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Antracnose associada às fruteiras

Josiane T. Ferrari
Ricardo J. Domingues
Jesus G. Töfoli
Eduardo M. de C. Nogueira

   

Todas as fruteiras estão sujeitas ao ataque de fungos, tanto na fase de produção como na de pós-colheita. O consumidor muitas vezes observa que suas frutas apresentam manchas escuras, necrose, podridões que, com o tempo, causam sua deterioração, tornando-as impróprias para o consumo ou, às vezes, não interferem no seu interior e nem no sabor, mas causam má aparência, levando ao descarte.

O período entre colheita e o consumo das frutas frescas é altamente favorável ao ataque de fungos. Alta umidade e temperatura, bem como condições inadequadas de transporte, armazenamento e manuseio, podem danificar a casca propiciando a penetração de fungos e o desenvolvimento de podridões.

A grande maioria das doenças que surgem em pós-colheita tem a sua origem nos campos de produção e, em alguns casos, causam problemas apenas muito tempo depois, quando as frutas chegam à mesa do consumidor.

Este trabalho apresenta a doença conhecida como antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum spp. e um dos grandes agentes de deterioração de frutas. Os fungos do gênero Colletotrichum são fitopatógenos importantes nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Espécies de Colletotrichum podem infectar as fruteiras na época de floração, por aberturas naturais e frutos em formação e maduros, diretamente ou pelos ferimentos (Figura 1).

Figura 1 - Ciclo das doenças causadas por Glomerella cingulata e Colletotrichum spp. Adaptado de Agrios 2005.

Sintomatologia

Em geral, os sintomas da doença são caracterizados por manchas necróticas, queima e queda de flores, podridão e queda de frutos, cancro e secamento de ramos, tombamento de plantas jovens, etc. As manchas são necróticas de coloração escura, com bordos definidos e formato irregular nas folhas. Nos ramos, as manchas são escuras, às vezes deprimidas, podendo causar seca dos ramos e dos ponteiros. Nas flores ocorre seca ou abscisão e, quando infectadas através do botão floral, poderá afetar o desenvolvimento do fruto, causando a sua queda prematura e/ou podridão. Os sintomas nos frutos variam de acordo com a espécie, mas, de maneira geral, iniciam-se por pequenas pontuações de coloração marrom a preta, com formato circular, onde frequentemente são observados círculos concêntricos, com massas alaranjadas que contêm os esporos do fungo. As lesões evoluem e atingem parte do fruto ou necrosando-o completamente. As necroses ultrapassam a casca e alcançam a polpa do fruto. Uma vez dentro do fruto, o fungo causa um escurecimento da polpa. É muito comum a ocorrência de frutos com podridão no pedúnculo, a qual tem início nas infecções ocorridas nas flores ou em pós-colheita no ponto de cicatrização, caso ocorra a queda do pedúnculo. Em geral, este tipo de sintoma leva ao apodrecimento de todo o fruto, acarretando a sua queda.

Figura 2 – podridão em banana
Foto: J.T.Ferrari
Figura 3 – lesão em fruto de carambola
Foto: J.T.Ferrari
   
Figura 4 – podridão em fruto de nêspera
Foto: R.J.Domingues
Figura 5 – podridão em fruto de maçã
Foto: J.T.Ferrari
   
Figura 6 – podridão em mamão
Foto: J.T.Ferrari
Figura 7 – manchas em fruto de maracujá doce
Foto: J.T.Ferrari

Agente causal

As espécies mais comuns do gênero Colletotrichum associadas às fruteiras estão descritas a seguir e no Quadro 1

Quadro 1. Espécies do gênero Colletotrichum associados às fruteiras.


Colletotrichum gloeosporioides - é um dos fungos mais comuns causando doenças em plantas, entre as quais as fruteiras. O fungo é associado à pelo menos 470 hospedeiros de diferentes gêneros. A espécie também é conhecida como um patógeno latente, causando problemas pós-colheita. Amplamente conhecido como um patógeno que causa podridão em frutas, tanto no campo como em pós-colheita, é também capaz de afetar outras partes das plantas hospedeiras causando sintomas como podridão da flor, da coroa, mancha e necrose das folhas, raiz, desfolha e queda de frutos, além das sementes. A fase perfeita ou sexual do fungo corresponde à Glomerella cingulata.

