Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Defensivos Agrícolas: expectativas de aumento nas vendas em 2010
Celia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira
Celso Luis Rodrigues Vegro Maria de Lourdes Barros Camargo
Em 2009, as quantidades totais vendidas de defensivos agrícolas no
Brasil apresentaram expansão quando comparadas com o ano anterior.
Observou-se que, em termos de produto comercial, foram comercializadas
725.577 t (acréscimo de 7,7% em relação a 2008), correspondendo a
335.816 t de princípio ativo (incremento de 7,4%, no período), de acordo
com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa
Agrícola (SINDAG) (Figura 1).
Comparativamente ao ano anterior, essa expansão em 2009 resultou em
melhores vendas para a cultura da soja, com acréscimo de 16,7% em
quantidade de produto comercial. Outros produtos também tiveram aumento
da demanda de defensivo como algodão (11,9%), milho safrinha (29,1%),
café (9,2%), feijão (12,2%), arroz irrigado (28,3%) e atividade de
reflorestamento. Em contrapartida, registraram decréscimo nas vendas de
milho safra (17,8%), cana-de-açúcar (8,3%) e cítrus (20,9%).
A classe de defensivos que apresentou melhor desempenho comercial foi a
dos fungicidas, cujas vendas em 2009 aumentaram, em quantidade de
produto comercial, 14,5% (em relação a 2008). As vendas desse tipo de
produto para a cultura da soja foram as que mais se destacaram, em
virtude da necessidade de se combater a ferrugem asiática. Cresceram,
também, as vendas de herbicidas (10,3%) e de “outros” (18,9%), enquanto
que as de acaricidas apresentaram queda de 39,6%, em função,
principalmente, dos baixos preços vigentes para a laranja.
O aumento das quantidades comercializadas não causou incremento do
faturamento das indústrias de defensivos agrícolas, pois em 2009, em
valores corrigidos, permaneceu praticamente estável em relação ao
anterior (acréscimo de apenas 1,1%), totalizando aproximadamente de
R$12,88 bilhões. Por outro lado, as vendas em dólar americano
contabilizaram U$6,625 bilhões em 2009, com decréscimo de 7,0%, em
função das taxas cambiais vigentes no decorrer do período.
No Brasil, a classe de herbicidas é a que tem respondido pelo maior
valor das vendas de defensivos. Em 2009, foi responsável por 37,8% do
faturamento total, ou seja, US$2,50 bilhões, enquanto que, em quantidade
de produto comercial, os herbicidas representaram 429.693 t (59,2%). As
vendas de herbicidas estão voltadas, principalmente, para
cana-de-açúcar, soja, milho, algodão, café e pastagem (Figura 2).
Em 2009, os inseticidas movimentaram US$1,99 bilhão, ou seja, 30,0% do
faturamento total do setor; responderam por 19,0% da quantidade total
vendida em produto comercial, que se destinaram principalmente a soja,
algodão, milho 1ª e 2ª safra, cana-de-açúcar, cítrus e café. Do total de
137.908 t vendidas de inseticidas em produto comercial, 89,5% foram
destinadas para aplicação foliar, 6,2% para tratamento de sementes e
4,3% como formicidas.
A comercialização de fungicidas, em 2009, movimentou US$1,79 bilhão no
Brasil, o que correspondeu a 89.889 t de produto comercial e 37.934 t de
ingrediente ativo. As principais culturas consumidoras de fungicidas no
País são: soja, batata-inglesa, cítrus, café, feijão, trigo e tomate.
Os acaricidas, em 2009, foram responsáveis por 1,3% do faturamento total
do setor. O consumo de acaricidas no Brasil está concentrado quase na
sua totalidade em São Paulo. Em 2009, o mercado paulista representou
82,8% das vendas brasileiras em quantidade de produto comercial e 73,8%
do faturamento dessa classe. Isso pode ser explicado pelo fato de a
citricultura ser responsável por 87,5% do valor comercializado de
acaricidas e em São Paulo deter a maior área colhida com laranja no
País.
A soja é a principal consumidora de defensivos no Brasil, sendo
responsável, em 2009, por 47,1% do valor total das vendas. No segundo
lugar aparece o milho (11,4%), em seguida cana-de-açúcar (8,2%), algodão
herbáceo (7,4%), café (3,8%) e cítrus (3,0%). Essas seis culturas somam
80,9% do valor comercializado nesse ano.
No exame do comportamento das vendas em termos de valor, por Unidade da
Federação, Mato Grosso se destacou como o maior Estado consumidor em
2009, representando 18,8% das vendas nacionais em termos de produto
comercial e 18,9% em valor, ou seja, US$1,25 bilhão. Ele é seguido por
São Paulo (14,5%), Paraná (14,3%), Rio Grande do Sul (10,8%), Goiás
(9,9%), Minas Gerais (8,9%), Bahia (6,4%) e Mato Grosso do Sul (5,2%).
As demais Unidades da Federação, juntas, responderam por 11,1% do valor
total.
A comercialização de defensivos agrícolas em 2009 seguiu o padrão
sazonal, com a concentração das vendas no segundo semestre,
simultaneamente ao plantio das culturas de verão, que receberam 67,6% do
faturamento total em moeda nacional (Figura 3).
