Agricultores e
pecuaristas transformam boi sanfona em boi safrinha
Luís Armando
Zago Machado
Na
safrinha de 2010, com as incertezas do mercado, os agricultores
preferiram plantar braquiária em parte da área destinada ao milho e
a outras culturas. Muitos que plantaram milho fizeram o consórcio
milho e Brachiaria ruziziensis.
Durante a estação
seca estes capins produzem grande quantidade de forragem, que
apresenta boa qualidade, mas quando são plantados mais cedo e não
são pastejados, tendem a produzir excesso de massa que deve ser
roçada para viabilizar o plantio da soja. A palhada e massa de
raízes deixadas pelos capins criam uma condição muito favorável ao
plantio direto da soja.
Porém, para quem
dispõe de uma pastagem tão boa roçar é um desperdício de dinheiro e
energia. Os agricultores citam algumas limitações ao aproveitamento
desta pastagem, destacando-se a falta de recursos para a aquisição
dos animais. Como estas pastagens apresentam período curto de
duração, de abril a setembro, se o produtor adquirir o boi magro, as
oscilações do mercado podem comprometer o lucro.
Outro aspecto que
preocupa os agricultores é o mito de que o boi possa compactar seu
solo. Porém, está mais do que provado que boi não compacta, pelo
contrário, as raízes da pastagem têm uma grande função de
descompactação de solo, desde que manejada adequadamente.
Por outro lado, para
muitos pecuaristas há falta de pasto durante a estação seca, o que
acarreta vários prejuízos, inclusive a perda de animais. Ao final do
verão estes produtores dispõem de muitos animais adultos (erados),
como bois e vacas de descarte, que têm peso, mas falta gordura para
comercialização. Se estes animais ficarem na propriedade, durante a
estação seca, competirão por comida com outras categorias ou então ,
o produtor se obrigará a confiná-los, o que demanda recurso.
A parceria de
engorda de gado entre pecuaristas e agricultores, embora difícil,
pode ser uma boa saída para ambos em momento de crise, a exemplo do
“boitel” praticado por confinadores e frigoríficos. Este modelo
funciona na região Sul, onde o pecuarista faz parceria com o
agricultor enviando seus animais para engorda nas pastagens
estabelecidas após a soja.
Desta forma o
pecuarista viabiliza a engorda e a venda de seus animais na
entressafra, época em que há valorização do preço da arroba, não
necessitando se envolver com o confinamento de animais. O agricultor
também ganha ao diversificar sua fonte de renda com a engorda de
gado e, ainda, tem sua pastagem condicionada pelos animais para
facilitar a dessecação e o plantio direto da soja.
Para que esta
parceria aconteça, o agricultor necessita investir em cercas,
mangueira com embarcador e aguada. Porém, não necessita dispor de
recurso para a compra dos animais, ao receber estes em parceria.
Desta forma, o agricultor fica menos vulnerável às variações de
preço do boi magro, viabilizando um negócio interessante para ele e
para o pecuarista.
O agricultor deve
planejar o plantio das forrageiras para que tenha pasto durante toda
a safrinha. As principais forrageiras utilizadas são a Brachiaria
ruziziensis, os capins Aruana, Xaraés e Tanzânia. Quando
semeadas após soja precoce, em fevereiro, o início do pastejo ocorre
no final de abril, início de maio, dependendo das condições do
tempo.
Caso sejam semeadas
em março e misturadas com sorgo pastejo ou milheto, o início do
pastejo é antecipado em um mês. No pico da estação seca, os capins
Aruana, Xaraés e Tanzânia são mais produtivos e no final deste
período, em agosto e setembro, além das forrageiras citadas, o
produtor poderá aumentar a disponibilidade de pasto com os capins
estabelecidos em consórcio com milho safrinha.
A base deste sistema
é a pastagem, mas como as condições meteorológicas variam muito
neste período, a possibilidade do uso de suplementação ou do
confinamento deve ser analisada para garantir a terminação de todos
os animais até o final de setembro, quando as forrageiras devem ser
vedadas para dessecação e retorno da soja.
Luís
Armando Zago Machado possui graduação em
Engenharia Agronomica pela Universidade Federal de Santa Maria
(1990) e mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (1993). É pesquisador II da Embrapa Agropecuária
Oeste, desde 1997. Tem experiência na área de Zootecnia, com
ênfase em Manejo e Conservação de Pastagens, atuando
principalmente nos seguintes temas: avaliação de forrageiras,
cobertura do solo, produção de forragem, manejo de pastagens e
consórcio de culturas anuais e forrageiras.
Contato: zago@cpao.embrapa.br
Dados para citação bibliográfica(ABNT): MACHADO, L.A.Z. Agricultores e pecuaristas transformam boi sanfona em boi safrinha. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_1/BoiSafrinha/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 22/03/2011 |