ESTUDOS DAS ROTAS TECNOLÓGICAS PARA PRODUÇÃO DE BIOGÁS E DA
INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE DEJETOS DE MATRIZES SUÍNAS NA
QUALIDADE DO BIOGÁS GERADA POR BIODIGESTOR JOHNSON PONTES DE MOURA
RESUMO
A disponibilidade de biomassa e a falta de gás natural ou diesel
favorecem o aparecimento de alternativas tecnológicas sustentáveis
para geração de energia elétrica. A indisponibilidade de gás faz com
que grandes ativos de geração de energia termelétrica fiquem
ociosos, podendo acarretar em aumento da indisponibilidade das
usinas, pelo fato de partes dos equipamentos estarem parados.
A alternativa de pirolisar a biomassa, transformando o seu potencial
em gás e posteriormente em combustível para uma usina termelétrica
que não dispõe de outro combustível fóssil, torna-se uma alternativa
atraente. A pirólise é uma reação de análise ou decomposição que
ocorre pela ação de altas temperaturas. Ocorre uma ruptura da
estrutura molecular original de um determinado composto pela ação do
calor em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio. Este sistema é
bastante utilizado pela indústria petroquímica e na fabricação de
fibra de carbono.
Outra aplicação da pirólise se dá no tratamento do lixo. O processo
é auto-sustentável sob o ponto de vista energético, pois, a
decomposição química pelo calor na ausência de oxigênio, produz mais
energia do que consome. O processo de pirólise produz
biocombustíveis líquidos e gasosos como o Bio-Óleo e o gás de
síntese.
A Biomassa é uma das maiores fontes de energia disponíveis nas áreas
rurais e agroindustriais. A mesma aparece na forma de resíduos
vegetais e animais, tais como restos colheita, esterco animal,
plantações energéticas e efluentes agroindustriais. Estes resíduos
podem ser utilizados pelo produtor rural ou agroindústria para a
queima direta, visando produção de calor ou produção de biogás
Palavras-chave: Pirólise; Energia alternativa; Resíduos agrícolas;
Biodigestores.
ESTADO DA ARTE: Estudos das rotas tecnológicas para Produção de
Biogás
1. Energia Renovável: Gestão de
Resíduos
Por biomassa entende-se toda a matéria de origem de vegetal, seja
ela a floresta nativa ou plantada, as culturas agrícolas e seus
resíduos, como bagaço de cana, casca de arroz ou de café, galhos de
árvores, óleos vegetais, ou de espécies plantadas, além do lixo
urbano e do esterco de animais. O Brasil é um país naturalmente rico
em biomassa. Os processos de transformação desses recursos em
energia, combustíveis e produtos como alimentos e materiais são
inúmeros. A pirólise, também chamada de carbonização, pertence a um
grupo de processos denominado: Conversão Termoquímica (Destilação
Destrutiva). O processo pode produzir energia e produtos sólidos
(Carvão vegetal), líquidos (Bioóleo ou Alcatrão) e gases (Gases
Pobres).
1.1.
Produção de energia através de resíduos orgânicos
A biomassa é, portanto, toda matéria viva presente em um lugar, um
combustível fóssil de origem biológica, onde através dele, é
possível produzir a chamada energia renovável. O termo biomassa
cobre uma extensa categoria de materiais, incluindo:
- Madeira;
- Resíduos de vegetais;
- Resíduos de origem animal;
- Resíduos industriais;
- Resíduos sólidos urbanos.
Os estudos sobre biomassa revelam que, atualmente um sétimo da
energia mundial está sendo obtida por esse processo, e venha a ter
cada vez mais importância no contexto energético global. Através da
sua transformação, pode-se produzir biocombustíveis líquidos ou
gasosos por sua queima direta.
Vários estudos já foram realizados para produção de energia através
da transformação da biomassa. A tabela abaixo mostra as principais
tecnologias de conversão da biomassa em energia.
Os combustíveis gasosos podem ser produzidos a partir da madeira e
de outros tipos de biomassa.
