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Desafios para Produção de Azeite no Brasil

 

BERTONCINI, E.I. (1); TERAMOTO, J.R.S.(2); PRELA-PANTANO, A.(3) 

(1) Pesquisadora Científica – APTA-Pólo Centro Sul - Rodovia SP 127, km 30  CP 28 - 13.400-970 - Piracicaba, SP. E-mail: ebertoncini@apta.sp.gov.br
(2)
Pesquisadora Científica - APTA/IAC- Centro de Horticultura, Seção de Plantas Aromáticas e Medicinais.
(3)
Pesquisadora Científica – APTA/IAC- Centro de Ecofisiologia e Biofísica, Seção de Climatologia.

 

1. Importação de azeites e azeitonas no Brasil

A produção de oliveiras concentra-se em países de clima mediterrâneo, produzindo 3,1 milhões de toneladas de frutos por ano, representando 95% da produção mundial. Nas últimas décadas, países com clima subtropical, como Argentina, Chile, e Uruguai têm despontado no cenário como promissores concorrentes neste mercado. Os primeiros azeites brasileiros começam a despontar ainda ao nível experimental e/ou produzido por pequenos produtores.

O Brasil é totalmente dependente de importação tanto dos frutos para mesa quanto dos azeites, importando 86,5% da Comunidade Econômica Européia, e 13,4% da Argentina, com gastos anuais em torno de 400 milhões de reais. Nos últimos nove anos o consumo e importação de azeite de oliva e azeitona tiveram aumento de 120% e 45%, conforme ilustram as Figuras 1 e 2, respectivamente. Este aumento deve-se a fatores como: (i) divulgação dos benefícios da dieta mediterrânea na saúde; (ii) entrada de produtos no mercado interno com preços mais acessíveis; (iii) aumento de poder aquisitivo de algumas classes sociais.

Apesar do aumento no volume de importação de azeitonas de mesa e azeite, dados do CONAB (2010) indicam o baixo consumo per capita do mercado brasileiro, em torno de 0,2 kg/habitante/ano, enquanto na Grécia, e em países como a Espanha e Itália, o consumo é de 23 e 12 kg/habitante/ano, respectivamente.

Outro fator, que em breve será responsável pela aceleração da produção nacional, especialmente de azeites, será a regulamentação dos produtos importados por Norma do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em discussão com os setores envolvidos, que provavelmente será mais restritiva quanto à qualidade dos produtos que entram no mercado brasileiro. Esta expansão no mercado importador de azeite e azeitonas aliado ao maior volume e qualidade de pesquisas voltadas ao setor, tem impulsionado novos investidores dispostos a investir no cultivo de oliveiras no Brasil.

 

 

Fonte: COI –  International Olive Council  - Março/2010; Ano de 2010: previsão

Figura 1. Importação de azeite de oliva pelo Brasil no período de 2002-2010

 

 

Fonte: COI –  International Olive Council  - Março/2010
Ano de 2010: previsão de importação
 

Figura 2. Importação de azeitona de mesa pelo Brasil no período de 2002-2010

 

2. Histórico e situação atual da produção de oliveiras no Brasil

 

Pontualmente, existem algumas experiências com a produção de oliveiras no Brasil, em microclimas favoráveis a cultura, como é o caso de algumas regiões da serra da Mantiqueira nos estados de Minas Gerais e São Paulo, com altitudes maiores que 1000 metros e regiões do sul do Brasil, como nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na maioria dos casos, a introdução de material genético ocorreu via emigrante português, sucedidos dos emigrantes espanhóis e italianos.

A planta de oliveira caracteriza-se por certa rusticidade, não sendo exigindo solos muito férteis, nem regime hídrico especial. Não tolera, entretanto, solos encharcados, e possui exigências nutricionais um pouco diferenciadas das culturas cultivadas em solos sob condições tropicais. Para que ocorra o florescimento e a frutificação da planta, necessita-se de indução das gemas florais por meio de temperaturas baixas, contudo não tolera invernos muito rigorosos. Cultivares de oliveiras introduzidos no Brasil exigem em torno de 200 a 1000 horas de temperaturas abaixo de 7,2º C para que ocorra a diferenciação das gemas vegetativas em gemas florais, e este fato tem contribuído para o fracasso da implantação da cultura em algumas regiões.

Outros fatores relacionados a fracassos de tentativas passadas de introdução da oliveira no Brasil referem-se a: (i) plantio de apenas um material genético; (ii) local de implantação da cultura inapropriado as suas necessidades; (iii) cultivar não adaptado as condições climáticas locais; (iv) pacote tecnológico não adaptado as condições de clima subtropical; (v) dificuldades de manejo de cultura exótica em nossas condições (adubação, poda, controle de pragas e doenças). Brevemente, faremos um resumo da introdução da cultura e atual estágio de desenvolvimento das pesquisas agrícolas e produção de oliveiras em algumas regiões brasileiras.

 

2.1 olivicultura no Rio Grande do Sul

 

         No estado do Rio Grande do Sul, o cultivo de oliveiras teve inicio em 1900, com cultivares trazidos por emigrantes portugueses, açorianos, e há registros de produções em 1907, nas cidades de Caxias do Sul, Veranópolis, Encruzilhada do Sul, Uruguaiana, Bagé, Pelotas e Rio Grande (Oliveira, 2010a). Na década de 30, no interior do estado foram introduzidos novos plantios trazidos pelas imigrações italianas, portuguesas e francesas, mas não havia tradição na cultura, eram introduzidas como plantas ornamentais ou atendiam apenas ao consumo doméstico.

