SILAGEM MISTA DE AMOREIRA COM CANA-DE-AÇÚCAR OU CAPIM-GUAÇU Josiane
Aparecida de Lima
Introdução Diante dos
elevados custos com suplementação protéica dos ruminantes torna-se
prioritário estudar alternativas que possibilitem ao setor pecuário
produzir alimentos que atendam à demanda protéica do rebanho ou
reduzam a quantidade de concentrados na dieta. Sabe-se que, em geral,
as gramíneas tropicais não atendem às necessidades nutricionais de
animais em fase de crescimento e, por essa razão, a alimentação
destes deve ser suplementada principalmente no tocante à proteína
bruta. E, ainda, a suplementação do rebanho embasada na produção de
fonte protéica produzida na propriedade pode ser empregada para
minimizar também os efeitos sazonais sobre a disponibilidade de
forragem, visando manter a produtividade zootécnica durante todo o
ano. Dessa forma, torna-se imprescindível realização de pesquisas
para avaliar alimentos volumosos alternativos de baixo custo e com
boa qualidade nutricional. Uma estratégia pode ser a ensilagem das
gramíneas associadas com planta forrageira rica em proteína e, neste
contexto, a amoreira pode ser uma alternativa interessante. Esta
espécie, além de muito palatável, possui elevado teor de proteína
bruta e elementos
minerais, além melhor digestibilidade em relação algumas leguminosas.
Diante do exposto, o estudo foi realizado com o objetivo de avaliar
algumas características nutricionais de silagens mistas compostas
por cana-de-açúcar ou capim-guaçu associados com amoreira no momento
da ensilagem.
Material e Métodos O experimento
foi conduzido no Instituto de Zootecnia/APTA/SAA, em Nova Odessa-SP.
O capim-guaçu (Pennisetum purpureum Schum cv. Guaçu) foi
colhido aos 60 dias de rebrota, a amoreira (Morus alba) aos
90 dias e a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) com um ano
de crescimento. As forrageiras foram fragmentadas separadamente em
picadeira estacionária regulada para corte com tamanho aproximado de
1 cm. Após a fragmentação foram misturadas nas devidas proporções,
com base no peso verde, perfazendo os seguintes tratamentos: T1=50%
de cana-de-açúcar + 50% de amoreira; T2= 50% de
capim-guaçu + 50% de amoreira e T3=amoreira pré-secada
por 4h e enriquecida com 5% de rolão de milho no momento da
ensilagem. A respectivas forragens foram ensiladas em baldes de
plástico com capacidade para 3ℓ. Os silos experimentais foram
abertos após 40 dias de fermentação sendo retiradas duas amostras de
cada repetição, uma para avaliação do pH e outra submetida à
pré-secagem até peso constante em estufa de circulação forçada de ar,
regulada a 60°C. Após este procedimento as amostras foram moídas em
moinho tipo Wiley e devidamente acondicionadas. Foram analisados os
teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em
detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato
etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NDT) e digestibilidade
in vitro da matéria seca (DIVMS), conforme metodologias
descritas por Silva & Queiroz (2002). O delineamento estatístico
utilizado foi o inteiramente casualizado, com oito repetições. As
médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%.
Resultados e Discussão Os dados relativos a análise bromatológica das forragens antes da ensilagem são apresentados na Tabela 1 e, na Tabela 2, são apresentadas as médias das variáveis concernentes às silagens. Com exceção da silagem de amoreira pré-secada, as demais apresentaram valores de pH dentro da faixa ideal, 3,8 a 4,2, conforme proposto por McDonald et al. (1991). O valor elevado de pH da silagem de amoreira (5,4) pode estar relacionado ao alto teor de proteína bruta, que resulta em maior poder tampão e redução da taxa açúcar:proteína, que influencia o valor de pH da silagem. E, também, este fato pode ter ocorrido em função do maior teor de MS desta silagem, em relação às demais, o que, conforme McDonald at al. (1991) leva a menor produção de ácidos orgânicos em função do aumento da pressão osmótica. Vale ressaltar que o pH isoladamente não deve ser considerado como fator indicativo da qualidade da silagem.
