Maria Amelia Vaz Alexandre Amarilidáceas A família Amaryllidaceae, anteriormente conhecida como Liliaceae, engloba vários gêneros incluindo Amaryllis, Crinus, Eucharis, Hippeastrum, Hymenocallis e Narcissus, entre outros. Grande parte de seus representantes ocorre nas regiões tropicais e subtropicais. Possuem bulbos, com grande capacidade para o armazenamento de água e nutrientes, que podem ser utilizados em verões secos, quando a planta permanece sem a parte aérea. Na primavera, emergem rapidamente do solo, iniciando seu crescimento mais cedo do que as plantas anuais, evitando deste modo a competição por nutrientes. Além dessa estratégia, as espécies desta família têm o ovário localizado na base de um longo tubo. O posicionamento ínfero dos ovários é uma proteção contra a herbivoria, particularmente nas zonas semiáridas do planeta onde o alimento é mais escasso. Quando o fruto (cápsula) se forma, o escapo alonga-se e empurra a cápsula para a superfície. Essa pressão evolutiva levou ao desenvolvimento de alcaloides e outras substâncias do metabolismo secundário tóxicos a alguns herbívoros. Esses compostos servem também para a atração de polinizadores e, como os alcaloides variam entre as espécies, podem ser usados na taxonomia da família.
Dentre as plantas ornamentais bulbosas produzidas comercialmente no Brasil, o amarílis merece destaque. Seu cultivo está distribuído em diferentes municípios do estado de São Paulo, como Vargem Grande do Sul e Santo Antonio de Posse, e é dedicado basicamente à exportação para a Holanda, sendo uma pequena parcela da produção destinada ao consumo interno. Nos últimos anos, bulbos de amarílis também têm sido produzidos no Ceará, visando à exportação especialmente para a Europa. Em relação ao lírio-do-Amazonas sua produção é pequena, destinada apenas à comercialização no mercado interno.
Hippeastrum / Amaryllis (Hipeastro, amarílis, açucena, lírio-beladona) Popularmente, hipeastro e amarílis são usados como sinônimos, porém, pertencem a gêneros diferentes. O Amaryllis constitui um gênero monotípico originário da África do Sul, enquanto o Hippeastrum tem cerca de 90 espécies e é originário de ampla região geográfica, do México à Argentina. A maioria das espécies de hipeastro é endêmica da Bacia Amazônica, considerada o centro de dispersão do gênero. Os primeiros híbridos foram produzidos na Holanda, em 1799, resultando do cruzamento de Hippeastrum reginae e H. vittatum, ambas nativas do Brasil. As pesquisas desenvolvidas em São Paulo, por técnicos do IAC, através de seleção em condições de campo, resultaram na produção de variedades mais aceitas pelo consumidor e melhor adaptadas às nossas condições.
Com relação às doenças, a queima ou mancha vermelha das folhas e a podridão do esclerócio, causadas pelos fungos Stagnospora curtisii e Sclerotium rolfsii, respectivamente, além das causadas por vírus, são prejudiciais à cultura. No Brasil, a maior parte das plantas de hipeastro produzidas apresenta mosaico foliar que pode ser associado a vírus. Eucharis (lírio-do-Amazonas) Eucharis, também conhecido como lírio-do-Amazonas (“Amazon lily”), encontrado em florestas tropicais, é uma planta altamente adaptada às condições de baixa luminosidade, característica que a torna interessante para cultivo em vasos, em ambientes internos, ou em canteiros a meia sombra. Esse gênero ocorre da Guatemala até a Bolívia, principalmente no oeste Amazônico. Eucharis amazonica é erroneamente conhecido como E. x grandiflora embora sejam taxonomicamente espécies distintas. Assim como o Hippeastrum, o Eucharis é infectado por diversos vírus, incluindo-se os Potyvirus que causam mosaico foliar.
