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 Paralelo 30: futuro eixo para produção de etanol no RS?

Ivan Rodrigues de Almeida

Sergio Delmar dos Anjos e Silva

 

Por meio da Portaria 332, publicada em dezembro de 2009, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento colocou o estado do Rio Grande do Sul na rota da expansão do cultivo de cana-de-açúcar para aumento da produção de etanol no país. As principais regiões beneficiadas com esta medida estão situadas nas porções noroeste, oeste e nas proximidades do paralelo trinta (mais precisamente nos vales do Rio Uruguai, e na Depressão Central formada pelas bacias dos Rios Ibicuí e Baixo Jacuí), contemplando aproximadamente 250 municípios.

O reconhecimento de antigos zoneamentos agroclimáticos produzidos pela Embrapa e o mais recente zoneamento agroecológico demonstram a viabilidade econômica de produção de cana-de-açúcar, independente da condição mais fria do inverno gaúcho, argumento frequentemente utilizado (por interesses diversos) para desestimular iniciativas de avanço do setor canavieiro no estado. Resultado direto desta primeira ação governamental é a possibilidade de acesso a políticas públicas de uso de crédito rural e de seguro agrícola.

No entanto, onde estão as usinas? A grande e justa reivindicação dos agricultores em também participar deste novo modelo agrícola e econômico com base na produção de agroenergia, como o biodiesel e o etanol, não obterá êxito se outras iniciativas não forem tomadas para instalação de unidades industriais de processamento com objetivo de atender às demandas do país e, principalmente, às do próprio estado.

Atualmente, a única usina em atividade no município de Porto Xavier não atende a 2% da necessidade do Rio Grande do Sul e, dos projetos que têm publicidade, somente dois estão em tímido andamento nos municípios de São Luiz Gonzaga e Rio Pardo. Mesmo com a instalação da maior unidade industrial do mundo produtora de eteno derivado de etanol, conhecido como "plástico verde", ainda não se percebe mobilização, seja pelo setor público ou privado, para aproveitar a grande oportunidade para o mercado consumidor interno e as condições de produção e logística presentes no sul do país.

Apesar de os dados históricos de produção de cana-de-açúcar levantados pelo IBGE no estado apresentarem baixo rendimento, esta constatação não reflete a realidade do potencial de produtividade devido ao fato de mais de 90% da área ocupada com cana-de-açúcar ser destinada a outras finalidades, como produção de melado, rapadura e alimentação de animais. Até mesmo as pequenas destilarias que produzem cachaça não devem ser tomadas como referência da capacidade de produção de etanol, porque não utilizam sistemas de produção e cultivares indicadas para este fim.

A falta de tradição no cultivo de cana-de-açúcar em padrões de integração agroindustrial ainda causa certa apreensão, já discutida em seminários na Assembleia Legislativa, sobre os modelos de produção mais adequados ao perfil de agricultores e à realidade fundiária do estado, na expectativa que não se criem conflitos sociais e desequilíbrios ambientais pela simples importação de exemplos e práticas agrícolas utilizadas em outros estados brasileiros. A constatação até o presente momento, é que a larga experiência acumulada que existe no Brasil, confere ao setor canavieiro uma expressiva capacidade de adaptação aos diferentes segmentos sociais e contextos econômicos regionais. Essa adaptação está em andamento nas tradicionais regiões produtoras, induzidas a se adequar à proibição da queima de canaviais e fazer uso da mecanização nos processos de colheita.

Também é fato que, a partir da instalação de uma usina de açúcar e álcool, a região em seu entorno tende a concentrar cultivos de modo mais permanente, principalmente num raio de 20 km devido a questões de logística e custo do transporte. Porém, quase 1,5 milhões de hectares foram identificados pelo zoneamento agroecológico no estado do Rio Grande do Sul, esta área não fere o atual Código Florestal Brasileiro, nem deverá concorrer com as culturas de alimentos como o arroz, a soja e o milho que já ocupam aproximadamente mais de 6 milhões de hectares, também de modo anual e sucessivamente permanente. Em termos de logística rodoviária, a região da Depressão Central compreendida entre as rodovias BR 287 e BR 290, a partir da capital até o extremo oeste do estado, se mostra promissora à implantação de um eixo canavieiro no estado, conforme denota o conjunto de municípios listados na referida Portaria.

Como resultado das pesquisas conduzidas pela Embrapa Clima Temperado em parceria com a Universidade Federal do Paraná/Ridesa, o estado do Rio Grande do Sul deverá receber uma extensão de indicação de cultivares para fins de produção de etanol. A apresentação desta indicação tem como objetivo dispor, preliminarmente ao segmento de produtores, um conjunto de cultivares adaptadas para cada região do estado, suas características de produção e potencial produtivo. Portanto, os fatores na base produtiva convergem para que se alcance empreendimentos de sucesso na formação de uma cadeia sucroalcooleira, caso se promovam investimentos nesta área.

Analisar o "custo de oportunidade" é o novo desafio que se apresenta aos empresários e ao Executivo do estado e municípios, de um lado pela avaliação da perspectiva de geração de empregos e retorno econômico para investimentos de médio a longo prazo, e de outro lado pelo setor público, pela possibilidade de proporcionar a dinamização entre o setor rural e industrial, seja por meio de incentivos fiscais ou outros mecanismos de governo para incentivar arranjos locais de produção.


Ivan Rodrigues de Almeida possui graduação em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (1995), mestrado (2000) e doutorado (2005) em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Presidente Prudente - SP). Atualmente ocupa o cargo de Pesquisador A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Climatologia Geográfica, atuando principalmente nos seguintes temas: Produção agrícola, soja, monitoramento climático, geoprocessamento e cartografia .

Sergio Delmar dos Anjos e Silva possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Pelotas (1983), mestrado em Fitomelhoramento pela Universidade Federal de Pelotas (1988) e doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). É pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Clima Temperado e, atualmente é professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Sistema de Produção Agrícola Familiar da Universidade Federal de Pelotas. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Melhoramento Vegetal e Agroenergia atuando principalmente nos seguintes temas: rendimento, Zea mays, Triticum aestivum, Phaseolus vulgaris, Saccharum L., Jatropha curcas L., Aleurites fordii, Ricinus communis L.



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

ALMEIDA, I.R. de; SILVA, S.D.A. e. Paralelo 30: futuro eixo para produção de etanol no RS?. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_3/paralelo30/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 06/07/2011