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Menos 5% Celso Luis Rodrigues Vegro
Há que se reconhecer que nos últimos 20 anos a cafeicultura brasileira se reinventou. Amparada por inovações tecnológicas, os ganhos de produtividade se incrementam, em média, para o arábica, cerca de 1,0 saco de café beneficiado por hectare a cada três safras, ou seja, a média atual de produtividade das lavouras já avançou 8 sc/ha. Saiu-se de apenas 12 sc/ha para pouco mais de 20sc/ha. Do
mesmo modo que outros cultivos, no café, a expansão da área
cultivada não foi significativa (o Oeste da Bahia é a única
exceção), enquanto que o maior rendimento das lavouras é aquilo que
efetivamente responde pelo salto no patamar de oferta de produto.
Outra constatação importante é o encolhimento da amplitude do ciclo
bienal, com variações menos intensas entre as produções em safras de
ciclo de alta e de baixa. O
avanço da tecnologia agronômica é, portanto, incontestável.
Concomitantemente, houve a intensificação da motomecanização das
lavouras, especialmente, na etapa da colheita. Nesse capítulo, o
interesse determinante está em incrementar os ganhos de
produtividade do trabalho. Não são raras as ocasiões em que o custo
da mão de obra de colheita do café supera os 50% dos custos totais
de produção, constituindo-se no mais importante constrangimento para
a manutenção competitiva da lavoura. Assim, cultivos situados em
planaltos passaram a ser moldadas para a entrada das máquinas. As
áreas renovadas sempre são planejadas com foco em realizar
mecanicamente a colheita. Outros talhões situados em relevos mais
ondulados, se não partiram para as máquinas automotrizes/arrasto,
enxergaram nas derriçadoras costais uma alternativa para atender
para com o inelutável crescimento da produtividade do trabalho.
Inicialmente, importadas do Hawai/EUA, as máquinas para colher café
foram sendo aprimoradas com substanciais contribuições da montadora
paulista JACTO, que criou um equipamento adaptado às condições
brasileiras. Todavia, o vetor favorável à decisão de mecanização
completa da colheita somente ganhou impulso nessa última década. Com
a melhoria da eficácia dos equipamentos; a concessão de
financiamento facilitado para as aquisições (FINAME e MODERFROTA) e,
principalmente, o encarecimento e escasseamento da mão de obra de
colheita tornaram inapelável a decisão por se mecanizar.
O êxito das políticas de assistência social
dirigidas aos pobres rurais é um dos exemplos de combate a pobreza
mais bem sucedido no mundo. Tanto a Previdência Social como o Bolsa
Família, melhoraram as condições de sobrevivência dessa parcela da
população que passou a prescindir das ofertas sazonais de emprego. A
colheita do café sempre foi um dos mais importantes movimentos
migratórios internos, deslocando trabalhadores rurais do Nordeste e
Vale do Jequitinhonha para o Centro-Sul cafeicultor. A escassez de
trabalhadores para a realização da colheita deriva, parcialmente,
desse correto esforço em erradicar a pobreza no campo.
Estima-se que regiões como os cerrados (mineiro, baiano e paulista)
a parcela majoritária da colheita ocorra mecanicamente. Noutros
cinturões com topografia favorável a mecanização da colheita,
também, já é amplamente empregada. Naquelas em que a topografia
acidentada impede a circulação das máquinas, as derriçadoras costais
são opções bastante convenientes. Assim, a colheita essencialmente
manual restou apenas para os pequenos cafeicultores com perfil
familiar. Esse grupo é o mais numeroso dentro da cafeicultura
brasileira, porém a cada safra que se encerra, passa a responder por
menor parcela do café colhido no compito da oferta global do País.
Inquestionável tornou-se a irrevogabilidade da mecanização da
colheita do café no Brasil. Todavia, um elemento tem deixado de ser
contabilizado dentro dessa inexorável trajetória: o aumento das
perdas. Por melhores que sejam os equipamentos e, ainda, por mais
bem regulados que estejam as perdas de frutos das árvores é da ordem
de 5% no mínimo. Ademais, a mesma mão de obra que escasseia para
realizar a colheita também falta para a varreção e repasse. Tomando
em conta seu custo diário o procedimento se confirma como
economicamente inviável. Os 5% se concretizam como perda quase
irrecuperável. O
aumento das perdas devido à colheita mecânica associados às perdas
decorrentes da queda dos frutos temporões e aqueles que sobram na
planta que já não mais receberá repasses é um tema importante para a
pesquisa. Acredito que os 5% menos decorrentes da mecanização da
colheita, possam mais que dobrar em razão da atuação dos demais
fatores apontados.
Os
técnicos quando visitam uma lavoura para estimar o potencial de
colheita, normalmente, avaliam o café na planta. O número final da
safra que encerrou é levantado quando ocorre a primeira previsão da
próxima safra, quando então o entrevistador questiona o cafeicultor
sobre quanto efetivamente foi colhido em sua propriedade. Porém,
quando esse novo número vem a tona, contabilizadas as perdas na
colheita, o mercado está completamente voltado para a próxima safra
e o esforço de ajustar ao real a quantidade colhida é quase que
ignorado. Excetuando-se os cafeicultores e suas cooperativas, todo o restante do agronegócio trabalha com as mais otimistas expectativas para safra. Essa extraordinária confiança com na produção brasileira precisa ser temperada com os 5% menos. Feito isso teríamos todos nós números mais convergentes para o futuro suprimento do mercado pelo produtomais genuinamente brasileiro. Celso Luis Rodrigues Vegro é
Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura "Luíz de
Queiróz" - USP/Piracicaba com especialização em Sistemas Agrários pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Concluiu mestrado em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (1992). Atualmente, atua como Pesquisador Científico
nivel VI do Instituto de Economia Agrícola da Agência Paulista de
Tecnologia para os Agronegócios da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo. Dentre as diversas áreas de
estudo, concentram-se de trabalhos em temas ligados à coordenação de
cadeias agroindustriais, inovação tecnológica e tendências do mercado de
alimentos e bebidas, especialmente, do café.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): VEGRO, C.L.R. Menos 5%. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/cafe/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 26/08/2010 |