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CASCA D’ANTA: espécie com potencial medicinal

 Isabela Simoni

            A Drimys brasiliensis Miers. conhecida como casca d’anta ou cataia é uma espécie de planta nativa da floresta Ombrófila Mista da Mata Atlântica e pertencente a família  Winteraceae. A espécie está presente em vários estados do Brasil principalmente na região sudeste e sul nas florestas de montanha. A casta d’anta serve para diversos fins como obtenção de madeira, uso em paisagismo, e medicinal. Na medicina popular emprega-se  infusões da casca, para tratar diversos males, como úlcera, câncer, dores em geral, problemas respiratórios e malaria4.

            A casca das espécies Drimys também conhecida como “casca de Winter” foi descoberta casualmente pelo capitão Winter, um dos tenentes do navegador Sir Francis Drake que foi obrigado a refugiar-se no Estreito de Magalhães para tratar sua tripulação de escorbuto. O nome popular dado a esta espécie está relacionado ao uso das cascas da árvore pelas antas (Tapirus americanus) quando estão doentes e daí foi atribuído o nome popular, sendo este mais um fato que torna interessante o estudo desta espécie como complemento no cuidado de animais de produção e de companhia6,7.

            A espécie também é muito conhecida pelo seu aroma característico por ser rico em óleos essenciais e que também apresenta propriedades medicinais tais como atividade antifúngica, antinoniceptiva, antibacteriana e antioxidante. Limberger et al., (2007) analisaram a composição dos óleos de Drimys brasiliensis mostrando que os óleos de folhas secas e frescas de Drimys brasiliensis apresentam quantidades equivalentes de monoterpenos e sesquiterpenos, enquanto que os óleos da fruta e da casca mostraram uma predominância de sesquiterpenos1,5,4.

            A distribuição geográfica, bem como época de coleta pode interferir na quantidade e, às vezes, até mesmo a natureza dos constituintes ativos variando durante o ano ou nas diferentes estações. Assim, já foram relatadas variações sazonais em metabólitos secundários, como óleos essenciais, flavonóides, saponinas, entre outros2.

            Malheiros et al. (2005), descreveram a atividade antifúngica de extratos e compostos isolados de Drimys brasiliensis, com destaque para o poligodial. Além disso, extratos hexânicos obtidos a partir da casca desta espécie mostraram elevada atividade antiinflamatória3.

            Assim, o uso de plantas também pode ser empregado com fins medicinais nos animais e entre as diversas doenças estão as causadas por vírus como, por exemplo, os herpesvírus que causam doenças em bovinos, suínos e equinos.

            Pesquisas sobre a utilização de produtos naturais com propriedades antivirais são muito promissoras e a maioria dos testes inicialmente são realizados in vitro com a exposição direta de extratos das plantas nas células infectadas com herpesvírus. Esses patógenos são escolhidos em modelos que utilizam culturas celulares por apresentarem efeito citopático rápido, evidente e observável em microscópio de luz visível. A atividade antiviral do extrato de folhas pode ser avaliada pela inibição sobre os vírus ou durante a sua replicação nas células, mas sem causar danos à célula hospedeira. O extrato vegetal ou seu princípio ativo deve ser pouco citotóxico, ter um amplo espectro de ação e não induzir resistência viral.

            O Laboratório de Biologia Celular, do Centro de P & D de Sanidade Animal do Instituto Biológico, desenvolve pesquisa científica sobre a atividade antiviral de extratos de folhas de Drimys brasiliensis contra herpesvírus animais em parceria com a Profa. Dra. Oriana Aparecida Fávero da Universidade Presbiteriana Mackenzie e colaboração de  Rafael Martins Parreira que obteve bolsa de iniciação científica da FAPESP processo no 2009/01445-0. Extratos brutos de folhas de Drimys brasiliensis em coletas bimestrais, ao longo de um ano, foram estudados em testes de citotoxicidade e atividade antiviral em células infectadas com cada um dos herpesvírus bovino, suíno e equino. O trabalho realizado indica que os extratos das folhas e cascas de Drimys brasiliensis apresentam significativa atividade antiviral contra herpesvírus animal, independente da data de coleta, apontando a espécie como promissora para futuros estudos para confirmá-la como opção de uso medicinal e para complementar os cuidados com animais de produção e consequentemente melhorar a qualidade dos alimentos de origem animal e a saúde pública pela oferta de alimentos nutritivos e sadios.

