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Efeito de óleos vegetais no controle de Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides

Waléria Guerreiro Lima1,
Péricles de Albuquerque Melo Filho
1,
Marcos Paz Saraiva Câmara
1,
Roseane Cavalcanti dos Santos
2,
Cláudio Augusto Gomes da Câmara
1,
Adriano Márcio da Silva
1,
Adriano Márcio Freire da Silva
1,
Alessandra de Lima Garcia
1,
Cíntia Sousa Bezerra
1

 

INTRODUÇÃO

Dentre as principais doenças do algodoeiro no Brasil, destaca-se a ramulose, causada pelo fungo Colletotrichum gossypii South. var. cephalosporioides Costa, como uma das mais importantes dentre as de origem fúngica e bacteriana, principalmente na região do Cerrado (CIA e FUZATTO, 1999). O patógeno causa o aparecimento de manchas necróticas nas folhas. O tecido necrosado rasga-se e destaca-se, originando lesões perfuradas. Por último, são observadas ramificações dos galhos, internódios curtos e intumescidos, deixando a planta com aspecto ramalhudo, caracterizando o principal sintoma conhecido que define o nome da doença.

A exploração da atividade biológica de compostos secundários presentes no extrato bruto ou óleos essenciais de plantas, pode constituir, ao lado da indução da resistência, em uma forma alternativa de controle de doenças nas plantas cultivadas. A grande vantagem do uso desse sistema de proteção é o largo espectro de ação, aliado à estabilidade e eficiência prolongada desses novos produtos. Sabe-se que alguns destes compostos secundários, especialmente os encontrados em óleos vegetais, têm demonstrado papel importante no controle de alguns microrganismos

Relatos na literatura têm indicado que os óleos essenciais das plantas medicinais Lippia sidoides, Carapa guianensis, Copaifera reticulata e Piper aduncum foram eficientes no controle de Fusarium spp. em sementes de milho, embora o óleo de L. sidoides tenha apresentado efeito alelopático, inibindo a germinação das mesmas (PESSOA, 1998). Óleos essenciais e hidrolato de Cymbopogon citratus, Eucalyptus citriodora, Lavandula sp. e Ocimum basilicum foram eficientes no controle de Curvularia sp., Cercospora kikuchii, Fusarium semitectum, Aspergillus sp. e Penicillium sp. em sementes de soja (CRUZ, 1999). Zambonelli (1996) reporta que os óleos essenciais de Thymus vulgaris, Lavandula sp. e Mentha piperita inibiram o crescimento micelial de Rhizoctonia solani, Pythium ultimum var. ultimum, Fusarium solani e Colletotrichum lindemuthianum. Potencialmente, esses produtos poderiam ser utilizados no controle de fitopatógenos, pela ação fungitóxica direta ou fungistática, ou pela inibição do crescimento micelial e germinação de esporos (FURLAN, 1998).

Esse trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de óleos essenciais de cinco espécies vegetais na inibição do crescimento micelial, germinação de conídios e formação de apressórios de C. gossypii var. cephalosporioides, visando gerar conhecimentos que possibilitem uma posterior alternativa de controle do fungo.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos nos Laboratórios de Micologia e Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Foram utilizados óleos essenciais extraídos de folhas de kenaf (Hibiscus cannabinus), folhas de citronela (C. nardus), folhas de eucalipto (E. citriodora) Pipper marginatum, frutos de acerola (Malpighia glabra) e folhas de Lippia gracilis. A extração foi realizada no aparelho Clevenger de acordo com a metodologia descrita por Rassoli e Mirmostafa (2003). Foi utilizado o isolado de C. gossypii var. cephalosporioides Cgc 287, obtido da cultivar de algodão BRS Aroeira exibindo sintomas típicos da doença e proveniente do município de Montvidéu – GO

