Desafios para Produção de Azeite no Brasil
1. Importação de azeites e azeitonas no Brasil
A produção de oliveiras concentra-se em países de clima
mediterrâneo, produzindo 3,1 milhões de toneladas de frutos por ano,
representando 95% da produção mundial. Nas últimas décadas, países
com clima subtropical, como Argentina, Chile, e Uruguai têm
despontado no cenário como promissores concorrentes neste mercado.
Os primeiros azeites brasileiros começam a despontar ainda ao nível
experimental e/ou produzido por pequenos produtores.
O Brasil é totalmente dependente de importação tanto dos frutos para
mesa quanto dos azeites, importando 86,5% da Comunidade Econômica
Européia, e 13,4% da Argentina, com gastos anuais em torno de 400
milhões de reais.
Nos últimos nove anos o consumo e importação de azeite de oliva e
azeitona tiveram aumento de 120% e 45%, conforme ilustram as Figuras
1 e 2, respectivamente. Este aumento deve-se a fatores como:
(i) divulgação dos
benefícios da dieta mediterrânea na saúde;
(ii) entrada de produtos
no mercado interno com preços mais acessíveis;
(iii) aumento de poder
aquisitivo de algumas classes sociais. Apesar do aumento no volume de importação de
azeitonas de mesa e azeite, dados do CONAB (2010) indicam o baixo
consumo per capita do mercado brasileiro, em torno de 0,2
kg/habitante/ano, enquanto na Grécia, e em países como a Espanha e
Itália, o consumo é de 23 e 12 kg/habitante/ano, respectivamente. Outro fator, que em breve será responsável pela
aceleração da produção nacional, especialmente de azeites, será a
regulamentação dos produtos importados por Norma do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em discussão com os setores
envolvidos, que provavelmente será mais restritiva quanto à
qualidade dos produtos que entram no mercado brasileiro. Esta
expansão no mercado importador de azeite e azeitonas aliado ao maior
volume e qualidade de pesquisas voltadas ao setor, tem impulsionado
novos investidores dispostos a investir no cultivo de oliveiras no
Brasil.
2. Histórico e situação atual da produção de oliveiras no Brasil
Pontualmente, existem algumas experiências com a produção de
oliveiras no Brasil, em microclimas favoráveis a cultura, como é o
caso de algumas regiões da serra da Mantiqueira nos estados de Minas
Gerais e São Paulo, com altitudes maiores que
A planta de oliveira caracteriza-se por certa rusticidade, não sendo
exigindo solos muito férteis, nem regime hídrico especial. Não
tolera, entretanto, solos encharcados, e possui exigências
nutricionais um pouco diferenciadas das culturas cultivadas em solos
sob condições tropicais. Para que ocorra o florescimento e a
frutificação da planta, necessita-se de indução das gemas florais
por meio de temperaturas baixas, contudo não tolera invernos muito
rigorosos. Cultivares de oliveiras introduzidos no Brasil exigem em
torno de
Outros fatores relacionados a fracassos de tentativas passadas de
introdução da oliveira no Brasil referem-se a:
(i) plantio de apenas um
material genético; (ii)
local de implantação da cultura inapropriado as suas necessidades;
(iii) cultivar não adaptado as condições climáticas locais;
(iv) pacote tecnológico
não adaptado as condições de clima subtropical;
(v) dificuldades de
manejo de cultura exótica em nossas condições (adubação, poda,
controle de pragas e doenças). Brevemente, faremos um resumo da
introdução da cultura e atual estágio de desenvolvimento das
pesquisas agrícolas e produção de oliveiras em algumas regiões
brasileiras.
2.1 olivicultura
no Rio Grande do Sul
No estado do Rio Grande do Sul, o cultivo de oliveiras teve inicio
em 1900, com cultivares trazidos por emigrantes portugueses,
açorianos, e há registros de produções em 1907, nas cidades de
Caxias do Sul, Veranópolis, Encruzilhada do Sul, Uruguaiana, Bagé,
Pelotas e Rio Grande (Oliveira, 2010a). Na década de 30, no interior
do estado foram introduzidos novos plantios trazidos pelas
imigrações italianas, portuguesas e francesas, mas não havia
tradição na cultura, eram introduzidas como plantas ornamentais ou
atendiam apenas ao consumo doméstico.