Métodos de produção de energia através da biomassa:
Segundo o fluxograma acima, é possível realizar 3 principais
transformações de biomassa em energia, como: combustão, gaseificação
e liquefação. Primeiramente, é necessário estudar a espécie de
biomassa a ser utilizada e em seguida aplicá-la aos métodos
existentes na literatura.
1.1.1. JUSTIFICATIVA E METODOLOGIA DO ESTUDO PROPOSTO
A grande necessidade de preservação dos recursos hídricos não só do
Brasil, mas de todo o planeta tem gerado discussões sobre o problema
há muito tempo, visto a ocorrência cada vez maior da contaminação
das águas de córregos, rios e mares, como por exemplo, acidentes
ecológicos com, a contaminação pela descarga de toneladas de
resíduos de esgoto industrial e domiciliar, dentre outros. Todos são
alerta mais do que eloqüentes do risco que a humanidade corre de,
num futuro bem próximo, enfrentar uma escassez insolúvel de água
potável.
Apesar de a indústria representar o setor poluidor mais ativo, não é
a única vilã no processo. Além da atividade poluidora das grandes
cidades, a área rural, também participa ativamente neste processo
negativo, pois por estarem localizadas em regiões próximas a
córregos, lagoas ou rios, as propriedades rurais sejam estas
criadoras de animais e aves ou dedicadas somente à agricultura
também contribuem para a contaminação dos lençóis freáticos, que são
indispensáveis ao abastecimento de água potável das populações rural
e urbana (Gaspar, 2003).
Algumas propriedades rurais criadoras de aves, bovinos, suínos e
outros, utilizam parte dos dejetos desses animais para a adubação de
plantações, porém esta adubação é feita pela mera aspersão do
material orgânico sobre as plantas, ou por sepultamento na área a
ser semeada posteriormente. Esses procedimentos apresentam grande
potencial poluidor, uma vez que a aspersão a céu aberto atrai
insetos, além disso, os detritos colocados dentro da terra são mais
facilmente transportados para os lençóis freáticos pela ação da
infiltração das chuvas. Alguns critérios devem se adotados para a
sua utilização como fertilizante, evitando que sejam aplicados em
excesso no solo e cause poluição, grande maioria das propriedades
deposita seus resíduos no meio-ambiente como em rios, ribeirões,
açudes ou no meio de matas.
Devido ao potencial altamente poluidor apresentado pelos dejetos de
suínos foi realizada uma pesquisa bibliográfica e um estudo de caso
sobre a viabilidade econômica a respeito dos biodigestores e sua
contribuição para a redução da contaminação causada pelos dejetos
suínos, além disso, foi realizado um estudo a cerca das rotas
tecnológicas para produção de biogás.
Definição:
Atribui-se o nome de biogás à mistura gasosa (combustível),
resultante da fermentação anaeróbica da matéria orgânica. A
proporção de cada gás na mistura depende de vários parâmetros, como
o tipo de digestor e o substrato a digerir. De qualquer forma, esta
mistura é essencialmente constituída por metano (CH4) e
por dióxido de carbono (CO2), estando o seu poder
calorífico diretamente relacionado com a quantidade de metano
existente na mistura gasosa.
Os processos de fermentação anaeróbia que produzem metano foram
desde sempre, utilizados pelo Homem para o tratamento dos esgotos,
nos sistemas conhecidos por "fossas sépticas". Estas serviam tanto
para tratar os esgotos domésticos de pequenas comunidades, quanto os
resíduos da indústria agro-alimentar ou agro-pecuária. Com o passar
dos tempos estes sistemas simplificados de tratamento evoluíram nos
países desenvolvidos, quando começaram a ser utilizados os chamados
"digestores", para efetuar a estabilização das lamas resultantes da
sedimentação primária e do tratamento biológico aeróbio dos esgotos.
Neste momento, existem duas situações possíveis para o
aproveitamento do biogás: O primeiro caso consiste na queima direta
(aquecedores, esquentadores, fogões, caldeiras); O segundo caso diz
respeito à conversão de biogás
Atualmente existem vários estudos sobre produção de energia a partir
de biogás, dos quais a grande maioria sobre o aproveitamento de lixo
doméstico para geração de energia.
Processo de produção de biogás:
O biogás é produzido através da degradação da matéria orgânica por
bactérias.
