Tabebuia heptaphylla (Ipê-Roxo)

Texto produzido pela Acadêmica Giovana Beatriz Theodoro Marto
Supervisão e orientação do Prof. Luiz Ernesto George Barrichelo e do Eng. Paulo Henrique Müller
Atualizado em 20/12/2005

Tabebuia heptaphylla, popularmente conhecida como ipê-roxo, é uma das espécies que vêm sendo estudadas por ser de alto valor econômico, considerando-se as finalidades de sua madeira e extrativos foliares, e pela diminuição preocupante do número de indivíduos que ainda são encontrados em áreas de ocorrência natural (ETTORI, 1996).

Taxonomia

Família: Bignoniaceae
Espécie: Tabebuia heptaphylla (Vellozo) Toledo
Sinonímia botânica: Tabebuia avellanedae var paulensis Toledo
Tabebuia ipê Martius ex. K. Schumann Standley
Tecoma heptaphylla (Vellozo) Toledo
Tecoma ipe Martius ex K. Schumann
Outros nomes (vulgares): cabroé, graraíba, ipê (RJ,SC), ipê-de-flor-roxa, ipê-piranga, ipê-preto (RJ,RS), ipê-rosa (MG), ipê-roxo-anão (SP), ipê-uva, pau-d’arco (BA), pau-d’arco-rosa (BA), pau-d’arco-roxo (BA,MG) peúva (MS) e piuva (MS,MT). Na Argentina, lapacho e no Paraguai, lapacho negro.

Aspectos Ecológicos


Foto: Ibama (www.ibama.gov.br)

O ipê-roxo é uma espécie sedundária tardia, passando a clímax (LONGHI, 1995), tolerando a sombra no estágio juvenil. Devido ao seu porte, faz parte do extrato superior da floresta, possuindo alta longevidade.

É comum na vegetação secundária, abrangendo capoeiras e capoeirões, possuindo como habitat: Floresta Estacional Semidecidul e Decidual Floresta Ombrófila Densa e Mista, Chaco Sul-Matogrossence e Pantanal Matogrossence.

É uma árvore característica da Mata Latifoliada do Alto Uruguai, onde apresenta distribuição irregular e descontínua, sendo pouco freqüente, ocorrendo de preferência nas depressões dos terrenos e em solos rochosos. Rara nas florestas da Bacia do Ibicuí e na Fralda da Serra Geral, chegando até a Bacia do Rio dos Sinos. Não ocorre no Planalto e no Escudo Rio-Grandense (LONGHI, 1995).

Encontra-se exemplares de Tabebuia heptaphylla desde em florestas secundárias e primárias a bordas de clareiras e clareiras pequenas.

Informações Botânicas

Morfologia

Árvore de até 30 m de altura, podendo atingir 90 cm de diâmetro.

Os ramos dicotômicos, tortuosos e grossos formam uma copa moderadamente ampla e globosa. O tronco, mais ou menos reto e cilíndrico, possui casca pouco espessa e escura, fissurada longitudinalmente e descorticante em placas grandes. A casca apresenta coloração pardo-cinzenta.

As raízes são vigorosas e profundas.

As folhas, de coloração verde-escura, são opostas, decícuas, compostas, digitadas, longamente pecioladas e com os bordos serrilhados. Cada folha é composta por 5 a 7 folíolos, glabros, com ápice agudo.

A flor, roxo-violácea, é pouco pilosa. São muito abundantes, nascendo nos ramos ainda sem folhas, com lenho adulto. O cálice é pequeno, campanulado e a corola campanulada-afunilada.

O fruto, seco e deiscente, é linear ou sinuoso, estriado, muito longo, podendo atingir até mais de 50 cm, de coloração preta. As cápsulas são bivalvares do tipo síliqua, semelhante a uma vagem estreita e comprida, atenuada pra dentro.

As sementes aparecem em grande quantidade e são grandes e aladas. Medem de 2,5 a 3 cm de comprimento e cerca de 6 a 7 mm de largura. São acastanhadas e membranáceas mais ou menos brilahntes. (LONGHI, 1995).

Reprodução

No período que antecede a floração, as folhas caem e surgem no ápice dos ramos magníficas panículas com numerosas flores tubulosas, de coloração rósea ou roxa, perfumadas e atrativas para abelhas e pássaros.

A floração ocorre de junho a setembro e os frutos amadurecem de julho a novembro, sendo que em plantio a frutificação inicia entre 5 e 7 anos.

 

Ocorrência Natural

Ocorre naturalmente no sul e oeste da Bahia, no Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo e no nordeste da Argentina, sul da Bolívia, leste do Paraguai e Uruguai (CARVALHO, 1994). Compreende a latitude de 13ºS (BA) a 30ºS (RS).

Segundo RIZZINI (1971), a espécie ocorre da Bahia à Guanabara, sobre a Serra do mar.

Clima

Tabebuia heptaphylla, abrange, de acordo com a classificação de Köppen, os seguintes tipos climáticos: Clima tropical úmido e subúmido, Clima tropical, com inverno seco, Clima subtropical de inverno seco e Clima subtropical, com verão quente.