De acordo com Coutinho (2010) a cultura da oliveira, foi introduzida
oficialmente no estado em 1948, por meio da criação do Serviço
Oleícola pela Secretaria da Agricultura do estado, com objetivo de
orientar trabalhos de fomento e pesquisa. Houve incentivos ao
cultivo por meio de prêmios e isenção de impostos, contudo, a falta
de base técnica resultou na formação de olivais de baixa qualidade.
Na cidade de Uruguaiana consta que houve o plantio de 72.000 mudas
vindas da Argentina introduzidas pelo Embaixador Batista Luzardo, na
fazenda São Pedro. O programa estadual esvaziou-se por falta de
planejamento estratégico, e razões políticas e econômicas.
Em
Atualmente, a área cultivada com oliveiras no estado é próxima a
De acordo com Coutinho (2010) os principais problemas enfrentados
nas condições gaúchas são:
(i) Falta de linha de crédito à cultura;
(ii) Não há registros de
pesticidas para a cultura da oliveira no Brasil;
(iii) Não há normas e
padrões para produção e comercialização de mudas;
(iv) Falta profissionais
especializados para assistência técnica aos olivicultores.
2.2 olivicultura
Os municípios mineiros que estão cultivando oliveiras no momento
são: Aiuruoca, Alagoa, Alpinópolis, Andradas, Antônio Carlos,
Araponga, Baependi, Barbacena, Bom Repouso, Botelhos, Brazópolis,
Bueno Brandão, Caldas, Camanducaia, Cambuquira, Campestre, Catas
Altas da Noruega, Caxambu, Cristina, Delfim Moreira, Divisa Nova,
Espera Feliz, Extrema, Gonçalves, Guarda Mor, Itabirito, Itabiruçu,
Itajubá, Itamonte, Juiz de Fora, Lavras, Maria da Fé, Montes Claros,
Munhoz, Nova Ponte, Ouro Preto, Paraisópolis, Piedade do Rio Grande,
Piranguçu, Poços de Caldas, Raul Soares, Sacramento, Santa Rita do
Ibitipoca, São Lourenço, Senador Amaral, Três Corações, Tupaciguara,
Uberaba. De acordo com o Oliveira (2010b), a expectativa de produção
mineira para o ano de 2015, é de 4.000 toneladas de azeitona, e 800
toneladas de azeite.
A EPAMIG tem
lançado publicações técnicas como o Informe Agropecuário, Circulares
Técnicas e Boletins Técnicos abrangendo temas como plantio, tratos
culturais, adubação, controle fitosanitário e colheita e
processamento dos frutos. No ano de 2009, produziu 50.000 mudas de
oliveiras, e adquiriu uma unidade
piloto de extração de azeite com capacidade para
Concomitantemente, desenvolve pesquisas nas diversas fases da cadeia
produtiva da cultura, e no melhoramento genético de cultivares. Na
década de 80 houve a formação do banco de germoplasma por meio da
coleta de
sementes de oliveiras em propriedades particulares e públicas da
região (Figura 4A), e importação de sementes de diversos países,
desenvolvendo-se melhoramento genético por meio de hibridação
natural e seleção de plantas na população segregante, e finalmente
ensaios de cultivares, escolhendo-se os cultivares mais adaptados à
região.