         De acordo com Coutinho (2010) a cultura da oliveira, foi introduzida oficialmente no estado em 1948, por meio da criação do Serviço Oleícola pela Secretaria da Agricultura do estado, com objetivo de orientar trabalhos de fomento e pesquisa. Houve incentivos ao cultivo por meio de prêmios e isenção de impostos, contudo, a falta de base técnica resultou na formação de olivais de baixa qualidade. Na cidade de Uruguaiana consta que houve o plantio de 72.000 mudas vindas da Argentina introduzidas pelo Embaixador Batista Luzardo, na fazenda São Pedro. O programa estadual esvaziou-se por falta de planejamento estratégico, e razões políticas e econômicas.

         Em 2005, a Embrapa Clima Temperado aprovou o projeto de pesquisa e desenvolvimento denominado: Introdução e desempenho agronômico de cultivares de oliveira no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, que implantou 25 unidades experimentais de observação no estado, sendo que cada unidade era composta pelo teste de 30 cultivares, com três repetições cada cultivar, totalizando 90 árvores. No projeto, também foram realizados o zoneamento climático para a cultura no estado do Rio Grande do Sul (Figura 3A), assim como a implantação de um banco de germoplasma com 56 cultivares definidas e 10 acessos não definidos, além de identificar e monitorar as principais pragas e doenças que atacam a cultura naquela região. Atualmente, a Embrapa Clima Temperado concentra-se no projeto: Desenvolvimento e adequação de tecnologias à cultura da oliveira no Sul do Brasil, que visa dar suporte técnico aos olivais implantados e futuros empreendimentos, e melhorar a qualidade dos produtos colhidos.

         Atualmente, a área cultivada com oliveiras no estado é próxima a 400 ha, com propriedades variando de 3,0 a 15,0 ha, com principais plantios localizados nos municípios: Bagé, Dom Pedrito, Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Alegrete, Rosário do Sul, Candiota, Cacequi e Santana do Livramento, São Gabriel, Uruguaiana, Candelária, Viamão, São Francisco de Paula, Rio Grande e Jaguarão. Os cultivares mais promissores para azeite são: Arbequina, Koroneiki, Arbosana e Picual; para azeitona de mesa: Manzanilla, Cordovil de Sêrpa e Carolea; e o cultivar Galega com dupla finalidade. Há produção de azeite virgem extra mononovarietais com os cultivares citados, inclusive com análise sensorial detectando os atributos positivos: frutado verde, amargo e picante (Figura 3B).

 

 
Figura 3. Resultado de zoneamento climático e análise de azeite virgem extra produzido no estado do Rio Grande do Sul. Dados cedidos pelo Dr. Enilton Fick Coutinho Pesquisador Embrapa Clima Temperado. 

De acordo com Coutinho (2010) os principais problemas enfrentados nas condições gaúchas são: (i) Falta de linha de crédito à cultura; (ii) Não há registros de pesticidas para a cultura da oliveira no Brasil; (iii) Não há normas e padrões para produção e comercialização de mudas; (iv) Falta profissionais especializados para assistência técnica aos olivicultores.

2.2 olivicultura em Minas Gerais

 

         Em Minas Gerais, a introdução das oliveiras iniciou-se em 1930, na cidade de Maria da Fé, por imigrantes portugueses. O cultivo de azeitonas passou por diversos insucessos, e atualmente com auxílio das pesquisas da EPAMIG – Empresa de Pesquisa e Agropecuária de Minas Gerais há produção de azeitonas e azeite de oliva no estado. O cultivo está sendo conduzido em 400 ha, com 200.000 plantas cultivadas em 50 municípios, em 70 propriedades rurais. A distribuição das cultivares é: 50% Arbequina; 20% Grapollo; 10% Maria da Fé; e outros 10% distribuídos entre Arbosana, Koroneikei e Ascolana. Maria da Fé localiza-se a 1300 metros de altitude, com temperatura base de 1000 horas de frio até 10º C, e 400 horas de frio abaixo de 7,2º C (Vieira Neto, 2010).

Os municípios mineiros que estão cultivando oliveiras no momento são: Aiuruoca, Alagoa, Alpinópolis, Andradas, Antônio Carlos, Araponga, Baependi, Barbacena, Bom Repouso, Botelhos, Brazópolis, Bueno Brandão, Caldas, Camanducaia, Cambuquira, Campestre, Catas Altas da Noruega, Caxambu, Cristina, Delfim Moreira, Divisa Nova, Espera Feliz, Extrema, Gonçalves, Guarda Mor, Itabirito, Itabiruçu, Itajubá, Itamonte, Juiz de Fora, Lavras, Maria da Fé, Montes Claros, Munhoz, Nova Ponte, Ouro Preto, Paraisópolis, Piedade do Rio Grande, Piranguçu, Poços de Caldas, Raul Soares, Sacramento, Santa Rita do Ibitipoca, São Lourenço, Senador Amaral, Três Corações, Tupaciguara, Uberaba. De acordo com o Oliveira (2010b), a expectativa de produção mineira para o ano de 2015, é de 4.000 toneladas de azeitona, e 800 toneladas de azeite.

A EPAMIG tem lançado publicações técnicas como o Informe Agropecuário, Circulares Técnicas e Boletins Técnicos abrangendo temas como plantio, tratos culturais, adubação, controle fitosanitário e colheita e processamento dos frutos. No ano de 2009, produziu 50.000 mudas de oliveiras, e adquiriu uma unidade piloto de extração de azeite com capacidade para 100 kg hora-1 (Figura 4B), para extração de azeite dos campos experimentais, e, também de olivicultores da região.

