ESTUDO ECONÔMICO COMPARA SISTEMAS DE CULTIVO
INTEGRAL E DE “ENGORDA” DA OSTRA-DO-MANGUE
Antônio Carlos Simões
A ostra-do-mangue
foi o principal produto da pesca artesanal do estuário de Cananéia, em
termos de volume desembarcado, nos anos de 1999 e 2000, passando para o
segundo e terceiro lugar,respectivamente,
nos dois biênios subsequentes, segundo MENDONÇA e MACHADO (2010). Os
trabalhos de WAKAMATSU (1973), AKABOSHI e PEREIRA (1981), PEREIRA e
CHAGAS-SOARES (1996), PEREIRA et al. (2001 e 2003) demonstram o estuário
de Cananéia com condições favoráveis para o desenvolvimento de bancos
naturais da ostra-do-mangue, tornando a região a principal produtora
desse recurso no
estado de São Paulo, de acordo
com PEREIRA et al. (2003).
Diante do exposto, foi proposto o desenvolvimento
do estudo: “Análise econômica comparativa dos
sistemas de cultivo integral e de ‘engorda’ da ostra-do-mangue,
Crassostrea spp, no estuário de
Cananéia, São Paulo,
Brasil”, de autoria de Marcelo Barbosa Henriques,
henriquesmb@pesca.sp.gov.br,
Ingrid Cabral Machado e Lúcio Fagundes, pesquisadores científicos do
Instituto de Pesca. Este instituto vincula-se à APTA (Agência
Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios) da Secretaria
de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo.
SANTOS
(2008), estudando a etnoecologia dos extrativistas de ostras de Cananéia,
relata que esse
molusco é explotado na
região desde a década de 1940, época em que a extração tinha apenas
caráter de subsistência. Nas décadas de 1950 e
1960, a atividade começou a atender a um comércio
incipiente, consolidando-se na década de 1970 como uma alternativa
comercial importante para o
setor pesqueiro artesanal na
região.
A partir
da década de 1970, com a firmação do interesse comercial e o aumento
da oferta da
ostra, surgiu a preocupação com a
manutenção de seus estoques, que poderiam estar
sobrexplotados. Diante desses fatos, pesquisadores do Instituto
Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO/USP) e do Instituto de
Pesca estabeleceram um protocolo para o cultivo da espécie,
registram WAKAMATSU (1973) e AKABOSHI e
PEREIRA (1981), que consistia de três etapas: 1-
captação de sementes de ostra em ambiente natural, por meio de
coletores artificiais dispostos no fundo dos canais, em pequenas baías
ou remansos dentro do estuário; 2 - seleção de sementes
através do “castigo” (exposição ao ar e ao sol, para separação
dos indivíduos com boa
resistência e potencial de
crescimento); e 3 - fase de terminação do cultivo em viveiros tipo
“tabuleiro”, implantados na zona entremarés.
A aplicação
desse protocolo resulta num ciclo produtivo de aproximadamente 22 meses,
envolvendo
atividades complexas, alheias
ao universo das comunidades locais de pescadores. Entretanto, uma
empresa particular buscou a assessoria técnica
do Instituto de Pesca para essa tecnologia de
cultivo e a utilizou durante vários anos, explica o pesquisador
Marcelo Henriques.
APOIO A COMUNIDADES LITORÂNEAS
Em 1994, profissionais do Instituto de Pesca,
da Secretaria do Meio Ambiente (SMA/SP) e do
Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas
Brasileiras da Universidade de São Paulo (NUPAUB–USP) realizaram um
estudo para diagnosticar as possibilidades de
aproveitamento da tecnologia da ostreicultura pelas comunidades
extrativistas do município de
Cananéia. Eles interpretaram
que tais comunidades, embora arraigadas culturalmente no
extrativismo de ostras, poderiam ser motivadas
para atuar na ostreicultura. Em razão das
barreiras culturais identificadas, associadas principalmente ao
longo ciclo do cultivo, os
estudiosos propuseram o
desenvolvimento de uma tecnologia intermediária entre o extrativismo e o
cultivo integral, a qual foi denominada ´engorda`
(termo regional que caracteriza a fase de
terminação), a ser introduzida como uma etapa estratégica preliminar à
adoção da ostreicultura
pelas comunidades.
Em 1995, um projeto interinstitucional
introduziu a ´engorda` de ostras junto às comunidades
extrativistas de Cananéia, conforme citado por MALDONADO (1999), PEREIRA
et al. (2001); MEDEIROS (2004) e GARCIA (2005). Essa atividade,
derivada da tecnologia de cultivo integral, consiste na “semeadura”
de ostras adultas e sua posterior extração ao atingirem o tamanho
apropriado para
comercialização, descreve PEREIRA
et al. (2001).
Nos anos subsequentes, a prática da ´engorda` de
ostras expandiu-se entre as comunidades
extrativistas locais, ocorrendo conjuntamente com o extrativismo e as
reduzidas experiências de
cultivo integral a partir
de captação de sementes em ambiente natural, explica Marcelo.
Embora a ´engorda` seja apenas uma etapa do
processo de cultivo de ostras, representa um ganho
ambiental, pelo incremento da atividade reprodutiva das ostras nos
viveiros durante o tempo que
permanecem na água, pois
exemplares a partir de 20 mm já são sexualmente maduros, registra
GALVÃO et al. (2000). Além disso, proporciona agregação de valor ao
produto, melhorando sua
remuneração, conforme GARCIA (2005).
O estudo
comprova que mais da metade da produção total de ostras de Cananéia
ainda é proveniente do extrativismo, porém cerca de 40% já é
oriunda de viveiros de ´engorda`. Neste sentido, o
objetivo da pesquisa foi comparar, zootécnica e economicamente, os
sistemas de cultivo integral e de ´engorda` da ostra-do-mangue,
praticados na região de Cananéia, a fim de demonstrar qual o
método mais rentável.
O cultivo
integral, como proposto, não demonstrou viabilidade econômica frente
aos preços de
venda praticados no mercado
local de Cananéia, citam os autores. Por outro lado, o cultivo de
´engorda`,
que é o mais praticado pelos maricultores, mostrou-se altamente viável,
de acordo com
os indicadores econômicos
utilizados, e atrativo, pela rapidez de retorno do capital investido.
Os autores
ressaltam que a ´engorda`, além de se apresentar rentável, promove uma
mudança de
comportamento nos
extrativistas de ostra, pois, embora as ostras cultivadas também
provenham da
natureza, seu aproveitamento
utiliza plenamente o potencial de crescimento e reprodução. Desse
modo, apesar de extrativo na fase inicial, o
sistema apresenta-se sustentável no final do ciclo de produção,
promovendo oportunidade de melhor negociação e disponibilidade de oferta
conforme a
demanda, garantindo o
atendimento do mercado consumidor com um produto padronizado e não
sazonal.
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Revisão do texto: Márcia Navarro
Cipólli,
navarro98@gmail.com
Antônio Carlos Simões, Centro de Comunicação do
Instituto de Pesca, www.pesca.sp.gov.br,
http://twitter.com/agriculturasp,
http://agriculturasp.blogspot.com,
www.flickr.com/photos/institutodepesca, abril 2011
Reprodução autorizada desde
que citado a autoria e a fonte
Dados para citação
bibliográfica(ABNT):
SIMÕES, A.C.
Estudo econômico compara sistemas de cultivo integral e de “engorda”
da ostra-do-mangue.
2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/OstradoMangue/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos
em 24/04/2011
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