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Mofo cinzento em plantas oleráceas, frutíferas e ornamentais

Jesus Guerino Töfoli
Josiane Takassaki Ferrari
Ricardo José Domingues
Eduardo Monteiro de Campos Nogueira 

 

O mofo cinzento é uma doença fúngica de importância mundial no cultivo de plantas frutíferas, oleráceas e ornamentais. Comum em cultivo protegido, a doença também pode alcançar níveis consideráveis em campo aberto e câmaras de armazenamento. Essa doença causa prejuízos estéticos, qualitativos e quantitavos e pode estar associada a diferentes espécies do gênero Botrytis. A espécie Botrytis cinerea é a mais comumente relatada, estando associada a várias culturas (Quadro 1).

Quadro 1. Espécies do gênero Botrytis associadas a plantas oleráceas, frutíferas e ornamentais.

Sintomas

O mofo cinzento afeta principalmente flores e frutos, porém também pode causar manchas foliares, apodrecimento de brotos, tombamento em plântulas, cancros em caules, pecíolos e hastes, bem como, podridões em bulbos, colmos, rizomas, tubérculos e raízes.

Apesar dos sintomas do mofo cinzento variar em função do hospedeiro e do órgão afetado, esses são quase sempre caracterizados pela descoloração dos tecidos, pelo aspecto úmido e necrótico das lesões e pela presença de um crescimento cotonoso acinzentado (conídios e conidióforos) sobre as áreas afetadas.

Em folhas, as manchas apresentam coloração pardo-acinzentada, com tamanhos e formatos variáveis, podendo ou não exibir halos concêntricos. Em algumas situações observa-se a seca e necrose de pontas e bordas de folhas.

Lesão com presença de halos concêntricos causadas por B. cinerea em folíolos de tomateiro.
Foto: R.J.Domingues

Nas flores, os sintomas podem variar desde pequenas manchas descoloridas e úmidas, lesões necróticas até a destruição completa das pétalas. Em condições muito favoráveis a doença pode invadir o pedúnculo comprometendo e danificando toda a estrutura floral.

Sintoma de mofo cinzento em flores de begônia híbrida.
Foto: R.J.Domingues
 
Sintoma de mofo cinzento em flores de lisiantus.
Foto: R.J.Domingues
Mofo cinzento em ciclâmen. Foto: R.J.Domingues
Botão de rosa com sintomas causados por B. cinerea.
Foto: R.J.Domingues
Sintoma de mofo cinzento em violeta africana.
Foto: J. T. Ferrari

 Nos caules e hastes, a doença apresenta-se na forma de manchas marrons que geralmente originam-se em torno dos pecíolos das folhas e pedúnculos atacados.

Em tubérculos, ramos, colmos, raízes e bulbos o fungo pode causar manchas, cancros, lesões e apodrecimento de tecidos. Os principais sintomas observados em frutos são: lesões com aspecto aquoso, irregular, macio e esponjoso; anéis esbranquiçados com um pequeno ponto necrótico no centro; apodrecimento generalizado e queda prematura.

Aspecto interno de frutos de kiwi sadio e atacado por B. cinerea.
Foto: J.T.Ferrari
Mofo cinzento em cacho de uva.
Foto: J.T.Ferrari
Diferentes níveis de severidade de mofo cinzento em morango.
Foto: R.J.Domingues
Sintoma inicial e avançado de mofo cinzento em frutos de pimentão.
Foto: J.T.Ferrari

Fruto de berinjela com lesão, apodrecimento do cálice e pedúnculo causados por B. cinerea.
Foto: R.J.Domingues

O tombamento em plântulas pode ser observado em diversas espécies. Geralmente, são caracterizados pelo aparecimento de lesões úmidas na linha do solo que comprometem o seu desenvolvimento, ou causam a sua morte.

Agente causal

O gênero Botrytis produz abundante crescimento acinzentado sobre os tecidos afetados, composto por hifas e conidióforos ramificados que possuem no ápice conídios unicelulares, ovoides, incolores ou acinzentados. Os conídios são liberados em condições climáticas úmidas e são transportados por correntes de ar. O fungo produz escleródios negros, duros e irregulares em tecidos infectados ou mortos pela doença. Os escleródios podem produzir conídios e hifas infectivas que podem penetrar diretamente no hospedeiro. Em condições especificas os escleródios podem também produzir apotécios dos quais se originam os ascósporos. Botryotinia spp. é considerada a fase teleomórfica desse gênero e, até o momento, não existe nenhum relato de sua ocorrência no Brasil.