O ipê-roxo ocorre em locais com regime pluviométrico uniforme, porém aceita um déficit hídrico moderado. A precipitação pode variar de 1000 mm a 1900 mm.

Quanto à temperatura, abrange variação média anual de 18º C a 26º C

Solo

A espécie ocorre em solos como os Argissolos, com altitudes até 400 metros; em Cambissolos, entre 400 e 800 metros e em Latossolos, em altitudes que podem variar entre 800 m a 1500 m.

De acordo com CARVALHO (1994), o ipê-roxo tem apresentado um melhor crescimento em solos com fertilidade química média a elevada, profundos, com boa drenagem e de textura franca a argilosa.

Pragas e Doenças

A madeira é resistente ao ataque de insetos e ao apodrecimento.

A Madeira

Segundo JANKOWSKY et all. (1990) as madeiras do gênero Tabebuia spp são muito pesadas e duras, possuindo alta resistência mecânica e baixa retrabilidade volumétrica. A secagem destas madeiras ao ar é de média a rápida, e apresenta pequenos problemas de rachaduras e empenamentos, no entanto, a secagem artificial pode agravar a incidência de defeitos. Estas características as tornam moderadamente difícial de trabalhar, principalmente com ferramentas manuais, que perdem rapidamente a afiação.

A densidade da madeira é da ordem de 1070 kg/m³ de madeira seca, possuindo coloração escura e alburno claro (PAULA&ALVES,1997). A superfície é pouco brilhante, lisa e de aspecto oleoso. É considerada “madeira de lei”.

Usos da Madeira

PAULA & ALVES (1997) sugerem o uso da madeira de ipê-roxo para dormentes, tacos, portais, postes, eixos de roda, na construção civil como vigas, por exemplo, e na construção naval como quilhas de navio. Segundo JANKOWSKY et all. (1990), a madeira do gênero Tabebuia pode ser usada para mobiliário, batentes, instrumentos musicais, degraus de escada, bolas de boliche entre outros.

Produtos Não-Madeireiros

Da casca, são extraídos os ácidos tânicos e lapáchico, sais alcalinos e corante que é usado para tingir algodão e seda.

O ipê-roxo é muito usado em medicina popular. Da entrecasca faz-se um chá que é usado no tratamento de gripes e depurativo do sangue. As folhas são utilizadas contra úlceras sifilíticas e blenorrágicas. A espécie também tem propriedades anticancerígenas, anti-reumáticas e antianêmicas (CARVALHO, 2003). A casca da espécie está entre os produtos amazônicos, com reconhecido poder medicinal, mais procurados.

Segundo Bragança (1996), citado por NETO & MORAIS (2003), o ipê-roxo também é usado como recurso medicinal no estado do mato Grosso para tratamento de diabetes mellitus.

Outros Usos

A espécie é bastante ornamental pela coloração de rosa e lilás intenso, sendo muito utilizada em praças, jardins públicos e na arborização de ruas, avenidas, estradas e alamedas e também em recomposição de mata ciliar. Em reflorestamentos é utilizada na reposição de mata ciliar para locais sem inundações (CARVALHO, 2003).

Apesar de ser indicada para arborização urbana, esta árvore não é recomendada para o uso em calçadas estreitas (< 2,5 m), em locais com fiação aérea e ausência de recuo predial, isto porque a espécie atinge, na fase adulta, de 5 a 8 metros de altura com o raio da copa variando em torno de 04 a 05 metros.

MOREIRA & SOUZA (1987), indicam o ipê-roxo para a recomposição de matas ciliares para região Sul e Sudeste do país, pois é uma espécie que costuma povoar as beiras dos rios.

Crescimento e Produção

O ipê-roxo apresenta crescimento lento a moderado. Em plantio, a produção volumétrica máxima obtida foi de 6,60 m³/ha/ano. Utilizando espaçamento 4 x 4 m, a porcentagem de plantas vivas foi de 85,38% (CARVALHO, 2003). Possuem crescimento moderado (COELBA, 2002), porém quando comparado com as espécies florestais nativas, os ipês têm desenvolvimento relativamente rápido, prestando-se muito bem a florstamentos e reflorestamentos industriais (LONGHI, 1995).

Em seus estudos, PAIVA & POGGIANI (2000) também afirmam que o ipê-roxo, assim como o jatobá, apresentaram um crescimento intermediário.

Aspectos Silviculturais

Apresenta crescimento irregular, com dominância apical não definida e bifurcações a várias alturas e próximas entre si. Após o corte, apresenta brotação e possui desrama natural deficiente, necessitando de podas freqüentes de condução e dos galhos para aumentar sua altura comercial. O ipê-roxo pode ser plantado: a) a pleno sol em plantio puro, com comportamento satisfatório quando plantado em solos férteis, porém com forma inadequada , b) em plantio misto, associado com espécies pioneiras e secundárias, visando melhoria na forma do fuste e c) em vegetação matricial arbórea, em faixas na vegetação secundária e plantado em linhas (CARVALHO, 2003).

Produção de Mudas

Para aproveitamento de sementes, os frutos devem ser coletados diretamente da árvore quando mudam da cor verde para quase preta, antes da dispersão das sementes (CARVALHO, 1994).

