Critérios
essenciais na escolha de um agrotóxico:
eficiência e comportamento ambiental
Rômulo Penna Scorza Júnior
Os
agrotóxicos têm sido utilizados na agricultura moderna como insumos
importantes com o objetivo de garantir patamares elevados de
produtividade e, consequentemente, maior possibilidade de retorno
econômico da atividade agrícola. Geralmente, os agrotóxicos representam
uma parcela significativa do custo de produção de uma determinada
cultura. Assim, a eficiência de um agrotóxico, ou seja, a relação entre
os resultados obtidos com seu uso para o controle de pragas, doença e
plantas daninhas e os recursos empregados para tal deve ser a melhor
possível. Inúmeros são os fatores relacionados à eficiência do uso de
agrotóxicos como, por exemplo, dose aplicada, época de aplicação,
condições climáticas no momento da aplicação, tecnologia de aplicação
etc.
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Aplicação de agrotóxico
Foto: Edvaldo
Sagrilo |
Mais
recentemente, outro critério muito importante na escolha de um
agrotóxico, além de sua eficiência, é o seu comportamento ambiental. O
conhecimento do comportamento ambiental de um agrotóxico é necessário
para diminuir possíveis impactos da atividade agrícola ao meio ambiente
e, em particular, aos recursos hídricos (água subterrânea e
superficial). Os agrotóxicos quando aplicados às plantas ou ao solo
passam por diferentes processos, que são importantes para caracterizar o
seu comportamento ambiental e seu potencial de contaminação ambiental.
Dentre os
principais processos, dois merecem destaque especial que são a
lixiviação e a degradação. A lixiviação corresponde ao movimento
vertical do agrotóxico no perfil do solo juntamente com a água que
infiltra neste proveniente da chuva e/ou da irrigação. Com o movimento
descendente do agrotóxico no perfil do solo, este poderá contaminar a
água subterrânea em poços superficiais. Já a degradação corresponde à
transformação do agrotóxico em compostos não tóxicos, diminuindo sua
concentração, permanência e persistência solo. A degradação do
agrotóxico no solo pode ocorrer de forma biológica e/ou química.
O
comportamento ambiental do agrotóxico pode ser estimado com base em
algumas características de sua molécula. Duas características
importantes são o *tempo de permanência* do agrotóxico no solo e sua
*afinidade pela água*. Com relação à permanência do agrotóxico no solo,
utiliza-se o valor de meia vida, que se refere ao tempo, em dias,
necessário para que 50% da dose aplicada “desapareça” ou degrade no
solo. Por exemplo, suponha que dois agrotóxicos apresentem a mesma
eficiência para o controle de determinada planta daninha, mas possuem
valores de meia vida iguais a 30 e 180 dias. Assim, o agrotóxico que
possui meia vida de 30 dias deve ser escolhido já que permanecerá menos
tempo no ambiente e, portanto, menor será seu potencial de contaminação.
Com relação à afinidade dos agrotóxicos pela água, existem aqueles com
baixa, moderada e alta afinidade.
Os
agrotóxicos com alta afinidade pela água têm maior potencial de serem
levados juntamente com a água que infiltra no solo e, portanto,
contaminarem as águas dos poços superficiais. Da mesma forma, suponha-se
que dois agrotóxicos têm a mesma eficiência para o controle de
determinada planta daninha, mas possuem alta e baixa afinidade pela água
e, na propriedade onde será usado, existam poços superficiais onde
coleta-se água para consumo humano a dez metros de profundidade. Nesse
caso, deve-se optar por aquele com baixa afinidade pela água, o que
diminui assim o risco de contaminação da água dos poços superficiais.
Enfim, os
exemplos citados acima deixam claro que pode-se ter agrotóxicos com
eficiência semelhantes mas com comportamento ambientais diferentes.
Infelizmente, informações sobre o comportamento ambiental dos
agrotóxicos são pouco conhecidos pelos técnicos, dificultando uma
análise mais criteriosa antes da tomada de decisão sobre qual agrotóxico
usar. Uma recomendação seria conhecer as vulnerabilidades de sua
propriedade como, por exemplo, recursos hídricos, e solicitar ao técnico
a decisão sobre o uso de um agrotóxico não somente com base na sua
eficiência e custo, mas também com base na sua periculosidade ambiental.
Rômulo Penna
Scorza Júnior
Foto:
Embrapa Agropecuária Oeste
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Rômulo Penna
Scorza Júnior
possui graduação em
Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (1994), mestrado
em Agronomia (Entomologia) pela Universidade Federal de Lavras
(1997) com ênfase no comportamento de inseticidas no ambiente
solo e doutorado em Ciências Ambientais pela Wageningen
University and Research Centre (2002) WUR/ALTERRA com ênfase na
modelagem matemática e simulação da dinâmica de pesticidas em
solos. Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), na unidade da Embrapa
Agropecuária Oeste em Dourados, MS. Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase em Poluição do Solo, Física do Solo,
Comportamento de Pesticidas no Solo, atuando principalmente nos
seguintes temas: contaminação ambiental por pesticidas,
modelagem matemática e simulação da lixiviação de pesticidas e
dinâmica de pesticidas no ambiente solo.
Contato:
romulo@cpao.embrapa.br
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Reprodução autorizada desde
que citado a autoria e a fonte
Dados para citação
bibliográfica(ABNT):
SCORZA JÚNIOR, R.P..
Critérios essenciais na escolha de um agrotóxico: eficiência
e comportamento ambiental.
2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/agrotoxicos/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos
em 14/12/2010
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