Detalhe de esporulação de Botrytis cinerea sobre tecido doente.
Foto: J. T. Ferrari

Epidemiologia

O patógeno pode sobreviver no solo associado à matéria orgânica ou na forma de escleródios. Após a germinação de escleródios em plantas doentes, ou em restos de plantas infectadas, o fungo produz conídios que são dispersos para novos hospedeiros. A germinação dos conídios é favorecida por temperaturas de 22 a 25 º C e umidade relativa em torno de 90 a 100 %. Após a penetração o patógeno coloniza rapidamente os tecidos e apresenta ampla esporulação dando origem a outros ciclos da doença (Figura abaixo). Para que o fungo possa infectar seus hospedeiros são necessárias temperaturas amenas (16-23° C), alta umidade e ventilação deficiente. Temperaturas superiores a 25˚C retardam a infecção e o desenvolvimento da doença.

Ciclo das doenças causadas por Botrytis spp.

Raramente o fungo infecta diretamente os tecidos vigorosos e em desenvolvimento. Geralmente esse coloniza primeiramente tecidos mortos, senescentes ou enfraquecidos, que servem como uma fonte exógena de energia para que o patógeno possa se estabelecer, reproduzir e assim iniciar a colonização de tecidos sadios.
O fungo também pode causar prejuízos consideráveis em flores, frutas e hortaliças armazenados em câmaras frigorificas na faixa de 0 a 10° C. De maneira geral, essas plantas já vêm do campo com lesões latentes da doença que se manifestam durante o transporte e comercialização desses produtos.

Manejo

O manejo das doenças causadas pelo gênero Botrytis deve integrar estratégias como:

• Uso de sementes sadias e mudas sadias;

• A semeadura deve ser realizada em substratos leves, bem drenados, férteis e livres de patógenos. A desinfestação do substrato antes do plantio com vapor ou produtos químicos registrados é recomendável;

• Evitar o plantio em solos pesados e o uso excessivo de fertilizantes, principalmente os nitrogenados. Os solos pesados favorecem a retenção da umidade, enquanto que o amplo crescimento vegetativo origina tecidos tenros e mais suscetíveis a infecção;

• Evitar a semeadura, transplante e disposição de vasos de forma adensada. O adensamento dificulta a circulação do ar entre as plantas e favorece o acumulo de umidade nas plantas;

• Eliminar e destruir flores, frutos, folhas, hastes, bulbos e colmos doentes;

• Irrigações devem ser realizadas no período da manhã de forma que a folhagem seque até o final do dia. Em períodos críticos as irrigações devem ser suprimidas;

• Evitar ferimentos às plantas durante os tratos culturais. Os ferimentos são portas de entrada para o patógeno;

• Em cultivo protegido, promover limpeza completa de toda estrutura entre um ciclo em outro. Utilizar plásticos de cobertura que reflitam os raios UV e, assim, se diminua a esporulação do patógeno;

• O armazenamento de flores, frutos e flores deve ser realizado logo após a colheita. O material deve ser completamente sadio, livre de manchas e ferimentos. A área de armazenamento deve ser limpa, fresca, seca e sem umidade livre nas paredes, teto e piso;

• A aplicação de fungicidas para o controle do mofo cinzento deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, intervalo e número de aplicações, intervalos de segurança, uso de equipamento de proteção individual (EPI) etc.

Em áreas com histórico da doença, o uso de fungicidas deve ser preventivo e iniciado assim que as condições meteorológicas sejam favoráveis. A aplicação do produto deve propiciar cobertura uniforme das plantas e deve atingir flores e frutos, na parte interna da folhagem. Os fungicidas podem causar queima das flores em algumas plantas ornamentais. Para que esse problema possa ser evitado recomenda-se que os produtos não sejam aplicados nas horas mais quentes do dia e que se evite a deposição direta do produto sobre as mesmas.

No Brasil existe um numero limitado de fungicidas com registro para o controle de Botrytis spp. em hortícolas¹. Os fungicidas mais importantes pertencem às classes dos benzimidazóis e dicarboximidas que apresentam alto risco de selecionar raças resistentes. Tal fato dificulta o estabelecimento de estratégias de controle que priorizem o uso intercalado de produtos com modos distintos de ação. O gênero Botrytis apresenta vários relatos de ocorrência de resistência a fungicidas. Para que se evite essa possibilidade recomenda-se: o uso intercalado de fungicidas com diferentes modos de ação; limitar o número de aplicações de fungicidas com risco de selecionar raças resistentes no decorrer do cultivo; evitar que esses produtos sejam aplicados em períodos críticos.