Em
2.3 olivicultura no estado de Santa Catarina Iniciou-se um zoneamento climático para verificar
as melhores áreas para cultivo das oliveiras, contudo, o estudo não
foi concluído com sucesso, e resolveu-se implantar experimentos em
18 áreas do estado, de Lajes até o norte do estado, plantando-se as
mesmas cultivares. Atualmente, apenas 08 áreas foram tidas como de
sucesso para implantação da cultura, e estão situadas no oeste e
extremo oeste de SC. Adquiriu-se uma pequena máquina extratora de
azeite, com capacidade de 10 kg/hora, com rendimento baixo de
10-12%, e que apresenta problemas de manuseio. Além dos problemas de
extração de azeite, a cultura enfrenta problemas com ventos fortes e
chuvas de granizo em algumas regiões, e a poda da planta ainda é
problema não resolvido (da Croce, 2010). Atualmente, está se
utilizando a poda em forma de taça, retirando a dominância apical da
planta, deixando 3-4 ramos potenciais, mas é necessário aumentar o
espaçamento para valor acima de 5 x
2.4 olivicultura no estado de São Paulo
A área paulista de produção de azeitona, sob a influência da EPAMIG
e sob a coordenação da CATI de São Bento de Sapucaí abrange mais de
15 municípios, entre eles: São Bento do Sapucaí, Campos do Jordão,
Silveiras, Lorena, Natividade da Serra, Espírito Santo do Pinhal,
Águas da Prata, contando com 50.000 plantas de oliveiras. Tais
municípios encontram-se na Serra da Mantiqueira, cadeia montanha com
cerca de No ano de
Em novembro de 2009, visitou-nos um
pesquisador da Agência ASSAM, e foram realizadas visitas técnicas a
inúmeros produtores de oliveira das regiões de São Bento do Sapucaí
e Maria da Fé, além de visita a CATI de São Bento de Sapucaí e a
Fazenda Experimental de Maria da Fé (Figura 5A). Foram observados
fatores de produção como cultivares utilizados, qualidade das mudas
adquiridas pelos produtores, manejo da cultura no que concerne a
espaçamento, nutrição e sanidade das plantas, e condução da planta
por meio de podas. Inúmeros problemas foram encontrados propondo-se
soluções que devem ser testadas por meio de pesquisa para as
condições de clima subtropical.
Foram ministrados
dois cursos gratuitos, um Inúmeras solicitações de agricultores e
investidores interessados na cultura foram atendidas pelo grupo após
a realização destes cursos e sua divulgação na imprensa. Assim,
resolveu-se realizar a montagem de uma homepage para registrar as
informações já existentes sobre o assunto, e passar as informações
atualizadas pertinentes a cada tópico da cadeia produtiva das
oliveiras aos interessados. O site
http://www.apta.sp.gov.br/olivasp/, está
Na segunda fase do projeto pretende-se realizar
ensaios de cultivares mais adaptados as condições climáticas visando
o florescimento e frutificação das plantas, nas regiões escolhidas
como aptas pelo zoneamento climático. A condução da cultura será
efetuada com manejo desde o plantio das mudas e tratos culturais
como calagem e adubação, poda, e controle fitosanitário, até a
colheita, conservação e processamento dos frutos, e análise da
qualidade final do azeite obtido. Serão conduzidos
concomitantemente, estudos das propriedades medicinais das folhas e
frutos de oliveira. A terceira fase do projeto tem pretensões mais
ousadas como o melhoramento de cultivares com finalidade de redução
de horas de frio necessárias para florescimento, para cultivo em
áreas com condições climáticas menos favoráveis, ampliando assim a
provável área de cultivo.
3- Principais
desafios da olivicultura no Brasil
De acordo com o CONAB (2009) o volume estimado de azeitonas
importadas pelo Brasil seria em torno de 220 mil toneladas,
incluindo azeite e azeitonas. Se considerarmos o espaçamento de 5 x
Há inúmeros desafios a serem vencidos para a consolidação da
olivicultura no Brasil. Desafios inerentes ao plantio e manejo dos
olivais, desafios na agroindústria, na extração, envasamento e
conservação dos azeites, desafios na comercialização, desafios na
conscientização do consumidor quanto à qualidade do azeite
comercializado, desafios referentes à legislação e controle de
qualidade dos produtos importados e nacionais presentes no mercado,
e desafios na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias em todos os
elos da cadeia produtiva das oliveiras. Tais aspectos serão
abordados a seguir.
3.1 Desafios na
parte agrícola
Sem dúvida, a temperatura é o fator ambiental mais importante que
limita a área de produção de oliveiras, em condições subtropicais. A
planta de oliveira requer um período de inverno com temperaturas
entre 5 e 7º C, e alternância de temperaturas entre o dia e noite de
Assim, em condições subtropicais é necessário conhecer a quantidade
de horas de frio e a amplitude térmica do local em que se deseja
instalar o olival. No Brasil, tais condições ocorrem em microclimas
como áreas montanhosas, com altitudes acima de
Outros fatores climáticos que podem afetar o florescimento estão
relacionados a temperaturas acima de 30-35º C durante o dia que
abortam a floração; excesso de chuva e vento na floração que promove
a queda das flores; ou falta de água após o florescimento que
dificulta o pegamento das flores e a formação de frutos. O excesso
de umidade no ar no período de florescimento, que no Brasil ocorre
na primavera, pode ocasionar a não fecundação das flores, pois o
pólen absorve água na própria antera, incha e explode. O excesso de
chuva antes da maturação do fruto propicia frutos maiores e com
maior teor de água do que de azeite, resultando menor produção de
azeite por área, e maior volume de água de vegetação após a
centrifugação, para ser tratado e destinado sustentavelmente.
