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Todas as fruteiras estão sujeitas ao ataque de fungos,
tanto na fase de produção como na de pós-colheita. O
consumidor muitas vezes observa que suas frutas apresentam
manchas escuras, necrose, podridões que, com o tempo, causam
sua deterioração, tornando-as impróprias para o consumo ou,
às vezes, não interferem no seu interior e nem no sabor, mas
causam má aparência, levando ao descarte.
O período entre colheita e o consumo das frutas frescas é
altamente favorável ao ataque de fungos. Alta umidade e
temperatura, bem como condições inadequadas de transporte,
armazenamento e manuseio, podem danificar a casca
propiciando a penetração de fungos e o desenvolvimento de
podridões.
A grande maioria das doenças que surgem em pós-colheita tem
a sua origem nos campos de produção e, em alguns casos,
causam problemas apenas muito tempo depois, quando as frutas
chegam à mesa do consumidor.
Este trabalho apresenta a doença conhecida como antracnose,
causada pelo fungo Colletotrichum spp. e um dos
grandes agentes de deterioração de frutas. Os fungos do
gênero Colletotrichum são fitopatógenos importantes
nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Espécies de
Colletotrichum podem infectar as fruteiras na época
de floração, por aberturas naturais e frutos em formação e
maduros, diretamente ou pelos ferimentos (Figura 1).
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Figura 1 - Ciclo das doenças causadas
por Glomerella cingulata e Colletotrichum spp. Adaptado de
Agrios 2005. |
Sintomatologia
Em geral, os sintomas da doença são caracterizados por
manchas necróticas, queima e queda de flores, podridão e
queda de frutos, cancro e secamento de ramos, tombamento de
plantas jovens, etc. As manchas são necróticas de coloração
escura, com bordos definidos e formato irregular nas folhas.
Nos ramos, as manchas são escuras, às vezes deprimidas,
podendo causar seca dos ramos e dos ponteiros. Nas flores
ocorre seca ou abscisão e, quando infectadas através do
botão floral, poderá afetar o desenvolvimento do fruto,
causando a sua queda prematura e/ou podridão. Os sintomas
nos frutos variam de acordo com a espécie, mas, de maneira
geral, iniciam-se por pequenas pontuações de coloração
marrom a preta, com formato circular, onde frequentemente
são observados círculos concêntricos, com massas alaranjadas
que contêm os esporos do fungo. As lesões evoluem e atingem
parte do fruto ou necrosando-o completamente. As necroses
ultrapassam a casca e alcançam a polpa do fruto. Uma vez
dentro do fruto, o fungo causa um escurecimento da polpa. É
muito comum a ocorrência de frutos com podridão no pedúnculo,
a qual tem início nas infecções ocorridas nas flores ou em
pós-colheita no ponto de cicatrização, caso ocorra a queda
do pedúnculo. Em geral, este tipo de sintoma leva ao
apodrecimento de todo o fruto, acarretando a sua queda.
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Figura 2 – podridão em banana
Foto:
J.T.Ferrari |
Figura 3 – lesão em fruto de carambola
Foto: J.T.Ferrari |
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Figura 4 – podridão em fruto de nêspera
Foto: R.J.Domingues |
Figura 5 – podridão em fruto de maçã
Foto: J.T.Ferrari |
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Figura 6 – podridão em mamão
Foto:
J.T.Ferrari |
Figura 7 – manchas em fruto de maracujá
doce
Foto: J.T.Ferrari |
Agente causal
As espécies mais comuns do gênero Colletotrichum
associadas às fruteiras estão descritas a seguir e no Quadro
1
Quadro 1. Espécies do gênero
Colletotrichum associados às fruteiras. |
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Colletotrichum gloeosporioides - é
um dos fungos mais comuns causando doenças em plantas, entre
as quais as fruteiras. O fungo é associado à pelo menos 470
hospedeiros de diferentes gêneros. A espécie também é
conhecida como um patógeno latente, causando problemas
pós-colheita. Amplamente conhecido como um patógeno que
causa podridão em frutas, tanto no campo como em
pós-colheita, é também capaz de afetar outras partes das
plantas hospedeiras causando sintomas como podridão da flor,
da coroa, mancha e necrose das folhas, raiz, desfolha e
queda de frutos, além das sementes. A fase perfeita ou
sexual do fungo corresponde à Glomerella cingulata.
