Desafios para o
armazenamento de sementes recalcitrantes
Caroline
Jácome Costa Diferentemente das sementes
ortodóxas, que compreendem a maior parte das espécies cultivadas, as
sementes recalcitrantes não sofrem redução do teor de água na
planta-mãe no final do período de maturação, sendo geralmente
dispersas com elevados graus de umidade, não ocorrendo transição
evidente entre o final da maturação e o início do processo de
germinação. A ocorrência de espécies vegetais que produzem sementes
recalcitrantes é observada tanto nas angiospermas como nas
gimnospermas, sendo frequente em espécies de habitats tropicais
aquáticos e semiaquáticos, nos quais o estabelecimento das plântulas
pode ser contínuo ao longo do ano. Espécies de importância econômica
cujas sementes apresentam comportamento recalcitrante incluem o
cacau (Theobroma cacao
L.), ingá (Inga
spp.), dendê (Elaeis
guineensis Jacq.), pinheiro-do-paraná
[Araucaria
angustifolia (Bertol.) Kuntze],
abacate (Persea americana
Mill.), pitanga (Eugenia uniflora
L.), jabuticaba (Myrciaria spp.),
macadâmia (Macadamia
integrifolia Maiden & Betche),
guaraná (Paullinia
cupana Mart.), manga (Mangifera
indica L.), nêspera (Eriobotrya
japonica Lindl.), seringueira (Hevea
brasiliensis Muell. Arg.), açaí (Euterpe
oleracea Mart.), jaqueira (Artocarpus
heterophyllus Lam.), mangaba (Hancornia
speciosa Gom.), pupunha (Bactris
gasipaes Kunth.), jenipapo (Genipa
americana L.), entre outras. O grau de umidade de sementes recalcitrantes da
maioria das espécies arbóreas tropicais, no momento da dispersão, é
bastante variável, podendo situar-se entre 23-25% e 46-53%. Além da sensibilidade à dessecação, muitas
sementes recalcitrantes de espécies tropicais são sensíveis ao frio,
não tolerando o armazenamento sob temperaturas inferiores a 15°C.
Isso impõe graves limitações e desafios ao armazenamento dessas
sementes em longo prazo, uma vez que os procedimentos
tradicionalmente empregados para o armazenamento das sementes
ortodoxas, que geralmente envolvem a redução do seu teor de água e o
acondicionamento em ambiente refrigerado, poderão causar-lhes danos
irreversíveis, levando à perda da viabilidade. Por outro lado, a
manutenção de elevados teores de água durante o armazenamento de
sementes recalcitrantes pode favorecer o desenvolvimento de
microrganismos prejudiciais às sementes ou culminar em sua
germinação. Nesse sentido, qualquer
procedimento destinado ao armazenamento de sementes recalcitrantes a
ser desenvolvido deve evitar a perda de água e manter suprimento
adequado de oxigênio às sementes, ao mesmo tempo em que deve
prevenir a proliferação de microrganismos e a germinação durante o
período de armazenamento. Como alternativas, há a possibilidade de
se recorrer à desidratação parcial das sementes e seu
acondicionamento em embalagens resistentes às trocas de umidade
entre estas e o ambiente, mas que permitam a respiração das sementes;
a estratificação das sementes em substrato higroscópico umedecido,
como areia, serragem, vermiculita ou pó de carvão vegetal;
e a criopreservação dos embriões excisados das sementes. Considerando-se a dificuldade de armazenamento de
sementes recalcitrantes em longo prazo, estratégias de conservação
in situ dessas espécies também devem ser levadas em consideração,
como forma de garantir a preservação e conservação do patrimônio
genético.
Caroline Jácome Costa
Dados para citação bibliográfica(ABNT): COSTA, C.J. Desafios para o armazenamento de sementes recalcitrantes. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_4/sementes/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 07/12/2011 |