Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Desbaste em Tangerinas
Rose Mary Pio Para ter beleza e
doçura, o fruto de uma tangerineira necessita de cuidados especiais.
Além dos tratos culturais adequados como implantação correta da cultura,
com correção do solo, adubação equilibrada e ajustada para as condições
nutricionais da planta, manejo de defensivos conduzidos com critério
para atingir o alvo e agredir menos o meio ambiente, há necessidade de
se adotar outras técnicas que tenham como foco o aumento da
produtividade, mas com qualidade de seu produto.
A
produção de tangerina é destinada, basicamente, ao consumo como fruta
fresca. Este fato aumenta muito a responsabilidade do produtor com
relação ao seu aspecto físico e também ao seu sabor, que no caso do
consumidor brasileiro tem que ser doce e com pouca acidez (Figuras 1 e
2). As variedades cítricas de maneira geral produzem muitas flores e
dependendo da cultivar, somente uma pequena porcentagem têm pegamento,
podendo ser inferior a 0,2%. Entretanto, esse baixo vingamento raramente
é limitante à produção, tendo em vista o elevado número de flores
produzido pela maioria das cultivares, que pode ser de 100.000 a 200.000
por planta adulta.
Mesmo com toda essa queda natural, a produção de frutos ainda é muito
intensa, como é o caso das variedades de tangerinas cultivadas
comercialmente no País. A Ponkan apresenta alternância de produção, isto
é, produz muito em um ano e pouco no ano seguinte. Assim sendo, os
frutos produzidos, no ano com excesso de produção, são de tamanho
pequeno, portanto com menor valor comercial para os padrões nacionais. A
Murcott também floresce em abundância e a taxa de pegamento é bastante
alta. Dessa maneira, os frutos ficam de tamanho pequeno e, em alguns
casos, as plantas sofrem um processo de estresse que pode levá-la a
morte.
As cultivares que apresentam sementes tem uma
porcentagem maior de pegamento, pois o processo de polinização e as
próprias sementes estimulam a síntese de hormônios nos ovários em
desenvolvimento, evitando a queda da flor e do fruto inicial, ou seja,
do ovário logo após a queda das pétalas. Técnicas para se reduzir o
número de frutos como a poda, os raleios manual e químico podem ser
utilizados para amenizar o problema e tornar o fruto de tamanho adequado
para o mercado de fruta fresca. A poda promove a redução da área foliar
e em conseqüência o desequilíbrio carboidrato/nitrogênio. Essa mudança
implica no aumento do crescimento vegetativo e na redução de floração e,
portanto, no declínio da produção. Para o caso das frutas destinadas ao
consumo in natura,
a poda deve ser realizada manualmente, com muito critério para que se
eliminem os ramos improdutivos e se aproveite aqueles com potencial para
produzir frutos. Esse procedimento faz com a planta tenha uma melhor
conformação, inclusive com maior penetração de luz em seu interior,
facilidade para aplicação de produtos fitossanitários e porte menor, o
que favorece a colheita dos frutos (Fig. 3).
A pratica do
raleio, que pode ser químico e/ou manual, permite que a planta “segure”
um número de frutos mais compatível com a sua capacidade de nutri-los de
forma adequada. O raleio químico é realizado com o ácido
2-cloroetilfosfônico (ethephon), ácido giberélico ou auxinas. Importante
saber que a ação desses reguladores depende de uma série de fatores como
cultivar alvo da aplicação, estádio de desenvolvimento das plantas,
condições climáticas, entre outros.
O modo de ação
desses fitoreguladores é diferente, portanto, o momento correto de
aplicação é importante para que a resposta não seja diferente do
esperado (Fig. 4).
O raleio químico
com pulverizações utilizando ethephon, realizado durante a plena queda
natural dos frutos, promove a formação de elevada porcentagem de frutos
grandes e diminui a alternância de produção, produzindo uma boa florada
no ano seguinte. Tem desvantagens como a permanência de frutos que
deveriam ser eliminados no interior da copa, devido às baixas pressões
de pulverização; diminuição do teor de sólidos solúveis no suco dos
frutos e se não ocorrer um ajuste na dosagem, a queda excessiva de
folhas tem sido também notada. O raleio manual já se trata de uma
técnica mais demorada, o que se justifica em pomares menores. Deve-se
adotá-la depois da queda natural dos frutos por dois motivos: diminui o
tempo gasto no trabalho e evita-se o raleio excessivo provocado por
quedas posteriores. Para as nossas variedades comerciais recomenda-se um
desbaste da ordem de 50% a 80% e que a distribuição seja de um fruto por
ramo, distantes num raio de 20 cm. A prática tem mostrado que o
comprimento de uma caneta é a distância ideal para se deixar um fruto do
outro. As figuras 5 e 6 mostram o efeito do raleio manual na produção
por planta e também no peso médio dos frutos da tangerina Ponkan.
Podese notar que a produção por planta cai, mas é compensada com o
aumento do peso do fruto. Neste caso deve-se avaliar se um desbaste mais
suave, da ordem de 50% não é mais vantajoso, pois se aliam um peso mais
adequado ao gosto do consumidor brasileiro e uma produção economicamente
viável.
Para plantios
maiores pode-se esquematizar um raleio químico durante a queda natural
dos frutinhos e depois dessa queda, aplicar o desbaste manual retirando
os frutos excedentes. Vale ressaltar que qualquer que seja a técnica a
ser adotada, a presença de um técnico experiente no assunto é importante
para evitar transtornos de perda de safra do ano e nos subsequentes.
Citações Consultadas Carvalho, J.E.B. de; Neves, C.S.V.J; Menegucci, J.L.P.; Silva, J.A.A. da Práticas Culturais. In: Mattos Junior, J.; De Negri, J. D.; Pio, R.M.; Pompeu Junior, J. (eds.)Citros. Campinas: Instituto Agronômico/Fundag. 449-482, 2005. Domingues, M.C.S.; Ono, E.O.; Rodrigues, J.D. Reguladores vegetais e o desbaste químico de frutos de tangor Murcote. Sci. Agric., v.58, n.3, p.487-490, Piracicaba, 2001. Rufini, J.C. M.; Ramos, J.D. Influência do raleio manual sobre a qualidade dos frutos da tangerineira ´Ponkan`(Citrus reticulata Blanco). Ciênc. Agrotec., Lavras, v.26, n.3, p.516-522, 2002. Sartori, I.A. ; Koller, O.C. ; Theiser, S.; Souza, P.V.D. de ; Bender, R.J. ; Marodin, G.A.B. Efeito da poda, raleio de frutos e uso de fitoreguladores na produção de tangerinas (Citrus deliciosa Tenore). Rev.Bras.Frutic., v.29, n.1,Jaboticabal, p.5-10, 2007. Origem: Instituto Agronômico - www.iac.sp.gov.br
José Dagoberto De Negri é Engenheiro Agrônomo Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): PIO, R.M.; De NEGRI, J.D.; Desbaste em Tangerinas. 2010. Artigo em Hipertexto. disponível em: <http://www.infobibos.com/artigos/2010_3/DesbasteTangerinas/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 25/08/2010 |