Concomitantemente, desenvolve pesquisas nas diversas fases da cadeia produtiva da cultura, e no melhoramento genético de cultivares. Na década de 80 houve a formação do banco de germoplasma por meio da coleta de sementes de oliveiras em propriedades particulares e públicas da região (Figura 4A), e importação de sementes de diversos países, desenvolvendo-se melhoramento genético por meio de hibridação natural e seleção de plantas na população segregante, e finalmente ensaios de cultivares, escolhendo-se os cultivares mais adaptados à região.

Em 2008, a EPAMIG registrou 33 cultivares junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, pedindo em 2009 o pedido de proteção a quatro delas junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares. Para certificar o banco de germoplasma, está realizando o mapeamento genético de 60 cultivares na Unidade de Biologia Molecular de Caldas Novas (Vieira Neto, 2010).

 
Figura 4. Aspecto de banco de germoplasma de oliveira e unidade extratora de azeite na EPAMIG – Fazenda Experimental de Maria da Fé, MG. 

 

2.3 olivicultura no estado de Santa Catarina

 

Em Santa Catarina os estudos com oliveiras estão sendo conduzidos pela Epagri - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. De acordo com da Croce (2010), durante 20 anos, foram enviados projetos para área de olivicultura aos órgãos de fomento e governamentais de SC, sem obtenção de financiamento para realização de projeto que pudesse favorecer produtores do estado. Em 2005, houve aprovação de projeto junto a FATESC iniciando-se a coleta de material genético já existente no estado e material genético comprado da empresa Agromillora.

Iniciou-se um zoneamento climático para verificar as melhores áreas para cultivo das oliveiras, contudo, o estudo não foi concluído com sucesso, e resolveu-se implantar experimentos em 18 áreas do estado, de Lajes até o norte do estado, plantando-se as mesmas cultivares. Atualmente, apenas 08 áreas foram tidas como de sucesso para implantação da cultura, e estão situadas no oeste e extremo oeste de SC. Adquiriu-se uma pequena máquina extratora de azeite, com capacidade de 10 kg/hora, com rendimento baixo de 10-12%, e que apresenta problemas de manuseio. Além dos problemas de extração de azeite, a cultura enfrenta problemas com ventos fortes e chuvas de granizo em algumas regiões, e a poda da planta ainda é problema não resolvido (da Croce, 2010). Atualmente, está se utilizando a poda em forma de taça, retirando a dominância apical da planta, deixando 3-4 ramos potenciais, mas é necessário aumentar o espaçamento para valor acima de 5 x 5 m. Estuda-se a possibilidade da poda da planta durante todo o ano, e não apenas uma vez ao ano como ocorre nas regiões mediterrâneas. A segunda fase do projeto envolve a transferência das tecnologias aos agricultores.

 

2.4 olivicultura no estado de São Paulo

 

A área paulista de produção de azeitona, sob a influência da EPAMIG e sob a coordenação da CATI de São Bento de Sapucaí abrange mais de 15 municípios, entre eles: São Bento do Sapucaí, Campos do Jordão, Silveiras, Lorena, Natividade da Serra, Espírito Santo do Pinhal, Águas da Prata, contando com 50.000 plantas de oliveiras. Tais municípios encontram-se na Serra da Mantiqueira, cadeia montanha com cerca de 500 km de extensão, com altitudes variando de 1000 a 2.798m, microclima que proporciona horas de frio necessárias para o florescimento das plantas de oliveiras. 60% da serra encontram-se no estado de Minas Gerais, 30% no estado de São Paulo e 10% no estado do Rio de Janeiro.

No ano de 2009, a APTA-Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, órgão de pesquisa da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em função de inúmeras consultas recebidas de novos olivicultores e investidores no setor, solicitou levantamento de demanda de pesquisa para o setor. Neste mesmo ano, uma equipe formada por pesquisadores de diversos centros da Instituição elaboraram um projeto denominado Oliva SP para estudo de todas as etapas da cadeia produtiva da cultura. O projeto envolve pesquisadores das Instituições: Centro de Genética do IAC-Instituto Agronômico de Campinas; CATI-Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí; APTA-Pólo Centro Sul, Piracicaba, SP; IAC-Centro de Climatologia; IAC/Recursos Fitogenéticos- Quarentenário; ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos – Centro de Ciência e Qualidade dos Alimentos; IEA-Instituto de Economia Agrícola; IAC-Plantas Aromáticas e Medicinais; e ASSAM - Agenzia Servizi Settore Agroalimentare Marche, Itália.

         Em novembro de 2009, visitou-nos um pesquisador da Agência ASSAM, e foram realizadas visitas técnicas a inúmeros produtores de oliveira das regiões de São Bento do Sapucaí e Maria da Fé, além de visita a CATI de São Bento de Sapucaí e a Fazenda Experimental de Maria da Fé (Figura 5A). Foram observados fatores de produção como cultivares utilizados, qualidade das mudas adquiridas pelos produtores, manejo da cultura no que concerne a espaçamento, nutrição e sanidade das plantas, e condução da planta por meio de podas. Inúmeros problemas foram encontrados propondo-se soluções que devem ser testadas por meio de pesquisa para as condições de clima subtropical.

         Foram ministrados dois cursos gratuitos, um em São Bento do Sapucaí com participação de cerca de 20 pessoas, e outro em Piracicaba, com a participação de 45 pessoas, versando sobre cultivares, manejo da cultura, extração e conservação de azeites e introdução a análise sensorial (Figura 5B). O pesquisador, também, visitou a estrutura de centros de pesquisa do IAC e do ITAL, nos quais pesquisadores que participam do projeto estão alocados.

