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Benefícios dos coleópteros coprófagos para a pecuária: controle biológico, estrutura, fertilidade e ciclagem de nutrientes do solo

 

Marcus Alvarenga Soares1
Lucas do Nascimento Miranda Fagundes
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Em ecossistemas naturais, pastagens ou culturas agrícolas existem organismos que desempenham atividades benéficas para o homem, tais como a polinização, decomposição, predação, dispersão de sementes e reciclagem de nutrientes do solo. Alguns desses organismos são os coleópteros.

A ordem Coleoptera, maior ordem dos insetos, contém cerca de 40% das espécies conhecidas dessa classe e compreendem os insetos conhecidos, vulgarmente, como besouros (LARA, 1992) que se distinguem facilmente pela presença dos élitros. Muitas famílias de coleópteros são altamente especializadas no nicho ecológico que ocupam, assim são relevantes para a pecuária, contribuindo para a ciclagem da matéria orgânica e para a sanidade de animais.

Com importante função no ambiente onde habitam os besouros coprófagos, atualmente, são o meio mais prático e viável de que se dispõe para a desestruturação das fezes de bovinos em pastagens. As atividades desses coleópteros além de auxiliar no melhor aproveitamento da pastagem colaboram também, para a redução populacional de organismos indesejáveis (FONSECA; KERR, 2005). As porções de fezes que esses insetos enterram em profundidades variáveis no solo e as galerias que escavam nesse processo alteram as características físico-químicas do solo (BRUSSAARD; RUNIA, 1984; KALISZ; STONE, 1984), reciclando o nitrogênio e outros nutrientes (HAYNES; WILLIANS, 1993) com o beneficio de plantas ali estabelecidas (ALVES; NAKANO, 1977; HAYNES; WILLIANS, 1993; MIRANDA; SANTOS; BIANCHIN, 1998).

A pecuária, de forma geral, enfrenta diversos problemas sanitários no rebanho, sendo as mosca-dos-chifres [Haematobia irritans (Muscidae)] e as helmintoses bastante comuns. No caso da mosca, vários métodos químicos já foram utilizados para combatê-la. No entanto, o uso desordenado de agrotóxicos tem causado um significativo impacto ambiental, além de aumentar os custos de produção. Outra desvantagem do controle exclusivamente químico é que os parasitos criam resistência ao princípio ativo do produto. As mosca-dos-chifres causam prejuízos ao rebanho, reduzindo o ganho de peso e aumentando o índice de mortalidade.

 

Proliferação de mosca-dos-chifres no gado
Foto: Agrolink 2010

Uma solução natural para combater estes parasitos vem de um pequeno besouro, o Digitonthophagus gazella, mais conhecido como “Rola-Bosta” africano. A grande eficiência está no fato destes insetos enterrarem rapidamente os dejetos dos animais, Interrompendo o ciclo de vida do parasito, que na fase de desenvolvimento imatura, habitam esses dejetos. Portanto, os besouros coprófagos constituem uma maneira econômica e prática de incorporação dessas massas fecais ao solo reduzindo larvas de moscas e nematódeos, além de contribuir para reciclagem de nutrientes na pastagem (QUADROS; FRANCO, 2008).

Além impedir a proliferação da mosca-dos-chifres, existe outros benefícios diretos do besouro africano, como o aumento da fertilidade do solo, aeração e, consequentemente, capacidade de suporte das pastagens, a destruição de larvas de vermes gastrointestinais e a eliminação dos ovos da mosca que se desenvolvem nas fezes frescas dos animais.

 

Coleóptero Digitonthophagus gazella (Scarabaeidae)
Fonte:
GOMEZ, F. HERNANDO

 

É certo que os besouros possuem grande potencial na melhoria da produção do meio onde habitam, pois eles promovem a limpeza das pastagens, destroem larvas de vermes e ovos de moscas maléficos às criações, e também, favorecem o solo incorporando os nutrientes do esterco. Por todas essas vantagens e pela economia com as adubações e uso de agrotóxicos, a preservação dos coleópteros e seu uso como agente de controle biológico é muito vantajosa, principalmente como alternativa às técnicas de controle químico. O uso exclusivo de agrotóxicos pode contaminar o ambiente, provocar surtos de outras pragas e reduzir a atividade da fauna decompositora dos dejetos, aumentando inclusive o volume de resíduos sólidos na pecuária.

  

Referências

ALVES, S. B.; NAKANO, O. Influencia do Dichotomios anaglypticus (Mannerheim, 1829) (Coleoptera; Scarabaeidae) no crescimento de plantas de Napier. Ecossistema, v.2, p.31-37, 1977.

BRUSSAARD, L.; RUNIA, L. T. Recentand ancinte traces of scarab beetles activity in sandy soils of Netherlands. Geoderma, v.34, p.229-250, 1984.

FONSECA, V.M.O. and KERR, W.E. Avaliação de Índice Reprodutivo em Besouros Africanos. Bioscience Journal., Uberlândia, v.21, n.3, p. 61-68, Sept./Dec. 2005.

HAYNES, R.J.; WILLIANS, P.H. Nutrient cycling and soil fertility in the grazed pasture ecosystem. Advances in Agronomy, v.49, p.119-199, 1993.

KALISZ, P. J.; STONE, E. L. Soil mixing by scarab beetles and pocket gophers in North Central Florida. Soil Science Society of America Journal, v.48, p.169-172, 1984.

Lara, F. M. Princípios de entomologia. 3. ed. São Paulo, Ícone, 330 p, 1992. 

MIRANDA, C. H. B.; SANTOS, J. C. C.; BIANCHIM, I. Contribuição de Onthophagus gazella a melhoria da fertilidade do solo pelo enterrio de massa fecal bovina fresca. Revista Brasileira de Zootecnia , v.27, p.681-685, 1998.

QUADROS, D. G.; FRANCO, F. B. Benefícios dos besouros coprófagos à pecuária. Artigo técnico – neppa, UNEB, 2008.


1Professor Doutor em Entomologia

 2Graduando em Engenharia Ambiental

Departamento de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais

Faculdade de Engenharia Universidade do Estado de Minas Gerais



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SOARES, M.A.; FAGUNDES, L.N.M. Benefícios dos coleópteros coprófagos para a pecuária: controle biológico, estrutura, fertilidade e ciclagem de nutrientes do solo. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/ColeopterosCoprofagos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 12/11/2010