O teor de matéria seca das silagens (Tabela 2) reduziu em relação ao da forragem original (Tabela 1) o que pode ser explicado, em parte, pelas perdas de matéria seca que normalmente ocorrem durante o processo de fermentação. O teor médio de matéria seca da silagem de amoreira pré-secada foi superior aos das silagens mistas, cujos valores não diferiram entre si. A silagem exclusiva de amoreira apresentou teor de proteína bruta superior às demais, as quais não diferiram entre si. Por outro lado, o elevado teor protéico das silagens mistas realça a eficácia da estratégia de associar a amoreira à gramíneas com baixo teor protéico, como é o caso da cana-de-açúcar (2,5%) e do capim-guaçu (7%). Este fato evidencia a utilização desta prática na ensilagem, pois certamente resultará em vantagens econômicas em relação à ensilagem da cana-de-açúcar ou capim-guaçu exclusivos, em razão do maior teor de proteína bruta, nutriente este de elevado custo na dieta de ruminantes. As silagens mistas, por serem compostas por gramíneas, apresentaram teor superior de FDN, o que já era esperado em razão do elevado teor de fibras destas, em relação a amoreira (Tabela 1). Sabe-se que o consumo é inversamente relacionado ao teor de constituintes indigestíveis da parede celular da forragem, pois esse material ocupa espaço no rúmen e, conforme Zanine e Macedo (2006) reduz a taxa de passagem e o consumo. Neste contexto, Cruz et al. (2001) menciona que valores de FDN nas silagens devem ser inferiores a 50%. Sendo assim, as silagens mistas apresentaram teores de FDN ligeiramente superiores aos 50% sugeridos por Cruz et al. (2001). Por outro lado, apesar de maior teor de FDN das silagens mistas, a DIVMS não diferiu (P<0,05) entre as silagens. Possivelmente, o elevado teor protéico das mesmas tenha contribuído para melhor atividade dos microrganismos ruminais. Houve diferença entre os teores de FDA das silagens, sendo o menor valor, a exemplo da FDN, observado para silagem exclusiva de amoreira (30%). Ressalta-se que altos teores de FDA são indesejáveis, uma vez que indicam a presença de constituintes lignocelulósicos, pouco aproveitados pelos animais, sendo negativamente correlacionados com a digestibilidade da matéria seca. Embora tenha ocorrido diferença relativa ao teor de EE entre as silagens, os valores não são elevados. Vale lembrar que, desde que considerado no momento do balanceamento da dieta para ruminantes, o maior teor de EE é um fator positivo, pois os lipídeos constituem boa fonte de energia para os ruminantes. O teor de NDT
foi maior para silagem exclusiva de amoreira e isto pode ser devido
aos maiores teores de EE e de PB desta forrageira, em relação às
gramíneas. Conforme Keplin (1992) para ser considerada de boa
qualidade uma silagem deve apresentar de 64 a 70% de NDT e,
considerando essa suposição, a única que se enquadra dentro dessa
faixa é a silagem de amoreira exclusiva (68,4% de NDT). As silagens
mistas apresentaram teores um pouco abaixo do valor mínimo sugerido;
no entanto, vale ressaltar que os teores de NDT foram estimados por
meio de equação de predição, a qual não apresenta 100% de acurácia.
De qualquer forma, os resultados observados devem ser considerados e
o maior valor de NDT obtido para silagem de amoreira é indicativo de
boa qualidade nutricional.
Conclusão
A amoreira apresenta características viáveis para ensilagem, seja
exclusiva ou associada a gramíneas e, quando adotada essa prática,
contribui para elevar a qualidade nutricional das silagens por
conferir maior teor protéico e menor teor de fibras na silagem.
Referências Bibliográficas CRUZ, J.C.;
PEREIRA FILHO, I.A.; RODRIGUES, J.A.S. et al. Produção e
utilização de silagem de milho e sorgo. Sete Lagoas: Embrapa
Milho e Sorgo, 2001, p.11-37. KEPLIN, L.A.S.
Recomendação de sorgo e milho (silagem) safra 1992/93. Encarte
Técnico da Revista Batavo. CCLPL, Ano I, n.8, p.16-19, 1992.
McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of
silage. 2.ed. Mallow: Chalcombe Publications, 1991.
340p. SILVA, D. J.;
QUEIROZ, A. C. Análises de alimentos: métodos químicos e
biológicos. 3ª ed. Viçosa:Imprensa Universitária, UFV, 2002. 235
p. ZANINE, A.M.;
MACEDO, J.G.L. Importância do consumo da fibra para nutrição de
ruminantes. Revista Eletrónica de Veterinária, v.7, n.4,
p.1-12, 2006.