Inúmeras solicitações de agricultores e investidores interessados na cultura foram atendidas pelo grupo após a realização destes cursos e sua divulgação na imprensa. Assim, resolveu-se realizar a montagem de uma homepage para registrar as informações já existentes sobre o assunto, e passar as informações atualizadas pertinentes a cada tópico da cadeia produtiva das oliveiras aos interessados. O site http://www.apta.sp.gov.br/olivasp/, está em construção. Paralelamente, o grupo vem buscando individualmente e coletivamente formas de financiamento do projeto ou parte dele.

 
Figura 5. Ações do projeto OLIVA SP no ano de 2009. 

 O projeto está iniciando-se com o zoneamento climático para a cultura da oliveira no estado de São Paulo. Dados de temperatura mínima, máxima, média, e amplitude térmica de pontos do estado com estações meteorológicas automatizadas gerenciadas pelo IAC serão avaliadas, de modo a verificar áreas com condições climáticas ideais para os cultivares existentes no mercado. Posteriormente, pretende-se avaliar se tais áreas estão livres ou encontram-se sob atividade econômica que possa competir com a cultura da oliveira, obtendo-se desta forma, valor de área com possibilidade de cultivo de oliveiras em SP.

Na segunda fase do projeto pretende-se realizar ensaios de cultivares mais adaptados as condições climáticas visando o florescimento e frutificação das plantas, nas regiões escolhidas como aptas pelo zoneamento climático. A condução da cultura será efetuada com manejo desde o plantio das mudas e tratos culturais como calagem e adubação, poda, e controle fitosanitário, até a colheita, conservação e processamento dos frutos, e análise da qualidade final do azeite obtido. Serão conduzidos concomitantemente, estudos das propriedades medicinais das folhas e frutos de oliveira.

A terceira fase do projeto tem pretensões mais ousadas como o melhoramento de cultivares com finalidade de redução de horas de frio necessárias para florescimento, para cultivo em áreas com condições climáticas menos favoráveis, ampliando assim a provável área de cultivo.

 

3- Principais desafios da olivicultura no Brasil

 

         De acordo com o CONAB (2009) o volume estimado de azeitonas importadas pelo Brasil seria em torno de 220 mil toneladas, incluindo azeite e azeitonas. Se considerarmos o espaçamento de 5 x 5 m, com a população de 400 plantas/ha, e a produção média de 20 kg de azeitonas/planta, seriam necessários o cultivo de 28 mil ha com oliveiras, apenas para abastecer o mercado interno, considerando seu consumo atual.

         Há inúmeros desafios a serem vencidos para a consolidação da olivicultura no Brasil. Desafios inerentes ao plantio e manejo dos olivais, desafios na agroindústria, na extração, envasamento e conservação dos azeites, desafios na comercialização, desafios na conscientização do consumidor quanto à qualidade do azeite comercializado, desafios referentes à legislação e controle de qualidade dos produtos importados e nacionais presentes no mercado, e desafios na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias em todos os elos da cadeia produtiva das oliveiras. Tais aspectos serão abordados a seguir.

 

3.1 Desafios na parte agrícola

 

         Sem dúvida, a temperatura é o fator ambiental mais importante que limita a área de produção de oliveiras, em condições subtropicais. A planta de oliveira requer um período de inverno com temperaturas entre 5 e 7º C, e alternância de temperaturas entre o dia e noite de 4 a 18º C para a transformação de gemas vegetativas em gemas florais. De um modo geral, os cultivares existentes atualmente necessita de 50 a 1000º C de temperaturas abaixo de 7,2º C para que ocorra o florescimento (Testa, 2009). Temperaturas abaixo de -12º C danificam gravemente a planta. Temperaturas altas são bem toleradas pelas oliveiras, contudo acima de 35-40º C bloqueiam o processo fotossintético (Alfei & Panelli, 2002).

         Assim, em condições subtropicais é necessário conhecer a quantidade de horas de frio e a amplitude térmica do local em que se deseja instalar o olival. No Brasil, tais condições ocorrem em microclimas como áreas montanhosas, com altitudes acima de 1000 m e/ou áreas mais ao sul do país com clima subtropical temperado. O ideal seria a realização do zoneamento climático, realizado por instituições de pesquisa reconhecidas, considerando as necessidades em horas de frio para os cultivares de oliveiras atuais, para cada região do país. È temeroso o agricultor implantar olivais em regiões em que não haja certeza de que nos últimos anos houve condições de temperatura adequadas para o cultivo de oliveiras. Empreendimento de maior risco é implantar extensas áreas com oliveiras, em locais escolhidos sem zoneamento climático, sem ensaio prévio de cultivares, e com o plantio de apenas um ou dois cultivares diferentes apenas. Riscos de não florescimento e falta de produção de azeitonas é alto nestas condições. A indução do florescimento via stress hídrico e via fornecimento de hormônios à planta tem sido estudado, contudo estudos ainda não são conclusivos.

         Outros fatores climáticos que podem afetar o florescimento estão relacionados a temperaturas acima de 30-35º C durante o dia que abortam a floração; excesso de chuva e vento na floração que promove a queda das flores; ou falta de água após o florescimento que dificulta o pegamento das flores e a formação de frutos. O excesso de umidade no ar no período de florescimento, que no Brasil ocorre na primavera, pode ocasionar a não fecundação das flores, pois o pólen absorve água na própria antera, incha e explode. O excesso de chuva antes da maturação do fruto propicia frutos maiores e com maior teor de água do que de azeite, resultando menor produção de azeite por área, e maior volume de água de vegetação após a centrifugação, para ser tratado e destinado sustentavelmente.

