Fatores econômicos, políticos, sociais e ambientais relacionados à
crescente preocupação mundial com uso de combustíveis fósseis
impulsionam a pesquisa na busca de fontes alternativas de energia,
derivadas de matérias primas renováveis. Nesse cenário, umas das
alternativas promissoras para substituir o óleo diesel derivado do
petróleo é o biodiesel, um combustível produzido por fontes
renováveis de energia, tais como óleos vegetais (soja, dendê, mamona
e outros) e gorduras animais. Um dos métodos utilizados para a
produção de biodiesel é o da transesterificação de óleos e gorduras.
Ele consiste na reação química do óleo ou gordura com um mono-álcool
de cadeia curta (metanol ou etanol) na presença de um catalisador
(ácido ou básico), levando a formação de mono-ésteres (biodiesel) e
glicerina (glicerol bruto) (Ma & Hanna, 1999). A proporção entre
esses dois produtos é de cerca de 10% de glicerina em relação ao
total do biodiesel produzido.
O
Programa Nacional de Uso e Produção de Biodiesel (PNPB) introduziu
esse biocombustível na matriz energética brasileira pela lei nº
11.097, de 13 de Janeiro de 2005. Essa lei institui que todo óleo
diesel comercializado no país deverá conter um percentual de 5% de
biodiesel até o ano de 2013. Essa regra foi antecipada pela
Resolução
nº
6/2009 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e o
percentual de 5% passou a ser obrigatório desde 1º de janeiro de
2010. Nesse ano, produção de biodiesel no país foi de 2,4 bilhões de
litros, acarretando, consequentemente, um aumento de glicerina
disponível no mercado, o que faz com que o preço desse produto caia.
Além disso, o excedente de glicerina pode causar sérios prejuízos
caso liberado no meio ambiente. Outro problema é que esse material
traz resíduos e impurezas oriundos do processo de produção e
tratamentos necessários para purificação do mesmo são economicamente
inviáveis. Sendo assim, o glicerol bruto não pode ser utilizado por
indústrias que requerem um composto mais puro como, por exemplo, a
alimentícia, a farmacêutica e a de cosméticos, e novos usos para ele
devem ser viabilizados.
Por ser extremamente comum e abundante na natureza, vários
microorganismos são capazes de utilizar o glicerol como fonte de
carbono. Por isso, um dos destinos possíveis para o material
resultante da indústria do biodiesel é seu uso na composição de
meios de cultura para crescimento de microrganismos em processos
biotecnológicos que levem à produção de moléculas de interesse
econômico. Vários compostos químicos de relevância comercial -
etanol, ácido succcínico, ácido propiônico, ácido cítrico,
pigmentos, biosurfactante, biopolímeros etc - podem ser produzidos
por microorganismos crescidos em glicerol bruto (da Silva et al.,
2009). A levedura de uso industrial Pichia pastoris, por
exemplo, é um candidato extremamente promissor, pois consegue
atingir uma alta densidade celular tendo glicerol como fonte de
carbono. Essa levedura é amplamente utilizada na produção de
proteínas heterólogas de interesse comercial (Cregg et al., 2000),
dentra elas α-amilase, α-galactosidase, β-lactamase,
β-galactosisidase, endoglucanase, peroxidase e diversas outras
substâncias.
Uma aplicação interessante é o uso de enzimas
expressas por P. pastoris
é na fabricação de ração animal. Fitase, fosfatase ácida, celulases
e hemicelulases são alguns exemplos de enzimas expressas por essa
levedura utilizadas na indústria de rações para animais. Essa
indústria representa um setor importante do agronegócio no país e
medidas que auxiliem o desenvolvimento econômico, permitindo uma
redução no custo de produção, são de grande interesse.
A
criação de alternativas ambientalmente favoráveis para o uso de
resíduos provenientes de fontes renováveis de energia é uma área com
amplas possibilidades para pesquisa e investimento. Soluções que
gerem produtos com valor agregado economicamente vantajosos são um
grande desafio para a pesquisa relacionada à agroenergia em todo o
mundo. Alguns produtos que atualmente são derivados de petróleo
podem, a princípio, ser produzidos biotecnologicamente por
microorganismos que utilizam o glicerol. Isso traria benefícios
econômicos e para o meio ambiente, pois promoveria o uso de
biodiesel, reduziria a dependência do petróleo, diminuiria a emissão
dos gases do efeito estufa e aumentaria a fabricação de produtos
químicos, alimentos, rações, etc.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): FRANCO, P.F. Biodiesel, Glicerol e Microorganismos. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_4/biodiesel/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 12/12/2011 |