Ocorrência de potyvirus em Hippeastrum e Eucharis A doença conhecida como mosaico do hippeastrum foi descrita em 1922 por Kunkel e o vírus associado (Hippeastrum mosaic virus – HiMV) foi parcialmente caracterizado nas décadas seguintes, por Brants & Van den Heuvel (1965) e Brunt (1973). Este vírus pertence ao gênero Potyvirus, apresenta morfologia alongado-flexuosa, com cerca de 750 nm de comprimento e é transmitido de modo não persistente por afídeos (Aphis gossypii e Myzus persicae). Ocorre naturalmente em espécies de amarilidáceas e pode ser transmitido mecanicamente, em laboratório, para um número muito pequeno de plantas indicadoras. O vírus tem distribuição mundial. Na literatura, além do HiMV, outros potyvirus são relatados, como o “Amaryllis potyvirus” e o “Amazon lily mosaic virus”, descritos em Taiwan. Uma espécie, recentemente aceita como definitiva pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV), o Amazon lily mosaic virus (ALiMV) descrita no Japão, parece não ter as mesmas características do potyvirus isolado em Taiwan, denominada erroneamente pelos autores de “Amazon lily mosaic virus”. A partir da utilização de técnicas moleculares e análise filogenética, associadas a estudos clássicos como o de transmissão mecânica, por afídeos e observações em microscopia eletrônica de transmissão, foi possível realizar uma comparação entre os diversos isolados descritos nos EUA, Taiwan, Holanda e Japão com os isolados brasileiros de potyvirus de Hippeastrum sp. (Hip-Br) e Eucharis sp. (Euch-C e Euch-B), provenientes de diferentes regiões. Os resultados do trabalho, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Biológico, permitiram identificar e caracterizar o HiMV, pela primeira vez no Brasil, nas três amostras com mosaico foliar: Hip-Br, Euch-C e Euch-B. A análise de sequências de nucleotídeos dessas amostras com as de Amaryllis e Eucharis, disponíveis no banco de dados internacional (GenBank), incluindo aquela denominada “Amazon lily mosaic virus”, permitiu definir claramente que são todos isolados do HiMV. Assim sendo, os nossos estudos não só demonstraram pela primeira vez a ocorrência do HiMV no Brasil, como contribuíram para o esclarecimento da posição taxonômica do potyvirus descrito em Taiwan como sendo um isolado do HiMV e não do ALiMV, como havia sido referido.
Considerações finais Patógenos têm sido perpetuados e disseminados por meio de bulbos infectados, ao longo de anos de cultivo. Com o crescente intercâmbio de material vegetal entre estados e países, torna-se imprescindível a utilização de técnicas diagnósticas rápidas e precisas para detecção de vírus, visando especialmente a seleção de material propagativo livre de vírus. Origem: Instituto Biológico - www.biologico.com.br Referências consultadas Alexandre, M.A.V.; Duarte, L.M.L.; Rivas, E.B.; Cill,i A.; Harakava, R.; Galleti, S.R.; Kitajima, E.W. Hippeastrum mosaic virus diagnosed in Hippeastrum and Eucharis in Brazil. Journal Plant Pathology, v.93, n.3, p.643-649, 2011. Alexandre, M.A.V.; Duarte L.M.L.; Campos-Farinha A.E.C. (Eds.) Plantas Ornamentais: Doenças e Pragas. Instituto Biológico, SP. 2008. Brunt, A.A. Hippeastrum mosaic virus. CMI/AAB Description of Plant Viruses. n.117, 1973. Cilli A.; Duarte L.M.L.; Galleti S.R.; Alexandre M.A.V.; Rivas E.B. Cucumber mosaic virus e Potyviridae em Eucharis grandiflora. Arquivos do Instituto Biológico, v.69, p.178–180, 2002. Derks A.F.L.M. Hippeastrum (Amaryllis). In: Loebenstein G.; Lawson R.H.; Brunt A.A. (eds.). Virus and virus-like diseases of bulb and flower crops. Chichester. p.293-297, 1995. Graf A.B. Hortica Color Cyclopedia of Garden Flora in all Climates and Plants Indoor. New Jersey. 1992. ICTV taxonomy, 2009. Potyvirus.
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Maria Amelia Vaz Alexandre
Dados para citação bibliográfica(ABNT): ALEXANDRE, M.A.V.; DUARTE, L.M.L.; RIVAS, E.B. Potyvirus em amarílis e lírio-do-Amazonas. 2012. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2012_1/potyvirus/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 16/02/2012 |