Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Bioecologia de Sitotroga cerealella Oliver 1789 (Lepidoptera: Gelechiidae)
Luidi Eric Guimarães Antunes A espécie Sitotroga cerealella Oliver (figura 1), conhecida como traça-dos-cereais, pertence à ordem Lepidoptera compreendendo a família Gelechiidae (Athié & Paula, 2002). Segundo Elias & Oliveira (2008) esta é uma praga primária, ataca grãos inteiros, que afeta a superfície da massa de grãos. As larvas destroem o grão, alterando o peso e a qualidade deste. Também ocorre ataque as farinhas, nas quais se desenvolve, causando deterioração de produto pronto para consumo.
Segundo Barrer (1981) S. cerealella pode infestar grãos em desenvolvimento ou maturação no campo, podendo sobreviver por várias gerações mudando de um hospedeiro para outro. Porém, este autor relata que a maioria das infestações no campo se origina, provavelmente, da proximidade do local de armazenamento com o campo. Os adultos são capazes de infestar culturas no campo situadas em torno de 1 km do armazenamento. Logo que emerge a fêmea libera significativa quantidade de um feromônio sexual através de uma glândula situada no segmento terminal do abdome. Assim que o macho percebe o feromônio começa a bater as asas rapidamente e voa em direção à fêmea. Ao encontrar a fêmea o macho estende o final do abdome em direção à fêmea, durante uma breve corte, o que conduz à cópula (Barrer, 1981). Segundo Gallo et al. (2002) a fêmea pode ovipositar, conforme o substrato, de 40 a 280 ovos. Já Barrer (1981) relata que as posturas começam em 1 ou 2 dias após a cópula. Esses ovos são colocados isoladamente ou em grupos sobre os grãos. Segundo Athié & Paula (2002) sob condições ideais, a larva eclode após 4 a 6 dias e penetra no grão dentro de 24 horas, normalmente através do pericarpo macio, próximo ao embrião. O desenvolvimento é completado entre 2 e 3 semanas, sendo que a larva se alimenta do conteúdo interno do grão. Sendo as condições ideais a larva passa por no mínimo quatro instares. Quando as larvas levam mais tempo para o desenvolvimento podem passar por até nove instares (Barrer, 1981). De acordo com Cotton & Wilbur (1974) o alimento utilizado influência no desenvolvimento desta praga. Em condições de temperatura controlada, 25 °C, Shazali & Smith (1986) obtiveram longevidade média de fêmeas de 8,5 dias, com postura média de 109 ovos durante 5 dias, sendo o período médio de ovo até adulto de 31 dias. Sendo a temperatura de 30 °C, estes autores obtiveram longevidade média das fêmeas de 6,5 dias, 106 ovos durante 3,5 dias e período médio de ovo até adulto de 25 dias. Antes de empupar, a lagarta constrói a saída para o exterior do grão, deixando apenas uma camada fina do tegumento do grão intacto. A lagarta tece um casulo de seda onde irá passar toda a fase de pupa. Assim que emerge, a mariposa rompe esse casulo deixando um orifício de formato redondo. Se os grãos foram pequenos, por exemplo, sorgo, o casulo tecido agrupa pelo menos 2 grãos (Cotton & Wilbur, 1974; Barrer, 1981; Dobie et al., 1984). Os ovos recém-colocados apresentam a forma oval, estriados e de cor branca, tornando-se rosados à medida que se aproxima a eclosão (Moreira & Maldonado, 1986). Apresentam comprimento médio de 0,5 mm. As lagartas são curtas e truncadas, com falsas pernas abdominais pouco desenvolvidas e freqüentemente indistintas, sustentando não mais que três colchetes. Possuem três cerdas no grupo pré-espiracular do protórax (Mound, 1989; Weisman, 1991). As lagartas são amareladas no início do desenvolvimento, tornado-se brancas quando desenvolvidas, atingindo 6 mm de comprimento. São curvadas com o tórax mais largo do que o abdome e as mandíbulas são castanho-escuras (Gallo et al., 2002). A pupa varia de coloração desde branca, no início, a marrom-escura, próximo à emergência do adulto (Lorini, 2008). Apresenta comprimento médio de 6,5 mm. Os adultos são mariposas com 10 mm a 15 mm de envergadura e com 6 mm a 8 mm de comprimento. As asas anteriores são cor de palha, com franjas, e as posteriores mais claras, com franjas maiores (Lorini & Schneider, 1984). As asas são sedosas e brilhantes, sendo as anteriores