Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Importância da qualidade sanitária de sementes de florestais na produção de mudas Marta Helena Vechiato As compensações ambientais como a reposição obrigatória de mata nativa nas propriedades rurais e a recuperação de áreas degradadas, visando atender a rigor das leis federais e estaduais, propiciaram o aumento na demanda de sementes de espécies florestais que constituem insumo básico nos programas de recuperação e conservação de ecossistemas. Desta forma, as sementes de espécies florestais ganharam grande importância para a formação de mudas a serem utilizadas em programa de reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, arborização urbana e a preservação das espécies em extinção, entre outras atividades, que necessitam deste insumo. O segmento das espécies florestais vem se organizando de forma efetiva com legislações próprias para atender a demanda de sementes de boa qualidade sanitária e fisiológica. Entretanto, a produção de sementes florestais não é tão simples, pois a maioria das matrizes encontra-se em reservas onde é proibida a extração de material. Sendo assim, os viveiristas são obrigados a coletar apenas em locais permitidos e aperfeiçoar o uso das amostras. Outra dificuldade é a falta de garantia da qualidade do lote que estão adquirindo. O estabelecimento de Programas de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) necessita de mudas provenientes de sementes com diversidade de espécies e variabilidade genética. Neste contexto, a qualidade sanitária, fisiológica, física e genética das sementes assume grande importância, tendo em vista que as mudas formadas a partir delas irão refletir na sua capacidade em originar plantas sadias. As sementes de essências florestais possuem, de maneira geral, baixas porcentagens de germinação, pois os micro-organismos podem causar anormalidades e lesões nas plântulas, bem como deterioração de sementes. Os maiores problemas ligados a doenças ocorrem durante a germinação e formação de mudas em viveiro, e são geralmente causados por fungos. Entre os fatores que podem afetar a qualidade das sementes florestais estão sem dúvida os de caráter fitossanitário, entre os quais se destacam os fungos. Para a obtenção de sementes de boa qualidade há necessidade da implantação de um programa de certificação de sementes. Essa implantação tem sido dificultada pela ausência de informações oriundas de pesquisa sobre a patogenicidade dos fungos associados às sementes de florestais, métodos eficientes de detecção, taxa de transmissão e danos ocasionados à cultura subsequente, bem como a eficiência de produtos químicos e alternativos para o seu tratamento. A inclusão de padrões sanitários em sementes de florestais, visando o controle da qualidade de sementes e mudas produzidas, é estratégica para dificultar a introdução e disseminação de patógenos. Os métodos utilizados para detecção de fungos, mitospóricos ou anamórficos, recomendados e que podem ser utilizados em sementes de florestais são: método do papel de filtro (blotter-test), papel de filtro modificado com congelamento (deep-freezer) e método do plaqueamento em meio de cultura. Amostras de sementes de Aroeira Brava (Lithraea brasiliens), Aroeira Preta (Myracrodrun urundeuva), Ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa), Pau-jangada (Apeiba tibourbou), Acácia-australiana (Acácia mangium), Eucalipto citriodora (Eucalyptus citriodora), Cedro Rosa (Cedrela fissilis), Leucena (Leucaeana leucocephala), Pinus (Pinnus taeda ), Pinus (Pinnus elliottii), Jacarandá-paulista (Machaerium villosum) e Jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) foram analisadas para sanidade visando a detecção de fungos no Laboratório de Patologia de Sementes, do Centro de P&D de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico, empregando-se o método do papel de filtro (Figura 1). Este método permitiu a identificação de 18 gêneros de fungos: Pestalotia, Botrytis, Phoma, Coletotrichum, Alternaria, Phomopsis, Macrophomina, Stemphylium, Exerohilum, Curvularia, Fusarium, Cladosporium, Epicoccum, Nigrospora, Rhizopus, Trichoderma, Aspergillus e Penicillium.
Em outros trabalhos realizados, objetivando o conhecimento de fungos associados às sementes florestais, foram encontrados os seguintes gêneros de fungos: Alternaria, Aspergillus, Botryodiplodia, Chaetomium, Cladosporium, Curvularia, Cylindrocladium, Diplodia, Fusarium, Gilmanielia, Helminthosporium, Macrophomina, Monocillium, Nigrospora, Penicillium, Pestalotia, Phoma, Pithomyces, Peyroneleaea, Oidiodendron, Rhizoctonia, Torula, Trichoderm e Verticillium. Como mostra a Figura 1, os gêneros de fungos que apresentaram as maiores incidências foram Penicillium (Figura 2) em Pinus taeda (99,5%), P. elliotii (99,0%), Aroeira preta (93,0) e Pau-jangada (78,0%) e Aspergillus (Figura 3) em Leucena (98,25%) e Cladosporium (97,25) em Jacarandá-paulista.
