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ESTRATÉGIAS PARA AMENIZAR O EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO

 

ELISÂNGELA MARIA NUNES DA SILVA

BONIFÁCIO BENÍCIO DE SOUZA

GUSTAVO DE ASSIS SILVA

 

INTRODUÇÃO       

         A interação animal e ambiente deve ser considerada quando se busca maior eficiência na exploração pecuária, pois as diferentes respostas do animal às peculiaridades de cada região são determinantes no sucesso da atividade produtiva. Assim, a correta identificação dos fatores que influenciam na vida produtiva do animal, como: o estresse, imposto pelas flutuações estacionais do meio ambiente, permitem ajustes nas práticas de manejo dos sistemas de produção, possibilitando dar-lhes sustentabilidade e viabilidade econômica. Dessa forma, o conhecimento das variáveis climáticas, sua interação com os animais e as respostas comportamentais, fisiológicas e produtivas são preponderantes na adequação do sistema de produção (NEIVA et al., 2004). 

A temperatura do ar é considerada o fator climático com influência mais importante sobre o ambiente físico do animal. Dentro de uma ampla faixa de temperatura, podem ser definidas zonas térmicas que proporcionam maior ou menor conforto aos animais. Os animais para terem máxima produtividade dependem de uma zona de conforto térmico, onde ocorre gasto mínimo de energia para manter a homeotermia. A zona de conforto térmico é definida por limites de temperaturas: crítica superior e inferior. Acima da temperatura crítica superior, os animais entram em estresse pela temperatura elevada e abaixo da temperatura crítica inferior sofrem estresse pelo frio. Animais expostos a temperaturas ambientes elevadas, acima da temperatura crítica superior, estão sujeitos a hipertermia, fazendo com que os processos termorreguladores de perda de calor sejam requeridos para manter a homeostase.

Do ponto de vista da produção animal, este aspecto reveste-se de muita importância, pelo fato de que, fora desses limites de temperatura, os nutrientes ingeridos pelos animais para serem utilizados para seu crescimento e desenvolvimento, são desviados para a manutenção do equilíbrio térmico (BAÊTA; SOUZA, 1997).

Portanto, a associação entre elevadas temperaturas, alta umidade do ar e radiação solar acarretam alterações comportamentais e fisiológicas, que resultam em diminuição da ingestão de alimentos e redução no desempenho dos animais de produção (LU, 1989).  Este trabalho tem como objetivo relatar algumas estratégias que podem ser tomadas para amenizar o efeito do estresse térmico sobre os animais de produção.

 

Estratégias nutricionais

As estratégias nutricionais para aliviar o efeito do estresse calórico em animais de produção não são efetivas sem o aperfeiçoamento da eficiência bioenergética e considerações econômicas. O manejo nutricional nos períodos mais quentes do ano deve incluir o fornecimento de “dietas frias”, dietas de alta densidade energética, além de suplementação adicional de minerais e manter a disposição de água de boa qualidade (VALTORTA; GALLARDO, 1996).       

         Durante o estresse calórico o controle do sistema biológico, pode ser limitado pela manipulação nutricional realizada (MOODY et al., 1967). O uso de dietas a base de alimentos cortados e fermentados, como as silagens, especialmente de milho, tem sido recomendados e apresentam sucesso satisfatório no manejo alimentar. A dieta de milho é basicamente fonte de energia; portanto deve-se considerar que deva ser cuidadosamente balanceada com a utilização de fontes de nutrientes essenciais, que nela não existam suficientemente, a fim de suprir às necessidades nutricionais do animal (MÜLLER, 1989).

         Alternativas para reduzir a produção de calor metabólico e melhorar a perda de calor sem reduzir a produção são limitadas. Portanto, o estresse calórico pode ser aliviado apenas em parte pela manipulação nutricional sozinha. Contudo, combinações com outros métodos semelhantes como: seleção genética de raças resistentes ao calor, modificações de ambiente e manejo e estratégias nutricionais podem ser efetivas no combate do estresse calórico na produção animal (FUQUAY, 1981). Reduzindo as forragens na dieta por rações concentrados ocorre um decréscimo de calor. Isto ocorre devido à grande quantidade de calor da fermentação ruminar das forragens, quando comparado com as rações concentradas (LU, 1989).

         Alguns alimentos gordurosos podem também reduzir o estresse calórico, devido o incremento calórico das gorduras ser menor do que o dos carboidratos e proteínas. Uma vez que, com a suplementação de rações com gordura a densidade energética da dieta fica aumentada e o calor produzido pelo metabolismo dos animais é reduzido (PALMQUIST; CONRAD, 1978).