estreitas, longas e afiladas nas extremidades. Já as asas posteriores se estreitam acentuadamente em direção à extremidade (Athié & Paula, 2002). Segundo Cruz (1980), em sua genitália, o macho apresenta aedeagus alargado o terço mediano, estreitando-se para as extremidades, principalmente na região basal, e valvas com fortes ganchos ou espinhos no ápice, voltado para baixo. Esse mesmo autor relata que a fêmea, em sua genitália, apresenta ductus bursae estreito e longo, com paredes lisas e de aspecto hialino; bursa com signum, formados por duas áreas fusiformes esclerotizadas, dispostas diametralmente sobre áreas subcirculares mais ou menos pigmentadas. Em relação ao controle desta praga, assim como outras, deve existir limpeza e higienização total do local onde ocorre o armazenamento, expurgo dos grãos e, se necessário, uso de inseticidas. Referências bibliográficas - Athié, I.; Paula, D. C. Insetos de Grãos Armazenados Aspectos Biológicos e Identificação. Varela, 2° edição, p. 28-34, 2002. - Barrer, P. M. The biology of Lepidoptera associated with stored grain. In: Proc. Aust. Dev. Asst. Course on Preservation of Stored Cereals, 1981, p.186-196. - Cruz, F. Z. Chaves para identificação de alguns microlepidópteros que danificam produtos agrícolas armazenados, com base nos caracteres da genitália. Agronomia Sul-riograndense, Porto Alegre, 16(2): 347-61,1980. - Cotton, R. T.; Wilbur, D. A. Insects. In: Christensen, C. M. Storage of cereal grains and their products. St. Paul, Minnesota, AACC, 1974, p193-231. - Dobie, P.; Haines, C. P.; Hodges, R. J.; Prevett, P. F. Insects and arachnids of tropical stored products, their biology and identification: a training manual. UK, Tropical Development and Research Institute, 1984. 273p. - Elias, M. C.; Oliveira, M. Formação de Auditores Técnicos do Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras. Pelotas, RS, Ed. Santa Cruz, 461p., 2008. - Gallo, D., O. Nakano, S.S. Neto, R.P.L. Carvalho, G.C. Batista, E.B. Filho, J.R.P. Parra, R.A. Zucchi, S.B. Alves, J.D. Vendramim, L.C. Marchini, J.R.S. Lopes & C. Omoto. 2002. Entomologia Agrícola. Piracicaba, FEALQ, 920p. - Lorini, I. Manejo Integrado de Pragas de Grãos de Cereais Armazenados. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2008. 72p. - Lorini, I.; Schneider, S. Pragas de Grãos Armazenados: resultados de pesquisa. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1994. 47p. - Moreira, M.; Maldonado, J. Biologia de Sitotroga cerealella Olivier (Lepidoptera: Gelechidae) polilla de los cereales almacenados em Venezuela. Aronomia Tropical, 35 (1-3): 117-124, 1986. - Mound, L. (Ed.) Common Insect Pests of Stored Food Products. Aguide to their identification. British Museum (Natural History), 1989, 68p. (Economic Series, 15). - Sanus-M. Disponível em <http://www.sanus-m.co.rs/index.php?page=suz_skladisnih_stet>. Acesso em: 20/ de maio de 2010. - Shazali, M. E. H.; Smith, R. H. Life history studies of externally feeding pests of stored sorgum: Corcyra cephalonica (Staint.) and Tribolium castaneum (Hbst.). Journal of Stored Products Research. Oxford, 22(2): 55-61, 1986. - Weisman, D. M. Larval moths (Lepidoptera). In: Gorham, J. R., ed. Insect and mite pests in food: an illustrated key. Washington, D. C., United States, United States Departament of Agriculture, 1991, p.245-67 (Ag. Handbook, 655).
Luidi Eric Guimarães Antunes é
Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul no ano de 2008, atualmente mestrando do PPG-Fitotecnia -
UFRGS com ênfase em entomologia agrícola, bolsista CAPES.
Rafael Gomes Dionello é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Pelotas - RS no ano de 1998, mestrado pela Universidade Federal de Pelotas - RS 1999 com ênfase em pós-colheita, doutorado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense com ênfase em pós-colheita, atualmente é professor adjunto da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): ANTUNES, L.E.G.; DIONELLO, R.G. Bioecologia de Sitotroga cerealella Oliver 1789 (Lepidoptera: Gelechiidae). 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_2/Sitotroga/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 23/06/2010 |