A digestão anaeróbia é um processo segundo o qual, algumas espécies
de bactérias, que atuam na ausência de oxigênio, atacam a estrutura
de materiais orgânicos complexos para produzir compostos simples:
metano, dióxido de carbono, água, etc, extraindo simultâneamente a
energia e os compostos necessários para o seu próprio crescimento. A
transformação da matéria orgânica em diversas substâncias químicas,
no decurso da fermentação anaeróbica, processa-se através de uma
cadeia de degradações sucessivas devidas a diferentes tipos de
bactérias. Essencialmente, distinguem-se duas fases nos processos de
fermentação metanogênica. A primeira fase é uma transformação das
moléculas orgânicas em ácidos, sais ou gases e a segunda, é a
transformação destes numa mistura gasosa essencialmente constituída
por metano e dióxido de carbono.
A atividade enzimática das bactérias depende intimamente da
temperatura, variando de espécie para espécie existindo sempre uma
temperatura ótima. Ela é fraca a 10ºC e nula acima dos 65ºC. A faixa
dos 20ºC a 45ºC, corresponde à fase mesófila, enquanto que entre os
50ºC e os 65ºC, temos a fase termófila. A opção por uma temperatura
ótima de trabalho terá de resultar do compromisso entre o volume de
gás a produzir, o grau de fermentação e o tempo de retenção. Na fase
mesófila, as variações de temperatura são aceitáveis desde que não
sejam bruscas. O mesmo não acontece com a fase termófila, onde as
variações não são aconselháveis, todavia, ela permite cargas mais
elevadas e um tempo de retenção menor, com maiores taxas de produção
de gás.
Outro parâmetro que influencia a digestão anaeróbica é o pH do meio.
Em meio ácido, a atividade enzimática das bactérias é anulada. Num
meio alcalino, a fermentação produz anidrido sulfuroso e hidrogênio.
A digestão pode efetuar-se entre os pH de 6,6 e 7,6 , encontrando-se
o ótimo a pH=7. Para valores abaixo de 6,5 , a acidez aumenta
rapidamente e a fermentação pára. Em relação à matéria a fermentar,
há que levar em consideração a relação carbono/nitrogênio (C/N), que
deve ter um valor compreendido entre 30 e 35. Acima deste valor, o
processo é pouco eficaz, já que as bactérias não tem possibilidade
de utilizar todo o carbono disponível. Para um valor baixo corre-se
o perigo de aumentar a quantidade de amoníaco, que pode atingir os
limites da toxicidade. Deve-se considerar também a presença de
fósforo no meio de cultivo, já que a sua ausência, conduz à uma
parada da fermentação.
A presença de matérias tóxicas, detergentes e outros produtos
químicos, deve ser evitada
ao máximo, pois basta uma concentração muito baixa destes produtos,
para provocar a intoxicação e morte das bactérias.
A figura 1 abaixo ilustra todos os estágios necessários para
a formação do biogás.
O biogás, apesar de ser constituído principalmente de metano, ele
apresenta a seguinte composição:
· Metano (CH4)
50 a 75 %
· Dióxido de Carbono
(CO2) 25 a 40 %
· Hidrogênio (H2)
1 a 3 %
· Nitrogênio (N2)
0.5 a 2.5 %
· Oxigênio (O2)
0.1 a 1 %
· Sulfeto de Hidrogênio
(H2S) 0.1 a 0.5 %
· Amoníaco (NH3)
0.1 a 0.5 %
· Monóxido de Carbono
(CO) 0 a 0.1 %
· Água (H2O)
Variável
1m³ de biogás produzido equivale a 5500 kcal e é equivalente a:
· 1,7 m³ de metano
· 1,5 m³ de gás de
cidade
· 0,8 L de gasolina
· 1,3 L de álcool
· 2 kg de carbonato de
cálcio
· 0,7 L de gasóleo
· 7 kw/h de
eletricidade
· 2,7 kg de madeira
· 1,4 kg de carvão de
madeira
· 0,2 m³ de butano
· 0,25 m³ de propano
Por estes valores é que faz o biogás atualmente uma fonte de
pesquisas sobre fontes renováveis de energia.