         As condições de clima subtropical, também, propiciam maior desenvolvimento vegetativo das plantas quando comparado a plantas de clima mediterrâneo, em detrimento a produção de furtos, e este crescimento deve ser controlado por meio de podas. Nas visitas efetuadas em Maria da Fé e na região de São Bento do Sapucaí foram encontradas plantas muito altas, com inúmeras ramificações que prejudicam a produção de frutos (Figura 6A), uma vez que a oliveira produz em ramos novos, e o excesso de ramos laterais e vegetação desvia nutrientes que seriam encaminhados para a produção de frutos. Relatos de problemas com o desenvolvimento vegetativo intenso também são relatados em Santa Catarina (Figura 6B) e Rio Grande do Sul. A elevada altura das plantas, também, dificulta a colheita, que se manual, necessita ser feita com escadas, que ocasiona riscos aos trabalhadores rurais, e perdas de tempo.

 

Figura 6. Crescimento vegetativo intenso de oliveiras em condições brasileiras e formas de condução da planta por meio de podas. Testa (2009).

         Para reduzir problemas de crescimento vegetativo intenso que ocasionam perdas produtivas, três fatores devem ser observados: (i) escolha de cultivares que apresentem menor desenvolvimento vegetativo para plantio em nossas condições; (ii) poda correta, e se necessário várias vezes ao ano; (iii) controle de fertilizações, especialmente de adubação nitrogenada.

         A Figura 5C número 3 apresenta a forma com que a maioria dos olivais está sendo conduzido no Brasil, um ramo central e diversos ramos laterais crescendo sem controle. A planta com 3 (três) anos já apresenta altura de 5,0 m, ocasionando baixa produtividade e dificuldade de colheita. O crescimento vegetativo descontrolado piora o fenômeno denominado ano ON e ano OFF, que ocorre normalmente na cultura da oliveira, em que um ano a planta produz bem, e no outro não. As formas de poda 1 e 2, monocônico e vaso, são as mais indicadas para a planta de oliveira. No primeiro caso, deixa-se um galho principal e ramos laterais que devem ser mantidos em posição perpendicular (90º C) de modo a forçar o crescimento de pequenos ramos novos, via desvio da seiva, cujas gemas se diferenciarão para gemas reprodutivas, gerando flores e frutos. Em alguns casos, isto pode ser feito com auxílio de estacas de madeira e linhas que mantenham os ramos nesta posição, especialmente na fase de formação das plantas (Testa, 2009).

O formato vaso (Figura 6C, 2) elimina o ramo principal, deixando-se três a quatro ramos potenciais. Contudo, neste caso, o espaçamento entrelinhas talvez tenha que ser aumentado para valores maiores que 5 x 5 m. De qualquer modo, experimentos de poda devem ser conduzidos nas condições locais com diversos cultivares, com a finalidade de se obter uma planta de menor porte, com crescimento vegetativo controlado, ramos laterais perpendiculares que produzam maior número de ramos secundários produtivos.

         A escolha de cultivares é fator muito relevante na implantação de olivais. Cultivares que exijam menores quantidades de horas de frio e cujo desenvolvimento vegetativo seja menos rigoroso deve ser priorizado. Os cultivares comerciais Alberquina, Arbosana e Koroneiki têm sido testados com sucesso no Brasil para extração de azeite, e Ascolana e Manzanilla para a produção de azeitonas de mesa. Espera-se que a pesquisa agrícola consiga desenvolver ao longo do tempo cultivares menos exigentes em horas de frio para florescimento, de modo que as oliveiras possam ser cultivadas em áreas extensas no Brasil, como ocorreu com as culturas do trigo, da soja e da maça.

A diversificação de cultivares também deve ser priorizada. Mesmo o cultivar Alberquina tido como autopolinizante, apresenta muitas vezes insucesso no processo de florescimento. O plantio de 3-4 cultivares com polinização cruzada evitariam tal insucesso, e ao mesmo tempo aumenta a diversidade, reduzindo riscos com relação a perdas com pragas e doenças. Cabe alertar, também, ao produtor que a compra de mudas e material vegetativo deve ser efetuado apenas de viveiros idôneos, e a entrada de material do exterior deve ser via quarentenário, de modo que se impeça a propagação de pragas e doenças que ainda não existem em nossas condições.

A oliveira é considerada planta rústica, pouco exigente em fertilidade do solo, contudo cultivos comerciais que exijam produtividade exigem solos bem aerados e férteis. A oliveira não suporta solos encharcados, devendo escolher solos profundos, com boa drenagem e aeração. As práticas de conservação do solo devem ser seguidas como para qualquer cultura agrícola, com a construção de terraços, descompactação do solo e manutenção de cobertura vegetal que não atrapalhe o desenvolvimento da cultura principal – a oliveira.

         Quanto à fertilidade do solo, equilíbrio deve ser mantido de modo a fornecer nutrientes suficientes para a manutenção e exportação via frutos, sem que haja desenvolvimento vegetativo excessivo. Recomenda-se calagem do solo em torno de duas vezes a necessidade de calagem exigida para outras culturas, uma vez que a cultura exige valores maiores de pH e cálcio. No plantio, a calagem e gessagem devem ser efetuadas em área total, assim como a aplicação de elementos imóveis como o fósforo. Aplicação de composto orgânico na dosagem de 40-50 toneladas/ha pode ser efetuada no plantio, se material for disponível na região. O plantio das mudas deve ser feito na abertura de sulcos, evitando-se o plantio em covas que concentra sistema radicular e propicia acúmulo de água (Melarato, 2010). Os sulcos não devem acumular água, e se necessário montar sistema de camaleão, para que situação de encharcamento do solo ao redor da planta não ocorra.