Nos cinco primeiros meses de 2010, estima-se um aumento de 5% nas vendas
brasileiras de defensivos agrícolas em relação ao mesmo período de
2009. Contribuíram para isso, em grande parte, a queda dos preços dos
defensivos agrícolas e o aumento nos preços recebidos de vários produtos
agrícolas.
De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto de Economia Agrícola
(IEA) nas principais regiões produtoras da agricultura paulista, em
abril de 2010, a maioria dos defensivos agrícolas apresentou decréscimo
nos preços quando comparada com o mesmo mês do ano precedente. Esse
comportamento foi verificado em todas as classes estudadas:
inseticidas, acaricidas, fungicidas, reguladores de crescimento e
outros. De um total de 133 produtos pesquisados, em valores correntes,
117 produtos (88,0%) registraram decréscimo nos preços entre 0,4% e
51,0%, e 16 tiveram acréscimo entre 0,3% e 25,1%.
Por sua vez, em valores corrigidos pelo IGP-DI da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), observou-se que 125 produtos variaram negativamente, entre
0,3% e 52,4%, enquanto 8 produtos apresentaram aumento entre o mínimo de
1,3% e o máximo de 21,5%. Portanto, quase a totalidade (94,0%)
apresentou queda nos preços, em termos corrigidos, no mencionado
período.
Na análise das relações de troca, constatou-se um desempenho distinto
para os diversos produtos agrícolas. Em abril de 2010, as culturas do
feijão, laranja para indústria, cana-de-açúcar, algodão e café
beneficiado apresentaram relações de troca mais favoráveis, quando
comparadas com abril de 2009. Houve assim melhora do poder aquisitivo
dos produtores paulistas das referidas culturas para compra da cesta de
defensivos agrícolas. O aumento nos preços recebidos pelos agricultores
contribuiu para isso, aliado ao decréscimo dos valores das cestas dos
defensivos agrícolas. Por outro lado, em abril de 2010, as culturas do
milho e da soja apresentaram perda de poder aquisitivo para compra de
defensivos, quando comparadas com abril de 2009, tendo em vista a queda
acentuada nos preços recebidos pelos agricultores no referido período.
A problemática envolvendo a utilização dos defensivos nas lavouras
brasileiras é atualmente um dos assuntos de maior destaque na mídia
brasileira. Os pontos de vistas são todos razoáveis e assumir um dos
lados do debate traduz-se em insensatez. Enquanto 83% dos defensivos são
utilizados nas grandes lavouras (soja, cana, algodão, milho e café),
para os quais o processamento agroindustrial trata de neutralizar
qualquer resíduo dos produtos empregados, os outros 16% despendidos nos
chamados produtos frescos (hortaliças e frutas fundamentalmente) podem
exibir traços de resíduos dos defensivos empregados.
A falha nesse debate consiste na falta de esclarecimento do que
efetivamente quer dizer resíduo. Na maior parte dos casos, o problema é
o emprego de defensivos não autorizados para determinada cultura.
Quando um horticultor pulveriza seus canteiros de pimentões com
defensivo liberado apenas para o feijão, produz esse resultado chamado
resíduo. Diante disso, deve se alarmar a população que usualmente
consome pimentão? Definitivamente não! A constatação do resíduo é uma
não conformidade com a legislação vigente apenas.
O baixo investimento em pesquisa em culturas economicamente menos
expressivas e a segmentação das empresas produtoras de defensivos (grãos
e fibras, hortifrúti, café/cana/laranja) causam esse tipo de distorção,
pois um produto aprovado para um tipo de emprego geralmente é muito
eficaz em sua utilização no combate às pragas e doenças similares que
ocorram em múltiplos cultivos. Porém, a firma que o desenvolveu não
tinha de comprovar sua eficácia para toda uma série de produtos que
compõem a agropecuária brasileira em suas previsões de experimentação.
Exemplificando, fazem-se todos os testes regulamentares para o feijão,
mas não para a mandioca e para a batata doce.
Deve-se se recordar ainda que os agricultores, majoritariamente, não são
produtores especializados em um único cultivo. Na prática, possuem
diversos cultivos que se sucedem ao longo do ano agrícola. Intercambiar
o emprego dos produtos adquiridos dentro da exploração é um fato que se
tornará comum, pois não há outra maneira de se conduzir de forma
economicamente viável na produção rural.
Por fim, a previsão da indústria de defensivos agrícolas é de que em
2010 as vendas tenham um crescimento de 5% em relação ao ano anterior,
em termos de produto comercial. Para a safra de verão 2010/11, existem
expectativas de aumento do consumo na cultura da soja e cana-de-açúcar,
em função dos preços estáveis no mercado internacional. Também são boas
as perspectivas de maior emprego de defensivos no algodão, na laranja e
especialmente no café, cujos preços dispararam no mercado internacional,
em função da oferta global apertada.
Celia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira
Celso Luis Rodrigues Vegro
Maria de Lourdes Barros Camargo
Contato:
mlbarros@iea.sp.gov.br
Dados para citação bibliográfica(ABNT): FERREIRA, C.R.R.P.T; VEGRO, C.L.R.; CAMARGO, M.L.B. Defensivos Agrícolas: expectativas de aumento nas vendas em 2010. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/DefensivosAgricolas/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 22/08/2010 |