1.1.1.2. BIOMASSA E
ENERGIA ELÉTRICA
Segundo Gaspar (2003) a denominação de biomassa se dá a quaisquer
materiais passíveis de serem decompostos por causas biológicas, ou
seja, pela ação de diferentes tipos de bactérias, matéria essa
encontrada em abundância em todos os lugares do planeta. A biomassa
decomposta sob a ação de bactérias metano gênicas (produtoras de
metano) produz biogás em maior ou menor quantidade, em virtude de
fatores como: temperatura, presença ou não de oxigênio, nível de
umidade, quantidade de bactérias versus volume
e tipo de biomassa,
entre outros.
De acordo com Oliveira (1994) as observações dos técnicos das
cooperativas e associações de criadores de animais e especialistas
dos órgãos ligados ao ministério da Agricultura, concluíram que um
animal qualquer produz, em média, em torno de
Pesquisas mostram que os dejetos bovinos propiciam rápida
proliferação das bactérias metanogênicas, sendo recomendado que a
primeira carga nos biodigestores seja feita com esterco bovino.
Como pode ser visto na Tabela 2, os dejetos de suínos apresentam uma
grande capacidade de produção de biogás, superior aos de aves, e
muito próximo dos ovinos, perdendo apenas para bovinos e eqüinos,
que são os que apresentam maior capacidade de produção de biogás.
Uma das dificuldades principais na utilização do estrume de suínos é
que seu processo de fermentação é mais lento que os dos demais.
Os dados presentes na tabela 2, mostra as diferentes produções de
biogás de cada biomassa, bem como a concentração de metano. Nota-se,
também, que os dejetos suínos é a biomassa com melhor rendimento,
biogás/tonelada, cerca de 560m³ de biogás, e apresentando um ótimo
nível de gás metano (50%). Apenas como comparação, convém notar que
os dejetos de bovinos produzem apenas
O principal componente do biogás é o metano representando cerca de
A quantidade percentual de água contida na biomassa utilizada nos
biodigestores deve situar em 90% do peso total, essa percentagem é
dependente do tipo de biomassa utilizada, a falta ou excesso dessa é
prejudicial à produção de biogás, a
temperatura também é de grande influência para produção uma
vez que os microorganismos metanogênicos são extremamente sensíveis
a alterações bruscas de temperatura que deve situar em
Segundo Seixas et al (1980)
quando as especificações de qualidade de vida dos microrganismos são
atendidas, o biogás obtido deve ser composto de uma mistura de
gases, com cerca de 60 ou 65% do volume total consistindo em metano,
enquanto os 35 ou 40% restantes consistirem, principalmente, em gás
carbônico, e quantidades menores de outros gases. Contudo, a
composição do biogás pode variar de acordo com o tipo e quantidade
de biomassa empregada, os fatores climáticos e as dimensões do
biodigestor, entre outros.
O componente principal a ser obtido na produção do biogás é o
metano, ele apresenta características de ser um gás incolor,
inodoro, altamente combustível. Sua combustão apresenta uma chama
azul-lilás e, às vezes, com pequenas manchas vermelhas. Não produz
fuligem e seu índice de poluição atmosférico é inferior ao do
butano, presente no gás de cozinha.
A percentagem de metano confere ao biogás um alto poder calorífico,
o qual varia de
Com a eminência de uma crise energética cada vez mais próxima e a
privatização das companhias estatais do setor energético, tendo como
conseqüência a retirada gradual de subsídios da energia elétrica
para o setor agrícola, a geração de energia elétrica, nas
propriedades, tendo como combustível o biogás, passa a ser uma
alternativa viável. Os sistemas de produção de suínos geram grandes
quantidades de dejetos que podem ser tratados convertendo matéria
orgânica em biogás, que é uma fonte alternativa de energia, de fácil
utilização, com a simultânea remoção e estabilização das cargas
poluentes. Salienta-se, porém, que apesar das perspectivas
favoráveis, a utilização de biodigestores em propriedades rurais não
foi bem difundida, devido à falta de conhecimento e de informação
tecnológica ao seu respeito (Oliveira, 2004).