         Ainda não há estudos em nossas condições sobre a exportação de nutrientes pela cultura, nem curvas de resposta para fertilizações. No exterior há estudos como os de Alfei & Panelli (2002), que indicam, por exemplo, a seguinte exportação média de macronutrientes pela oliveira, que deveriam ser repostos anualmente: 30-50; 15-30; 50-100; 35-70; e 10-20 kg ha-1 de N; P2O5; K2O; CaO; e MgO, respectivamente,

         Valores de pH elevado do solo podem propiciar indisponibilidade de micronutrientes como o boro e o zinco, e precipitação do fósforo que se liga ao cálcio. O boro pode ser fornecido via fontes de liberação lenta e o zinco via foliar (Melarato, 2010). Adubações nitrogenadas altas devem ser evitadas, pois no inicio do plantio não há resposta da planta, e posteriormente corre-se o risco de aumentar o crescimento vegetativo da planta.

A oliveira exige em torno de 200 mm de água/ano, recomendando-se valores de 600-700 mm/ano para evitar stress hídrico em períodos críticos como o florescimento, o pegamento das flores e a formação de frutos. Contudo, não suporta solos saturados por períodos superiores ao de quatro semanas (Alfei & Panelli, 2002).

         As pragas e doenças que atacam, no momento, as oliveiras no Brasil são facilmente controladas com produtos registrados para outras culturas agrícolas, não havendo registro de produtos para a cultura da oliveira no Brasil. As pragas consistem de cochonilhas, lepidópeteros (lagartas), formigas, dípteros (moscas); coleopteros (besouros); hemípteros (formigas, percevejos), que podem ser controlados com inseticidas fosforados e óleo mineral. Não há registros ainda da lagarta Prays olea, praga de dificil controle que ataca os frutos das oliveiras no Mediterrâneo, e da cochonilha negra que ataca folhas e ramos.

Também, não há registro da mosca da oliva, Batrocera oleae, de difícil controle e rápida infestação. A mosca da oliva pousa no fruto, injeta ovos que eclodirão gerando larvas que perfuram o fruto, e ao mesmo tempo, depositam sobre o fruto, líquido que identifica que aquele fruto já foi inoculado, para que outras moscas procurem outros frutos para depositar seus ovos, aumentando rapidamente a infestação na cultura. A presença de mosca da oliva nos frutos propicia ao azeite um defeito identificado como defeito (odor) de verme. Assim, cuidados devem ser tomados para que tal praga não seja introduzida no Brasil.

As doenças mais comuns encontradas em cultivos no Brasil atacam principalmente as folhas da oliveira, como a antracnose causada pela fungo Colletrotrichum gloeosporioides, a mancha de cercospora causada pelo fungo Cercospora cladosporioides, e a fumagina causada pelos fungos epífitos Capnodium; Cladosporium;e Alternaria.

Doenças como o olho de pavão, causado pelo fungo Spilocaea oleagina, que forma manchas nas folhas reduzindo área foliar e afetando processo fotossintético, ou a tuberculose da oliveira, causado pela bactéria Pseudomonas syringae, que produz crostas nos ramos e galhos, ainda não estão presentes no Brasil, e devem ser evitadas pelo controle de entrada de materiais ilegais no país, assim como assepsia deve ser mantida nas ferramentas na poda das plantas.

         Outro desafio a ser enfrentado na parte agrícola refere-se à colheita. O ponto de maturação para cada cultivar em diferentes locais de plantio é variável. Estudos devem ser feitos com índices quantitativos (peso do fruto, acúmulo de azeite, resistência a ser destacado da planta) e índices qualitativos que medem a consistência da polpa em função da coloração do fruto (Testa, 2009). Tais índices indicam o ponto ótimo de colheita para a produção de azeite de boa qualidade. Pesquisas devem ser conduzidas neste sentido ao menos nas primeiras colheitas de modo a orientar o agricultor para as futuras colheitas.

         O método de colheita a ser escolhido, manual ou mecânico (Figuras 7 A, B, C, D, e E), deve considerar os custos, e a forma de implantação do olival, observando sempre que os frutos devem ser isentos de terra, colhidos em redes sobre a superfície do solo (Figuras 7 B e C), ou em redes suspensas (Figura 7D). Para os métodos mecânicos necessita-se importar equipamentos, ainda não disponibilizados pela indústria nacional.

Frutos estragados e folhas devem ser retirados, sendo necessária a lavagem dos frutos antes do processamento. A conservação deve ser feita em caixas aeradas e distanciadas do solo (Figura 7F), evitando-se o armazenamento em pilhas ao ar livre como nos grandes empreendimentos (Figura 7G), que contribuem com a deterioração dos frutos e má qualidade dos azeites, dando-lhes o defeito de odor de aquecimento e fermentação anaeróbia (rançoso). O tempo de estocagem, da colheita até o processamento não deve ultrapassar 48 horas, sendo mais recomendado o tempo de 24 horas. Azeites excelentes são obtidos com poucas horas de armazenamento (6-10 horas) antes do processo de extração.

 

7- Métodos de colheita e armazenamento das azeitonas. Testa (2009).

 

3.2 Desafios na agroindústria

 

         A qualidade de um azeite virgem extra depende em 30% do sistema de extração, 30% da época da colheita, 20% do cultivar, 10% do tempo de estocagem, 5% do sistema de transporte e 5% do método de colheita (Alfei & Panelli, 2002), mostrando a importância do processo de extração na cadeia produtiva das oliveiras. A extração de azeites no Brasil tem sido realizada com equipamentos importados, às vezes com baixa eficiência de extração, e falta de assistência técnica e manutenção dos equipamentos. A importação de equipamentos nem sempre é viável aos pequenos produtores, que certamente terão que se unir para compra e uso dos equipamentos. Excelente oportunidade para a indústria nacional, na confecção de equipamentos para a cadeia produtiva das azeitonas.

