Parceria
Articulada pela Embrapa Revolucionará Pós-Colheita de Guaraná
Lucio
Pereira Santos *
O guaranazeiro (Paullinia
cupana var. sorbilis (Mart.) Ducke) é uma planta tipicamente
Amazônica, sendo um de seus prováveis centros de origem o Município de
Maués, no Amazonas. Neste Município concentra-se o maior número de
produtores de guaraná do Brasil, cerca de 3.000 mil, e também a maior
produção física do Estado. A previsão de safra do Município de Maués
para o ano de 2010 é de cerca de 400 toneladas de sementes secas, em
rama. Ainda no Baixo Amazonas, destacam-se na produção de
guaraná os Municípios de Urucará, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e
Parintins, sendo que estes têm produção bem abaixo do que o Município de
Maués.
Nos últimos anos, o Município de Presidente Figueiredo
vem se destacando, estando sua produção concentrada na Agropecuária
Jayoro Ltda, hoje com um parque guaranazeiro de 200.000 plantas e que,
até o ano de 2012, terá a população de plantas ampliada para 350.000. Tradicionalmente o guaranazeiro após ser colhido é
amontoado por um período de aproximadamente 72 horas, visando
estabelecer-se um processo de fermentação, o que, segundo um paradigma
que remonta há mais de um século, proporciona a liberação das sementes
separando-as da casca, processo denominado de despolpamento. Com o passar do tempo, foram realizadas algumas
tentativas por parte de grupos empresariais com vistas à mecanização do
processo de despolpamento, com o intuito principal de se agilizar essa
difícil operação. Contudo, a crença de que os frutos colhidos precisavam
passar pelo processo de fermentação antes do despolpamento foi mantida e
ainda ganhou um reforço, a hipótese de que a fermentação dos frutos de
guaraná proporcionaria uma elevação dos teores de cafeína nas sementes. Recentemente, articulada pela Embrapa Amazônia
Ocidental, foi estabelecida uma tríplice parceria entre as Instituições
Embrapa/Jayoro/Pinhalense S A
Máquinas Agrícolas, sendo esta última a líder mundial de mercado de
equipamentos para processamento pós-colheita do cafeeiro, com o objetivo
de se desenvolver um processo pós-colheita do guaranazeiro a partir de
equipamentos concebidos originalmente para o cafeeiro. A Pinhalense cedeu à Embrapa, via doação, uma máquina
despolpadora que foi alocada na Jayoro, por meio de contrato de
comodato. Os técnicos e engenheiros da Pinhalense, os pesquisadores da
Embrapa, apoiados pelos profissionais da Jayoro, estão desenvolvendo um
novo processo pós-colheita, mediante ajuste do equipamento supra-citado. Os resultados até agora alcançados são excepcionais e
apontam na direção de uma modificação radical do processo pós-colheita
do guaranazeiro, fundamentando-se, basicamente, em dois aspectos:
1)
A máquina
despolpadora, após ter sido ajustada para o guaraná, apresentou
desempenho superior de despolpamento de frutos frescos, não-fermentados,
quando comparado com o despolpamento tradicional, que é aquela
processada com frutos fermentados por cerca de 72 horas. Além de
despolpar em menor tempo e exigir menor manutenção de limpeza das
peneiras, não provoca quebra de sementes, eliminando perdas de sementes
que anteriormente saiam junto às cascas. Outro ponto é que as sementes
íntegras terão maior tempo útil de armazenamento, sem deterioração por
fungos e demais agentes patogênicos que atualmente constituem problemas
ao armazenamento de sementes de guaranazeiro. Outro ponto positivo é que
as sementes não-fermentadas tendem a apresentarem menores contaminações
microbiológicas que poderão tornarem-se nocivas à saúde dos
consumidores, o que será estudado também com maiores detalhes;
2)
A hipótese de que a
fermentação dos frutos de guaranazeiro confere aumento do teor de
cafeína às sementes tem sido rejeitada, após análises comparativas
envolvendo sementes fermentadas e não-fermentadas, realizadas pela
Jayoro. Essas análises serão repetidas em grupos de tratamentos que
considerarão vários períodos distintos de fermentação. Pela primeira vez na história da guaranaicultura esses
aspectos estão sendo estudados com bases científicas, articuladas pela
Embrapa Amazônia Ocidental, por meio de um projeto intitulado:
“Desenvolvimento de um modelo de produção integrada de guaraná no Estado
do Amazonas”, coordenado pelo pesquisador Lucio Pereira Santos, e que
possui diversas instituições públicas e privadas como parceiras. Os próximos passos serão as tentativas de se ajustar
outros componentes importantes ao sistema, como um batedor para a
retirada do raquis central do cacho, um lavador posicionado antes dos
frutos caírem no despolpador, uma peneira rotativa para separação final
das cascas dos frutos, e um sistema mais adequado de secadores, mais
flexíveis e mais eficientes dos que atualmente são utilizados pelas
empresas produtoras/processadoras de guaraná, entre outros detalhes que
ainda estão sendo avaliados pela equipe interinstitucional e
multidisciplinar. Ao final de todo o processo, após as realizações das
análises estatísticas e comprovação dos resultados, far-se-á a validação
da nova tecnologia e o novo processo será lançado e disponibilizado para
todos os produtores rurais interessados em sua adoção. Uma Unidade-Piloto Pós-Colheita de Guaraná será
instalada no Campo Experimental de Maués, com os objetivos de se
realizarem cursos de treinamento para técnicos, engenheiros, produtores
e demais públicos interessados em participar da cadeia produtiva do
guaranazeiro. Outra utilidade da Unidade-Piloto será a realização de
pesquisas envolvendo as fases de preparo, beneficiamento, armazenamento
e processamento das sementes de guaranazeiro. Lucio Pereira Santos possui os títulos de "Mestre Agrícola" conferido pela Escola Agrotécnica Federal de Machado/MG, e de "Técnico em Agropecuária" pela Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho/MG. É graduado em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado (1984), mestre em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal de Lavras (1993) e doutor em Fitotecnia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal de Viçosa (1998). No setor público, atuou em atividades de pesquisa nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Amazonas. Na iniciativa privada, trabalhou nas áreas de produção vegetal e animal. Atualmente, é pesquisador A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Amazônia Ocidental, manaus-AM). Tem experiência na área de Agronomia/Fitotecnia, com ênfase em Nutrição Mineral e Adubação de Plantas. Atua, também, nas seguintes áreas / linhas de pesquisa: Manejo e Tratos Culturais, Genética e Melhoramento, Pós-Colheita e Beneficiamento. Contato: lucio.santos@cpaa.embrapa.br
Dados para citação bibliográfica(ABNT): SANTOS, L.P. Parceria articulada pela Embrapa revolucionará pós-colheita de guaraná . Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_1/parceria/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 17/02/2011 |