Segundo Oliveira (2004), a geração de energia elétrica, com o uso de
biogás como combustível, pode ser dividida nas seguintes tecnologias
disponíveis no momento:
Conjunto Gerador de Eletricidade – Consiste em um motor de combustão
interna ciclo Otto (álcool, gasolina ou diesel) adaptado para o uso
do biogás como combustível, acoplado a um gerador de eletricidade,
independente da rede de energia elétrica da concessionária local.
Conjunto Gerador Economizador de Eletricidade – Consiste em um motor
de combustão interna ciclo Otto (álcool, gasolina ou diesel)
adaptado para o uso do biogás como combustível, acoplado a um motor
assíncrono, 2 ou 4 pólos, que passa a gerar energia ao ser conectado
à rede de energia elétrica da concessionária local.
No primeiro caso, o conjunto é independente de rede de energia
elétrica local, gerando energia dentro da propriedade com o sistema
de distribuição interno isolado. No segundo caso, gerador
economizador de eletricidade, o equipamento gera energia somente se
estiver conectado à rede de distribuição da concessionária de
energia somente se estiver conectado à rede de distribuição da
concessionária de energia elétrica, deixando de funcionar se a mesma
sofrer interrupção, ou manutenção nas redes elétricas externas.
Neste caso a energia gerada é distribuída na propriedade e na rede
externa até o transformador mais próximo (Oliveira, 2004).
Estudo desenvolvido por Oliveira (2004), avaliando o potencial de
produção de energia elétrica tendo como fonte de energia o biogás,
na região do meio oeste catarinense, concluiu que o consumo médio de
energia nas propriedades é de (
O rendimento da transformação da energia contida no biogás em
energia elétrica gira em torno de 25%, contra 65% quando
transformada em energia térmica.
Em síntese são grandes os benefícios atribuídos ao uso do biogás,
tanto pela preservação dos recursos locais, como a retirada de lenha
próxima à residência rural evitando problemas como erosão do solo,
por ser um gás higiênico produz menos fumaça quando comparado ao gás
de bujão, evitando assim resíduos de fuligem nas panelas e demais
utensílios de cozinha. Podendo também agregar valores econômicos a
propriedade suinocultoras.
A gaseificação de combustíveis sólidos é um processo bastante
antigo, realizada com o objetivo de produzir um combustível gasoso
com melhores características de transporte, melhor eficiência de
combustão e também que possa ser utilizado como matéria-prima para
outros processos. Basicamente, a gaseificação é a conversão
da biomassa em um gás combustível, através de sua oxidação parcial a
temperaturas elevadas. Este gás é conhecido como gás pobre ou “producer
gas”. O conteúdo médio dos compostos combustíveis no gás
resultante da biomassa é para o CO entre 15 e 30 %, para o H2
entre 12 e 40% e para o CH4
entre 4,5 e 9%. O poder calorífico do gás fica na faixa
entre 4 e 13 MJ/m³. Os menores valores correspondem à gaseificação
com ar e os maiores à gaseificação com adição de vapor de água ou
oxigênio. A gaseificação, embora
tecnologicamente mais complicada, apresenta algumas vantagens em
comparação com a combustão direta; A geração de eletricidade em
pequena escala pode ser realizada sem a necessidade de um ciclo de
vapor, utilizando o gás da biomassa diretamente em um motor de
combustão interna ou, em perspectiva, num motor Stirling,
microturbina a gás ou célula combustível. Deve-se destacar que é
possível obter eficiências comparáveis com as de centrais térmicas a
carvão, fato este que constitui uma quebra de paradigmas.
Gaseificadores:
Os gaseificadores são os equipamentos onde se realiza a conversão da
biomassa em gás e são classificados segundo os seguintes parâmetros:
a) Poder calorífico do gás produzido:
• Gás de baixo poder calorífico até 5 MJ/Nm3.
• Gás de médio poder calorífico de
• Gás de alto poder calorífico de
O poder calorífico do gás influi significativamente sobre a possível
aplicação do mesmo, como indicado na Figura 3.
b) Tipo de agente de gaseificação:
• Ar.
• Vapor de água.
• Oxigênio.
c) Pressão de trabalho:
• Baixa pressão (atmosférica).
