em relação aos solos com teores médios a altos. O gasto
extra em fertilizantes não traz retorno econômico
Heitor Cantarella é Pesquisador Científico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Agroambientais do Instituto Agronômico - IAC e Coordena o Ensaio de Proficiência IAC para Laboratórios de Análise de Solo para Fins Agrícolas - Qualidade em Análise de Solo Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): CANTARELLA, H. Análise de solo: Diferenças aceitáveis ou erros de laboratórios?. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/LabSolos/EnsaioLab.htm>. Acesso em |