Resumo:
Desenvolveu-se o estudo para avaliar algumas características
nutricionais de silagens de cana-de-açúcar e de capim-guaçu
enriquecidas com amoreira. Os tratamentos foram: T1=50%
cana-de-açúcar + 50% amoreira; T2= 50% capim-guaçu + 50%
amoreira; T3=amoreira pré-secada + com 5% de rolão de
milho. Determinaram-se os teores de matéria seca, proteína bruta,
fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA),
extrato etéreo, nutrientes digestíveis totais (NDT) e
digestibilidade
in vitro
da matéria seca. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado
com oito repetições. A silagem de amoreira exclusiva apresentou
valor de pH de 5,04, considerado acima da faixa preconizada. Os
teores de matéria seca das silagens mistas foram de 34% (50% cana-de-açúcar
+ 50% amoreira) e 35 % (50% capim-guaçu + 50% amoreira) e da silagem
de amoreira exclusiva foi de 43,4%. Os teores de proteína bruta
foram de 11,7%, 12,9% e 17,8%, respectivamente para os tratamentos
50% cana-de-açúcar + 50% amoreira, 50% capim-guaçu + 50% amoreira e
amoreira pré-secada + com 5% de rolão de milho. Os menores teores de
FDN e de FDA foram observados para a silagem exclusiva de amoreira,
36% e 30%, respectivamente.
A amoreira apresenta características viáveis para ensilagem, seja
exclusiva ou associada a gramíneas e, quando adotada essa prática,
contribui para elevar a qualidade nutricional das silagens por
conferir maior teor protéico e menor teor de fibras na silagem.
Palavras-chave:
forragem conservada, Morus alba, valor nutritivo
MULBERRY TREE MIXED SILAGE WITH SUGAR CANE OR GUAÇU GRASS
Abstract:
Developed the study to evaluate some nutritional characteristics of
silage of sugar cane and Guaçu grass enriched with mulberry tree.
The treatments were: T1 = 50% sugar cane + 50% mulberry tree, T2 =
50% guaçu grass + 50% mulberry tree, T3 = mulberry tree haylage +
with 5% of grounded maize. Determined the levels dry matter, crude
protein, neutral detergent fiber, acid detergent fiber (ADF), ether
extract, total digestible nutrients (TDN) and in vitro digestibility
of dry matter. Was used a completely randomized design with eight
replications. Just the mulberry tree silage had exclusive pH value
of 5.04, considered higher recommended. The levels dry matter of
silages mixed were 34% (50% sugar cane + 50% mulberry tree) and 35%
(50% Guaçu grass + 50% mulberry tree) and mulberry tree silage alone
was 43.4 %. The levels of crude protein were 11.7%, 12.9% and 17.8%
respectively for the treatments of
50% sugar cane + 50% mulberry tree, 50% Guaçu grass + 50%
mulberry tree and mulberry tree haylage with 5% of grounded maize.
The lowest levels of TDN and ADF was observed in silage only
mulberry tree, 36% and 30% respectively. The mulberry tree has
characteristics viable for silage, either alone or in combination
with grasses and, when adopted this practice adds to the nutritional
quality of silage to confer greater protein and lower fiber content
in the silage.
Keywords: preserved forage, Morus alba, nutritional
value Contato: josiane@iz.sp.gov.br
Eduardo Antonio da
Cunha;
Pesquisador
Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência
de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA,
Graduação em Zootecnia.
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP,
Brasil.
Gabriela Aferri possui graduação em Zootecnia pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Usp (1992) , mestrado em Zootecnia (Qualidade e Produtividade Animal) pela Universidade de São Paulo (2003) e doutorado em Zootecnia Qualidade e Produtividade Animal pela Universidade de São Paulo (2007) . Atualmente é Pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Tem experiência na área de Zootecnia , com ênfase em Produção Animal. Atuando principalmente nos seguintes temas: Bovinos de corte, Confinamento, Desempenho, Exigências nutricionais, Parâmetros sangüíneos.
Fumiko Okamoto possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1981), mestrado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1984) e doutorado em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999). Atualmente é pesquisador científico - Departamento de Descentralização do Desenvolvimento. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Produção Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: sericicultura, bicho-da-seda, amoreira, Morus spp, alternativas forrageiras e tecnicas de manejo de criação de B. mori L.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): LIMA, J.A. de; CUNHA, E.A. da; AFERRI, G.; OKAMOTO, F. Silagem mista de amoreira com cana-de-açúcar ou capim-guaçu. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/silagem/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 19/06/2011 |