No fruto de azeitona, o azeite encontra-se armazenado no vácuolo da célula vegetal. Na polpa encontra-se 16,5 a 23,5% do azeite e na semente o teor de azeite é de 1-1,5%, sendo que ambas são esmagadas para obtenção da pasta (Testa, 2009). A extração deve ocorrer apenas por processos mecânicos ou fisicos, em condições de temperatura não superiores a 35° C (nem à frio, nem à quente) que não causem alteração no azeite, seguidas de tratamentos de lavagem, decantação, centrifugação e filtração, sem qualquer outro processo químico.

Diversos são os sistemas de extração presentes no mercado. A Figura 8 ilustra o sistema tradicional descontínuo, com a extração mecânica do azeite pela fricção das azeitonas nas pedras (Figura 8A), seguido de processo de homogeneização da pasta obtida (Figura 8B), prensagem da pasta por meio de discos (Figura 8C), e finalmente a separaçao do azeite da água, sem processo de filtração. O ponto critico deste sistema é a impregnação da pasta nos discos, que vai deteriorando a qualidade do azeite no final da safra, em função de processos fermentativos, e conferem ao azeite defeitos de ácido ou azedo em virtude de fermentação acética (Testa, 2009). O sistema descontínuo em virtude de tais problemas que podem ocasionar na perda de qualidade dos azeites está em desuso. Azeites que não passam por processo de filtração pode apresentar alguma turbidez ou material decantado no fundo do vasilhames. Tais impurezas não indicam má qualidade do azeite, mas podem reduzir o prazo de consumo do azeite, pois aceleram processos fermentativos.

O sistema contínuo consiste da prensagem da pasta em moinho com disco de aço, que são laváveis (Figura 8E). A massa extraída passa por misturador (Figura 8F) em que é diluída na proporção de de 1,0 kg de massa para 1 litro de água, e depois passa por centrifuga horizontal, em que se separa a parte oleosa da parte sólida, e finalmente a parte oleosa passa para a centrífuga vertical, separando-se o azeite da água (Figura 8G). O processo de passagem da pasta em misturador e adição de água tem a finalidade de quebrar a emulsão água-óleo, e permitir que as pequenas partículas de óleo se aglutinem, formando partículas maiores, facilitando o processo de centrifugação e separação das fases água-óleo.

Este sitema contínuo possibilita a extração do azeite sem reações fermentativas e com excelente aspecto do produto final. A decantação do azeite, repouso por alguns dias, após passar por estes processos melhora ainda mais seu aspecto visual. Cuidados devem ser tomados na decantação, para que o azeite não permaneça muito tempo em contato com a borra ou lodo do fundo do decantador, que definem o odor de borra ao azeite, desclassificando da categoria virgem extra.

         Após a obtenção dos azeites, seu armazenamento e envasamento correto garantem maior prazo de validade do produto. O armazenamento deve ser realizado em recipientes de aço inox, fechados, impedindo que absorva odores do ambiente, como o odor de água de vegetação, armazenada normalmente em lagoas vizinhas as plantas de extração do azeite, que conferem ao produto odor de água de vegetação, desclassificando-o como virgem extra. O envase deve ser efetuado em ambiente asséptico, usando embalagens escuras ou latas para evitar que a entrada da luz acelere processos oxidativos. O armazenamento deve ocorre em temperaturas de 15 e 18º C.

Figura 8. Extração pelo sistema tradicional descontínuo e pelo processo contínuo. Testa (2009)

 

         A destinação dos resíduos finais, como a torta, as águas de lavagem e o lodo dos processos de centrifugação e decantação, também, é desafio para a agroindústria processadora de azeitonas. Dependendo do volume e da caracterização química dos resíduos sua destinação pode ser direta no solo, ou passar por tratamentos como a compostagem para a torta e os lodos, e tratamento de efluentes para as águas residuais (pelo menos a elevação de pH dos efluentes), podendo ser utilizados na fertilização de solos agrícolas com controle de dosagens e monitoramento dos solos.

 

3.3 Desafios na comercialização

 

         O maior desafio na comercialização a varejo de azeites no Brasil refere-se ao preço pouco acessível a um grande mercado consumidor. A produção de azeites nacionais pode reduzir o preço ao consumidor final, uma vez que, percentual alto do preço do produto importado é devido a impostos de importação.

O preço pouco acessível empata estoques em supermercados, e o consumidor acaba consumindo produto que permanece meses nas gôndolas em condições inadequadas de armazenamento (com luz direta sobre vasilhames e a temperaturas maiores que 18º C). Azeites excelentes nestas condições em poucos dias se tornam rançosos, e seu consumo pode trazer prejuízos a saúde. Melhor seria consumir óleo de milho ou girassol que azeite comercializado nestas condições.

         A falta de legislação vigente que normatize rótulos e a qualidade do produto, também, permite que azeites de péssima qualidade sejam comercializados como azeite virgem extra. Inúmeros blends são encontrados em gôndolas de supermercados, comercializados como virgem extra, com características químicas de acordo com legislação, mas que apresentam defeitos que os impedem de serem comercializados com virgem extra. Azeite lampante e refinado, são comercializados como azeite de oliva virgem no Brasil, confundindo o consumidor. Outros desafios inerentes a interesses políticos e econômicos, também, dificultam a comercialização de azeites de oliva no Brasil.

 

3.4 Desafios no mercado consumidor

         A conscientização do mercado consumidor quanto à qualidade e preço do azeite de oliva é grande desafio a ser vencido, não apenas no Brasil, país sem tradição na produção e consumo, como também em outros países importados. Estudo realizado em condições americanas revela que 60% do azeite de oliva consumido no EUA apresentam problemas seja de qualidade, seja de fraude. O consumidor, em geral, compra o produto pela cor ou pelo menor grau de acidez anunciado no rótulo. A coloração do azeite não indica sua qualidade, tão pouco a acidez indicada no rótulo é a mesma no momento da compra e do consumo, dadas as condições quase sempre errôneas de transporte e armazenamento dos azeites.