As condições de clima subtropical, também, propiciam maior
desenvolvimento vegetativo das plantas quando comparado a plantas de
clima mediterrâneo, em detrimento a produção de furtos, e este
crescimento deve ser controlado por meio de podas. Nas visitas
efetuadas em Maria da Fé e na região de São Bento do Sapucaí foram
encontradas plantas muito altas, com inúmeras ramificações que
prejudicam a produção de frutos (Figura 6A), uma vez que a oliveira
produz em ramos novos, e o excesso de ramos laterais e vegetação
desvia nutrientes que seriam encaminhados para a produção de frutos.
Relatos de problemas com o desenvolvimento vegetativo intenso também
são relatados
Para reduzir problemas de crescimento vegetativo intenso que
ocasionam perdas produtivas, três fatores devem ser observados:
(i) escolha de cultivares
que apresentem menor desenvolvimento vegetativo para plantio em
nossas condições; (ii)
poda correta, e se necessário várias vezes ao ano;
(iii) controle de
fertilizações, especialmente de adubação nitrogenada.
A Figura
O formato vaso (Figura
A escolha de cultivares é fator muito relevante na implantação de
olivais. Cultivares que exijam menores quantidades de horas de frio
e cujo desenvolvimento vegetativo seja menos rigoroso deve ser
priorizado. Os cultivares comerciais Alberquina, Arbosana e
Koroneiki têm sido testados com sucesso no Brasil para extração de
azeite, e Ascolana e Manzanilla para a produção de azeitonas de
mesa. Espera-se que a pesquisa agrícola consiga desenvolver ao longo
do tempo cultivares menos exigentes em horas de frio para
florescimento, de modo que as oliveiras possam ser cultivadas em
áreas extensas no Brasil, como ocorreu com as culturas do trigo, da
soja e da maça.
A diversificação de cultivares também deve ser priorizada. Mesmo o
cultivar Alberquina tido como autopolinizante, apresenta muitas
vezes insucesso no processo de florescimento. O plantio de 3-4
cultivares com polinização cruzada evitariam tal insucesso, e ao
mesmo tempo aumenta a diversidade, reduzindo riscos com relação a
perdas com pragas e doenças. Cabe alertar, também, ao produtor que a
compra de mudas e material vegetativo deve ser efetuado apenas de
viveiros idôneos, e a entrada de material do exterior deve ser via
quarentenário, de modo que se impeça a propagação de pragas e
doenças que ainda não existem em nossas condições.
A oliveira é considerada planta rústica, pouco exigente em
fertilidade do solo, contudo cultivos comerciais que exijam
produtividade exigem solos bem aerados e férteis. A oliveira não
suporta solos encharcados, devendo escolher solos profundos, com boa
drenagem e aeração. As práticas de conservação do solo devem ser
seguidas como para qualquer cultura agrícola, com a construção de
terraços, descompactação do solo e manutenção de cobertura vegetal
que não atrapalhe o desenvolvimento da cultura principal – a
oliveira.
Quanto à fertilidade do solo, equilíbrio deve ser mantido de modo a
fornecer nutrientes suficientes para a manutenção e exportação via
frutos, sem que haja desenvolvimento vegetativo excessivo.
Recomenda-se calagem do solo em torno de duas vezes a necessidade de
calagem exigida para outras culturas, uma vez que a cultura exige
valores maiores de pH e cálcio. No plantio, a calagem e gessagem
devem ser efetuadas em área total, assim como a aplicação de
elementos imóveis como o fósforo. Aplicação de composto orgânico na
dosagem de 40-50 toneladas/ha pode ser efetuada no plantio, se
material for disponível na região. O plantio das mudas deve ser
feito na abertura de sulcos, evitando-se o plantio em covas que
concentra sistema radicular e propicia acúmulo de água (Melarato,
2010). Os sulcos não devem acumular água, e se necessário montar
sistema de camaleão, para que situação de encharcamento do solo ao
redor da planta não ocorra.
