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CULTIVO PROTEGIDO DA VIDEIRA ‘NIAGARA ROSADA’

 

José Luiz Hernandes,
Mário José Pedro Júnior,
Glauco de Souza Rolim,
Marco Antonio Tecchio,
Antonio Odair dos Santos

 

         Na região compreendida pelos municípios de Louveira e Jundiaí os viticultores utilizam, principalmente, o sistema de condução em espaldeira a céu aberto para cultivo da `Niagara Rosada`.
 

         Recentemente, em Santa Catarina, a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão de Santa Catarina), visando orientar o produtor na utilização de cultivo protegido para a videira, passou a preconizar o uso do sistema de condução manjedoura em `Y`(Epagri, 2006), para facilitar a colocação de plástico, ráfia ou mesmo telado plástico.
 

         Com o objetivo de utilizar vinhedos de `Niagara Rosada`, já implantados, visando a conversão do sistema em espaldeira para manjedoura em `Y` foi iniciada, em 2004, a avaliação desta técnica aliada ao uso de cobertura com plástico, em vinhedos de ‘Niagara Rosada’ (Fotos 1 e 2) existentes no Centro de Fruticultura do Instituto Agronômico (IAC-APTA- SAA), em Jundiaí, SP.
 

Fotos 1 e 2. Sistema de cultivo manjedoura em “Y” da videira ‘Niagara Rosada’ com cobertura de filme plástico no Centro de Fruticultura do IAC.

 

No município de Louveira, na propriedade de César Veronese, foi implantado em 2007, vinhedo `Y` convencional, como preconizado pela Epagri, para verificar a conveniência e lucratividade do sistema. O material utilizado para cobertura e proteção das videiras de `Niagara Rosada` foi o telado plástico conhecido como clarite (Fotos 3 e 4).

 

Foto 3. Vista geral da videira ‘Niagara Rosada’ conduzida em “Y” com telado plástico na propriedade de César Veronese, Louveira, SP.

Foto 4. Detalhe da videira conduzida em “Y” na propriedade de César Veronese, Louveira, SP.

    

Segundo o viticultor apesar do custo de implantação mais elevado, o sistema oferece como vantagens: maior produtividade, melhor qualidade do produto, mais facilidade nas operações agrícolas e proteção contra granizo (Folha Louveirense, 2007; Caminhos da roça, 2008). Ainda, de acordo com o viticultor: “no sistema de espaldeira, considerado tradicional, as parreiras ficam um pouco mais baixas e distribuídas pelas ruas de maneira uniforme, diferente do sistema em "Y", em que os galhos e as folhas ficam melhor distribuídas, aumentam a produtividade e facilitam a colheita” (Caminhos da roça, 2008)
 

         No caso de cultivares de uva fina para vinho, o uso da técnica de cultivo protegido, na região, pode ser encontrado na propriedade de Daniel Michelleto, que implantou área experimental com 300 plantas contemplando diferentes cultivares, das quais pode ser destacada a ‘Syrah’ conduzida em Y sob telado plástico (sombrite). Também, na propriedade de Antonio José Benvegnu (Figura 5) a mesma cultivar foi utilizada, porém sendo conduzida em espaldeira sob plástico (impermeável) como mostrado na reportagem do Diário Oficial de 28/05/2008.

 

Figura 5. ‘Syrah’ cultivada em espaldeira sob cobertura plástica (Propriedade de Antonio José Benvegnu))

 

         A vantagem do uso de plástico ao invés de telado plástico reside no fato que além  da proteção contra o granizo, protege as folhas e cachos da ocorrência direta da chuva consequentemente reduzindo as condições que favorecem o desenvolvimento doenças fúngicas.
 

         Como o sistema de condução para a videira ‘Niagara Rosada’ mais comum na região é em espaldeira foram realizados ensaios, no Centro de Fruticultura do Instituto Agronômico de Campinas, visando sua conversão para ‘Y’ e propiciando o uso de cultivo protegido com utilização de cobertura com plástico. A seguir são dadas algumas informações sobre a técnica adotada.

 

O SISTEMA DE CONDUÇÃO
 

         O espaçamento é o tradicional de 2 x 1m e as videiras `Niagara Rosada` foram enxertadas sobre o porta-enxertos IAC-766, contando com oito anos de idade por ocasião da conversão de sistema de condução. No primeiro ano o cordão esporonado único foi levantado (forçado) para ficar na vertical até uma altura de cerca de 1,4 a 1,6m e, um ramo vigoroso da ponta do cordão foi utilizado para vir a constituir o novo cordão esporonado na horizontal com cerca de 1m de comprimento.

 

         A montagem do sistema de condução em `Y’ requer oito fios de arame, sendo um para suporte do cordão esporonado (bitola 12 ou 14); dois de cada lado para amarrio dos ramos (bitola 16), dois externos (bitola 16) colocados um de cada lado para amarração lateral e mais um no topo para sustentação do material a ser usado na cobertura do vinhedo e proteção das videiras

 

         O material usado para cobertura foi filme plástico com tratamento de ultravioleta (150 micra) (Fotos 1 e 2) e foi realizada a poda curta, já tradicionalmente feita pelos produtores da região, uma vez que o espaçamento entre as plantas de 2x1m não permite outro tipo de poda. A disposição dos ramos e dos cachos no sistema manjedoura em Y, após a conversão da espaldeira, auxilia o viticultor no manejo e, principalmente, mantém os cachos mais separados melhorando sua qualidade para a época da colheita (Foto 6).