         O consumidor deve ser conscientizado que o odor e o sabor do azeite são parâmetros mais importantes quanto se adquire um azeite virgem extra. Odores de ranço, vinagre, terra, metálico, mofado, madeira, queimado são defeitos que desclassificam o azeite como virgem extra. Também é importante, o reconhecimento de atributos positivos como odor de frutado verde (erva/grama verde amassada) ou frutado doce (maça, banana) e os sabores amargo e picante, que expressam a presença de altos teores de polifenóis, que são as substâncias antioxidantes que combatem radicais livres no organismo (Testa, 2009). A elaboração de legislação para registro de produtos de boa qualidade pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento–MAPA, e a fiscalização eficiente em muito auxiliariam o consumidor na aquisição de azeite que realmente conferissem benefícios a sua saúde.

 

3.5 Desafios na legislação

 

         Aos órgãos legisladores e fiscalizadores como o MAPA cabe elaborar normas para o registro de pesticidas apropriados para a cultura no Brasil, pois o risco de utilização de produtos inapropriados para a cultura pode ocasionar prejuízos ao agricultor e a saúde dos consumidores. Registro de cultivares e normas para a comercialização de mudas também, devem ser elaboradas, de modo a proteger o produtor de prejuízos.

         As novas normas para registro de azeite comercializados no Brasil, já em adiantado processo de elaboração (em consulta pública por 60 dias, no site do MAPA), devem imediatamente entrar em vigor, pois a má qualidade dos azeites expostos nas gôndolas de supermercados tem trazido prejuízos enormes ao consumidor. Órgãos como o MAPA e a ANVISA devem ser mais rigorosos na fiscalização dos azeites comercializados, pois azeite rançoso acelera processos oxidativos no organismo humano, ao invés de combatê-los como promete as publicidades dos benefícios do azeite e da dieta mediterrânea.

         Após a regulamentação de normas para registro e comercialização de produtos importados e nacionais no mercado brasileiro, outro desafio do MAPA seria a montagem de rede interlaboratorial para análise dos produtos que chegam ao porto e aqueles nas gôndolas dos supermercados. Para a classificação como virgem extra é necessário a montagem de grupos brasileiros para Pannel Test, para análise sensorial dos produtos.

 

3.6 Desafios na pesquisa

 

         Durante todo este documento foram claramente expostos os imensos desafios na área de pesquisa da cadeia produtiva das oliveiras. Desafios na obtenção de cultivares mais adaptados as condições subtropicais, desafios para obtenção de técnicas de manejo de cultura exótica em nossas condições, desafio na conscientização e transferência de conhecimentos a agricultores, agroindústria, consumidores, comerciantes e legisladores. Desafios na busca de financiamento para pesquisa com cultura exótica e de risco. Desafios no convencimento de que é importante o estudo da cultura, pois investidores estão injetando recursos em investimento com baixo nível de conhecimento tecnológico.

Muitos experimentos, ensaios, testes, análises em condições locais devem ser conduzidos para confirmar ou não as informações trazidas neste texto, muitas delas obtidas na literatura internacional.

 

Referências citadas

ALFEI, B.; PANELLI, G.  Guida alla razionale coltivazione dell´olivo. Ancona: ASSAM- Agenzia Servizi Settore Agroalimentare, 2002, 239p.

COI - International Olive Council - Imports by selected markets. Março 2010. Disponível em: http://www.internationaloliveoil.org/downloads/Brasil_ang.pdf. Acesso em 22 de julho de 2010.

CONAB. Balança Comercial do Agronegócio. Brasília, 2010. Disponível em:

http://www.conab.gov.br/conabweb/download/indicadores/0206-balanca-importacao.pdf. Acesso em: 21 de julho 2010.

COUTINHO, E. F. Situação e resultados de pesquisa com oliveira no estado do Rio Grande do Sul. In: 1º Simpósio Mineiro de Olivicultura, 04 a 07 de maio, Itajubá, MG. CD-ROM.

da Croce, D.M. Situação e resultados de pesquisa com oliveira no estado de Santa Catarina. In: 1º Simpósio Mineiro de Olivicultura, Itajubá, MG, 2010, CD-ROM.

MELARATO, M. Aspectos gerais da olivicultura no Brasil. In: 1º Simpósio Mineiro de Olivicultura, Itajubá, MG, 2010, CD-ROM.

OLIVEIRA, G. J. Área plantada e organização dos produtores de oliveira no Rio Grande do Sul. In: 1º Simpósio Mineiro de Olivicultura, Itajubá, MG, 2010, CD-ROM.

OLIVEIRA, N.C. Aspectos técnicos, produção de mudas e área plantada da olivicultura em Minas Gerais. In: 1º Simpósio Mineiro de Olivicultura, Itajubá, MG, 2010, CD-ROM.

TESTA, U. Introdução a análise sensorial de azeite de oliva. Curso realizado em 23/11/2009 na APTA-Pólo Centro Sul, Piracicaba, SP. Disponível em: http://www.apta.sp.gov.br/olivasp/.

VIERA NETO, J. OLIVICULTURA: Situação e Resultados de Pesquisas em Minas Gerais. In: 1º Simpósio Mineiro de Olivicultura, Itajubá, MG, 2010, CD-ROM.



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BERTONCINI, E.I.; TERAMOTO, J.R.S;  PRELA-PANTANO Desafios para produção de azeite no Brasil. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/DesafioOliva/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 07/10/2010