• Pressurizados (até 3 MPa).
d) Direção do movimento relativo da biomassa e do agente de
gaseificação (Figura 4):
• Leito em movimento a contrafluxo com o gás (contracorrente).
• Leito em movimento a fluxo direto com o gás (concorrente).
• Leito em movimento perpendicular ao fluxo de gás (fluxo cruzado).
• Leito fluidizado.
Pirólise
O termo pirólise é utilizado para caracterizar a decomposição
térmica de materiais contendo carbono, na ausência de oxigênio.
Assim, madeira, resíduos agrícolas, ou outro qualquer tipo de
material orgânico se decompõe, dando origem a três fases: uma
sólida, o carvão vegetal; outra gasosa e finalmente, outra líquida,
comumente designada de fração pirolenhosa (extrato ou bioóleo). A
proporção relativa das fases varia como função da temperatura, do
processo e do tipo de equipamento empregado. Geralmente a
temperatura situa-se na faixa de 400ºC a 1000°C. A presença de
oxigênio é variável pelo tipo de matéria orgânica empregada no
processo, sendo que a introdução de oxigênio permite a continuidade
do processo de pirólise com aumento de rendimentos. Observa-se um
melhor rendimento na recuperação de subprodutos, baixo impacto
ambiental, e aplicabilidade do biooleo em escala industrial. E
interessante ressaltar que a definição dada para o processo de
pirólise exclui a presença de oxigênio, embora na prática muitos
processos de pirólise sejam conduzidos com alimentação de ar. Isto
se justifica pelo fato de que sendo o processo como um todo
endotérmico, calor e requerido para o seu pleno desenvolvimento.
Nada mais lógico portanto, que tentar conduzir o processo de tal
forma que o oxigênio adicionado possibilite a combustão de parte dos
produtos combustíveis formados, gerando portanto o calor necessário
ao processo. A grande aplicação do processo de pirólise tem sido na
produção de carvão vegetal, cujo rendimento pode chegar ate 40% em
peso, em relação à matéria-prima. O bioóleo, principal sub-produto e
composto basicamente de alcatrões solúveis e insolúveis e ácido
pirolenhoso que contem produtos químicos valiosos como o ácido
acético, metanol e acetona. Na grande maioria dos processos
pirolíticos a fase gasosa é utilizada como fonte de energia
suplementar ao processo e o seu rendimento pode variar desde 5% a
20% em peso, dependendo da temperatura em que o processo se
realiza.
Os trabalhos de P&D em pirólise, ao contrário da gaseificação - que
já atingiu a fase de desenvolvimento de sistemas de maior porte -
ainda está na etapa de teste de pequenas unidades. Ainda existem
incertezas quanto à essa rota, mesmo porque têm sido identificados
problemas de contaminação com álcalis e de instabilidade química dos
óleos por efeito da temperatura (BRIDGWATER, 1995).
Bioóleo
O bioóleo (líquido de fumaça) é conhecido no meio científico por
extrato pirolenhoso, trata-se de uma solução orgânica originada da
carbonização da madeira. No extrato pirolenhoso são encontradas
algumas substâncias como ácidos, cetonas, compostos fenólicos, etc.
No extrato pirolenhoso há uma alta exposição de grupos fenólicos e
carboxílicos de baixo peso molecular. O bioóleo é obtido a partir de
um processo denominado pirólise rápida - a qu
eima (degradação térmica) de resíduos agrícolas de pequeno tamanho
como bagaço de cana, casca de arroz, capim, casca de café e
serragem.
O processo
O reator pirolítico possui três zonas específicas a saber:
- zona de secagem: os resíduos que irão alimentar o reator, nesta
zona as temperaturas estão na ordem dos 100º a 150º C (vale lembrar
que esta etapa é de suma importância, pois a umidade pode interagir
negativamente com os resultados do processo).
- zona de pirólise: ocorrerá as reações propriamente ditas, sendo
elas a volatização, oxidação e a fusão, as temperaturas nesta fase
variam de 150º a 450º C, é onde são coletados os produtos (alcoóis,
óleo combustível, alcatrão, etc);
- zona de resfriamento: nesta fase os resíduos gerados pelo processo
são coletados no final do processo: carvão, cinzas e bioóleo).
