Rede gaúcha avalia cultivares de sorgo
sacarino
Entre as alternativas para diversificação da
matriz energética, o etanol é tido como uma das mais promissoras. No
entanto, para que o Brasil possa atender a demanda mundial por
energia limpa e renovável, é preciso que haja crescimento na
produção de biocombustíveis e, para tal, uma série de medidas
precisam ser implementadas para assegurar a expansão competitiva do
setor sucroalcooleiro no Brasil e garantir o sucesso da expansão do
etanol brasileiro no mercado internacional.
A demanda por etanol é crescente e deve
aumentar nos próximos anos em função do expressivo aumento do número
de veículos bicombustíveis em circulação no país e do crescimento da
indústria de bioplásticos, que vem ganhando força no mercado
nacional com adesão de grandes empresas como
Brasken, Tetra Pak
e Nestlé Brasil, que passaram a adotar embalagens sustentáveis
fabricadas a partir de bioplásticos.
No Brasil, a produção de etanol está alicerçada
na cultura da cana-de-açúcar, que é vista como uma das culturas
capazes de suprir parte dessa demanda. No entanto, considerando sua
magnitude, apostar no monocultivo da cana-de-açúcar e na
centralização da produção em alguns estados não parece uma
estratégia adequada, pois a cana-de-açúcar apresenta exigências
edafoclimáticas que restringem seu
cultivo em diversas regiões do país e, em especial, no Rio Grande do
Sul.
Atualmente, o RS possui participação pouco
expressiva no setor sucroalcooleiro, mas com potencial para
incremento, tanto em área quanto em produtividade. Com a publicação,
em 2009, do Zoneamento de Risco Climático para a cultura da
cana-de-açúcar para o RS (Portaria nº 332/2009), cerca de 1,5 milhão
de hectares de solo gaúcho foram considerados aptos para produzir
cana-de-açúcar em grande escala. Diante deste novo cenário, o RS
passa a vislumbrar a possibilidade de se tornar um grande produtor
de etanol e alcançar a autossuficência,
tendo em vista que hoje o estado produz apenas 2% do etanol que
consome.
O sorgo sacarino tem sido apontado como uma das
matérias-primas renováveis capaz de contribuir para o aumento da
competitividade do etanol brasileiro. No entanto, não existem no RS
cultivos comerciais e em grande escala de sorgo sacarino, em razão,
principalmente, da inexistência de cultivares recomendadas para o
estado para a produção de etanol e de um sistema de produção
desenvolvido para a cultura. Assim, com o objetivo de identificar
entre as cultivares de sorgo sacarino, hoje disponíveis para cultivo
no Brasil, aquelas que melhor combinam atributos agronômicos para
produção de etanol e adaptabilidade às condições
edafoclimáticas do Rio Grande do Sul, a Embrapa
Clima Temperado, em parceria com a
Fepagro, estruturou uma rede para avaliação de cultivares de sorgo
sacarino no estado, denominada Rede Sorgo Sacarino RS (RSSRS).
A RSSRS é integrada por diversas instituições
de ensino e pesquisa, e conta com o apoio da Usina
Coopercana e de algumas empresas privadas. Na
primeira safra de avaliação (2012/13) os ensaios da RSSRS estão
sendo conduzidos em 15 municípios gaúchos, com possibilidades de
expansão para as próximas safras.
Os municípios da RSSRS foram divididos em dois
grupos: municípios aptos ao cultivo da cana-de-açúcar (com base no
Zoneamento de Risco Climático) e municípios não aptos e/ou não
contemplados no zoneamento (Figura 1). A indicação de cultivares de
sorgo sacarino para municípios e regiões aptas ao cultivo da
cana-de-açúcar permitirá o uso do sorgo como cultura complementar à
cana-de-açúcar, sendo cultivado na entressafra desta e/ou em áreas
de reforma de canaviais, otimizando a capacidade instalada das
grandes usinas, diminuindo ou evitando períodos de ociosidade e
reduzindo os custos de produção. Já a indicação de cultivares de
sorgo sacarino para regiões do estado consideradas marginais para a
cana-de-açúcar, ou que não tenham sido contempladas no Zoneamento de
Risco Climático para a cultura, permitirá a inserção de agricultores
gaúchos, que tradicionalmente produzem grãos e trabalham com
culturas anuais como soja e milho, no processo de produção de
biocombustíveis.
Tabela 1.
Cultivares de sorgo sacarino avaliadas na rede de ensaios RSSRS
(Rede Sorgo Sacarino RS), em 15 municípios , safra 2012/13. Embrapa
Clima Temperado, Pelotas, RS.
Os resultados da RSSRS contribuirão de forma
significativa para indicação de cultivares de sorgo sacarino para o
RS, para determinação do Valor de Cultivo e Uso (VCU) dessas
cultivares, bem como para promover a extensão de uso para o RS de
cultivares comerciais já indicadas para outros estados brasileiros.
Por sua vez, espera-se que a indicação de
cultivares de sorgo sacarino adaptadas às condições
edafoclimáticas do estado e a consequente
adoção dessa cultura pelos produtores gaúchos permitam a ampliação
da produção de etanol e a descentralização da produção, contribuindo
para que o estado se torne autossuficiente na produção de etanol.
Vale ressaltar, no entanto, que a indicação de cultivares para o estado, por si só, não é suficiente para assegurar o estabelecimento e o desenvolvimento da cultura no RS. Há a necessidade de que seja desenvolvido paralelamente um sistema de produção sustentável e economicamente viável para o sorgo sacarino no estado.
Beatriz Marti Emygdio Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): EMYGDIO, B. M.; CAVICHIOLI, C. R.; Rede gaúcha avalia cultivares de sorgo sacarino 2013. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2013_1/sorgo/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 09/04/2013 |