Embrapa Agropecuária Oeste oferece tecnologias para
a conservação do solo Sílvia Zoche Borges
Entre as práticas para a
conservação do solo, estão a manutenção da vegetação nativa, Com o
objetivo de contribuir para a preservação e recuperação dos solos
brasileiros, a Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS), empresa
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
desenvolve diversas pesquisas e colabora na difusão do programa
Agricultura de Baixo Carbono (ABC), instituído pelo MAPA em junho de
2010. A
meta do programa ABC é a produção de alimentos e bionergia com redução
dos gases de efeito estufa, com balanço positivo entre sequestro e
emissão de dióxido de carbono (CO2). Para isso, a Embrapa Agropecuária
Oeste, assim como outras Unidades da empresa, desenvolve e transfere
tecnologias para que os produtores rurais adotem práticas agrícolas
sustentáveis. Entre
as técnicas que podem ser implementadas pelos produtores é o Sistema
Plantio Direto (SPD), que já é adotada pela Embrapa Agropecuária Oeste
desde sua criação em 1975 e, especialmente, a partir da década de 1980.
Esse é um trabalho de pesquisa que já possui resultados. Os três
fundamentos desses sistemas são o não revolvimento do solo, a manutenção
do solo coberto permanentemente e a rotação de culturas. Em
Mato Grosso do Sul, existem áreas cultivadas com esse sistema há mais de
30 anos, como no município de Douradina. “Essas condições vêm ao
encontro das metas estabelecidas pelo Programa ABC, decorrentes de
compromisso firmado pelo governo brasileiro para redução da emissão de
gases do efeito estufa”, explica o Chefe-Geral da Embrapa Agropecuária
Oeste, Fernando Mendes Lamas.
Os
experimentos com Sistema Plantio Direto da Embrapa Agropecuária Oeste
estão em Dourados, Ponta Porã, Três Lagoas e já aconteceu em São Gabriel
do Oeste. “A conservação do solo sempre foi uma preocupação da Embrapa.
Atualmente, estamos em um estágio muito bom de conhecimento e tecnologia
ofertados para a região de Mato Grosso do Sul”, diz o pesquisador Júlio
César Salton, da área de Manejo e Conservação do Solo. Além
dos três fundamentos do SPD, devem ser mantidos os terraços em
propriedades que precisam ter a erosão contida. “O Sistema Plantio
Direto reduz bastante a erosão, mas os terraços são práticas
fundamentais”, ressalta Salton.
Segundo dados da Embrapa Agropecuária Oeste, o uso do SPD em Mato Grosso
do Sul, de 1978 a 2008, resultou em uma economia de R$ 700 milhões no
custeio da soja, que rendeu mais de 6 milhões de toneladas de grãos – o
equivalente a R$ 4,2 bilhões. Nesse período, o estado deixou de perder
90 milhões de toneladas de solo – o equivalente a 43 mil hectares de
terra –, assim como deixou de perder 1,3 milhões de m³ de água, 620 mil
toneladas de calcário, 140 mil toneladas de super fosfato e 225 mil
toneladas de KCI. Há
outras tecnologias tão importantes quanto o SPD, entre elas estão a
Integração Lavoura-Pecuária (ILP), a Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), os Sistemas Agroflorestais, Manejo
Integrado de Pragas (MPI), o uso de adubação verde, a utilização de
resíduos orgânicos, a redução de resíduos tóxicos no solo e a fixação de
nitrogênio.
ILP e iLPF A ILP
é uma alternativa economicamente interessante, porque a agricultura,
através da soja, pode conviver com o gado de corte, assim como a iLPF,
que acrescenta a floresta nesse convívio. No
experimento de ILP, já vem sendo medido o sequestro de carbono do solo
pelo sistema e, mais recentemente, está sendo medida a emissão de gases
que causam o efeito estufa. “Essas informações foram úteis para
subsidiar o Programa ABC”, afirma Salton.
Ao
usar tecnologias mais modernas, é possível aumentar a produtividade da
pecuária sem a necessidade de expandir a área. Segundo dados do
pesquisador Armindo Kichel, da área de Sistemas Integrados de Produção
Agropecuária da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande/MS), a estimativa de
produção de carne em Mato Grosso do Sul sem a Integração
Lavoura-Pecuária é de 40 kg/ha/ano em 188 milhões de ha. Com ILP,
em sistema completo cria, recria e engorda, a produtividade média é de
250 kg/ha/ano em 2 milhões de ha.
Resíduos orgânicos
Resíduos de frigoríficos e de dejetos de suínos podem ser usados como
fertilizantes em compostos orgânicos, aumentando os teores de matéria
orgânica do solo e fornecendo nutrientes. “Sem contar os aspectos
ambientais, porque evita poluição e recicla nutrientes. Mas é importante
enfatizar que outras técnicas devem ser associadas para a conservação do
solo”, diz o pesquisador Walder A. G. de Albuquerque Nunes, da área de
Gênese, Física e Morfologia do Solo da Embrapa Agropecuária Oeste. Em
Ponta Porã, os experimentos com resíduos da suinocultura, realizados
pela Unidade da Embrapa em Dourados, são realizados em culturas de milho
e soja. A
vantagem desse resíduo, mais usado na forma líquida, é a substituição
parcial ou total do fertilizante mineral, porém a quantidade de 50 m³
por hectare por ano precisa ser respeitada. Acima disso, os teores de
cobre e zinco são elevados, o que causa problemas às plantas.
