CASCA D’ANTA: espécie com
potencial medicinal
A Drimys brasiliensis Miers. conhecida como casca d’anta ou cataia é uma espécie de planta nativa da floresta Ombrófila Mista da Mata Atlântica e pertencente a família Winteraceae. A espécie está presente em vários estados do Brasil principalmente na região sudeste e sul nas florestas de montanha. A casta d’anta serve para diversos fins como obtenção de madeira, uso em paisagismo, e medicinal. Na medicina popular emprega-se infusões da casca, para tratar diversos males, como úlcera, câncer, dores em geral, problemas respiratórios e malaria4. A casca das espécies Drimys também conhecida como “casca de Winter” foi descoberta casualmente pelo capitão Winter, um dos tenentes do navegador Sir Francis Drake que foi obrigado a refugiar-se no Estreito de Magalhães para tratar sua tripulação de escorbuto. O nome popular dado a esta espécie está relacionado ao uso das cascas da árvore pelas antas (Tapirus americanus) quando estão doentes e daí foi atribuído o nome popular, sendo este mais um fato que torna interessante o estudo desta espécie como complemento no cuidado de animais de produção e de companhia6,7.
A espécie também é muito conhecida pelo seu aroma característico por
ser rico em óleos essenciais e que também apresenta propriedades
medicinais tais como atividade antifúngica,
antinoniceptiva, antibacteriana e
antioxidante.
Limberger et al.,
(2007) analisaram a composição dos óleos de
Drimys brasiliensis mostrando que os
óleos de folhas secas e frescas de
Drimys brasiliensis apresentam
quantidades equivalentes de monoterpenos e sesquiterpenos, enquanto
que os óleos da fruta e da casca mostraram uma predominância de
sesquiterpenos1,5,4.
A distribuição geográfica, bem como
época de coleta pode interferir na quantidade e, às vezes, até mesmo
a natureza dos constituintes ativos variando durante o ano ou nas
diferentes estações. Assim, já foram relatadas variações sazonais em
metabólitos secundários, como óleos essenciais, flavonóides,
saponinas, entre outros2.
Malheiros et
al. (2005), descreveram a atividade
antifúngica de extratos e compostos isolados de
Drimys brasiliensis,
com destaque para o poligodial. Além disso,
extratos hexânicos obtidos a partir da casca desta espécie mostraram
elevada atividade antiinflamatória3. Assim, o uso de plantas também pode ser empregado com fins medicinais nos animais e entre as diversas doenças estão as causadas por vírus como, por exemplo, os herpesvírus que causam doenças em bovinos, suínos e equinos.
Pesquisas sobre a utilização de produtos
naturais com propriedades antivirais são muito promissoras e a
maioria dos testes inicialmente são realizados
in vitro com
a exposição direta de extratos das plantas nas células infectadas
com herpesvírus. Esses patógenos são escolhidos em modelos que
utilizam culturas celulares por apresentarem efeito citopático
rápido, evidente e observável em microscópio de luz visível. A
atividade antiviral do extrato de folhas pode ser avaliada pela
inibição sobre os vírus ou durante a sua replicação nas células, mas
sem causar danos à célula hospedeira. O extrato vegetal ou seu
princípio ativo deve ser pouco citotóxico, ter um amplo espectro de
ação e não induzir resistência viral.
O Laboratório de Biologia Celular, do
Centro de P & D de Sanidade Animal do Instituto Biológico,
desenvolve pesquisa científica sobre a atividade antiviral de
extratos de folhas de
Drimys
brasiliensis
contra herpesvírus animais em parceria com a
Profa. Dra. Oriana Aparecida Fávero da Universidade Presbiteriana
Mackenzie e colaboração de
Rafael Martins Parreira que obteve bolsa
de iniciação científica da FAPESP processo no
2009/01445-0. Extratos brutos de folhas de
Drimys brasiliensis
em coletas bimestrais, ao longo
de um ano,
foram estudados em testes de
citotoxicidade e atividade antiviral em células infectadas com cada
um dos herpesvírus bovino, suíno e equino.
O trabalho realizado indica que os extratos das folhas e cascas de
Drimys brasiliensis
apresentam significativa atividade antiviral contra herpesvírus
animal, independente da data de coleta, apontando a espécie como
promissora para futuros estudos para confirmá-la como opção de uso
medicinal e para complementar os cuidados com animais de produção e
consequentemente melhorar a qualidade dos alimentos de origem animal
e a saúde pública pela oferta de alimentos nutritivos e sadios.
A
Drimys
brasiliensis
também é conhecida como substituta da pimenta-do-reino e deste modo
pode ser também aproveitada como condimento na gastronomia.
Assim, esta espécie por apresentar potencial
medicinal e culinário existe a possibilidade de exploração em
propriedades rurais de agricultores familiares que ainda mantém
fragmentos florestais da Mata Atlântica, como comenta Mariot, Referências Consultadas
1. Carvalho L.A.C; Oliveira, F.S.; Toyama, D.O.;
Fávero, O.A.; Romoff P.: Lago, J.H.G. Avaliação do potencial
antinociceptivo e análise fitoquímica do extrato e do óleo volátil
das folhas de Drimys brasiliensis.
In:
REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA,
31.
2008, Águas de Lindóia, SP. Resumos.
2. Gobbo-Neto, L.G.; Lopes, N.P. Plantas
medicinais: fatores de influência no conteúdo de metabólitos
secundários.
Química Nova,
v.30, n.2, p.374-381, 2007.
3. Lago, J.H.G.; Carvalho, L.A.C.; Silva, F.S.;
Toyama, D.O.; Fávero, O.A.; Romoff, P. Chemical Composition and
Anti-Inflammatory Evaluation of Essential Oils from Leaves and Stem
Barks from Drimys brasiliensis
Miers (Winteraceae).
J. Braz. Chem. Soc.,
v. 21, n.9, p.1760-1765, 2010.
4. Limberger,
R.P.;
Scopel, M.;
Sobral, M.;
Henriques, A.T. Comparative analysis of
volatiles from Drimys brasiliensis
Miers and D.
angustifolia Miers (Winteraceae) from
Southern Brazil.
Biochem.
System. And Ecol.
V.35, n.3 p.130-137, 2007. 5. Malheiros, A.; Cechinel,
Filho, V.; Schmitt, C.B.; Yunes, R. A.; Escalante, A.; Svetaz, L.;
Zacchino, S.; Monache, F.D. Antifungal
activity of drimanesesquiterpenes from
Drimys brasiliensis using
bioassay-guided fractionation.
Journal
of Pharmacy & Pharmaceutical Sciences,
v.8,
n.2, p.335-339, 2005.
6. Mariot, A.
Fundamentos para o manejo de populações naturais de Drimys
brasiliensis Miers. - Winteraceae.
2008. Tese (Doutor em Ciências – Área de Recursos Genéticos
Vegetais) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.
7. Trinta, E.F. e Santos, E.
Flora
Ilustrada Catarinense
– Winteraceae.
Herbário Barbosa Rodrigues. Itajaí,
SC 1997.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): SIMONI, I. Casca d´anta: espécie com potencial medicinal. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_2/CascaDanta/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 16/06/2011 |