Coprodutos e Resíduos de Biomassa são Matérias-Primas para Produtos
Químicos Sílvio Vaz Jr.
Nós últimos anos, grande esforço tem sido dispendido para o
aproveitamento de coprodutos e de resíduos dos processos de conversão da
biomassa para agregar valor às cadeias produtivas e reduzir possíveis
impactos ambientais das mesmas.
Os conceitos de biorefinaria e química verde enfocam este aproveitamento
de modo que se obtenham cadeias de valor similares àquelas dos derivados
do petróleo, porém com menor impacto ao meio ambiente. Tais conceitos
devem contemplar sistemas integrados (matéria-prima, processo, produto e
resíduos) sustentáveis, de acordo com parâmetros técnicos que levam em
conta, dentre outros aspectos, os balanços de energia e massa, o ciclo
de vida e redução de gases do efeito estufa dos processos de obtenção de
biocombustíveis, produtos químicos, energia elétrica e calor.
Segundo estes conceitos, os produtos químicos desenvolvidos a partir de
coprodutos e resíduos são, muitas vezes, os que possuem maior potencial
em agregar valor às cadeias produtivas, em função da participação
estratégica da indústria química no fornecimento de insumos e produtos
finais a diversos setores da economia, tais como: petroquímico,
farmacêutico, automotivo, construção, agronegócio, cosméticos,
etc..
Como o conceito de biorrefinaria é amplo por sua própria natureza e
abrangente em sua aplicação industrial e econômica, interesse especial
tem sido dado ao desenvolvimento de produtos químicos a partir da
desconstrução do material lignocelulósico constituinte das plantas e ao
seu processamento térmico.
Na desconstrução, a biomassa, após passar por diversos tipos de
pré-tratamentos físicos e químicos (ex.: termoalcalino, explosão a vapor
e organosolvente) disponibiliza os polímeros lignina, celulose e
hemicelulose. No processamento térmico, no caso da pirólise rápida, a
biomassa é incinerada em presença controlada de oxigênio, fornecendo
bio-óleo e biocarvão (biochar).
Segundo levantamento do U.S. Department of Energy publicado no
ano de 2007, existem as seguintes possibilidades de utilização da
lignina como precursor de novos produtos químicos, em sua maioria em
alternativa aos derivados de petróleo: solventes e combustíveis líquidos
(benzeno, tolueno e xilenos); copolímeros com alta resistência
mecânica e ao aquecimento, para produção de poliésteres; elastômeros
termoplásticos; poliuretanos termoresistentes; macromonômeros; fibras e
compósitos de carbono; cargas orgânicas de baixo custo; quininas;
mistura de aldeídos benzílicos; mistura de fenóis e mistura de ácidos
aromáticos e alifáticos.
Tais compostos poderão ter aplicação como agentes antivirais, agentes
sequestrantes (quelantes), preservantes de madeira, estabilizantes
enzimáticos, controladores de vazamento de óleo, dentre outros. Cabe
ressaltar que os usos dependerão grandemente do tipo de pré-tratamento
aplicado para a obtenção da lignina, já que a mesma possui estrutura
molecular heterogênea, e ainda não totalmente determinada.
A celulose e a hemicelulose, uma vez hidrolisadas, decompõem em hexoses
e pentoses. Os novos produtos derivados desses açúcares também foram
objeto de publicação do U.S. Department of Energy em 2004 e
revisados de maneira crítica na revista Green Chemistry em 2010,
tendo-se concluído que os derivados desses açúcares de maior potencial
industrial são: acidos levulínico, lático e succínico; ácido e aldeído
hidroxipropiônicos; etanol; furanos; hidrocarbonetos; glicerol e
derivados; sorbitol; xilitol e arabinol.
Esse grupo de produtos derivados da celulose e hemicelulose
poderão ser utilizados como
solventes, combustíveis, monômeros para plásticos, intermediários
químicos para a indústria farmacêutica e de química fina em geral,
dentre outros.
Tanto os derivados da lignina, quanto os derivados dos açúcares estão
sendo desenvolvidos sob uma forte tendência para a obtenção de compostos
construtores de blocos (build blocks), ou seja, compostos que
poderão ser utilizados como precursores de uma grande variedade de
outros compostos de variadas aplicações industriais, na maioria dos
casos, e como já comentado, em substituição aos de origem petroquímica.
O biocarvão, por sua vez, é um coproduto que apresenta interesse
agronômico, para aplicação como fertilizante de liberação controlada, e
ambiental, por suas possíveis aplicações na prevenção da poluição
ambiental e na descontaminação de corpos d'água (superficiais e
subterrâneos) e de solo impactados por metais tóxicos. Em ambos os
casos, tais aplicações devem-se à presença de grupamentos químicos
polares e não-polares, remetendo às características estruturais e
funcionais da lignina constituinte da biomassa.
Quanto ao bio-óleo, este poderá ser utilizado como combustível em
substituição ao óleo diesel para a produção de calor e energia, com um
menor impacto ambiental, e também como preservante de madeira, devido à
sua atividade fungicida.
Desta forma, as possibilidades advindas do aproveitamento otimizado da
biomassa em biorrefinarias representam enorme potencial para um país
como o Brasil, mesmo considerando-se os desafios científicos e
tecnológicos para o desenvolvimento destes novos produtos e de seus
processos de fabricação.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): VAZ JUNIOR, S. Coprodutos e Resíduos de Biomassa são Matérias-Primas para Produtos Químicos. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_1/ProdutosQuimicos/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 31/01/2011 |