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Bioecologia  de  Grapholia molesta e os danos causados

Patricia Daniela da Silva Pires

Grapholita molesta popularmente chamada de mariposa-oriental ou broca-dos-ponteiros é originária do continente asiático (Gonzalez, 1989), e encontra-se amplamente distribuída por todas as regiões produtoras de frutíferas de clima temperado (Hickel et al., 2003). No Brasil, acredita-se que foi introduzida pela Argentina, estabelecendo-se no Rio Grande do Sul (Hickel & Ducroquet, 1998), onde foi registrada em 1929 (Silva et al., 1968)  expandindo-se, posteriormente, para os demais estados, principalmente em áreas onde são cultivadas frutas de caroço (Salles, 1998) e macieira (Mello, 2001).

É uma espécie polífaga, podendo ser classificada como um dos mais sérios inimigos da fruticultura (Lepage & Fadigas, 1944), ataca frutíferas da família Rosaceae, principalmente pessegueiro, macieira, causando perdas expressivas na produção e na fase de implantação do pomar, quando incide de forma devastadora, impedindo o crescimento normal das plantas (Hickel & Ducroquet, 1998).

Os adultos de G. molesta são pequenas mariposas com cerca de 12 mm de envergadura, de coloração acinzentada com algumas estrias brancas. Possuem hábitos crepusculares, concentrando as atividades de vôo, alimentação e acasalamento no final da tarde e início da noite (Hickel, 2006).

Os ovos são diminutos, com aproximadamente 0,7 mm de diâmetro em formato de pequenos discos, ligeiramente convexos e esbranquiçados, sendo ovipositados isoladamente, na face abaxial das folhas novas, nas brotações, em ramos novos e nos frutos (Hickel, 2006). O período de incubação varia de três a cinco dias em temperaturas de 30 e 20°C, respectivamente, umidade relativa de 75±10% e fotofase de 14 horas (Grellmann et al., 1991).

Figura 1 -  Estágios de desenvolvimento de Grapholita molesta: (A) adulto; (B) ovos; (C) larva;

As lagartas recém-eclodidas são branco-acinzentadas com cabeça preta e quando completamente desenvolvidas apresentam coloração branco-rosada com cabeça marrom (Fig. 1C), atingindo 12 a 14 mm de comprimento. As pupas são frágeis e ficam abrigadas em casulos de seda, em fendas da casca dos troncos ou ramos, nas axilas dos ramos ou no solo. Medem aproximadamente 6 mm de comprimento e apresentam coloração castanha (Hickel & Ducroquet, 1998; Hickel, 2006). O período larval dura de 11 a 21 dias e a fase de pupa de 7 a 12 dias (Grellmann et al., 1991).

Os danos são causados exclusivamente pelas lagartas que atacam ponteiros novos dos ramos e frutos (Lorenzato, 1988). Nos ponteiros se alimentam dos primórdios foliares e depois penetram na medula, abrindo uma galeria de 2 a 10 cm de extensão. O ponteiro atacado murcha e seca, ficando enegrecido e geralmente há exsudação de goma resinosa pelo orifício de entrada da lagarta. As lagartas podem migrar de um ponteiro atacado para outro próximo em busca de alimento. Uma lagarta pode atacar de três a sete ponteiros da mesma planta (Lorenzato, 1988; Hickel & Ducroquet, 1998). Os danos nos ponteiros são mais prejudiciais em viveiros e em pomares jovens em formação, pois com a destruição do meristema apical, há uma tendência natural das plantas atacadas emitirem brotações laterais, prejudicando a arquitetura e crescimento das mesmas (Hickel & Ducroquet, 1998).

Nos frutos de pessegueiro as lagartas penetram, preferencialmente próximo ao pedúnculo e vão se alimentar da polpa em torno do caroço. No ponto de penetração pode-se observar a deposição de excrementos envoltos em fios de seda e goma exsudada. Frutos atacados apresentam galerias e tornam-se impróprios para comercialização. O maior ataque ocorre no período entre o endurecimento do caroço e a pré-maturação, ou seja, de cinco a seis semanas após a plena floração, até 15 a 20 dias antes da colheita. Frutos danificados, quando no início do desenvolvimento, podem murchar e cair prematuramente, principalmente em ameixeira (Hickel & Ducroquet, 1998).

Em regiões de clima temperado, a mariposa-oriental ocorre na primavera e verão, uma vez que no inverno as temperaturas são inferiores à basal de desenvolvimento, 8,99 °C (Grellmann et al., 1991).

Na Serra Gaúcha, adultos da mariposa-oriental apresentam quatro picos populacionais distintos em pomares comerciais de pessegueiro (Arioli et al., 2005). Segundo os autores, os primeiros machos foram observados a partir do mês de julho, com o máximo de capturas na metade de agosto. O segundo pico populacional foi verificado no final de outubro, início de novembro, o terceiro entre o final de novembro e início de dezembro e o quarto, em meados de janeiro. Um número reduzido de insetos foi capturado entre os meses de maio e julho, em dois anos de avaliação.

As maiores flutuações de adultos se verificam nos meses de verão, época em que há alimento disponível e condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do inseto (Arioli et al., 2005; Hickel, 2006).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARIOLI, C. J.; CARVALHO, G. A.; BOTTON, M. Flutuação populacional de Grapholita molesta (Busck) com armadilhas de feromônio sexual na cultura do pessegueiro em Bento Gonçalves, RS, Brazil. Ciência Rural, Santa Maria, v. 35, n. 1, p. 1-5, 2005.

GONZALEZ, H. R. Fenologia de la grapholita o polilia oriental del durazno. Aconex, Santiago, v.12, p.5-12, 1989.

GRELLMANN, E. O. et al. Ciclo evolutivo de Grapholita molesta (Busck, 1916) Lepidoptera – Olethreuritidae) em diferentes temperaturas. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v. 13, p. 21-26, 1991.

HICKEL, E. R.; DUCROQUET, J. P. H. J. Monitoramento e controle da grafolita ou mariposa oriental no Alto Vale do Rio do Peixe. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 8-11, 1998.

HICKEL, E. R. Análise da ocorrência e decisão de controle da mariposa-oriental Grapholita molesta (Busck). In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO, 9., 2006, Fraiburgo. Anais... Caçador,  2006.  Palestras, v.1 368p.

LORENZATO, D. Lepidópteros nocivos em frutíferas rosáceas no sul do Brasil. Ipagro Informa, Porto Alegre, v.3, p.71-78, 1988.

 


Patricia Daniela da Silva Pires é Graduanda em Agronomia, Faculdade de Agronomia, UFRGS. Bolsista PIBIC CNPq, Faculdade de Agronomia, Departamento de Fitossanidade, Laboratório de Biologia, Ecologia e Controle Biológico de Insetos
Contato: patidpires@gmail.com



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PIRES, P.D.S. Bioecologia  de  Grapholia molesta e os danos causados. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/Grapholia/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 16/11/2010