ANÁLISES PRELIMINARES DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO PARA O CULTIVO DE OLIVEIRAS

 Angelica Prela-Pantano¹,
Juliana Rolim Salomé Teramoto²,
Edna I. Bertoncini³

A oliveira é conhecida cientificamente como Olea europaea L., família Oleaceae (López, 1996).  São árvores baixas de tronco retorcido nativas da parte oriental do Mar Mediterrâneo.  A civilização minoana, Ilha de Creta, até 1500. a.C., prosperou com o comércio do azeite de oliva, que eles primeiro aprenderam a cultivar.  Os gregos, que possivelmente herdaram as técnicas de cultivo da oliveira dos Minóicos, associavam a árvore à força e à vida.

 Estima-se que algumas das oliveiras presentes na Palestina nos dias atuais devam ter mais de 2500 anos de idade. A oliveira é também citada na Bíblia em várias passagens, assim como seus produtos (Êxodos 30:7).

A oliveira é normalmente cultivada em regiões semi-áridas do mediterrâneo, em locais com temperaturas elevadas e baixo índice pluviométrico (250 – 550 mm anuais) nos meses mais secos (Coutinho et al.,2007).

A Oliveira é uma planta de clima temperado quente, que necessita de baixas temperaturas no período que antecede a floração. As temperaturas de inverno devem ser em média entre 8 e 10ºC sendo a média anual oscilando entre 17 e 22^o C. Se desenvolvem melhor em altitudes que variam entre 200 e 1.300 metros e em solos com pH superior a 5,5.

A Oliveira, originalmente exige calor e tempo seco para crescer e temperaturas baixas para frutificar, média anual oscilando entre 17 e 22 ^oC. A temperatura base é de 12,5 ºC, abaixo desse valor praticamente não ocorre desenvolvimento da planta (Tapia et a., 2003).

É planta de dias longos e floresce bem em invernos amenos e chuvosos, e em verões quentes e secos; necessita de período e inverno frio de dois meses.

Possui exigências térmicas diferentes para cada fase fenológica, sendo temperatura entre 1,5 °C e 10 °C para diferenciação dos botões florais, 15 a 30 °C para fotossíntese, 9 a 10 °C para brotação das gemas, 14 a 16 °C para o crescimento das gemas, 18 a 19 °C para a floração e polinização  e de 21 a 22 °C para a brotação.

No estado de São Paulo, o interesse pela cultura vem crescendo, sendo que em algumas localidades o cultivo já vem sendo praticado há alguns anos, e em algumas dessas já se tem registro de plantas em produção.

Diante desse cenário, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento, por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica (CATI) e a Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA) e o Instituto Agronômico de Campinas, vem realizando pesquisas sobre o assunto, devido à demanda por respostas sobre a expansão dessa cultura no estado.

Pensando nisso, foi criado o Projeto Olivas São Paulo, onde participam pesquisadores de diversas áreas com o propósito de desenvolver pesquisas direcionadas a oliveiras e seus derivados no estado de São Paulo.

Um dos primeiros estudos a ser iniciado, objetiva identificar áreas de cultivo no estado dessa espécie. Sendo assim, desenvolveu-se um estudo preliminar sobre esses locais. O objetivo desse estudo foi identificar áreas onde já existe o cultivo e caracterizar essas áreas quanto às condições climáticas e comparar com condições climáticas satisfatórias ao cultivo de oliveiras.

Identificação das áreas de cultivo

O estudo teve início, identificando áreas e localidades no estado onde já existem o cultivo de oliveiras. Após esse levantamento, foram estudadas as condições climáticas desses locais e investigadas outras áreas dentro do estado de São Paulo, com características climáticas desejáveis para o desenvolvimento e cultivo de oliveiras.

Os dados climáticos analisados foram obtidos junto ao Instituto Agronômico de Campinas, no banco de dados do Ciiagro (Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas). A princípio foram analisados dados de temperaturas (máxima e mínima), precipitação e altitude e posteriormente deverão ser incorporados nas análises outros parâmetros como: número de horas de frio, amplitude térmica, graus-dia, insolação e velocidade do vento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em investigação preliminar, foram encontrados cultivos já implantados principalmente na região da Serra da Mantiqueira (Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí, Espírito Santo do Pinhal, Silveiras, Águas da Prata e Natividade da Serra), e também em outros locais como Lorena e Brotas.

