PLANTAS COM PODER CURATIVO NA SAÚDE ANIMAL
Isabela Simoni
O Brasil detém uma vasta fonte de produtos
naturais que podem ser úteis para a prevenção ou tratamento de doenças
ou para o alívio dos sintomas tanto para uso em humanos como em animais.
Os produtos naturais são obtidos em grande parte de espécies vegetais
com valor terapêutico que pode ser utilizado como medicamento e são
chamadas de plantas medicinais. As propriedades biológicas podem ser
diversas tais como, atividade anti-inflamatória, antibacteriana,
antiviral, antifúngica, imunoestimulante antiparasitária e inseticida.
O uso de plantas medicinais nos animais pode
ser empregado nas diversas doenças como as que afetam as vias
respiratórias, as entéricas e que são causadas por vários agentes
patogênicos tais como fungos, bactérias ou vírus e as doenças causadas
por ecto e endo parasitas. Dentre as doenças causadas por vírus as
principais estão relacionadas, por exemplo, com os birnavírus, reovírus,
circovírus, e herpesvírus e causam doenças em aves, bovinos, suínos e
equinos.
A melhor prática para uma vida saudável é a
prevenção e certas medidas simples podem ser muito eficazes. A primeira
delas é promover a redução da quantidade dos agentes causadores de
doenças por meio da higiene e limpeza. Porém, quando esta prática não
for suficiente o mais recomendável é proceder-se a vacinação do
indivíduo ou animal e que tem por finalidade estimular o sistema imune e
dar condições ao organismo de se defender do agente infeccioso. As
vacinas são preparadas de duas formas uma pela utilização do
microorganismo patogênico inativado ou morto e a outra pelo agente
atenuado. Assim, os animais ficam protegidos pela produção de anticorpos
específicos e/ou pela resposta celular do antígeno introduzido no
organismo levando a imunidade contra o agente patogênico.
Quando nenhuma dessas medidas for suficiente
para o controle das doenças também existem dois caminhos para o
tratamento: o convencional e o alternativo. No convencional utilizam-se
produtos químicos sintéticos que podem provocar poluição no meio
ambiente e risco de intoxicação do produtor ou do animal. Além disso,
pode ocorrer a presença de resíduos nos alimentos (carne, leite, ovos) e
o surgimento da resistência do patógeno. Na prática alternativa, por
outro lado, os produtos naturais geralmente são biodegradáveis, o custo
de produção é baixo, além de propiciar o aproveitamento dos recursos da
biodiversidade de forma sustentável e ser uma opção para o uso de
insumos na agricultura agroecológica (Chagas, 2004).
Os extratos vegetais e fitoterápicos
disponíveis na prática são poucos, devido a vários fatores,
principalmente a falta de conhecimento detalhado da eficácia, a falta de
padronização, a problemas durante o cultivo pela perda do princípio
ativo, a variabilidade sazonal na composição da planta ou mesmo do seu
estágio de desenvolvimento e também no seu preparo, no processo de
extração, secagem, estocagem e estabilidade etc. Além disso, antes da
comercialização é preciso realizar estudos dos efeitos tóxicos e/ou
anti-nutricionais, neurotóxicos, carcinogênicos, mutagênicos, toxicidade
aguda, sub-aguda, crônica, reprodução e teratologia entre outras. Também
é preciso ter conhecimento a respeito do mecanismo de ação dos compostos,
da melhor forma de administração, dose e posologia.
Todos os aspectos levantados devem ser
estudados a partir do momento em que um produto natural já foi
pesquisado quanto a sua eficácia e é por isso que existem poucas opções.
Entretanto, nos últimos anos muitos esforços são feitos por vários
pesquisadores do Brasil com perspectivas encorajadoras do uso de plantas
medicinais no tratamento alternativo e complementar na veterinária tanto
pelo emprego de vegetais frescos ou de extratos vegetais como também de
fitoterápicos administrados de forma complementar ou como insumos. A
utilização como suplemento alimentar ou funcional tem por objetivo
melhorar o crescimento a conversão alimentar, a redução da mortalidade e
o controle de microorganismos do trato gastrintestinal dos animais.
Dentre os exemplos do uso como suplemento alimentar ou funcional em
suínos foi realizado uma meta análise para avaliar o desempenho
comparativo entre a adição de extratos vegetais e uso de antimicrobianos
sintéticos. Foram utilizadas 11 publicações e avaliados os dados do
consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar com melhora no
ganho de peso e também não foi constada diferenças significativas quando
comparados entre a adição de extratos e os antimicrobianos sintéticos.
As seguintes plantas foram estudadas para leitões: Allium
sativum L. (alho); Curcuma
longa L. (açafrão); Echinacea
purpúrea L. Moenche (equinácea);
Quillaja saponaria;
Yucca schidigera;
Origanum vulgari (orégano);
Caryophyllus aromaticus (cravo da índia) (Hauptli,
et al., 2007).
As pesquisas sobre a utilização de produtos
naturais são muito promissoras também em enfermidades tais como
verminoses em caprinos e ovinos ou no controle de ectoparasitas, estudos
sobre atividades inseticida, antimicrobiana e antiviral. As verminoses
afetam o trato gastrintestinal dos ruminantes e diminui a produtividade
do rebanho. Geralmente, os trabalhos utilizam como indicador a eficácia
na redução da infecção por nematódeos, a eclosão de ovos,
desenvolvimento larvar, redução do número de ovos nas fezes e da carga
parasitária adulta. Os principais patógenos de importância pertencem a
família Trichostrongylidae que são vermes pequenos e capilariformes e o
principal é o Haemonchus contortus.
