Construção e Testes de Fogões Solares Para as Comunidades Carentes
do Semi-árido Nordestino
Johnson
Pontes de Moura
1.
Introdução
A discussão na comunidade científica sobre os males que a ação
antrópica provoca sobre o meio ambiente anda bastante avançada. Já
foi bastante discutida a reação adversa dos compostos de CFC,
provocando o buraco da camada de Ozônio, bem como o estudo frente a
compostos de enxofre, provocando a chuva ácida. Atualmente, ganha
força a investigação do aumento da emissão contínua de dióxido de
carbono e metano na atmosfera, estimulando ainda mais o efeito
estufa, ocasionando um aquecimento em nível global.
Esta quantidade de emissão faz com que o Brasil ocupe a 4ª posição
entre os emissores de GEE. Quando não levada em consideração o país
se posiciona em 18º (Combatendo as causas das Mudanças Climáticas,
2007).
No entanto, dentre as queimadas que vigoram em nosso país, a queima
da lenha para cocção de alimentos corresponde por 29,3% do total da
lenha produzida, o que corresponde a 26.564*103 toneladas,
fazendo com que, dentro da matriz energética residencial brasileira,
esse valor seja de 38% para dados de 2005 (Balanço Energético
Nacional, 2006). Em termos globais, a queima da lenha para cocção de
alimentos atinge 2,5 bilhões de pessoas, dos quais 23 milhões são
brasileiros (World Energy Outlook, 2006). O uso da lenha para
cozinhar dentro de casa leva a morte de 1,6 milhões de pessoas
devido a poluição em ambientes internos (Organização Mundial da
Saúde, 2005).
O fogão solar, uma tecnologia social capaz de cozer alimentos
utilizando apenas a energia do Sol, pode prover a substituição,
mesmo que parcial, desse consumo de lenha tão amplo.
No presente trabalho, procura-se mostrar a partir de uma revisão da
literatura como o equipamento solar tipo caixa pode contribuir como
medida mitigadora frente a emissão de GEE, analisando a contribuição
do dióxido de carbono proveniente da contribuição da lenha.
2.
Justificativa e Relevância do Trabalho
Desde muito tempo
as comunidades rurais do Brasil e principalmente as do nordeste
sofrem com a falta de infra-estrutura básica. No Rio Grande do Norte
onde existem comunidades rurais isoladas serão implantadas fogões
solares do tipo caixa e o pessoal treinado para a construção dos
fogões solares de baixo custo, para fins de geração de emprego e
renda com beneficio direto e
indireto para o município.
Serão frutos
deste estudo construções de protótipos de fogões solares que
empregam fontes alternativas de energia para as comunidades
carentes, utilizando materiais de baixo custo orçamentário, para a
melhoria das condições de vida da população rural (econômica,
social, educacional, saúde, conforto). Este trabalho trará uma
efetiva solução para diversas famílias, seja pelo baixo custo de
construção e montagem do fogão seja pela economia que ele
proporciona ao consumo de energia, com relação ao gás de cozinha.
Tudo isso aliado a uma conscientização ecológica com o uso de
materiais compósitos, descartados ou encontrados em sucatas cuidando
assim da região onde vivem. O trabalho também apresentará uma boa
contribuição científica e poderá servir como fonte de pesquisa para
desenvolvimento de novas formas de energias limpas e renováveis.
3. Revisão da Literatura
Fogões solares se dividem em
três grupos: os parabólicos, de painel e o tipo caixa (como
mostrados nas figuras 1 e a tabela 1). Este último foi feito
enquanto objeto de análise na dissertação (Moura, 2007), por possuir
melhores resultados dentre os tipos analisados. O fogão solar tipo
caixa funciona com o princípio do efeito estufa, onde o calor é
retido em uma caixa, visando a cocção de alimentos.
Nos
fogões 01 e 03 foi possível atingir a temperatura de 90 ºC, após um
tempo de 2 h 50 min e 1h 10 min respectivamente. A temperatura
máxima atingida no fogão 02 foi 53 ºC e no fogão 04 foi 85 ºC.
