Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Bioecologia de Rhyzopertha dominica (Fabricius) 1972 (Coleoptera: Bostrycidae)
Luidi Eric Guimarães
Antunes A Rhyzopertha dominica (Fabr.) (figura 1), conhecida como besourinho dos cereais, é um coleóptero da família Bostrychidae que destrói consideravelmente os grãos deixando-os perfurados e produzindo grande quantidade de resíduos na forma de farinha em decorrência de seus hábitos alimentares, chegando a destruir de 5 a 6 vezes o seu próprio peso em uma semana (Poy, 1991). É a principal praga do trigo armazenado no nosso país, sendo considerada uma das pragas mais destrutivas de grãos armazenados no mundo, devido à alta incidência e a grande dificuldade de se evitar os prejuízos que causa aos grãos (Lorini, 2008) (figura 2). Este inseto pode ser considerado como o menor broqueador dos cereais que existe, o adulto mede de 2 a 3 mm (Loeck, 2002).
Tanto adultos como larvas causam danos aos grãos armazenados, alimentando-se do grão por inteiro, e possuem grande número de hospedeiros como trigo, cevada, triticale, arroz em casca e aveia. Esta praga é capaz de sobreviver e se desenvolver no resíduo produzido de sua alimentação (Koehler, 1994). A infestação ocorre normalmente no armazenamento, sendo raro o ataque no campo (Gallo et al., 2002). Logo após a emergência os adultos acasalam e existindo condições favoráveis o período de postura pode durar até quatro meses, sem que ocorra um pico definido. Cada fêmea oviposita de 200 a 500 ovos e estes podem ser colocados isoladamente ou em grupos de até 30 ovos, sua postura ocorre na parte externa dos grãos ou mesmo na poeira produzida pela infestação destes insetos na massa de grãos (Dobie et al., 1984; Gallo et al., 2002; Koehler, 1994). De acordo com Evans (1981) e Velasquez & Trivelli (1983) a larva, após a eclosão, cava a sua entrada no grão onde irá passar todos os instares, geralmente quatro, e a fase de pupa, saindo somente do grão na fase de adulto. Dependendo da situação a larva pode ficar na poeira ou farinha nutritiva até alcançar o terceiro ínstar antes de entrar no grão. Diferente de outros insetos, este não apresenta canibalismo caso ocorra mais de uma larva num mesmo grão. Segundo esses autores o ciclo deste inseto pode ser completo numa faixa de 20 a 38 °C, sendo o ótimo entre 32 e 35 °C com 70% UR. Nessa mesma umidade com uma temperatura de 34 °C o ciclo é completo em 25 dias, já com 22 °C duraria 84 dias. Na fase de larva este inseto apresenta uma peculiaridade: o primeiro ínstar, campodeiforme, é ativo e penetra em qualquer fenda do tegumento dos grãos; o segundo instar é menos ativo, porém ainda movi-se; o terceiro ínstar, escarabeiforme, aparentemente é incapaz de se locomover em uma superfície plana; já o quarto ínstar é semelhante ao terceiro (Potter, 1935). De acordo com Potter (1935) o ovo é cilíndrico, porém a forma é variável, inicialmente branco e posteriormente rosado e opaco, com comprimento de 0,59 mm e diâmetro de 0,2 mm. As larvas são brancas com cabeça escura do tipo escarabeiforme, seu corpo é robusto, encurvado, com os segmentos torácicos mais desenvolvidos que os abdominais, segmentos meso e metatorácicos e segmentos abdominais de I a V, cada um com três dobras dorsais; pernas com uma garra; cabeça pequena; retraída dentro do protórax e corpo coberto com densa pilosidade (Athié & Paula, 2002). Quando completamente desenvolvida a larva apresenta um comprimento médio de 2,8 mm. Nas pupas é possível realizar a sexagem dessa espécie, pois segundo Halstead (1963) a pupa do macho apresenta papilas genitais convergentes, bissegmentadas e não protuberantes, enquanto a pupa da fêmea possui papilas genitais divergentes, trissegmentadas