Atualmente, o pesquisador Johnson Pontes de Moura enfatiza nos
levantamentos bibliográficos para a redação de sua monografia do
Curso de Especialização em Energias Renováveis com Ênfase em Biogás
da Universidade Federal de Integração Latino-Americana- UNILA, que é
factível estudar a viabilidade técnica de processos BIG-GT
(“Biomass Gasification/Gas Turbine”)
em geração de potência termelétrica alimentados por lamas de
bagaço de cana em glicerol.
Este estudo constará dos seguintes objetivos principais:
1)
Levantar o potencial e
disponibilidade de glicerol residual de processos de produção de
biodiesel no Brasil.
2)
Levantar o panorama atual de
excedente de bagaço de cana em usinas de açúcar e álcool no país.
3)
Levantar a disponibilidade e
eficiências de sistemas comerciais de limpeza de gás advindos de
gaseificador operando com biomassas a ser injetado em turbinas.
4)
Levantar (em literatura) de
proporções mínimas de combinações entre glicerol com bagaço de cana
factível de bombeamento em bombas comerciais para lamas.
5)
Desenvolver estudos visando a
otimização do gaseificador operando com tecnologia de leito
fluidizado borbulhante tento em vista maximizar a eficiência
exergética do mesmo. Fixada uma potência de exemplo para o processo,
o estudo ter como variáveis:
a)
Pressão de operação.
b)
Dimensões básicas do gaseificador,
como diâmetro e altura.
c)
Razão de ar.
d)
Razão de vapor injetado.
e)
Estratégia de injeção de gases
reagentes.
f)
Outras que se considerarem
interessantes.
6)
Repetir o
estudo anterior para o caso
de leito fluidizado circulante.
7)
Realizar a seleção
do processo de gaseificação
de maior eficiência exergética.
8)
Otimizar o
processo de geração de
potência global BIG-GT tendo em vista maximizar a eficiência
exegética do mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção de energia elétrica em larga escala a partir da biomassa
é um tema que vem sendo estudado, no últimos anos, com grande
interesse em vários países do Mundo. Esse interesse deve ser
creditado à conjunção de vários fatores (PATTERSON, 1994 e
BRIDGWATER, 1994):
(i) A produção de eletricidade a partir da biomassa têm um ciclo de
Carbono praticamente fechado, as emissões de SOx são muito pequenas
- ou nulas -, têm-se menos cinza residual de quando do uso de carvão
mineral, por exemplo.
(ii) alguns analistas acreditam que é no uso energético de resíduos
que vai ser definido o maior mercado, nos países desenvolvidos,
dessas novas tecnologias de conversão da biomassa. Esta tendência
será tanto mais forte quanto maior for a pressão da sociedade;
(iii) à conveniência da redução da dependência de alguns países com
relação aos combustíveis fósseis e, em especial, aos derivados de
petróleo, tópico que é sempre lembrado em associação à uma visão
geopolítica estratégica, muito embora o abastecimento e os preços
internacionais do petróleo estejam estáveis há muitos anos.
Em associação aos pontos acima listados, o DOE (1996) identifica um
certo número de oportunidades de curto e médio prazo que podem
facilitar o maior uso da biomassa na geração de energia elétrica.
São eles:
(i) algumas termoelétricas e várias caldeiras industriais que hoje
queimam carvão mineral deverão ser substituídas ou reformadas nos
próximos anos, o que define uma janela de oportunidade para a
conversão parcial dessas instalações para a queima conjunta da
biomassa;
(ii) especialistas do setor elétrico consideram que sistemas
híbridos de produção de eletricidade, que façam queima conjunta, por
exemplo, de biomassa e gás natural, oferecem baixíssimo risco;
(iii) em alguns segmentos industriais que fazem uso intensivo da
biomassa enquanto matéria prima e energia, existe um grande
potencial para a produção de eletricidade a partir, por exemplo, de
resíduos do processo.
A discussão sobre a necessidade e conveniência de geração de
potência elétrica utilizando biomassas já foi ultrapassada [1-8].