No trabalho de Furtado, 2006 foi feito um levantamento bibliográfico de
plantas utilizadas como vermífugas sendo que foram encontradas 106
espécies consideradas como antiparasitárias sendo que 8 espécies
apresentaram evidências de alta atividade anti-helmíntica. Destas, duas
foram escolhidas, a Dicksonia sellowiana (Presl) Hook. (xaxim) que
apresentou alta eficácia na redução de ovos de helmintos
gastrintestinais de ovinos e a Pterocauron interruptum DC. com
redução parasitária de 47% para trichostrongilídeos de ovinos.
O carrapato bovino afeta 75% da população
causando danos como espoliação sanguínea, perda de peso ou de leite,
intoxicação por toxinas na corrente sanguínea e transmissão de agentes
infecciosos como riquétsias e a babesia. Farias et al., 2007
estudaram com sucesso o potencial acaricida de óleo de sementes de
andiroba (Carapa guianensis Aubl.) com 100% de mortalidade de
fêmeas ingurgitadas com inibição da ovipostura em testes in vitro
de ácaros de bovinos.
Muitas pesquisas são relatadas na literatura
sobre as propriedades anti-microbianas de diversas espécies vegetais
tanto exóticas como as nativas e são importantes principalmente para o
estudo do potencial desinfetante e anti-séptico, por exemplo, contra a
mastite bovina que é um dos principais problemas sanitários da pecuária
leiteira. A maioria dos testes é realizada in vitro com a
exposição direta de bactérias ou fungos e a contagem dos microorganismos
que podem ser Gram positivos ou Gram negativos. Dentre as espécies
relatadas destaca-se, por exemplo, a atividade anti-microbiana do
extrato de folhas de jambolão (Syzygium cumini (L.) Skeels)( Loguercio,
et al., 2005).
As doenças causadas por vírus são os maiores
desafios atuais na busca de alternativas de combate e muitos esforços
têm sido feitos principalmente voltados para estudos com os herpesvírus.
Esses patógenos são os mais escolhidos em modelos in vitro em
experimentos que utilizam culturas celulares por apresentarem efeito
citopático rápido, evidente e permitir a avaliação da inibição dos
extratos vegetais sobre os vírus ou durante a sua replicação nas células.
Os produtos naturais ideais devem penetrar na célula parar ou prevenir a
replicação viral sem causar danos à célula hospedeira, fato difícil de
se obter por que os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios e
assim, necessitam das ferramentas celulares para produção da progênie.
Além disso, os produtos naturais devem ser muito pouco citotóxico, ter
um amplo espectro de ação e não induzir resistência viral. Todos os
requisitos tornam a busca por antivirais difícil e programas de seleção
in vitro são adotados para otimizar a busca. Extratos de mais de
100 espécies de plantas já foram estudadas e entre as espécies de
plantas mais promissoras estão vegetais muito conhecidos como Persea
americana Mill. (Abacate) e Peumus boldus (Boldo-do-Chile); e
também espécies nativas tais como Campomanesia xanthocarpa
(Mart.) O.Berg
(Gabiroba) e Xylopia
aromatica (Lam.) Mart. (pimenta-de-macaco) (Simoni, et al.,
2007).
Referências
Chagas, A.C.S. Controle de parasitas utilizando
extratos vegetais.
Revista Brasileira de
Parasitologia
Veterinária,
Rio de Janeiro, v. 13, suplemento 1, p. 156-160, 2004.
Farias, M.P.O.; Sousa, D.P.; Arruda, A.C.; Arruda,
M.S.P.; Wanderley, A.G.; Alves, L.C.; Faustino, M.A.G.
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu,
v.9, n.4, p.68-71, 2007
Furtado, S.K.
Alternativas fitoterápicas para o controle da verminose ovina no Estado
do Paraná: testes in vitro e in vivo. 2006. Tese (Doutor em Ciências
– Área de Produção Vegetal) – Departamento de Fitotecnia e
Fitossanitarismo, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2006.
Hauptli, L.; Lovatto, P.A.; Hauschild, L. Comparação
da adição de extratos vegetais e antimicrobianos sintéticos para leitões
na creche através de meta-análise.
Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.4, p.1084-1090, 2007.
Loguercio, A.P.; Battistin, A.; Vargas, A.C.; Henzel,
A.; Witt, N.M. Atividade antibacteriana de extrato hidro-alcoólico de
folhas de jambolão (Syzygium cumini
(L.) Skells).
Ciência Rural, Santa Maria, v.35, n.2, p.371-376, 2005.
Simoni, I. C.; Manha, A. P. S.; Sciessere, L.; Hoe,
V. M. H.; Takinami, V. H.; Fernandes, M. J. B. Evaluation of the
antiviral activity of Brazilian Cerrado plants against animal viruses.
Virus Reviews
and Research,
Rio de Janeiro,
v.12, p.25-31, 2007.
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Isabela
Simoni
possui graduação em Ciências Biológicas
pela Universidade de Santo Amaro (1980), mestrado em Biologia
Celular e Estrutural pela Universidade Estadual de Campinas
(1984) e doutorado em Genética e Biologia Molecular pela
Universidade Estadual de Campinas (2001). Atualmente é
pesquisador científico do Instituto Biológico. Tem experiência
na área de Biologia Celular e Virologia, com ênfase em Cultivo
de células in vitro, atuando principalmente nos seguintes temas:
controle alternativo de patógenos, virus da doenca de gumboro,
plantas medicinais, atividade antiviral contra herpesvírus
animal, bioensaios, citotoxicidade, IBDV, BoHV-1, SuHV-1 e
EHV-1.
Contato:
simoni@biologico.sp.gov.br
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Reprodução autorizada desde
que citado a autoria e a fonte
Dados para citação
bibliográfica(ABNT):
SIMONI, I.
Plantas com poder curativo na saúde animal.
2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/PlantasCurativas/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos
em 25/04/2011
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