Os locais de cultivo estão localizados a uma altitude que variam de 500 a 1600 m. De acordo com informações pessoais de produtores de oliva, algumas áreas de cultivo ficam acima de 1600 m, em regiões serranas, porém não há monitoramento climático local.

De acordo com a literatura, as temperaturas mínimas ideais para cultivo, estão entre 8 e 10 ºC, (médias mensais mínimas) e entre 17 e 22 ºC para temperaturas médias anuais.

Podemos observar que dentre os locais de cultivo, já existentes no estado de São Paulo, todas as localidades, se encaixam nas exigências térmicas em relação às temperaturas médias anuais (Tabela 1). Porém Campos do Jordão, Espírito Santo do Pinhal e São Bento do Sapucaí, se encaixam ainda nas exigências em relação às médias das temperaturas mínimas mensais, que de acordo com a literatura, o ideal é que em dois meses estas estejam entre 8 e 10 ºC .

Os demais locais de cultivo, apresentam condições climáticas semelhantes às exigidas, o que indica que a cultura pode se desenvolver também em condições climáticas semelhantes ou próximas as citadas na literatura, como é o caso de Silveiras, Brotas e Lorena, onde as médias das mínimas mensais estão um pouco acima do limite recomendado (10 ºC).  

 Levando em consideração os locais com cultivo á implantados, pode-se fazer um levantamento prévio de outras regiões com possível aptidão agroclimática para cultivo de oliveiras, como é o caso do á conhecido Circuito das Frutas, que fica na região de Jundiaí, onde já são cultivadas frutas de clima temperado, que exigem temperaturas mais amenas para seu desenvolvimento (Tabela 2). 

 A região conhecida como Circuito das frutas é formada por diversos municípios entre eles: Atibaia, Jarinu, Morungaba, Louveira, Itatiba, Itupeva, Jundiaí e Vinhedo. Analisando as médias anuais de temperaturas desses locais, observa-se que estão dentro da faixa indicada (17 a 22 ºC). Quando se analisa as médias mensais das temperaturas mínimas, observa-se que Atibaia, Jarinu e Louveira, possuem temperaturas desejáveis também em relação aos meses de inverno. As demais localidades ficam bem próximas das exigências.

Se levarmos em consideração que em algumas áreas, já em cultivo, este fato também ocorre, podemos sugerir que estas localidades também possam servir como área de estudo e investigação para o cultivo de oliveiras.

Ainda deverão ser analisadas áreas de altitudes elevadas, regiões de serras e região sul do estado na divisa com o estado do Paraná, onde também há ocorrência de temperaturas baixas no inverno em algumas localidades como Capão Bonito, Itararé, Piedade, Pilar do Sul e Ibiúna.

Novos estudos vêm sendo realizados como complemento para a elaboração de um zoneamento climático, o qual dará suporte e direcionamento para implantação de novos cultivos, com o objetivo de direcionar os olivicultores a instalar seus olivais em regiões do estado de São Paulo consideradas adequadas climaticamente.

CONCLUSÃO

- O cultivo de oliveira vem sendo praticado principalmente na região da Serra da Mantiqueira no estado de São Paulo, com condições climáticas semelhantes as indicadas na literatura e praticada em outros países.

- Outras localidades, com características climáticas parecidas as de cultivo, também vem sendo cultivadas, o que pode indicar que a cultura também se desenvolve em situações climáticas parecidas, não necessariamente dentro da faixa ideal de temperatura indicada.

 Referências Bibliográficas

CIIAGRO – www.ciiagro.sp.gov.br

COUTINHO, E.F. A Cultura da Oliveira. Pelotas: Embrapa clima Temperado, 2007. 143 p.

LOPEZ, C. El cultivo del olivo. El campesino. 127. p. 50-59,1996

Livro dos Êxodos 30:7

TAPIA et al. Manual del cultivo del olivo. La Cerena:INIA, 2003. 128 p. (INIA. Boletim, 101).

¹ Pesquisadora científica, Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Ecofisiologia e Biofísica.
E-mail angelica@iac.sp.gov.br

² Pesquisadora científica, Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Horticultura, Seção de Plantas Aromáticas e Medicinais

³ Pesquisadora científica, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Pólo Centro Sul