VENCENDO DESAFIOS PARA A CONCRETIZAÇÃO DE BIONEGÓCIOS NO BRASIL: A
INCUBAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA NA EMBRAPA
Sérgio Saraiva Nazareno dos Anjos, MSc
Adriana Diaféria, Drª.
Ana Lúcia Delgado Assad, Drª.
A rica biodiversidade brasileira, a expansão dos mercados, o
crescimento populacional, a globalização e a previsão de escassez de
recursos naturais são estímulos para o desenvolvimento de negócios
no campo das ciências biológicas, os bionegócios.
Para realizá-los estão sendo criadas novas empresas para
participar de um mercado crescente e que, além das demandas
específicas por novos produtos e serviços, tem de atender a demandas
sociais e econômicas em paralelo às preocupações com o meio ambiente
e uso racional de recursos naturais.
Também no caso dos bionegócios, a sobrevivência de uma empresa está
diretamente relacionada à sua capacidade de gerar lucro e oferecer
algum diferencial ao seu público-alvo e a inovação é um dos
mecanismos adotados por empresas para se diferenciar e sobreviver.
Em um sentido amplo, inovação é
a introdução efetiva de novidades ou aperfeiçoamento de ambientes
produtivos que culminem em novos processos, produtos ou serviços.
Diversos autores relacionam o conceito de inovação à maior
mobilização de conhecimento e de avanços tecnológicos. O sucesso de
novas empresas depende não só de sua capacidade de inovar, mas
também da proteção de suas inovações, sendo condicionados à
criatividade e conhecimento por parte do empreendedor.
Empreendedor, segundo o economista austríaco Johan Schumpeter,
é primordialmente um introdutor de inovações, favorecendo o
crescimento econômico graças a sua capacidade de recombinar recursos
produtivos. O desenvolvimento de novas tecnologias e produtos,
substitutos de outros que se tornam obsoletos, é conceituado pelo
autor austríaco como “destruição criativa” e é um dos importantes
papeis de um empreendedor no campo empresarial. Nesse contexto,
podemos conceituar empreendedorismo como processo de fazer algo novo
e/ou algo diferente com o propósito de criar riqueza para o
indivíduo e agregar valor para a sociedade.
Ações empreendedoras são realizadas, em sua maioria, por empresas de
micro e pequeno portes (MPE), que representam mais de 90% do total
de empresas brasileiras e têm papel essencial na geração de empregos
e na distribuição de renda, complementando segmentos dominados por
grandes empresas.
No entanto, nota-se uma alta mortalidade de PME após dois anos de
fundação, devido a fatores como desconhecimento de conceitos básicos
de marketing, ausência de níveis competitivos de qualidade
dos serviços, dificuldade de acesso a informações técnicas, à
legislação vigente e a crédito e constantes mudanças no mercado
interno e externo.
Ampliando a discussão sobre empreendedorismo, é importante
falar de empresas de base tecnológica (EBTs), que, segundo a
Embrapa, são empreendimentos que
fundamentam sua atividade produtiva no desenvolvimento de novos
produtos ou processos, baseados na aplicação sistemática de
conhecimentos científicos e tecnológicos e na utilização de técnicas
avançadas ou pioneiras.
Em todo o mundo, a
maioria das EBTs
é de micro e pequeno
porte, caracterizadas pela sua alta capacidade de inovação e seu
principal insumo é o conhecimento. No entanto, no Brasil, as EBTs
têm forte cunho técnico e fraco cunho administrativo e gerencial, o
que culmina na alta mortalidade de empresas deste tipo. Tal fator é
comum no desenvolvimento de pequenas empresas de diversos ramos, não
só biológico. A diferença para bionegócios é o alto custo de
produção ou manutenção dos serviços, que usam equipamentos de última
geração, amostras biológicas, processos certificados ou controlados
e recursos humanos altamente capacitados.
A incubação dessas empresas tornou-se um processo que apóia
as idéias e projetos do empreendedor, capacita-o para ser o
administrador/gestor da sua empresa e oferece infraestrutura para
que os bionegócios se desenvolvam sob sólida assessoria jurídica,
empresarial e de gestão de pessoas, gerando condições para que as
EBTs se mantenham ativas e prósperas após o período de incubação.
Tal suporte diminui drasticamente a mortalidade das empresas e
viabiliza a efetiva transferência de tecnologias geradas por
instituições de pesquisa em prol do desenvolvimento social e
econômico, ou seja, a inovação.
Visando implementar novos arranjos institucionais e
viabilizar a efetiva transferência de suas tecnologias, a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), coordena o Programa
de Incubação em Agronegócio (PROETA). Os grandes objetivos deste
Programa são incentivar a formação de parcerias público-privadas,
transferir tecnologias
geradas pela
Embrapa e promover
a inovação no setor
agropecuário.
A operacionalização do programa é feita por meio da
celebração de contratos de parceria com as incubadoras de empresas
já existentes, para que os empreendedores ou empresas nascentes
sejam incubadas utilizando tecnologias da Embrapa em seus processos
produtivos.
As incubadoras dão, ao incubado, suporte de gestão do
negócio, marketing, propriedade intelectual, assistência jurídica,
contábil e de infraestrutura. A Embrapa, por sua vez, apóia o
empreendedor com a assistência técnica sobre a tecnologia ou produto
que foi desenvolvido em seus Centros de Pesquisa, até que a empresa
incubada esteja em condições de se graduar.
Atualmente, o PROETA
(http://www.embrapa.br/proeta) tem 37 tecnologias disponíveis para
transferência a pequenos empreendedores ou a empresas nascentes.
Entre eles, podemos citar alguns exemplos, como: automação e
controle de sistemas de tratamento de dejetos suínos é um serviço
desenvolvido pela Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC); biorreator
de imersão temporária, um equipamento desenvolvido pela Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília/DF); aproveitamento
agroindustrial de espécies nativas do Cerrado (desenvolvido pela
Embrapa Cerrados, em Brasília/DF) que leva á obtenção de diferentes
produtos.
É sabido que há um déficit de vagas para integração de
mestres e doutores que se formam no Brasil, pois nas atividades
relacionados aos bionegócios, o setor público ainda tem maior
participação no campo da Pesquisa e Desenvolvimento. Tal cenário é
um ponto forte para a ampliação da incubação de bionegócios via
PROETA que representa uma oportunidade real de absorção dessa
mão-de-obra qualificada. Outro ponto forte do referido Programa é a
efetiva transferência das tecnologias da Embrapa para a sociedade e,
por conseguinte, a consolidação de inovações nos setores
agropecuário e agroindustrial.
Sérgio Saraiva Nazareno dos Anjos, MS
é
Analista, Embrapa Agroenergia (CNPAE)
Dados para citação bibliográfica(ABNT): ANJOS, S.S.N. dos; DIAFÉRIA, A.; ASSAD, A.L.D. Vencendo desafios para a concretização de bionegócios no Brasil: a incubação de empresas de base tecnológica na Embrapa. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_1/VencendoDesafios/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 10/02/2011 |