Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

Soja: a importância das cultivares e do manejo da lavoura
em ano de La Niña

 

Francisco de Jesus Vernetti Jr.

Giovani Theisen

 

Os institutos que acompanham o clima mundial confirmam o resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial, configurando o fenômeno La Niña já nesta primavera e permanecendo durante o verão 2011. A previsão é de um episódio de intensidade moderada a forte, que deve durar pelo menos até o outono de 2011. No extremo sul do Brasil, o fenômeno é caracterizado por uma redução na incidência de chuva e aumento do risco de estiagens regionalizadas no verão.

A cultura da soja é reconhecida como bastante tolerante à seca, em comparação a outras espécies de verão. Entretanto, as perdas de produção são frequentes e significativas devido à falta de umidade no solo. A tolerância da soja à seca (déficit hídrico) é consequência de vários fatores que conferem à lavoura determinado nível de resistência ao déficit de umidade do solo, seja por ocorrência de veranicos ou de estiagens. Por isto, é importante dar atenção a todos os fatores que influenciam na lavoura quanto à sua tolerância ao déficit de umidade. Esta preocupação está presente em nosso meio agrícola, mas é importante que se faça uma análise da forma com que poderá ser planejada/conduzida a lavoura, para enfrentar/minimizar as consequências desta situação.

Entre outros fatores, o manejo de áreas em plantio direto, têm menor probabilidade de prejuízos com a estiagem e, não menos importante, a utilização de cultivares de diferentes Grupos de Maturação (GM) beneficiam o produtor. Neste sentido, o uso de cultivares de distintos GMs amplia os períodos críticos da cultura (floração e formação/enchimento de grãos), proporcionando uma maior chance de ocorrência de precipitação nestas fases da cultura, havendo menor prejuízo. Esta estratégia visa diluir o risco de que a seca atinja toda a lavoura justamente na fase mais sensível. Se houver déficit hídrico, provavelmente este atingirá apenas uma parte do ciclo da lavoura. Além desta prática oferecer maior segurança contra adversidades climáticas durante o período em que a cultura está no campo, permite também um melhor aproveitamento das colheitadeiras, pelo escalonamento da maturação.

A Fundação MS, em 2008, (Tabela 1) elaborou uma classificação de cunho prático quanto à tolerância à seca, que estabelece uma relação entre algumas cultivares, com base em observações de seu comportamento em trabalhos de pesquisa e de lavouras. Segundo os autores, a cultivar pode ter um comportamento diferente, se um ou mais fatores estiverem contribuindo para deixar a lavoura mais ou menos tolerante ao déficit hídrico.

Medidas como uma adequada população de plantas de soja (16/18 sementes por metro linear, no espaçamento de 45 cm entre linhas), utilização de sementes tratadas com fungicidas específicos e inoculadas com rizobium, bem como a redução máxima da pressão de invasoras (concorrentes diretas pela água disponível), são especialmente recomendadas.
Orienta-se aos produtores que, na medida do possível, mantenham cobertura sobre o solo, a fim de que este possa armazenar uma boa quantidade de água. Da mesma forma, a área deve ser dessecada antes da semeadura para que a emergência ocorra sem a presença de plantas daninhas na lavoura. Alem de preservar água, estas medidas facilitam o controle das invasoras em pós-emergência, reduzindo a probabilidade de ocorrer resistência aos herbicidas, e evitam perdas de produção. Ademais, reitera-se que as práticas culturais devem ser feitas com exatidão, a fim de que a soja apresente produtividade e lucratividade satisfatórias. Além das já citadas, a análise de solo - para adição do tipo certo de fertilizante (um dos mais representativos no custo de produção) - e a aplicação de fungicidas e inseticidas somente após a população das pragas atingirem o nível de dano econômico são importantes para que o potencial produtivo da lavoura seja alcançado e mantido até a colheita.

Finalmente, no sul do RS, as melhores produtividades são obtidas com semeaduras entre 21 de outubro e 10 de dezembro, existindo diversas cultivares indicadas. Recomenda-se que se inicie a semeadura com as cultivares de ciclo mais longo e, a partir de início de novembro, semeiem-se as de ciclo precoce e médio, finalizando em dezembro, se necessário, com as tardias. Não se pode esquecer que, se estas forem muito tardias (GM > 7.5) poderão finalizar o ciclo em fins de maio, época que, em geral, não favorece a colheita de soja com qualidade. Informações mais detalhadas sobre a cultura podem ser encontradas nos livros de indicações técnicas para o RS e SC e junto à Embrapa Clima Temperado.

 

Tabela 1. Classificação de algumas cultivares de soja recomendadas/indicadas para o Rio Grande do Sul, quanto à tolerância ao déficit hídrico do solo.

Tolerante

Moderadamente tolerante

Suscetível

Altamente suscetível

BRS 239

BR 16

BRS 246 RR

BRS 244 RR

Embrapa 48

BRS 241

BRS Charrua

CD 213 RR

 

Fundacep 59 RR

CD 214 RR

 

 

FTS Campo Mourão

CD 210 RR

 

 

MSoy 8001

CD 225 RR

 

 

 

BMX Titam

 

 

 

Dom Mario 7.0i

 

 

 

BMX Potencia RR

 

Fonte: adaptado de Fundação MS, 2008.

 

Bibliografia consultada

BOLETIM CLIMÁTICO – OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO (2010). Estado do Rio Grande do Sul. Ano 08 / Número 09. Disponível em: http://www.cpact.embrapa.br/agromet/ . Acesso outubro de 2010.

FUNDAÇÃO MS. Tecnologia e Produção: Soja e Milho 2008/2009. Disponível em: http://www.fundacaoms.org.br/page.php?88. Acesso setembro de 2010.

REUNIÃO DE PESQUISA DA SOJA DA REGIÃO SUL, 37. Indicações técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina 2009- 2010. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio grande do Sul, 2009. 144 p.

 


Francisco de Jesus Vernetti Junior possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (1976), mestrado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (1979) e doutorado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (2007). Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Clima Temperado. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Manejo e Tratos Culturais, atuando principalmente nos seguintes temas: soja, arroz irrigado, sistemas de cultivo, plantio direto e manejo de cultura.
Contato: francisco.vernetti@cpact.embrapa.br

 

Giovani Theisen possui graduação em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo (1993) e mestrado em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998). Atualmente é pesquisador da Embrapa Clima Temperado. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Sistemas de Produção e Manejo Integrado de Pragas, atuando principalmente nos seguintes temas: rotação de culturas, plantio direto, tecnologia de aplicação, planta daninha, trigo, soja e arroz irrigado.
Contato:
giovani.theisen@cpact.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

VERNETTI JUNIOR, F.J.; THEISEN, G. Soja: a importância das cultivares e do manejo da lavoura em ano de La Niña. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/soja/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 18/11/2010