Estudo fitossociológico e composição do banco de sementes em dois
sistemas produtivos de
citros: produção integrada e convencional
José Eduardo Borges de Carvalho1;
Introdução
O termo banco de sementes tem sido adotado para designar as reservas de sementes viáveis no solo, em profundidade e na superfície (Roberts, 1981). Para Baker (1989) o banco ou reserva de sementes é uma agregação de sementes não germinadas, mas potencialmente capazes de substituir plantas adultas anuais que desaparecem por causa natural ou não, ou perenes, suscetíveis a doenças, distúrbios ou consumo por animais.
Diferentes sistemas de manejo do solo condicionam as sementes a
microambientes, devido às alterações das propriedades físico-químicas e
das condições da superfície do solo (Mulugueta & Stoltemberg, 1997).
Essas mudanças podem influenciar a germinação e o estabelecimento de
plantas infestantes, devido a criação de condições variáveis de umidade
e aeração. Da mesma maneira, a distribuição das sementes no perfil do
solo pode ser alterada, causando modificações na dinâmica populacional
das plantas daninhas. O preparo convencional do solo incorpora as
sementes de modo mais uniforme no perfil trabalhado, proporcionando a
distribuição horizontal e vertical de sementes das plantas infestantes.
Essa distribuição das sementes no perfil do solo é influenciada pela
freqüência de preparo, dando origem a persistentes bancos de sementes no
solo (Lindquist & Maxwell, 1991; Guersa & Martinez-Guersa, 2000).
Segundo Pitelli (2000), os índices fitossociológicos são importantes
para analisar o impacto que os sistemas de manejo e as práticas
agrícolas exercem sobre a dinâmica de crescimento e ocupação de
comunidades infestantes
Esse trabalho teve como objetivo avaliar a influência de dois sistemas
de produção de citros no banco de sementes de plantas daninhas e estudar
as relações quantitativas entre o banco de sementes do solo e a flora
infestante no pomar. Material e
métodos
O trabalho foi conduzido em um pomar cítrico, instalado no município de
Cruz das Almas – BA, na área experimental do Centro Nacional de Pesquisa
de Mandioca e Fruticultura Tropical da Embrapa, com uma área total
aproximada de
Para caracterização e estudo fitossociológico da comunidade infestante
foi utilizado como unidade amostral um quadrado (0,50 x 0,50m),
lançando-se quatro vezes aleatoriamente nas linhas e entrelinhas da
cultura dos citros
em cada
parcela/tratamento (método quadrado inventário). Em cada quadro
amostrado as plantas foram identificadas segundo família, gênero,
espécie, bem como o número presente de cada uma delas. A partir da
contagem das espécies presentes foram calculados os parâmetros
fitossociológicos. As plantas daninhas presentes foram cortadas rente ao
solo, acondicionadas em sacos de papel e levadas à estufa para obtenção
da massa seca da parte aérea de cada espécie. Resultados e
discussão
Na identificação do número médio de sementes viáveis, utilizou-se como
ferramenta o número médio de plântulas emergidas em bandejas, em casa de
vegetação (Figura 1). O tratamento que propiciou maior número médio de plântulas emergidas na época seca foi o sistema integrado. O fato de esse tratamento ter apresentado um número expressivo de plântulas emergidas em relação ao sistema de preparo do solo convencional pode estar relacionado com o uso das leguminosas nas entrelinhas de plantio. Por essas proporcionarem uma maior cobertura do solo, provavelmente não permitiram a germinação das sementes e posterior emergência das plântulas, contribuindo assim, para um maior estoque de sementes no solo.
Na identificação
das plantas infestantes na área do sistema em produção integrada foram
contabilizadas 12 espécies de dicotiledôneas e nove famílias,
destacando-se a família Compositae, com três espécies. As espécies que
mais ocorreram foram Urtica
dioica (urtica), Ageratum
conyzoides (mentrasto) e
Amaranthus deflexu (bredo), com 42,3, 29 e 21%, respectivamente.