Os fungos associados às sementes podem ser divididos em dois grupos: campo e armazenamento. Os fungos de campo estabelecem-se na semente durante o período de crescimento e maturação, ou seja, antes da colheita. Após essa fase, o grupo denominado de fungos de armazenamento pode invadir a semente, tendo como principais representantes os gêneros Aspergillus e Penicillium, que causam podridão e deterioração das sementes. Estes danos ocorrem, sobretudo, quando as sementes apresentam teor de umidade em torno de 25%. Os fungos podem estar presentes como contaminantes ou sob a forma de micélio dormente, uma vez que sobrevivem nas sementes mesmo quando apresentam baixos conteúdos de umidade. Espécies de Aspergillus sp. são consideradas indicadoras da deterioração das sementes e grãos, causando danos, descoloração e alterações nutricionais. Este fungo pode crescer com menor teor de água, seguindo-se, após a contaminação, por Penicillium sp., cuja necessidade por umidade é mais elevada, desenvolvido em função da atividade metabólica dos primeiros invasores. Cladosporium quando detectado em alta incidência, também pode reduzir o poder germinativo das sementes. Dos fungos detectados, os gêneros Pestalotia (Figura 4), Botrytis (Figura 5), Phoma, Coletotrichum, Alternaria (Figura 6), Phomopsis, Macrophomina, Stemphylium, Exerohilum, Curvularia e Fusarium são considerados potencialmente patogênicos às sementes de florestais, podendo ocasionar podridão, manchas foliares e danos em plântulas. Dos fungos citados, os que apresentaram incidências expressivas foram: Phomopsis (83,0%), Macrophomina (44,5%), Stemphylium, (52,0%) e Fusarium (34,5%).
O gênero Phomopsis, detectado em alta incidência (83,0%) em Jacarandá-da-bahia, é responsável pela deterioração da qualidade das sementes, causando, frequentemente, o seu apodrecimento. Macrophomina, Stemphylium e Fusarium sp. também detectados em porcentagens expressivas; são fungos relatados como possíveis patógenos a várias espécies florestais. Espécies de Fusarium como solani e oxysporum são agentes causais de podridão de colo e raízes e doenças vasculares, respectivamente. Já os fungos Epicocum, Nigrospora e Trichoderma são saprófitas e comumente detectados em sementes submetidas à análise de sanidade quando se utiliza o método do papel de filtro. Os demais fungos foram detectados em baixa a moderada incidência, porém são considerados potencialmente patogênicos às espécies florestais como: Pestalotia, Botrytis, Phoma, Alternaria, Colletotrichum e Exerohilum. Embora esses fungos tenham apresentado incidências de baixa à moderada, nada se pode afirmar no que diz respeito aos danos que eles podem causar, haja vista não existir resultados de pesquisa sobre taxas de transmissão e modelos epidemiológicos os quais possam quantificar os danos que os fungos associados às sementes de florestais causam à planta subsequente. Os resultados obtidos nas análises realizadas mostram que a flora fúngica associada às sementes de florestais é composta por vários gêneros de fungos, que podem de alguma forma interferir na produção de mudas, reduzindo o número de plantas emergidas e contaminando o substrato, refletindo na qualidade sanitária da muda produzida e acarretando prejuízos ao produtor. Entre as medidas preventivas para evitar perdas em sementes de florestais, recomenda-se a utilização de sementes de boa qualidade sanitária, empregando-se algumas técnicas de manejo como a colheita das sementes antes do período de maturação e seu respectivo tratamento com produtos químicos e alternativos, além da utilização de substratos sem contaminação. O tratamento biológico, especialmente em sementes de florestais, é uma alternativa extremamente desejável, pois é um método não poluente, não agride o meio ambiente, exerce controle por meio do desequilíbrio ecológico nos patógenos alvo, e oferece uma ação mais duradoura que os controles químicos e físicos. Algumas formulações como de Trichoderma harzianum (óleo emusionável e solução de esporos puros) têm se mostrado promissoras no controle biológico de fungos em sementes de florestais. ReferênciasBarbosa, J.M.; Santos Jr, N.A. Produção e tecnologia de sementes aplicadas à recuperação de áreas degradadas. 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mestrado em Fitopatologia pela Faculdade de Ciências Agronômicas - Unesp
(1996) e doutorado em Agronomia (Proteção de Plantas) pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002). Atualmente é
pesquisador científico do Instituto Biológico,
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade
Vegetal. Tem experiência na área de Agronomia,
com ênfase em Fitopatologia, atuando principalmente nos seguintes temas:
sementes, fungos, patologia de sementes, métodos de detecção, PCR e
controle quimico.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): VECHIATO, M.H. Importância da qualidade sanitária de sementes de florestais na produção de mudas. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/SementesFlorestais/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 20/07/2010 |