Ainda não há estudos em nossas condições sobre a exportação de
nutrientes pela cultura, nem curvas de resposta para fertilizações.
No exterior há estudos como os de Alfei & Panelli (2002), que
indicam, por exemplo, a seguinte exportação média de macronutrientes
pela oliveira, que deveriam ser repostos anualmente: 30-50; 15-30;
50-100; 35-70; e 10-
Valores de pH elevado do solo podem propiciar indisponibilidade de
micronutrientes como o boro e o zinco, e precipitação do fósforo que
se liga ao cálcio. O boro pode ser fornecido via fontes de liberação
lenta e o zinco via foliar (Melarato, 2010). Adubações nitrogenadas
altas devem ser evitadas, pois no inicio do plantio não há resposta
da planta, e posteriormente corre-se o risco de aumentar o
crescimento vegetativo da planta. A oliveira exige em torno de
As
pragas e doenças que atacam, no momento, as oliveiras no Brasil são
facilmente controladas com produtos registrados para outras culturas
agrícolas, não havendo registro de produtos para a cultura da
oliveira no Brasil. As pragas consistem de cochonilhas,
lepidópeteros (lagartas), formigas, dípteros
(moscas); coleopteros (besouros); hemípteros (formigas, percevejos),
que podem ser controlados com inseticidas fosforados e óleo mineral.
Não há registros ainda da lagarta Prays olea,
praga de dificil controle que ataca os frutos das oliveiras no
Mediterrâneo, e da cochonilha negra que ataca folhas e ramos.
Também, não há registro da mosca da oliva, Batrocera oleae,
de difícil controle e rápida infestação. A mosca da oliva pousa no
fruto, injeta ovos que eclodirão gerando larvas que perfuram o
fruto, e ao mesmo tempo, depositam sobre o fruto, líquido que
identifica que aquele fruto já foi inoculado, para que outras moscas
procurem outros frutos para depositar seus ovos, aumentando
rapidamente a infestação na cultura. A presença de mosca da oliva
nos frutos propicia ao azeite um defeito identificado como defeito
(odor) de verme. Assim, cuidados devem ser tomados para que tal
praga não seja introduzida no Brasil.
As doenças mais comuns encontradas em cultivos no Brasil atacam
principalmente as folhas da oliveira, como a antracnose causada pela
fungo Colletrotrichum gloeosporioides, a mancha de cercospora
causada pelo fungo Cercospora cladosporioides, e a fumagina
causada pelos fungos epífitos Capnodium; Cladosporium;e
Alternaria.
Doenças como o olho de pavão, causado pelo fungo Spilocaea
oleagina, que forma manchas nas folhas reduzindo área foliar e
afetando processo fotossintético, ou a tuberculose da oliveira,
causado pela bactéria Pseudomonas syringae, que produz
crostas nos ramos e galhos, ainda não estão presentes no Brasil, e
devem ser evitadas pelo controle de entrada de materiais ilegais no
país, assim como assepsia deve ser mantida nas ferramentas na poda
das plantas.
Outro desafio a ser enfrentado na parte agrícola refere-se à
colheita. O ponto de maturação para cada cultivar em diferentes
locais de plantio é variável. Estudos devem ser feitos com índices
quantitativos (peso do fruto, acúmulo de azeite, resistência a ser
destacado da planta) e índices qualitativos que medem a consistência
da polpa em função da coloração do fruto (Testa, 2009). Tais índices
indicam o ponto ótimo de colheita para a produção de azeite de boa
qualidade. Pesquisas devem ser conduzidas neste sentido ao menos nas
primeiras colheitas de modo a orientar o agricultor para as futuras
colheitas.