Entre as monocotiledôneas foram identificadas quatro espécies e duas
famílias, destacando-se a família Gramineae, com três espécies. As
espécies que mais ocorreram foram
Commelina virginica (marianinha) e
Cyperus ferax (tiririca), com
68,09, e 27,66%,
respectivamente. Na área com
sistema de produção convencional foram identificadas 12 espécies de
dicotiledôneas e nove famílias, destacando-se as famílias Compositae e
Euphorbiaceae, com três e duas espécies, respectivamente. As espécies
que mais ocorreram foram Ageratum
conyzoides (mentrasto),
Urtica dioica (urtica) e
Blainvillea rhomboidea (picão grande), com 51,6,
17,9 e 16,7%, respectivamente. Entre as monocotiledôneas foram
identificadas cinco espécies e duas famílias, destacando- se a família
Gramineae, com quatro espécies, sendo que as de maior ocorrência foram
Brachiaria decumbens (capim
baquiária), Commelina virginica
(marianinha) e Cyperus ferax
(tiririca), com 50, 29,5 e 13,6%, respectivamente.
Aspectos fitossociológicos da comunidade infestante
Observa-se que no sistema de produção integrada (Figura 2 ) a maior
importância relativa está representada pela população do
Ageratum conyzoides
(mentrasto) e Conyza canadensis
(buva), sendo que para a linha de plantio esse valor corresponde a
80,8%.
Para o sistema de produção convencional (linha), a população de
Ageratum conyzoides
corresponde a 68,5 % da importância relativa. Para entrelinha as
espécies de maior importância relativa foram
Ageratum conyzoides, Brachiaria
decumbens e Conyza canadensis, totalizando 76,7% (Figura 3).
Apresenta-se na Tabela A prática da gradagem propicia a movimentação do solo, transportando as sementes das camadas mais profundas e as expõe para superfície, favorecendo, assim a germinação e posterior emergência causando maiores infestações e competição destas com a cultura, propiciando a diminuição da produtividade. Este efeito é relatado por Blanco & Blanco (1991), onde estes autores afirmam que o preparo do solo tende a estimular a germinação e a emergência das espécies e, provavelmente, pode explicar a menor capacidade de controle das plantas daninhas quando utilizaram-se sistemas de manejo mecanizado. Considerando-se que tanto o feijão de porco quanto a crotalária são plantas leguminosas, o maior controle de plantas daninhas, provavelmente, pode ser explicado por um possível efeito alelopático. De acordo com Tesdale et al. (1991), substâncias alelopáticas e sombreamento determinam variações nas intensidades de emergência das espécies daninhas.
Conclusão
Na área de preparo
do solo em sistema de produção integrada, ocorreu maior número de
sementes viáveis, destacando-se entre as dicotiledôneas a família
Compositae e entre as monocotiledôneas a família Gramineae. Na área
convencional, entre as dicotiledôneas destacaram-se a família Compositae
e Euphorbiaceae e, entre as monocotiledôneas, a gramineae.
No estudo fitossociológico, a população de maior importância relativa no
sistema de produção integrada foi
Ageratum conyzoides, seguida da
Conyza
canadensis. No convencional
essa importância está representada pelo
Ageratum conyzoides e
Brachiaria decumbens.
O sistema de produção integrada
promoveu maior controle das plantas infestantes.
Referências bibliográficas
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M.A.; PARKER, V.T.; SIMPSON, R.L. (Eds.).
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London: Academic Press, 1989. Cap. 1, p.5-19
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plantas daninhas anuais.
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v.26, n.2, p.215-220, 1991.
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LINDQUIST, J.L.; MAXWELL, B.D. The horizontal dispersal pattern of weed
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Weed Science.,
v.45, p.234-241, 1997.
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agroecossistemas.
J. Conserb,
v.1, n.2, p. 1-7, 2000.
ROBERTS, H.A. Seed banks in the soil.
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v.6, p.1-55,1981.
TEASDALE, J.R.; BESTE, C.E.; POTTS, W.E. response of weeds to tillage
and cover crop residue. Weed
Sci., v.39, p.195-199, 1991.
1Pesquisador
da Embrapa Mandioca e
Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44.380-000, Cruz das Almas, BA.
jeduardo@cnpmf.embrapa.br,
claudio@cnpmf.embrapa.br
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