Manejo de
insetos por meio de plantas bioativas em
sistemas de produção de base ecológica Eng. Agrº., Dr. Gustavo Schiedeck As plantas bioativas são aquelas que produzem
algum efeito sobre outro ser vivo, podendo ser enquadradas as
plantas medicinais, aromáticas, condimentares, tóxicas, inseticidas,
fungicidas e até mesmo as de caráter místico e religioso. Dentro
desse conceito amplo, na maioria das vezes, a utilização das plantas
bioativas de interesse para o manejo de insetos em agroecossistemas
é pensada a partir da possibilidade da extração de alguma substância
do seu metabolismo capaz de ser aplicada sob a forma de um produto a
ser pulverizado sobre os cultivos comerciais. Em geral, os produtos
investigados para esse fim são os óleos essenciais e as tinturas,
infusões e decocções. Embora a estratégia da extração e/ou aplicação de
substâncias obtidas das plantas bioativas seja válida e interessante
do ponto de vista da transição agroecológica, o redesenho de
agroecossistemas através do aumento da biodiversidade funcional tem
sido pouco explorado. É plausível crer que, num estágio mais
avançado da complexidade dos sistemas produtivos de base ecológica,
as pulverizações fiquem restritas aos problemas relacionados com
microrganismos patogênicos, enquanto a introdução e manutenção
intencional de plantas bioativas nas áreas de cultivos respondam
pelo manejo dos insetos potencialmente prejudiciais. Muitas plantas são capazes de atrair e repelir
insetos com eficiência popularmente comprovada, como é o caso do
girassol, gergelim, cravo-de-defunto e arruda. Infelizmente, poucos
dados mais rigorosos fornecem a magnitude do efeito e as condições
em que ele pode ser amplificado ou reduzido, como época do ano,
estádio fenológico e densidade populacional mínima ou arranjo
espacial específico para promover o efeito sensível. Apesar dessa lacuna, alguns esforços têm sido
realizados na busca por essa funcionalidade das plantas bioativas
nos agroecossistemas. Um caso recente é a “estratégia empurra-puxa”,
bastante divulgada em estudos científicos recentes. A técnica, que
hoje é realizada por mais de 12 mil agricultores no Quênia, foi
desenvolvida para proporcionar o manejo da broca- do-colmo na
cultura do milho e se baseia no cultivo de espécies bioativas
intercalares ao milho, que exercem o efeito de repelência (empurra)
e de espécies bioativas na bordadura que promovem atração do inseto
(puxa). Para repelir a broca-do-colmo os agricultores utilizam o
capim-melaço (Melinis
minutiflora) e a espécie
Desmodium uncinatum. Já para atração, as espécies mais usadas
são o capim-napiê (Pennisetum
purpureum) e o sorgo (Sorghum
vulgare var. sudanense).
Nas áreas de ocorrência do inseto, o sistema tem aumentado a média
de produção entre 20% e 30%. No Brasil, alguns estudos
têm tentado utilizar as plantas bioativas como atraentes ou
repelentes de insetos, porém de forma pouco articulada, geralmente
incluindo apenas uma espécie com esse propósito. Algumas das plantas
citadas nos trabalhos nacionais são o gergelim (Sesamum indicum)
para o controle de formigas cortadeiras, o taiuiá (Cayaponia
sp) para atração de diabróticas, e coentro (Coriandrum
sativum)
na repelência de mosca-branca em meloeiros. Uma grande contribuição para o entendimento dos
processos de atração e repelência de insetos pelas plantas bioativas
foi dada recentemente por pesquisadores da Universidade de Michigan,
Estados Unidos. Os investigadores realizaram uma meta-análise de 34
artigos científicos que abordavam o uso de substâncias voláteis de
plantas na manipulação da resposta comportamental de insetos
prejudiciais. A meta-análise é uma ferramenta estatística que
permite combinar resultados de estudos independentes, extraindo
informações adicionais que possibilitam sintetizar ou extrair novas
conclusões. Num primeiro momento o trabalho evidenciou que a
grande maioria dos artigos abordava a atração de insetos, e apenas
3% a repelência. Esse fato chamou a atenção dos autores do artigo
para duas possíveis explicações: ou é mais fácil, ou efetivo,
trabalhar a campo com atração de insetos ou a repelência ainda é
pouco explorada pelos pesquisadores da área. Entre outras
observações de seu estudo, verificaram também que fêmeas são mais
atraídas que machos, que insetos mastigadores são mais atraídos que
brocas e sugadores, e que lepidópteros, por seu hábito de
reprodução, são mais atraídos que coleópteros e tisanópteros. Além
disso, também observaram que insetos especialistas e generalistas
são atraídos de igual forma pelas substâncias voláteis liberadas no
ar pelas plantas bioativas, e que as fabáceas e cucurbitáceas têm
maior poder de atração de insetos quando comparadas com poáceas e
rosáceas.
Reprodução autorizada desde
que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): SCHIEDECK, G. Manejo de insetos por meio de plantas bioativas em sistemas de produção de base ecológica. 2012. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2012_2/manejoinsetos/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 22/05/2012 |