Para avaliar a inibição do crescimento micelial, os óleos essenciais foram adicionados em meio de cultura BDA fundente (45 – 50 ºC) o qual foi vertido em placas de Petri. Os tratamentos foram compostos por seis dosagens de cada óleo nas concentrações de 0, 500, 1000, 1500, 2000 e 2500 ppm, com sete repetições cada e em delineamento inteiramente casualizado. No centro de cada placa foi depositado um disco de meio BDA (diâmetro 0.8 cm) contendo micélio de C. gossypii var. cephalosporioides com sete dias de crescimento. As placas foram incubadas à temperatura de 25 ºC e fotoperíodo de 12 horas. A partir da incubação, foi mensurado o diâmetro médio das colônias a cada 24 horas, através da medição em dois sentidos diametralmente opostos, até a testemunha alcançar as bordas da placa. A percentagem de inibição do crescimento micelial foi estimada segundo metodologia descrita em Edginton et. al. (1971).

Para avaliar a germinação e formação de apressórios dos conídios, utilizaram-se as mesmas concentrações testadas no ensaio anterior e a metodologia para adição dos óleos ao meio. Em seguida, preparou-se uma suspensão de conídios na concentração de 2 x 104 conídios/ml. Alíquotas de 100 ul dessa suspensão foram pipetadas nas placas contendo o meio com as concentrações do óleo. Para cada concentração, utilizou-se uma placa contendo cinco lamínulas nas quais avaliou-se, aleatoriamente, 50 esporos em cada uma. As placas foram incubadas à temperatura de 25 ºC e fotoperíodo de 12 horas durante 24 horas. Foram considerados como esporos germinados somente aqueles que apresentaram comprimento do tubo germinativo correspondente a 50% ou mais do comprimento.

Em ambos os experimentos procedeu-se a análise de regressão linear visando selecionar os modelos que propiciassem os melhores ajustes às curvas de percentual de inibição de crescimento, germinação e formação do apressório, com base no coeficiente de determinação (R2) e no quadrado médio do resíduo (QMR). Todas as análises foram efetuadas com auxílio do programa SAEG 9.01 (Sistema de Análises Estatística e Genética, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG, 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se, pela análise da regressão, que houve redução do crescimento micelial de C. gossypii var. cephalosporioides em função da concentração da maioria dos óleos estudados. Os óleos de piper e lípia apresentaram maior efeito na redução do crescimento do fungo. Já nas concentrações superiores a 2000 ppm, o óleo citronela controlou o crescimento micelial (Figura 1A). O óleo de eucalipto só surtiu efeito a 2500 ppm, enquanto que os de acerola e kenaf foram ineficientes para este fungo, nas dosagens avaliadas.

 

Figura 1: Percentual de inibição de C. gossypii var. cephalosporioides sob diferentes concentrações de óleos essenciais. A. Crescimento micelial (PIC); B. Germinação (PIG); C Formação de apressórios (PIFA).

Nos ensaios de inibição da germinação e formação de apressórios, observou-se que em ambos os casos houve inibição. Os óleos de eucalipto, lipia e citronela foram os mais responsivos com inibição da germinação e na formação de apressórios na ordem de 60, 40 e 100%, respectivamente, a partir de 1500 ppm (Figuras 1B e 1C).

Considerando a inibição do crescimento micelial do fungo como um efeito fungistático e a inibição da germinação e formação de apressórios como efeito fungicida, verifica-se que, in vitro, o óleo de citronela apresenta ambos os efeitos, uma vez que foi capaz de atuar tanto na inibição do crescimento micelial, da germinação e da formação de apressório pelo fungo. Outro óleo também revelado com potencial para controle de C. gossypii var. cephalosporioides é o de lípia, especialmente na inibição da germinação do fungo, sendo portanto de maior efeito fungistático (Figuras 1A, B e C).

