Brasil participa de consórcio internacional de genômica de ovino
Fernanda Diniz
Análises levaram à
identificação de 50 mil marcadores genéticos, que poderão ser
utilizados para aprimorar programas de conservação e melhoramento
animal e na prospecção de genes associados à produção, qualidade e
sanidade de ovelhas.
O Brasil foi o único país da América
do Sul a participar do Consórcio Internacional de Genômica de
Ovinos, que reuniu cientistas de outros 19 países - Austrália,
Áustria, China, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Índia, Irã,
Israel, Itália, Quênia, Nova Zelândia, Noruega, Espanha, Suíça,
Turquia, Reino Unido e Estados Unidos – e resultou na identificação
e validação de 50 mil marcadores moleculares. O Consórcio estudou o
DNA de 2.819 ovinos de 74 raças de todos os países participantes.
Essas informações genéticas poderão auxiliar os pesquisadores nos
programas de avaliação e melhoramento genético da espécie e na
identificação de genes associados á características de produção,
qualidade e resistência a doenças que acometem os ovinos.
A participação brasileira foi coordenada pela Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, uma das 47 unidades da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária – Embrapa e contou com a participação de
outras seis unidades da Embrapa – Pecuária Sul (Bagé, RS); Gado de
Leite (Juiz de Fora, MG); Informática Agropecuária (Campinas, SP);
Caprinos e Ovinos (Sobral, CE); Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) e
Meio Norte (Teresina, PI), além das seguintes universidades:
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC; Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB; Universidade de Brasília – UnB
e Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Participou
também a empresa privada GAASA e Alimentos Ltda., cujos rebanhos
estão associados ao programa GENECOC da Embrapa Caprinos e Ovinos.
Essa ação foi coordenada no âmbito da Rede Genômica Animal que a
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia lidera desde 2008.
O Brasil contribuiu com DNA de 90 animais de três raças localmente
adaptadas de ovinos no Brasil que compõem o programa de conservação
e uso sustentável de recursos genéticos animais da Embrapa: Santa
Inês, Morada Nova (FOTO) e Crioula Lanada.
Segundo o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,
Samuel Paiva, essas raças foram selecionadas porque são
relativamente mais antigas no Brasil e, por isso, possuem
características de adaptabilidade e rusticidade que podem ser muito
úteis para auxiliar futuros programas de melhoramento genético no
país. “As raças Santa Inês e Morada Nova são deslanadas, o que já é
resultado do processo de adaptação aos trópicos. A Crioula demonstra
resistência moderada a parasitas”, explica o pesquisador. Além
disso, a soma da distribuição geográfica destas raças abragem todas
as principais regiões brasileiras produtoras de ovinos e, por
isso,podem ter um papel mais importante para a ovinocultura do país.
Resultados vão beneficiar as ações de conservação a curto prazo
A participação do Brasil no Consórcio Internacional pode trazer
inúmeros resultados para a produção de ovinos a longo prazo, pois
“abriu uma porta nova e muito promissora para o conhecimento do
genoma desses animais, o que permitirá conhecer melhor a origem e as
aptidões das raças brasileiras”, ressalta Paiva.
Mas, alguns benefícios já podem ser obtidos a curto prazo,
especialmente quanto à conservação das raças.
Os 50 mil marcadores SNP (Single Nucleotide Polymorphism)
identificados pelo Consórcio Internacional foram obtidos de forma
aleatória utilizando as últimas tecnologias de sequenciamento de DNA
disponíveis. Os marcadores SNP representam atualmente a ferramenta
mais moderna e eficiente para a realização de estudos genômicos.
A partir dessa ferramenta, os pesquisadores poderão gerar painéis
com menor número de marcadores e já direcionados para as
características genéticas relacionadas a problemas da ovinocultura
nacional. No caso da Embrapa, os estudos estão focados, neste
primeiro momento, na identificação de marcadores relacionados à
paternidade, rastreabilidade, certificação racial e assinaturas de
seleção dos ovinos, de forma a otimizar as atividades de conservação
e de melhoramento, por exemplo, do programa já existente para a raça
Morada Nova nas regiões Nordeste e Sudeste do país.
Essas pesquisas permitem aprimorar o processo de seleção dos animais
dos núcleos de conservação mantidos pela Embrapa e parceiros em todo
o país, além de melhorar a identificação de doadores de material
genético (sêmen e embriões) para o banco genético da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF. “A seleção
desses doadores prioriza, acima de tudo, evitar a consaguinidade
entre os animais, o que poderia diminuir a sua variabilidade
genética e desempenho produtivo”, explica Paiva.
Ele acredita que essas primeiras análises estejam prontas até julho
deste ano. Adicionalmente mais cinco raças localmente adaptadas
brasileiras já estão em análise para esta mesma ferramenta em função
de captação de recursos adicionais junto ao CNPq.
A médio prazo, o foco será direcionado para a busca de genes
relacionados à produtividade
A médio prazo, os resultados vão subsidiar a seleção genômica de
ovinos no Brasil, a exemplo do que já vem sendo feito para bovinos e
suínos. “Esse processo permite associar regiões do genoma a
características de interesse econômico”, afirma o pesquisador. O
objetivo é contribuir para aumentar a produtividade e melhorar a
qualidade da ovinocultura brasileira. “O leque de possibilidades
para os criadores é enorme e pode incluir, por exemplo, ganho de
peso, resistência a doenças, maior habilidade materna, entre
inúmeras outras”, finaliza Paiva.
Parte dos resultados obtidos pelo Consórcio Internacional de
Genômica de Ovinos foram publicados em um artigo na revista PLoS
Biology, uma das publicações científicas mais importantes do mundo
da área. O artigo está disponível no endereço:
http://www.plosbiology.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pbio.1001258
Saiba mais sobre o Consórcio Internacional do Genoma Ovino no
endereço:
http://www.sheephapmap.org
Fernanda Diniz
é
Jornalista da
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Telefones: (61) 3448-4769 e 3340-3672
E-mail: fernanda@cenargen.embrapa.br
Reprodução autorizada desde
que citado a autoria e a fonte
Dados para citação
bibliográfica(ABNT):
DINIZ, F.
Brasil
participa de consórcio internacional de genômica de ovino.
2012. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2012_2/ovinos/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos
em 13/06/2012
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