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Espécies de minhocas para minhocultura

 

Gustavo Schiedeck,

 

            A minhocultura é uma atividade de grande apelo social, tanto no campo quanto na cidade, devido à sua capacidade de processar resíduos orgânicos transformando-os em um produto de elevada qualidade para a fertilização de plantas, o popular ‘húmus de minhoca’.

            Muitas pessoas interessadas no assunto se deparam com uma questão elementar: qual a espécie de minhoca mais indicada para utilizar no minhocário? Existem no mundo cerca de 4 mil espécies de minhocas terrestres, divididas em três grupos ecológicos: anécicas, endogeicas e epigeicas. Os primeiros grupos são formados por espécies que vivem em galerias verticais e em perfis mais profundos do solo, respectivamente. Por sua vez, as minhocas epigeicas são espécies que vivem mais próximas à superfície, alimentando-se basicamente de resíduos orgânicos, ingerindo grandes quantidades de materiais ainda não decompostos. Essas minhocas raramente abrem galerias no solo, uma vez que não possuem a anatomia indicada para tal função. Por essas peculiaridades ecológicas, as minhocas desse grupo são as mais indicadas para a criação racional em cativeiro.

            Nesse contexto, existem poucas espécies de minhocas apropriadas para a minhocultura e cada qual possui características particulares. Dentre as características mais importantes para a escolha da espécie estão a capacidade em aceitar diferentes resíduos orgânicos, alto consumo do alimento oferecido, grande tolerância às variações ambientais, elevados índices de reprodução e fertilidade dos casulos, rápido crescimento e atingimento da maturidade sexual, grande resistência e sobrevivência ao peneiramento ou catação manual.

            As espécies de clima temperado utilizadas na minhocultura mundial são Eisenia andrei, Eisenia fetida, Dendrobaena rubida, Dendrobaena veneta e Lumbricus rubellus. Por sua vez, as espécies de clima tropical mais utilizadas são Eudrillus eugeniae, Perionyx excavatus e Pheretima elongata.

            Na grande maioria dos minhocários do mundo predomina a utilização das espécies E. andrei e E. fetida (erroneamente escrita como E. foetida ou ainda E. phoetida), ambas conhecidas pelo nome comum de “vermelha-da-califórnia”. No Brasil, praticamente todos os minhocários são montados com a espécie E. andrei. Embora muitos centros de pesquisa no País referenciem a utilização de E. fetida em seus trabalhos científicos, essa espécie raramente é encontrada em levantamentos taxonômicos. Assim, é possível que as populações existentes no País sejam mesmo de E. andrei, e não de E. fetida. Essa confusão se deve à grande semelhança de sua anatomia externa, apesar de possuírem algumas diferenças na coloração da epiderme e no ciclo de vida.

            A preferência pela E. andrei e E. fetida se deve ao fato de já estarem amplamente distribuídas no mundo, habitando naturalmente diversos tipos de resíduos orgânicos. Além disso, podem sobreviver em ambientes com ampla variação de umidade e temperatura, de 70% a 90% e de 0ºC a 35ºC respectivamente. Sob condições ótimas, possuem elevados índices de reprodução e, segundo alguns autores, consomem o equivalente ao seu peso em alimento por dia. Os casulos são colocados à média de um a cada dois ou três dias, com viabilidade em torno de 73% a 80% e 2,5 a 3,8 minhocas por casulo. O período de incubação do casulo gira em torno de 18 a 26 dias e, após a eclosão, a maturidade sexual é atingida ao redor de 28 a 30 dias.

            Apesar da “vermelha-da-califórnia” ser a mais conhecida, outras espécies já podem ser adquiridas no Brasil em criadores de matrizes especializados. A Eudrilus eugeniae é conhecida popularmente como “gigante-africana” e é criada principalmente para o mercado de isca viva para pesca e para a produção de proteína para alimentação animal. Embora seja uma minhoca grande (tamanho entre 8 e 19 cm e peso entre 2,7 a 3,5 g), é mais sensível à manipulação e às mudanças de temperatura, preferindo ambientes em torno de 25°C e tolerando variações entre 16ºC e 30°C. Em média, um casulo é colocado a cada dois dias e em seu interior há 2 a 2,7 minhocas. O tempo de incubação do casulo é de 12 a 16 dias e a maturidade sexual é atingida entre os 40 e 49 dias após a eclosão do casulo.

            A espécie conhecida como violeta-do-himalaia, Perionyx excavatus, é outra possibilidade já disponível no Brasil para a criação em minhocários. Essa espécie produz muitos casulos, em média de 1,2 a 2,7 por dia, porém de cada casulo nasce apenas 1 e 1,1 minhoca. A incubação do casulo é em torno de 18 dias e após 28 a 42 dias as minhocas atingem a maturidade sexual, estando prontas para reproduzir e iniciar um novo ciclo. Seu melhor desenvolvimento ocorre em temperaturas entre 25ºC e 37°C, sendo que temperaturas abaixo de 5°C podem ocasionar sua morte.

            As diferentes espécies de minhocas disponíveis podem auxiliar na diversificação da minhocultura, bastando que cada criador analise suas condições e interesses para fazer a escolha mais adequada.


 

Gustavo Schiedeck possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de Passo Fundo (1992), mestrado em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996) e doutorado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (2002). Atualmente é pesquisador na Embrapa Clima Temperado e lotado na Estação Experimental Cascata. Tem experiência na área de Agroecologia e agricultura familiar, atuando principalmente nos seguintes temas: horticultura, minhocultura e produção de húmus e plantas bioativas.
Contato:
gustavo.schiedeck@cpact.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SCHIEDECK, G. Espécies de minhocas para minhocultura. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/minhocultura/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 29/12/2010