Quando extrato bruto aquoso de E. citriodora foi utilizado por Bernardo et. al. (1998) para controle de C. graminicola, ocorreu um estímulo à germinação dos esporos, embora tenha reduzido entre 14 e 34% a formação de apressórios em concentrações do extrato acima de 10% (BONALDO et. al 1998). No presente estudo, o primeiro efeito não foi verificado sobre C. gossypii var. cephalosporioides, havendo redução na germinação de conídios a partir de 1000 ppm.

Estudos in vitro realizados por Albuquerque et al. (2006), testando o óleo bruto de lípia no controle de fungos contaminantes de laboratório mostraram que Geotrichum candidum, Trichoderma viride, Torula herbarum, Paecillomyces sp., P. aeruginens, Aspergillus nidulans, A. flavus e Fusiococcum sp. foram inibidos totalmente na concentração mínima de 420 ppm do óleo bruto.

Bastos e Albuquerque (2004) citam que espécies do gênero Piper (Piperaceae), são amplamente utilizadas na medicina popular em função das propriedades antimicrobianas exibidas por seus constituintes. Segundo esses mesmos autores, o óleo essencial de Piper aduncum L., in vitro, inibiu 100% do crescimento micelial e da germinação de conídios de Colletotrichum musae em concentrações de 100 e 150 μg/ml. Aqui, esse óleo apresentou inibição do crescimento micelial de C. gossypii var. cephalosporioides desde a menor concentração testada (500 ppm). Isto sugere que o mesmo pode ser também eficiente em dosagens às utilizadas, contendo mais economicidade no caso de posterior síntese do produto para controle alternativo da ramulose

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE. C.C.; CAMARA, T.R.; MARIANO, R.L.R.; WILLADINO, L.; MARCELINO JR.C.; ULISSES, C. Antimicrobial action of the essential oil of Lippia gracillis Schauer. Brazilian Archives of Biology and Technology. Curitiba, v.49, n.3, p.527-535. 2006.

BASTOS, N.B.; ALBUQUERQUE, P.S.B. Efeito do óleo de Piper aduncum no controle de pós-colheita de Colletotrichum musae em banana. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.29, n.4, p.555 – 557, 2004.

FIORI, A.C.F.; SCHWAN-ESTRADA, K.R.F.; STANGARLIN, J.R.; VIDA, J.B.; SCAPIM, C.A.; CRUZ, M.E.S.; PASCHOLATI, S.F. Antifungal activity of leaf extracts and essential oilsof some medicinal plants against Dydimella bryoniae. Journal of Phytopathology, v.148, n.7/8, p. 483- 488, 2000.

FURLAN, M. R. Cultivo de plantas medicinais. Vol. XIII. Coleção Agroindústria. Sebrae-MT, Cuiabá. 137 p. 1998.

GASPARIN, M.D.G.; MORAES, L.M.; SCHWAN-ESTRADA, K.R.F. Efeito do óleo essencial e do extrato bruto de alho (Allium sativum) no crescimento micelial de Rhizoctonia solani e Alternaria steviae. In: CONGRESSO PAULISTA DE FITOPATOLOGIA, 21, Botucatu. (Resumos), p.102. 1998.

Origem: Artigo publicado originalmente no CD dos Anais da IX Reunião Brasileira sobre Controle Biológico de Doenças de Plantas realizado de 6 a 9 de novembro de 2007, em Campinas-SP


1Departamentos de Agronomia e de Química – Áreas de Fitossanidade e Fitotecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, CEP. 52171-900, Recife, PE. Brasil. wagueli@hotmail.com
2Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 – Centenário, Caixa Postal 174, CEP. 58107-720 – Campina Grande – PB. caval@cnpa.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

LIMA, W.G.; MELO FILHO, P.A.; CÂMARA, M.P.S.; SANTOS, R.C. dos; CÂMARA, C.A.G. da; SILVA, A.M.; SILVA; A.M.F. da; GARCIA, A.L.; BEZERRA, C.S.  Efeito de óleos vegetais no controle de Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/OleosVegetais/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 23/07/2010