e protuberantes. As pupas, inicialmente, apresentam coloração branca e quando próximo a emergência do adulto sua coloração é castanha, possuem 3,9 mm de comprimento e 1,0 mm de largura do corpo, aproximadamente. Os adultos apresentam coloração castanha a marrom-escura; corpo cilíndrico; cabeça ventralmente ao protórax; antena com dez segmentos, os três últimos formando uma clava livre segmentada; pronoto arredondado anteriormente e de aparência rugosa; escutelo quadrangular; élitros fortemente esclerosados, apicalmente convexos, com fileiras de pontuações bem definidas e com cerdas curvas (Velasquez & Trivelli, 1983; Dobie et al., 1984). Esta espécie adapta-se rapidamente às mais diversas condições climáticas e sobrevive mesmo em temperaturas extremas. Tem apresentado resistência a fumigantes à base de fosfeto (Lorini et al., 2002). Referências bibliográficas - Athié, I.; Paula, D. C. Insetos de Grãos Armazenados Aspectos Biológicos e Identificação. Varela, 2° edição, p. 28-34, 2002. - Dobie, P.; Haines, C. P.; Hodges, R. J.; Prevett, P. F. Insects and arachnids of tropical stored products, their biology and identification: a training manual. UK, Tropical Development and Research Institute, 1984. 273p. - Evans, D. E. The biology of stored products Coleoptera. In: Proc. Aust. Dev. Asst. Course on Preservation of Stored Cereals, 1981, p.149-185. - Gallo, D., O. Nakano, S.S. Neto, R.P.L. Carvalho, G.C. Batista, E.B. Filho, J.R.P. Parra, R.A. Zucchi, S.B. Alves, J.D. Vendramim, L.C. Marchini, J.R.S. Lopes & C. Omoto. 2002. Entomologia agrícola. Piracicaba, FEALQ, 920p. - Halstead, D. G. H. External sex differences in stored-products Coleoptera. Bulletin of Entomological Research, London, 54: 119-134, 1963. - Koehler, P. G. Lesser grain borer, Rhyzopertha Dominica (Coleoptera: Bostrichidae). University of Florida, Institute of Food and Agricultural Sciences. Disponível em: <http://edis.ifas.ufl.edu/BODY_IG117>. Acesso em: maio 2010. - Loeck, A. E. Praga de Produtos Armazenados. Pelotas, RS, EGUFPEL, 113p., 2002. - Lorini, I. Manejo Integrado de Pragas de Grãos de Cereais Armazenados. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2008. 72p. - Lorini, I.; Miike, L. H.; Scussel, V. M. Armazenagem de Grãos. Campinas, SP: Instituto Biogeneziz, 2002. v. 1. 1000 p. - Potter, C. The biology and distribution of Rhizopertha dominica (Fab.). Transactions of the Royal Entomological Society of London, v.83, p.449-482, 1935. - Poy, L. de A. Ciclo de vida de Rhyzopertha dominica (fabricius, 1972) (col., Bostrychidae) em farinhas e grãos de diferentes cultivares de trigo. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1991. 135p. Dissertação mestrado. - Velasquez, C. A.; Trivelli, H. D. Distribucion y importância de los insectos que dañan granos y productos almacenados em Chile. Santiago, Chile, Instituto de Investigaciones Agropecuárias (FAO), 1983, 67p.
Luidi Eric Guimarães Antunes é
Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul no ano de 2008, atualmente mestrando do PPG-Fitotecnia -
UFRGS com ênfase em entomologia agrícola, bolsista CAPES.
Rafael Gomes Dionello é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Pelotas - RS no ano de 1998, mestrado pela Universidade Federal de Pelotas - RS 1999 com ênfase em pós-colheita, doutorado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense com ênfase em pós-colheita, atualmente é professor adjunto da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): ANTUNES, L.E.G.; DIONELLO, R.G. Bioecologia de Rhyzopertha dominica (Fabricius) 1972 (Coleoptera: Bostrycidae). 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/Rhyzopertha/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 07/07/2010 |