         A suplementação de bicarbonato de sódio pode ser benéfica para a produção de ruminantes sobre o estresse calórico, baseando-se na hipótese de que a secreção de saliva tornar-se-á menor, devido à perda mais rápida de dióxido de carbono durante a respiração acelerada em animais estressados pelo calor (LU, 1989). 

A suplementação de dietas com bicarbonato de sódio pode também diminuir o pH ruminal, corrigir problemas resultantes de altos alimentos concentrados e pouca ruminação nos animais estressados pelo calor. Deficiências em potássio, sódio, cloro e em uma menor extensão de cálcio e magnésio podem ocorrer em animais estressados pelo calor, sendo isso atribuído ao aumento na taxa de perda de líquidos e queda na ingestão de alimentos durante a hipertermia. Desde então, potássio, sódio e cloro são essenciais na manutenção do balanço osmótico de caprinos estressados pelo calor (HAENLEIN, 1987).

A suplementação da dieta de vacas submetidas ao stress calórico com Betacaroteno por, no mínimo, 90 dias, possibilitou uma taxa de gestação de 35% comparada com 21% do grupo sem suplementação (ARÉCHIA et al., 1997).

 

Estratégias ambientais

Existem várias alternativas de modificação ambiental destinadas a reduzir o impacto térmico sobre os animais, incluindo desde a disponibilidade de sombra, passando por resfriamento evaporativo com água em forma de névoa, neblina ou gotejamento, utilizando ventilação natural ou forçada, até a utilização de lagoas de resfriamento ou mesmo do ar refrigerado em confinamento total. 

A sombra é essencial para reduzir perdas na produção de leite e na eficiência reprodutiva, a sombra das árvores é mais efetiva porque reduz a incidência de radiação solar e diminui a temperatura do ar pela evaporação das folhas. As sombras de materiais compactos são adequadas para regiões onde o estresse calórico ocorre ao longo de todo do ano, e se requer estruturas de maior durabilidade, além disso, deve possuir uma inclinação e alturas corretas, outra característica importante é com relação à orientação da instalação, devendo-se o eixo longitudinal da estrutura orientar-se no sentido leste-oeste para permitir que os animais e os comedouros estejam sombreados durante todo o dia (VALTORTA; GALLARDO, 1996).

A ventilação natural está associada, além de outros fatores, a altura do teto dos estábulos, e assim como a ventilação forçada, favorece a dissipação do calor por convecção. Outra opção é a nebulização, que consiste em lançar ao ar uma névoa de água que deve evapora-se antes de atingir os animais. O ar resfriado dessa maneira, circulando sobre os animais aumenta a perda de calor por convecção. O animal também se refresca quando inala o ar frio (BRAY et al. 1996).

Outras estratégias como: pintura de telhado, no caso de telhas de fibrocimento ou galvanizadas, altura adequada das instalações, uso de ventiladores e a posição das construções (leste-oeste), bem como, o uso de telhas de barro e pisos de terra batida, auxilia em um melhor ambiente térmico para o conforto animal.

 

Estratégias reprodutivas

             Devido à grande incidência de cios não identificados, pesquisadores vêm estudando a inseminação em horários pré-estabelecidos e seu efeito sobre a taxa de concepção. Experimentos realizados na Flórida, durante o verão mostraram que a utilização desta tecnologia aumentou a percentagem de vacas gestantes em tempos determinados de partos (ARÉCHIA et al., 1997; De La SOTA et al., 1996). Outra alternativa seria o uso da monta natural por curtos períodos de tempo, já que o touro também é muito sensível ao estresse térmico.

            Trabalhos também têm descrito o resfriamento estratégico de fêmeas nos primeiros dias de prenhez, quando o embrião é mais susceptível ao estresse térmico aumentou em 10% a taxa de gestação. No entanto o uso desta tecnologia não previne totalmente o efeito do calor severo que por longos períodos pode causar mortalidade embrionária em estádios mais avançados da gestação (HANSEN, 1991).

            No caso da transferência de embriões, o embrião transferido para as receptoras, com sete dias de vida, já teria vencido a fase de maior susceptibilidade ao calor. Putney et al. (1989) observaram que a taxa de gestação, utilizando-se a técnica da transferência de embriões, foi maior em 29,2%, quando comparada com a inseminação artificial 21,4%.

Tecnologias mais avançadas, como: o congelamento de embriões e a fertilização in vitro são também opções disponíveis para amenizar os efeitos do estresse térmico sobre a reprodução. Pesquisas têm sido conduzidas numa tentativa de minimizar os efeitos deletérios de temperaturas elevadas sobre as células embrionárias, dentre elas: a administração de antioxidantes nos meios de conservação das células reprodutivas e embriões, que funcionam como termoprotetores celulares, uma vez que reduzem a ação dos radicais livres considerados tóxicos para as células (HANSEN; ARECHIGA, 1997).