Sistemas BIG/GT
(Biomass Gasification/Gas Turbine) têm sido estudados como
alternativa a processos mais convencionais para utilização de
biomassa visando a geração de potência termelétrica. Entre tais
processos convencionais, o mais aplicado é baseado em caldeira
consumindo biomassa pulverizada em ciclo Rankine. Entretanto,
estudos [1-8] mostram que maiores eficiências podem ser logradas
pelo emprego de turbinas a gás alimentadas de efluente de
gaseificacão da biomassa.
Por outro lado, a experiência mostra que os sistemas de
alimentação de biomassas particuladas, tal como bagaço de cana, em
reatores a alta pressão trazem grandes problemas que são resolvidos
por meio de sistemas complexos de silos em cascata. Tais silos levam
pulatinamente a biomassa de atmosfera ambiente à reinante no
gaseificador. Para evitar pirólises ao longo da cascata, tais silos
são mantidos sob atmosferas de nitrogênio. Cabe ainda notar que em
casos de biomassas, como por exemplo, o bagaço de cana, as
partículas apresentam grande tendência a se entrelaçarem devido a
extremidades fibrosas. Tais estruturas formam “gaiolas” que
impossibilitam a continuidade de escoamento descendente nos silos.
Mecanismos de vibração e até mesmo de agitação por meio de pás no
interior dos silos são empregados para evitar ou desfazer tais
estruturas. Sistemas que combinam roscas operando sincronicamente
entre silos, controles, mecanismos para evitar engaiolamento da
biomassa nos silos mantidos em atmosferas de nitrogênio puro não são
apenas muito complexos como também extremamente custosos. Tais
fatores lançam grandes dúvidas sobre a viabilidade técnica e
econômica de tais processos.
Uma alternativa que evita tais problemas e simplifica
sensivelmente os sistemas de alimentação é o de se utilizar lamas de
biomassas que seriam bombeadas para o interior do reator. Tal
alternativa já está sendo utilizada por fabricantes no Japão e
Coréia do Sul em caldeiras consumindo carvão mineral e operando em
leito fluidizado borbulhante a altíssimas pressões. Sistemas de
grande porte (800 MW) geram vapor supercrítico em tubos imersos no
leito fluidizado que alimenta turbinas a vapor enquanto o gás de
escape da caldeira é injetado em turbinas à gás após apropriada
limpeza. Por outro lado, tal alternativa de alimentação com lamas aquosas de biomassa não se prestam a gaseificadores, pois a energia necessária para levar a água do estado líquido a vapor consumiria praticamente toda a energia advinda da combustão parcial da biomassa alimentada.
Dentro do panorama estratégico do Brasil para utilização de
biocombustíveis, surge a possibilidade de empregar o glicerol como
meio líquido em lamas de biomassa. O glicerol é resíduo da
fabricação de biodiesel e muitas vezes descartado, o que constitui
um sério problema ambiental e terrível desperdício de combustível.
Diferentemente da água, o glicerol seria combinado com a biomassa
para formar lamas, viabilizando técnica e economicamente processos
BIG/GT.
Diante da pesquisa e análise dos resultados obtidos no que se refere
à utilização dos biodigestores, pode-se concluir que:
O biodigestor atende as
exigências de tratamento dos dejetos suínos, reduzindo o potencial
de impacto ambiental, como a poluição do solo, águas e ar da região.
A produção do biogás e do biofertilizante pelo sistema de
biodigestão, agrega valor à propriedade rural suinocultora, de modo
que se trata de uma fonte alternativa e renovável de energia com
diversos tipos de utilizações e de um material orgânico de grande
poder de fertilização, respectivamente, como pode ser visto no
desenvolvimento do trabalho.
No estudo de caso realizado, evidenciaram-se exemplos da aplicação
do biogás e do biofertilizante, assim
como, o desenvolvimento de uma análise de viabilidade econômica,
onde foi possível demonstrar que se usado adequadamente os produtos
do biodigestor, muito provavelmente proporcionará grande benefício
financeiro com retorno certo de investimento, podendo superar
múltiplas vezes os melhores investimentos ou aplicações do mercado
atual.
Assim sendo conclui-se que o biodigestor além de uma excelente
ferramenta de tratamento de resíduos é de grande benefício
econômico.
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