O uso do etanol como combustível no
Brasil vai completar um século Há muito tempo se utiliza
combustível produzido por microrganismos no Brasil. O álcool etílico
começou a ser usado, em motores do ciclo Otto, cerca de 50 anos
antes do lançamento do Proalcool. Os registros históricos mostram
que, em 1925, um automóvel de 4 cilindros da marca Ford participou
de uma corrida de 230 km na cidade do Rio de Janeiro, usando álcool
etílico a 70% como combustível. imagem desse automóvel encontra-se
eternizada no livro comemorativo dos 80 anos de criação do Instituto
Nacional de Tecnologia e está reproduzida na Figura 1.
Posteriormente, no próprio INT foi viabilizada a produção de álcool
anidro para mistura à gasolina, o que possibilitou a edição de
Decreto 19.717 de 20 de fevereiro de 1931, que obrigava os
importadores de gasolina a misturar 5% do álcool ao combustível
fóssil. No período compreendido
entre a edição do Decreto 19.717 e o início da Segunda Guerra
Mundial, o álcool foi utilizado em proporções variáveis, de acordo
com a disponibilidade e, principalmente, com a produção de açúcar
para exportação, uma vez que o álcool era um subproduto pouco
valioso da fabricação do açúcar. Durante a Segunda Guerra, o
combustível assumiu papel de grande relevância, uma vez que a
dificuldade na importação do petróleo limitava a produção de
gasolina. O álcool teve, então, elevado valor estratégico, e, em
alguns estados do Nordeste a porcentagem de álcool na gasolina
chegou a 42% (Correia, 2007). Nos trinta anos que se
seguiram ao término da Guerra (1945-1975) a mistura do etanol anidro
à gasolina foi determinada pelo mercado internacional do açúcar,
servindo o etanol de “regulador” de estoques do açúcar. Como
consequência da composição variável, os motores dos automóveis não
apresentavam desempenho regular, o que desagradava aos consumidores
e à indústria automobilística. Entretanto, em consequência
da elevação do preço do petróleo no mercado internacional, o governo
brasileiro lançou, em 1975, o Programa Nacional do Álcool (Proalcool),
que teve, em um primeiro momento, o objetivo de produzir etanol
anidro para misturar à gasolina, pois o país era quase totalmente
dependente da importação desse último combustível. Em sua concepção, o Proálcool teve como objetivos: - Diminuir a dependência externa de combustíveis; Logo
após o lançamento, o Proalcool experimentou grande sucesso, pois foi
possível, mediante incentivos fiscais e financiamentos dos bancos
oficiais a juros vantajosos, instalar destilarias para produção de
álcool anidro junto às usinas de açúcar. No período da safra de
1975/76 à de 85/86, a produção de álcool passou de 555 milhões de
litros para 11.830 milhões de litros, um incremento de mais de 2.000
% na produção. No período de 1975 a 1985, todos os objetivos do Proalcool foram atingidos, e mais um foi obtido: a indústria automobilística lançou veículos com motores movidos a etanol hidratado como combustível exclusivo ou em mistura com a gasolina. Entretanto, o Proalcool nem sempre manteve a trajetória vitoriosa.. A Figura 2, que apresenta a evolução da produção total de etanol é bem representativa das diversas situações experimentadas pela referida produção. No primeiro período após
lançamento do Proalcool a produção total de etanol
passou de 556
milhões de litros na safra 1975/1976 para 2.491milhões na de
1978/1979, o que corresponde a um incremento de quase 350% em 4
safras Em período mais recente,
nas safras de 2000/2001 a 2008/2009 a produção
total de etanol
(computando anidro +hidratado),
aumentou de 10.593
bilhões para 27.513 bilhões de litros (UNICADATA, 2012), o que
representa aumento médio anual de 17,75%
O aumento vultuoso na produção de
etanol, deveu-se, principalmente, ao lançamento e popularização dos
automóveis com motores flex-fuel.
Em 2011, os
veículos com motor ciclo Otto que podiam utilizar etanol hidratado (flex-fuel
e exclusivamente a etanol) alcançava 55,4% da frota brasileira, que
tinha, em circulação, pouco mais de 29 milhões de veículos com
motores ciclo Otto (UNICADATA, 2012). A crise financeira
internacional, em 2008, inverteu a tendência de crescimento na
produção de etanol, devido, principalmente à incerteza gerada em
todo o mundo, e também no Brasil, quanto ao mercado para os
combustíveis renováveis.
Quase todos os
investimentos em construção de novas usinas e destilarias, que
poderiam garantir o aumento da produção de etanol foram adiados e,
atualmente (2012) ainda não há certeza a respeito da retomada desses
investimentos.
À crise financeira
internacional somou-se uma situação conjuntural interna de
manutenção de preços constantes para os combustíveis derivados de
petróleo, de modo a conter a inflação. Tal contenção de preços
comprometeu a competitividade do etanol hidratado frente á gasolina,
o que motivou decréscimo acentuado de demanda pelo combustível
renovável, enquanto o consumo da gasolina não renovável foi
incentivado. Essa situação de contenção de preços dos combustíveis não-renováveis é, certamente, transitória, esperando-se que em pouco tempo a produção e uso de etanol venham a ser estimulados, fazendo com que esse biocombustível recupere o papel de destaque no país e no mundo. O etanol brasileiro é considerado um “combustível avançado” pela Environmental Protection Agency norte-americana e tal “status” abre-lhe mercado internacional gigantesco. Uma aliança entre Brasil e Estados Unidos (os dois maiores produtores e consumidores de etanol carburante) para ampliar, de modo expressivo, o fornecimento desse biocombustível será um passo decisivo na “comoditização” do etanol, com a criação de mercado estável, valorizado e internacionalmente respeitado.
José Manuel Cabral Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): CHIES V.; Tortas de crambe e pinhão-manso são foco de nova pesquisa da Embrapa Agroenergia. 2013. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2013_1/etanol/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 26/03/2013 |