As sementes devem ser postas pra germinar logo que colhidas, em canteiros ou embalagens individuais contendo solo argiloso rico em matéria orgânica. Cobrir apenas levemente as sementes com substrato peneirado, mantendo-as em ambiente semi-sombreado. A emergência ocorre em 10-12 dias e o desenvolvimento das mudas é rápido, ficando prontas para o plantio no local definitivo em menos de 4 meses. O desenvolvimento das plantas no campo é apenas moderado, alcançando aproximadamente 3 metros em 2 anos (LORENZI, 1992).

Sementes

Produz sementes cuja viabilidade varia de 3 a 15 meses (HIGA & VIANA) em câmaras frias/seca, com redução drásticas da viabilidade na câmara fria e ambiente de laboratório.

As sementes de ipê-roxo são ortodoxas e possuem taxa de germinação de 60%. Para cada quilo obtém-se de 13.500 a 35.00 sementes.

KANO;MÁRQUEZ & KAGEYAMA (1978) identificaram uma pequena influência da condição de câmara seca sobre a conservação das sementes de ipê-roxo. A umidade crítica, segundo os autores, poderá se situar em torno de 10% a 11%, em função do ambiente e do período de duração do armazenamento.

Preço da Madeira no Mercado

O preço médio do metro cúbico de pranchas de ipê no Estado do Pará, cotado em Julho e Agosto de 2005, foi de R$ 1.200,00 o preço mínimo, R$ 1.509,35 o médio e R$ 2.000,00 o preço máximo (CEPEA, 2005)

Referências Bibliográficas

CARVALHO, P.E.R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidades e uso da madeira. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária , Centro nacional de Pesquisa de Florestas – EMBRAPA – CNPF. Colombo – PR, 1992.

CARVALHO, P.E.R. Espécies arbóreas brasileiras. Colombo: Embrapa Florestas, 2003. V.1

CAVALCANTE,C. Ciência comprova poder de cura do ipê-roxo. Folha do Paraná, Curitiba, 18 mar. 2001, p5.

COELBA – Guia de Arborização Urbana – diretoria de Gestão de Ativos – Departamento de Planejamentos dos Investimentos – Unidade de Meio Ambiente, 2002, 56 p.

ETTORI,L.C.;SIQUEIRA,A.C.M.F.;SATO,A.S.;CAMPOS,O.R. Variabilidade genética em populações de Ipê-roxo – Tabebuia heptaphylla (Vell.) Tol. – para conservação ex situ. Revista do Instituto Florestal, v.8,n.1,p.61-70, jul.1996

HIGA,T.C.;VIANA,A.M. Criopreservação de sementes zigóticas de Tabebuia heptaphylla (Vell.) (Tol) Bignoniaceae Florienópolis, SC Disponível em: http://www.adaltech.com.br/evento/museugoeldi/resumoshtm/resumos
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INFORMATIVO CEPEA – SETOR FLORESTAL UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” Agosto, 2005 No44

JANKOWSKY,I.P.;CHIMELO,J.P.;CAVALCANTE,A.A.;GALINA,I.C.M.;NAGAMURA,JC.S. Madeiras Brasileiras Caxias do Sul: SPECTRUM, 1990. V.1.

LOBELLO,M. Árvores no Brasil. São Paulo: Prêmio, 1992,v.2

LONGHI,R.A. Livro das árvores; árvores e arvoretas do Sul. 2.ed., Porto Alegre: L&PM, 1995, 176p.

LORENZI,H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992, 382p.

KAGEYAMA,P.Y.;MÁRQUESZ,F.C.M. Comportamento das sementes de espécies de curta longevidade armazenadas com diferentes teores de umidade incial: gênero Tabebuia. Circular Técnica, n. 126, p.1-4, jan.1981.

KANO,N.K.;MÁRQUEZ,F.C.M.;KAGEYAMA,P.Y. 1978 Armazenamento de sementes de ipê-dourado. IPEF, n.17, p.13-23, 1978.

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PAIVA,A.V.;POGGIANI,F. Crescimento de mudas de espécies arbóreas nativas plantadas no sub-bosque de um fragmento florestal. Scientista Florestalis, n.57, p.141-51,jun.200.

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RIZZINI,C.T. Árvores e Madeiras úteis do Brasil. Manual de Dendrologia Brasileira. São Paulo: Editora Edgard Gomide Blucher. 1971.

SILVA,A.;FIGLIOLIA,M.B.;AGUIAR,I.B.;PERECIN,D. Liofilização e armazenamento de sementes de ipê-rosa (Tabebuia heptaphylla) Bignoniaceae. Separata de Revista Brasileira de Sementes, v.23, n.1, p.252-9, 2001.

Sites consultados

http://www.fazfacil.com.br/JardimArvores.htm
http://www.sementessul.usfc.be/novo/secao_especies/detalhe_especie.asp?esp_id=196
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./urbano/index.html&conteudo=./urbano/arborizacao.html

Fonte:
IPEF -Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais
www.ipef.br

 

Publicado no infobibos em 11/06/2006


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