O
fogão 01 funcionou a contento, com um rendimento próximo ao
encontrado na literatura conforme apresentado na tabela 3.2. O fogão
02 teve um rendimento muito baixo. Apesar de sua grande superfície
coletora, o fogão 02 possui também uma grande superfície de perda de
calor. Além disto, sua construção não foi muito esmerada, existindo
perdas de calor pela junção dos dois vidros. A grande inclinação dos
espelhos em vez de direcionar a radiação para a panela provocou a
reflexão de parte da radiação para o exterior.
O
fogão concentrador parabólico 03 funcionou a contento. O bom
acabamento da superfície refletora concentrou os raios solares no
fundo da panela com precisão. Como somente o fundo da panela foi
aquecido, as perdas térmicas para o meio ambiente foram menores. O
uso de uma panela de fundo preto e superfícies laterais polidas
poderiam minimizar ainda mais as perdas térmicas por radiação.
O
fogão concentrador cônico por sua vez concentra a radiação na
superfície lateral da panela. Quanto maior for a radiação, maiores
as perdas térmicas para o meio ambiente. O uso de panelas com
superfícies laterais negras aumentam a absorção da radiação solar e
aumenta as perdas térmicas para o meio ambiente. O uso de panelas
com superfícies laterais polidas diminuem consideravelmente a
absorção da radiação solar. Além disto, como a construção também não
foi esmerada, o foco não ficava totalmente sobre a panela.
Nos
dois fogões concentradores verifica-se que é muito importante o
posicionamento correto da panela em relação ao foco. Caso a panela
fique fora do foco, não se consegue um funcionamento satisfatório.
4. Materiais e Métodos
A metodologia a ser empregada está baseada nos objetivos da presente
proposta:
Uma das qualidades dos fogões de caixa solar é sua facilidade de
funcionamento. Para cozinhar ao meio-dia na latitude de 20° N - 20°
S, o fogão de caixa solar sem refletor precisa de um pequeno
remanejamento para ficar voltado para o Sol enquanto ele se move
através do céu de meio-dia. A caixa com a face voltada para cima e o
Sol está alto no céu por boa parte do dia. As caixas com refletores
podem ser posicionadas em direção ao Sol da manhã e da tarde para
fazer o cozimento nestas partes do dia.
Resumo
No contexto dos dados da matriz energética brasileira apontam para a
necessidade de massificar o uso do fogão solar para o cozimento de
alimentos, como forma de preservação da natureza, e contribuição
para amenizar o desequilíbrio ecológico pelo uso indiscriminado da
lenha, além do fato de minimizar a emissão de gases poluentes para a
atmosfera. Como se podem ver, estudos que viabilizem o uso do fogão
solar, através da otimização do seu processo de construção e dos
níveis de temperatura gerados, bem como a melhoria do conforto de
quem o utiliza, devem ter prioridade e são imprescindíveis para uma
política de combate ao desequilíbrio ecológico, que amenizem a
matriz energética, contribuam para a fixação do homem no campo e
possa dar-lhe uma opção de geração de renda, através do domínio da
construção de fogões solares, para sua futura comercialização.
Palavras-chave:
fogões solares, energia, matriz energética.
5. Referências
IPC,2001. Climate
Change 2001 (3 vols).
United Nations
Intergovernmental Panel in Climate Change. Cambridge
University Press, UK. (available from
www.ipcc.ch).
PINHEIRO, PAULO CÉSAR DA COSTA.
Análise e Testes de
4 Fogões Solares.
IN: 11th Brazilian Congress of Thermal Engineering and
Sciences - ENCIT 2006, 5-8 Dezembro 2006, Curitiba, PR, Proceedings.
Curitiba, PR, ABCM, Brazilian Society of Mechanical Sciences and
Engineering, 2006, (CD-ROM), CIT06-0941, 8p.
Johnson
Pontes de Moura
é Engenheiro Químico, DOUTORANDO EM Engenharia Mecânica-UFPE.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): M OURA, J.P. de Construção e Testes de Fogões Solares Para as Comunidades Carentes do Semi-árido Nordestino. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_4/FogaoSolar2/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 11/12/2011 |