Colletotrichum acutatum - é uma
espécie difícil de distinguir morfologicamente de C.
gloeosporioides, pois ambos possuem extensa
variabilidade cultural e infectam o mesmo círculo de
hospedeiros. Entre as três espécies de Colletotrichum
que causam antracnose no morangueiro, o C. acutatum
é a espécie predominante em infecções de flores e
frutos. Além disso, essa espécie é considerada a mais
agressiva na infecção destes órgãos da planta.
Colletotrichum fragariae - é uma
das espécies que causa antracnose no morango, que inclui
também C. acutatum e C. gloeosporioides.
Cada uma destas espécies produz sintomas semelhantes em
morango, incluindo a podridão da coroa, a podridão do fruto
e lesões nos estolões. C. fragariae é
frequentemente apontado como causador das lesões dos
pecíolos e estolhos, cuja extensão e profundidade variam, de
acordo com o grau de resistência da cultivar. Tanto o
C.acutatum como C. fragariae, são relatados
como agentes etiológicos da flor preta, uma das mais severas
doenças do morangueiro, caracterizada pela necrose das
inflorescências, afetando flores e frutos jovens.
Colletotrichum musae - descrito
para as espécies de banana (Musa balbisiana, M.
cavendishii, M. paradisiaca, M. sapientum
e M. acuminata). Em banana, a doença se
manifesta nos cachos e nas pencas, afetando os frutos
maduros sob a forma de manchas escuras que evoluem e tomam
todo o fruto. Nos frutos de carambola, goiaba, mamão, maçã e
nêspera, as manchas são escurecidas e no centro delas são
observadas as frutificações do fungo, sob a forma de uma
massa rósea, contendo milhares de esporos.
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Figura 8 – manchas em folha de maracujá
amarelo
Foto: J.T.Ferrari |
Figura 9 – flor preta do morango
Foto:
R.J.Domingues |
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Figura 10 – podridão em fruto de manga
Foto: J.T.Ferrari |
Figura 11 – lesões em abacate
Foto:
E.M.de C. Nogueira |
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Figura 12 – podridão em frutos de
cajá-manga
Foto: E.M.de C. Nogueira |
Figura 13 - Podridão em caqui.
Foto: J.T.Ferrari |
Epidemiologia
As doenças causadas pelo Colletotrichum spp. são
favorecidas por temperaturas entre 25 e 30°C e alta umidade.
Períodos chuvosos são extremamente favoráveis ao rápido
desenvolvimento da doença, principalmente em cultivares
suscetíveis. O inóculo primário em área sem histórico da
ocorrência da antracnose é proveniente de mudas contaminadas
pelo patógeno. Nas áreas onde já ocorreu a doença, a fonte
de inóculo primário pode ser o próprio solo ou restos de
cultura, pois o patógeno pode sobreviver por mais de nove
meses nesses locais. O fungo consegue sobreviver em frutos
infectados ou mumificados por mais de dois anos. Com o
desenvolvimento da doença, folhas, pecíolos e ramos
infectados servirão de fonte de inóculo para outras partes
da planta como flores e frutos. A disseminação do patógeno
pode ser rápida quando não é feito um controle efetivo da
doença através da aplicação preventiva de fungicidas e
remoção de folhas, flores e frutos doentes, visando reduzir
o potencial de inóculo dentro da cultura. O vento e
respingos de chuva são muito eficientes na dispersão de
esporos a partir de órgãos infectados da planta dentro da
cultura.
Referências
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Academic Press, Amsterdan. 2005. 948p.
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WHARTON , P.S.; DIÉGUEZ-URIBEONDO, J. The biology of
Colletotrichum acutatum. Anales del Jardín Botánico
de Madrid, v.61, p.3-22, 2004.
Josiane T. Ferrari -
takassaki@biologico.sp.gov.br
Ricardo J. Domingues -
domingues@biologico.sp.gov.br
Jesus G. Töfoli -
tofoli@biologico.sp.gov.br
Eduardo M. de C. Nogueira -
nogueira@biologico.sp.gov.br
Centro de P&D de Sanidade Vegetal
Reprodução autorizada desde
que citado a autoria e a fonte
Dados para citação
bibliográfica(ABNT):
FERRARI, J.T.; DOMINGUES, R.J.; TÖFOLI, J.G.;
NOGUEIRA, E.M.C.
Antracnose associada às fruteiras.
2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_4/antracnose/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos
em 19/11/2011
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