O método de colheita a ser escolhido, manual ou mecânico (Figuras
Frutos estragados e folhas devem ser retirados, sendo necessária a
lavagem dos frutos antes do processamento. A conservação deve ser
feita em caixas aeradas e distanciadas do solo (Figura
3.2 Desafios na
agroindústria
A qualidade de um azeite virgem extra depende em 30% do sistema de
extração, 30% da época da colheita, 20% do cultivar, 10% do tempo de
estocagem, 5% do sistema de transporte e 5% do método de colheita
(Alfei & Panelli, 2002), mostrando a importância do processo de
extração na cadeia produtiva das oliveiras. A extração de azeites no
Brasil tem sido realizada com equipamentos importados, às vezes com
baixa eficiência de extração, e falta de assistência técnica e
manutenção dos equipamentos. A importação de equipamentos nem sempre
é viável aos pequenos produtores, que certamente terão que se unir
para compra e uso dos equipamentos. Excelente oportunidade para a
indústria nacional, na confecção de equipamentos para a cadeia
produtiva das azeitonas.
No fruto de azeitona, o azeite encontra-se armazenado no vácuolo da
célula vegetal. Na polpa encontra-se
Diversos são os sistemas de extração presentes no mercado. A Figura
8 ilustra o sistema tradicional descontínuo, com a extração mecânica
do azeite pela fricção das azeitonas nas pedras (Figura 8A), seguido
de processo de homogeneização da pasta obtida (Figura 8B), prensagem
da pasta por meio de discos (Figura
O sistema contínuo consiste da prensagem da pasta em moinho com
disco de aço, que são laváveis (Figura 8E). A massa extraída passa
por misturador (Figura
Este sitema contínuo possibilita a extração do azeite sem reações
fermentativas e com excelente aspecto do produto final. A decantação
do azeite, repouso por alguns dias, após passar por estes processos
melhora ainda mais seu aspecto visual. Cuidados devem ser tomados na
decantação, para que o azeite não permaneça muito tempo em contato
com a borra ou lodo do fundo do decantador, que definem o odor de
borra ao azeite, desclassificando da categoria virgem extra.
Após a obtenção dos azeites, seu armazenamento e envasamento correto
garantem maior prazo de validade do produto. O armazenamento deve
ser realizado em recipientes de aço inox, fechados, impedindo que
absorva odores do ambiente, como o odor de água de vegetação,
armazenada normalmente em lagoas vizinhas as plantas de extração do
azeite, que conferem ao produto odor de água de vegetação,
desclassificando-o como virgem extra. O envase deve ser efetuado em
ambiente asséptico, usando embalagens escuras ou latas para evitar
que a entrada da luz acelere processos oxidativos. O armazenamento
deve ocorre em temperaturas de 15 e 18º C.
A destinação dos resíduos finais, como a torta, as águas de lavagem
e o lodo dos processos de centrifugação e decantação, também, é
desafio para a agroindústria processadora de azeitonas. Dependendo
do volume e da caracterização química dos resíduos sua destinação
pode ser direta no solo, ou passar por tratamentos como a
compostagem para a torta e os lodos, e tratamento de efluentes para
as águas residuais (pelo menos a elevação de pH dos efluentes),
podendo ser utilizados na fertilização de solos agrícolas com
controle de dosagens e monitoramento dos solos.
3.3 Desafios na
comercialização
O maior desafio na comercialização a varejo de azeites no Brasil
refere-se ao preço pouco acessível a um grande mercado consumidor. A
produção de azeites nacionais pode reduzir o preço ao consumidor
final, uma vez que, percentual alto do preço do produto importado é
devido a impostos de importação.
O preço pouco acessível empata estoques em supermercados, e o
consumidor acaba consumindo produto que permanece meses nas gôndolas
em condições inadequadas de armazenamento (com luz direta sobre
vasilhames e a temperaturas maiores que 18º C). Azeites excelentes
nestas condições em poucos dias se tornam rançosos, e seu consumo
pode trazer prejuízos a saúde. Melhor seria consumir óleo de milho
ou girassol que azeite comercializado nestas condições.
A falta de legislação vigente que normatize rótulos e a qualidade do
produto, também, permite que azeites de péssima qualidade sejam
comercializados como azeite virgem extra. Inúmeros blends são
encontrados em gôndolas de supermercados, comercializados como
virgem extra, com características químicas de acordo com legislação,
mas que apresentam defeitos que os impedem de serem comercializados
com virgem extra. Azeite lampante e refinado, são comercializados
como azeite de oliva virgem no Brasil, confundindo o consumidor.
Outros desafios inerentes a interesses políticos e econômicos,
também, dificultam a comercialização de azeites de oliva no Brasil.