 

Considerações Finais

         Diante do exposto vimos à importância do uso de algumas estratégias de manejo que podem ser utilizadas para amenizar o efeito do estresse térmico na produção animal, uma vez que o bem estar e o conforto térmico são vitais para manter altos níveis de produtividade em qualquer sistema de produção.

 

REFERÊNCIAS

ARÉCHIA, C.F.; STAPLES, C.R.; STAPLES, C.R.;  MACDOWELL, L.R., et al. Effectiveness of a timed artificial insemination (TAI) program and suplemental feeding of beta carotene on a reproductive funtion of heat stressed dairy cows. Journal Dairy Science, champaign, v.80, suppl. 1, p.239, 1997.

BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1997. 246p.

BRAY, D. R.; BUCKLIN, R.A.; MONTOYA, R.E. et al. Modificaciones del medio ambiente para reducir la tension ambiental causada por el calor en vacas de leche. In: CONFERENCE INTERNACIONAL SOMBRE GANADERIA EN LOS TROPICOS, 1996, Tampa. Anais...Tampa, 1996. p.74-83.

De la SOTA, R. L.; RISCO, C.A.; MOREIRA,  F., et al. Efficacy of a timed insemination program in dairy cows during Summer heat stress. Journal Animal Science, v.74, suppl. 1, p. 133, 1996.

FUQUAY, J.W., Heat stress as it affects animal production. Journal Animal Science, n. 52, p. 164-174, 1981.

HAENLEIN, G.F.W. Mineral and Vitamin requirements and deficiences. Proc. 4th Int. Conf. Goats, EMBRAPA, Brasília, II, p. 1249-1266. 1987.

HANSEN, P.J.;  EALY, A.D. Effects of heat stress on the establishment and maintenance of pregnancy in cattle. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v. 1, p. 108-119, 1991.

HANSEN, P.J.; ARÉCHIGA, C.F. Reducing effects of heat stress on reproduction of dairy cow. In: INTERNATIONAL CONVENTION OF AMERICAN EMBRIO TRANSFER ASSOCIATION, 16., 1997, Madison. Anais… Madison, 1997. p.62-72.

LU, C.D. Effects of heat stress on Goat Production. Small Ruminant Research, n.2, p. 151-162, 1989.

MOODY, E.G.; VAN SOEST, P.J.; MACDOWELL, R. E. et al. Effect of high temperature and dietary fat on perfomance of lactating cows. Journal Dairy Science, n. 50, p. 1909-1916, 1967.

MÜLLER, P.B. Bioclimatologia Aplicada aos Animais Domésticos. 3.ed., Sulina, 1989, 262p.

NEIVA, J.N.M; TEIXEIRA, M.; TURCO, S.H.N. et al. Efeito do estresse climático sobre os parâmetros produtivos e fisiológicos de ovinos Santas Inês mantidos em confinamento na região litorânea do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira Zootecnia, v.33, n.3, p.668-678, 2004.

PALMQUIST, D.L.; CONRAD, J.R. Hight fat rations for dairy cows: effect on feed intake, milk and fat production, and plasma metabolites. Journal Dairy Science, n. 6, p. 890-901, 1978.

PUTNEY, D. J.; DROST, M.; THATHER, W.W. Influence of summer heat stress on pregnancy rates of  lactating catlle following embryo transfer or artificial insemination. Theriogenology, New York, v.31, p. 765-778, 1989.

VALTORTA, S.E.; GALLARDO, M. El  estress por calor em produccion lechera. Temas de Produc. Lechera, n.81, p. 85-112, 1996.


Elisângela Maria Nunes da Silva é Med. Veterinária, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, UAMV/CSTR/UFCG, Patos-PB.
E-mail: elisangelamns@yahoo.com.br

 

Gustavo de Assis Silva é Med. Veterinário, Mestre em Medicina Veterinária, Extensionista Rural do Instituto Agronômico de Pernambuco.
E-mail: gustavo.assis@ipa.br

Bonifácio Benício de Souza é Zootecnista, Professor Associado – UAMV/CSTR/UFCG, Patos-PB.
E-mail:bonifacio@pq.cnpq.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SILVA, E.M.N. da; SOUZA, B.B. de; SILVA, G.A.  Estratégias para amenizar o efeito do estresse térmico em animais de produção. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/EstresseTermico/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 04/11/2010