Referências consultadas

Agrios, G.N. Plant Pathology (5 ed). Elsevier Academic Press. 2005. 919 p. Agrofit. Link.  Acesso: 07 out. 2010.

Alexandre, M. A.V.; Duarte, L. M. L. Aspectos Fitopatológicos de Plantas Ornamentais. Flores I. 1. Amarílis, 2. Begônia, 3. Gérbera, 4. Impatiens, 5. Lisianto. Instituto Biológico, São Paulo, 2007, 73 p.

Chase, A. R. Compendium of Ornamental Foliage Plant Diseases. APS, St Paul, 1987. 92 p.

Daughtrey, M., L., Wick, R. L.; Peterson, J. Compendium of Flowering Potted Plant Diseases. APS, St Paul, 1995. 90 p.

Gleason, M. L.; Daughtrey, M. L.; Chase, A. R.; MOORMAN, G. W.; MUELLER, D. S. Diseases of Herbaceous Perennials. St. Paul, 2009. 281 p.

Kimati, H.; Amorin, L.; Rezende, J.A.M.; Bergamin Filho, A.; Camargo, L.E.A. Manual de Fipatologia: Doenças das Plantas Cultivadas. São Paulo: Ceres, 2005. v. 2. 661 p.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br 


Jesus Guerino Töfoli possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1992) e mestrado em Agronomia (Proteção de Plantas) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002). Atualmente é Pesquisador Científico IV, estatutário do Instituto Biológico/APTA. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia atuando principalmente em manejo de doenças fúngicas em hortaliças e plantas ornamentais. Principais áreas de atuação: controle químico, fungicidas, indutores de resistência, Phytophthora infestans, Alternaria solani, tomate e batata.

Contato: tofoli@biologico.sp.gov.br


Josiane Takassaki Ferrari concluiu o mestrado em agronomia (produção vegetal) pela Universidade Federal do Paraná em 2002. Atualmente é Pesquisador Científico do Instituto Biológico. Atua na área de agronomia, com ênfase em fitopatologia. Em suas atividades profissionais interagiu com 72 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: vírus, banana, sigatoka negra, sigatoka amarela, cucumis melo, ferrugem, mamoeiro, mangifera indica, doenças, hospedeira experimental, leveillula taurica, videira e pessegueiro. Participou do workshop sobre tecnologia de gestão e credenciamento de laboratório (2004), seminário da qualidade para laboratórios de ensaios (2003), do 1ºcurso ISO/IEC 17025, promovido pelo mapa e do fórum permanente de adequação fitossanitária em 2007. Ministrou cursos de CFO para a cultura da banana em 2005 e 2010.

Contato: takassaki@biologico.sp.gov.br

Ricardo José Domingues possui graduação em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Ciências Agrnômicas - UNESP/Botucatu (1991) e mestrado em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente pelo Instituto de Botânica (2008). Atua na área de Fitopatologia, com ênfase no diagnóstico e controle de doenças fúngicas em horticultura. Tem experiência em controle químico de doenças, conduzindo trabalhos de laboratório, casa-de-vegetação e campo visando a correta utilização de fungicidas em diferentes patossistemas. Já realizou trabalhos em laboratório com controle alternativo de doenças fúngicas envolvendo a utilização de extratos de plantas comerciais e nativas e de basidiomicetos nativos.

Contato: domingues@biologico.sp.gov.br


Eduardo Monteiro de Campos Nogueira possui graduação em Agrônomia e Zootecnia pela Faculdade de Agrônomia e Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves (1975), especialização em fruticultura. Atualmente é pesquisador científico VI do Instituto Biológico. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em, fitossanidade em fruticultura;caracterização e identificação de doenças em fruteiras; manejo integrado de doenças fúngicas em plantas frutíferas; controle químico e alternativo de doenças em fruteiras; estudo epidemiológico em doenças de fruteiras

Contato: nogueira@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

TÖFOLI, J.G.; FERRARI, J.T.; DOMINGUES, R.J.; NOGUEIRA, E.M.C. Mofo cinzento em plantas oleráceas, frutíferas e ornamentais. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/MofoCinzento/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 27/04/2011