A
avaliação de dejetos de frigoríficos como compostos orgânicos está sendo
realizado em culturas de mandioca, soja e milho. A grande vantagem desse
método é adicionar matéria orgânica ao solo, podendo ser utilizado em
doses elevadas, entre 10 e 12 toneladas por hectare nas primeiras
aplicações, sem riscos ambientais.
Adubação verde e sistemas agroflorestais O pré-cultivo de adubo verde a culturas de interesse econômico mantém o solo coberto o maior tempo possível durante o ano inteiro e incrementa a produtividade em torno de 10% a 20%. Por
isso, a Embrapa Agropecuária Oeste tem trabalhado com a adubação verde,
identificando o potencial de produção de massa e de ciclagem de
nutrientes de algumas espécies para entrar com o cultivo posterior de
culturas de interesse econômico, como milho, feijão comum, feijão caupi
e mandioca. “Já
temos resultados consolidados, de três anos de pesquisa, para a região
da Grande Dourados, Cone sul do estado e para região mais central, como
Nova Alvorada do Sul”, afirma o pesquisador Milton Padovan, da área de
Agricultura com base ecológica da Embrapa Agropecuária Oeste.
O uso
de adubos verdes contribui para a supressão de plantas infestantes
durante o cultivo da cultura de interesse econômico. Essa prática
diminui o uso de insumos sintéticos, reduzindo os custos e a liberação
de carbono e outros gases prejudiciais para a atmosfera. No
caso da formação de Sistemas Agroflorestais, são inseridas espécies
arbóreas diversificadas no ambiente agrícola, prioritariamente espécies
nativas. Esse sistema possui um componente forte: sequestro do carbono
pelo solo e pela biomassa vegetal, evitando a emissão de CO2 para a
atmosfera.
Análise de persistência de agrotóxico Com o
objetivo de subsidiar a atividade agrícola, o pesquisador Rômulo Penna
Scorza Júnior, da área de Modelagem Matemática e Simulação de Sistemas,
da Embrapa Agropecuária Oeste, avalia a persistência de agrotóxicos no
solo para contribuir para a conservação do solo e diminuição da
contaminação de recursos hídricos. Atualmente, os trabalhos estão
direcionados ao plantio da cana-de-açúcar. Nos
laboratórios da Unidade, há cerca de sete meses, são analisados os solos
da região da Grande Dourados que mais recebem agrotóxicos e monitora-se
quanto tempo levará desaparecer. Informações como a persistência do
agrotóxico no solo e a maior probabilidade de contaminação da água são
importantes para que opções de produtos semelhantes, com mesma
eficiência e com menos persistência, sejam utilizadas.
Além
disso, a exemplo de instituições de diversos países, o pesquisador
desenvolveu um programa de computador, denominado Avaliação da
Contaminação Hídrica por Agrotóxico (ACHA), que simula o comportamento
de agrotóxicos em solo brasileiro, de acordo com a temperatura, a
umidade e a atividade microbiana do solo.
O
ACHA foi financiado pela Embrapa (Programa Agrofuturo/BID) e CNPq
(CT-HIDRO), em parceria com o curso de Ciência da Computação da UEMS
(Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul). Em um primeiro momento, o
programa será disponibilizado para órgãos governamentais que lidam com a
avaliação da periculosidade ambiental de agrotóxicos.
Manejo Integrado de Pragas (MPI)
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) faz o controle
dos insetos nocivos às culturas através da utilização de processos
naturais e do uso racional de insumos externos. Existem diferentes
métodos de controle e os mais utilizados são o químico e o biológico.
Fixação de nitrogênio A
Embrapa Agropecuária Oeste trabalha com pesquisas de inoculação de
bactérias fixadoras de nitrogênio em culturas de feijoeiro, soja, feijão
caupi e em espécies usadas para adubação verde. Essa é uma tecnologia
limpa, porque substitui o fertilizante nitrogenado mineral por um
processo de simbiose, em que a planta e a bactéria são beneficiadas.
Dessa forma, evita-se a contaminação do solo e de recursos hídricos. Quando se usa o nitrogênio químico em quantidades excessivas, o nitrogênio em forma de nitrato é lixiviado para o lenço freático e é altamente poluente. “Isso causa contaminação enorme do ambiente e afeta a saúde do homem”, diz o pesquisador Fábio Martins Mercante, área de Microbiologia do Solo da Embrapa Agropecuária Oeste.
Sílvia Zoche Borges é Jornalista, MTb 08223JP da
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados (MS)
Dados para citação bibliográfica(ABNT): BORGES, S.Z. Embrapa Agropecuária Oeste oferece tecnologias para a conservação do solo. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/ConservacaoSolos/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 25/05/2011 |