Colletotrichum acutatum - é uma espécie difícil de distinguir morfologicamente de C. gloeosporioides, pois ambos possuem extensa variabilidade cultural e infectam o mesmo círculo de hospedeiros. Entre as três espécies de Colletotrichum que causam antracnose no morangueiro, o C. acutatum é a espécie predominante em infecções de flores e frutos. Além disso, essa espécie é considerada a mais agressiva na infecção destes órgãos da planta.

Colletotrichum fragariae - é uma das espécies que causa antracnose no morango, que inclui também C. acutatum e C. gloeosporioides. Cada uma destas espécies produz sintomas semelhantes em morango, incluindo a podridão da coroa, a podridão do fruto e lesões nos estolões. C. fragariae é frequentemente apontado como causador das lesões dos pecíolos e estolhos, cuja extensão e profundidade variam, de acordo com o grau de resistência da cultivar. Tanto o C.acutatum como C. fragariae, são relatados como agentes etiológicos da flor preta, uma das mais severas doenças do morangueiro, caracterizada pela necrose das inflorescências, afetando flores e frutos jovens.

Colletotrichum musae - descrito para as espécies de banana (Musa balbisiana, M. cavendishii, M. paradisiaca, M. sapientum e M. acuminata). Em banana, a doença se manifesta nos cachos e nas pencas, afetando os frutos maduros sob a forma de manchas escuras que evoluem e tomam todo o fruto. Nos frutos de carambola, goiaba, mamão, maçã e nêspera, as manchas são escurecidas e no centro delas são observadas as frutificações do fungo, sob a forma de uma massa rósea, contendo milhares de esporos.

   
Figura 8 – manchas em folha de maracujá amarelo
Foto: J.T.Ferrari
Figura 9 – flor preta do morango
Foto: R.J.Domingues
   
   
Figura 10 – podridão em fruto de manga
Foto: J.T.Ferrari
Figura 11 – lesões em abacate
Foto: E.M.de C. Nogueira
   
 
Figura 12 – podridão em frutos de cajá-manga
Foto: E.M.de C. Nogueira
Figura 13 - Podridão em caqui.
Foto: J.T.Ferrari

Epidemiologia

As doenças causadas pelo Colletotrichum spp. são favorecidas por temperaturas entre 25 e 30°C e alta umidade. Períodos chuvosos são extremamente favoráveis ao rápido desenvolvimento da doença, principalmente em cultivares suscetíveis. O inóculo primário em área sem histórico da ocorrência da antracnose é proveniente de mudas contaminadas pelo patógeno. Nas áreas onde já ocorreu a doença, a fonte de inóculo primário pode ser o próprio solo ou restos de cultura, pois o patógeno pode sobreviver por mais de nove meses nesses locais. O fungo consegue sobreviver em frutos infectados ou mumificados por mais de dois anos. Com o desenvolvimento da doença, folhas, pecíolos e ramos infectados servirão de fonte de inóculo para outras partes da planta como flores e frutos. A disseminação do patógeno pode ser rápida quando não é feito um controle efetivo da doença através da aplicação preventiva de fungicidas e remoção de folhas, flores e frutos doentes, visando reduzir o potencial de inóculo dentro da cultura. O vento e respingos de chuva são muito eficientes na dispersão de esporos a partir de órgãos infectados da planta dentro da cultura.

Referências

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Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br

Josiane T. Ferrari - takassaki@biologico.sp.gov.br
Ricardo J. Domingues - domingues@biologico.sp.gov.br
Jesus G. Töfoli - tofoli@biologico.sp.gov.br
Eduardo M. de C. Nogueira - nogueira@biologico.sp.gov.br
Centro de P&D de Sanidade Vegetal



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

FERRARI, J.T.; DOMINGUES, R.J.; TÖFOLI, J.G.; NOGUEIRA, E.M.C. Antracnose associada às fruteiras. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_4/antracnose/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 19/11/2011