            A Drimys brasiliensis também é conhecida como substituta da pimenta-do-reino e deste modo pode ser também aproveitada como condimento na gastronomia. Assim, esta espécie por apresentar potencial medicinal e culinário existe a possibilidade de exploração em propriedades rurais de agricultores familiares que ainda mantém fragmentos florestais da Mata Atlântica, como comenta Mariot, 2008. A utilização da casca pode ser feita em manejo sustentável de forma a incentivar a conservação da espécie, além de promover a proteção de regiões remanescentes de floresta e proporcionar uma alternativa de renda para a sobrevivência do produtor no campo aliada a outras atividades de agricultura e pecuária6.

 

Referências Consultadas

1. Carvalho L.A.C; Oliveira, F.S.; Toyama, D.O.; Fávero, O.A.; Romoff P.: Lago, J.H.G. Avaliação do potencial antinociceptivo e análise fitoquímica do extrato e do óleo volátil das folhas de Drimys brasiliensis. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 31. 2008, Águas de Lindóia, SP. Resumos.  

2. Gobbo-Neto, L.G.; Lopes, N.P. Plantas medicinais: fatores de influência no conteúdo de metabólitos secundários. Química Nova, v.30, n.2, p.374-381, 2007.

3. Lago, J.H.G.; Carvalho, L.A.C.; Silva, F.S.; Toyama, D.O.; Fávero, O.A.; Romoff, P. Chemical Composition and Anti-Inflammatory Evaluation of Essential Oils from Leaves and Stem Barks from Drimys brasiliensis Miers (Winteraceae). J. Braz. Chem. Soc., v. 21, n.9, p.1760-1765, 2010.

4. Limberger, R.P.; Scopel, M.; Sobral, M.; Henriques, A.T. Comparative analysis of volatiles from Drimys brasiliensis Miers and D. angustifolia Miers (Winteraceae) from Southern Brazil. Biochem. System. And Ecol. V.35, n.3 p.130-137, 2007.

5. Malheiros, A.; Cechinel, Filho, V.; Schmitt, C.B.; Yunes, R. A.; Escalante, A.; Svetaz, L.; Zacchino, S.; Monache, F.D. Antifungal activity of drimanesesquiterpenes from Drimys brasiliensis using bioassay-guided fractionation. Journal of Pharmacy & Pharmaceutical Sciences, v.8, n.2, p.335-339, 2005.

6. Mariot, A. Fundamentos para o manejo de populações naturais de Drimys brasiliensis Miers. - Winteraceae. 2008. Tese (Doutor em Ciências – Área de Recursos Genéticos Vegetais) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.

7. Trinta, E.F. e Santos, E. Flora Ilustrada Catarinense – Winteraceae. Herbário Barbosa Rodrigues. Itajaí, SC 1997.


 

Isabela Simoni possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Santo Amaro (1980), mestrado em Biologia Celular e Estrutural pela Universidade Estadual de Campinas (1984) e doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Atualmente é pesquisador científico do Instituto Biológico. Tem experiência na área de Biologia Celular e Virologia, com ênfase em Cultivo de células in vitro, atuando principalmente nos seguintes temas: controle alternativo de patógenos, virus da doenca de gumboro, plantas medicinais, atividade antiviral contra herpesvírus animal, bioensaios, citotoxicidade, IBDV, BoHV-1, SuHV-1 e EHV-1.
Contato: simoni@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SIMONI, I. Casca d´anta: espécie com potencial medicinal. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/CascaDanta/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 16/06/2011