3.4 Desafios no mercado consumidor
A conscientização do mercado consumidor quanto à qualidade e preço
do azeite de oliva é grande desafio a ser vencido, não apenas no
Brasil, país sem tradição na produção e consumo, como também em
outros países importados. Estudo realizado em condições americanas
revela que 60% do azeite de oliva consumido no EUA apresentam
problemas seja de qualidade, seja de fraude. O consumidor, em geral,
compra o produto pela cor ou pelo menor grau de acidez anunciado no
rótulo. A coloração do azeite não indica sua qualidade, tão pouco a
acidez indicada no rótulo é a mesma no momento da compra e do
consumo, dadas as condições quase sempre errôneas de transporte e
armazenamento dos azeites.
O consumidor deve ser conscientizado que o odor e o sabor do azeite
são parâmetros mais importantes quanto se adquire um azeite virgem
extra. Odores de ranço, vinagre, terra, metálico, mofado, madeira,
queimado são defeitos que desclassificam o azeite como virgem extra.
Também é importante, o reconhecimento de atributos positivos como
odor de frutado verde (erva/grama verde amassada) ou frutado doce
(maça, banana) e os sabores amargo e picante, que expressam a
presença de altos teores de polifenóis, que são as substâncias
antioxidantes que combatem radicais livres no organismo (Testa,
2009). A elaboração de legislação para registro de produtos de boa
qualidade pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento–MAPA, e a fiscalização eficiente em muito auxiliariam
o consumidor na aquisição de azeite que realmente conferissem
benefícios a sua saúde.
3.5 Desafios na
legislação
Aos órgãos legisladores e fiscalizadores como o MAPA cabe elaborar
normas para o registro de pesticidas apropriados para a cultura no
Brasil, pois o risco de utilização de produtos inapropriados para a
cultura pode ocasionar prejuízos ao agricultor e a saúde dos
consumidores. Registro de cultivares e normas para a comercialização
de mudas também, devem ser elaboradas, de modo a proteger o produtor
de prejuízos.
As novas normas para registro de azeite comercializados no Brasil,
já em adiantado processo de elaboração (em consulta pública por 60
dias, no site do MAPA), devem imediatamente entrar em vigor, pois a
má qualidade dos azeites expostos nas gôndolas de supermercados tem
trazido prejuízos enormes ao consumidor. Órgãos como o MAPA e a
ANVISA devem ser mais rigorosos na fiscalização dos azeites
comercializados, pois azeite rançoso acelera processos oxidativos no
organismo humano, ao invés de combatê-los como promete as
publicidades dos benefícios do azeite e da dieta mediterrânea.
Após a regulamentação de normas para registro e comercialização de
produtos importados e nacionais no mercado brasileiro, outro desafio
do MAPA seria a montagem de rede interlaboratorial para análise dos
produtos que chegam ao porto e aqueles nas gôndolas dos
supermercados. Para a classificação como virgem extra é necessário a
montagem de grupos brasileiros para Pannel Test, para análise
sensorial dos produtos.
3.6 Desafios na
pesquisa
Durante todo este documento foram claramente expostos os imensos
desafios na área de pesquisa da cadeia produtiva das oliveiras.
Desafios na obtenção de cultivares mais adaptados as condições
subtropicais, desafios para obtenção de técnicas de manejo de
cultura exótica em nossas condições, desafio na conscientização e
transferência de conhecimentos a agricultores, agroindústria,
consumidores, comerciantes e legisladores. Desafios na busca de
financiamento para pesquisa com cultura exótica e de risco. Desafios
no convencimento de que é importante o estudo da cultura, pois
investidores estão injetando recursos em investimento com baixo
nível de conhecimento tecnológico. Muitos experimentos, ensaios, testes, análises em
condições locais devem ser conduzidos para confirmar ou não as
informações trazidas neste texto, muitas delas obtidas na literatura
internacional.
Referências
citadas
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PANELLI, G.
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VIERA NETO, J.
OLIVICULTURA: Situação e Resultados de Pesquisas
Dados para citação bibliográfica(ABNT): BERTONCINI, E.I.; TERAMOTO, J.R.S; PRELA-PANTANO Desafios para produção de azeite no Brasil. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/DesafioOliva/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 07/10/2010 |