 

Foto 6. Detalhe da disposição dos ramos e cachos na videira ‘Niagara Rosada’ conduzida em manjedoura em ‘Y’.

 

PRODUÇÃO E MASSA DOS CACHOS
 

         Durante os anos de 2006/07 e 2007/08 foram avaliadas as produções das videiras e a massa dos cachos (Tabela 1). Os valores de produção nas plantas protegidas pela cobertura plástica, foram elevados (entre 4 e 7 kg/planta) superando a média da região (2,5 kg/planta) para videiras conduzidas em espaldeira. Além disso, comparando as produções das plantas com cobertura plástica verificou-se que foram superiores às das conduzidas a céu aberto. Em relação à massa dos cachos foi observado que os maiores valores (233 a 261g) ocorreram no sistema em `Y` sob cobertura plástica.

 

Tabela 1. Produção e massa do cacho da videira `Niagara Rosada` conduzida em `Y` com e sem cobertura plástica, sem aplicação de fungicidas, em Jundiaí (SP).

Ano Agrícola

Com cobertura plástica

Sem cobertura plástica

Produção

(Kg/planta)

Massa do cacho

(g)

Produção

(Kg/planta)

Massa do cacho

(g)

2006/07

6,99

261

2,34

168

2007/08

3,93

233

1,81

147

 

OCORRÊNCIA DE DOENÇAS - SEM UTILIZAÇÃO DE PULVERIZAÇÃO
 

         O ensaio foi conduzido sem nenhuma pulverização para controle de antracnose, míldio, mancha-das-folhas e podridões, que ocorrem normalmente na videira ‘Niagara Rosada’, visando caracterizar o efeito da cobertura plástica sobre a ocorrência destas doenças. O uso do filme plástico funcionou como se fosse um “guarda-chuvas” impedindo a ocorrência de chuvas nas folhas e cachos da videira proporcionando condições desfavoráveis ao desenvolvimento das doenças fúngicas. Na Tabela 2, são mostrados os valores, em porcentagem, de ocorrência de antracnose e míldio nas folhas e cachos e de podridões nos cachos, avaliados na época de colheita e, da mancha-das-folhas.

 

Tabela 2. Ocorrência (%) de antracnose, míldio, mancha-das-folhas e podridões em videira `Niagara Rosada` conduzida em `Y` com e sem cobertura plástica, sem aplicação de fungicidas, em Jundiaí (SP).

Ano Agrícola

Com cobertura plástica

Antracnose cacho

Míldio cacho

Podridões

Mancha das folhas

2006/07

3

3

3

37

2007/08

0

0

3

46

Ano Agrícola

Sem cobertura plástica

Antracnose cacho

Míldio cacho

Podridões

Mancha das folhas

2006/07

24

28

61

35

2007/08

2

2

52

51

 

Pode-se verificar que praticamente não ocorreu antracnose, míldio e podridões nas videiras conduzidas sob cobertura de plástico. Apenas, no caso da mancha-das-folhas, foi observada uma manifestação da doença de forma mais intensa, sugerindo que poderia ser interessante o uso de pulverização para seu controle logo após a colheita, para evitar a queda prematura das folhas.

 

         Nas Fotos 7 e 8 é mostrada uma comparação entre os cachos de ‘Niagara Rosada’ produzidos sem aplicação de fungicidas no sistema em `Y` a céu aberto e sob cobertura plástica. Verifica-se que os cachos produzidos sob cultivo protegido são de qualidade superior.

 

Fotos 7 e 8. Comparação cacho da videira ‘Niagara Rosada’ conduzida sem pulverização, para controle de doenças fúngicas, sob plástico e a céu aberto.

 

         A conversão do sistema de condução em espaldeira para `Y` com cobertura plástica para a videira `Niagara Rosada` tem-se mostrado viável na região, principalmente por possibilitar a redução do uso de fungicidas para controle das principais doenças fúngicas das folhas e cachos e proporcionar altas produções por planta, com melhor qualidade dos cachos.

 

 BIBLIOGRAFIA

 

EPAGRI. Sistema de sustentação da videira na forma de ‘Ypsilon” ou manjedoura com cobertura plástica. Governo de Santa Catarina. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. Folder. 2p. 2006. 

http://www.louveira.sp.gov.br/mat_6_01.php Agricultura louveirense testa a primeira quadra de uva conduzida em Y. Acesso em 13 de setembro de 2008. 

http://eptv.globo.com/caminhosdaroca/ .Técnica em "Y" aumenta produtividade da uva. Caminhos da roça. Acesso em 25 de setembro de 2008.
 

Diário Oficial Poder Executivo - Seção IIII – São Paulo, 118 (96) de  quarta-feira, 28 de maio de 2008.

 

Origem: Instituto Agronômico - www.iac.sp.gov.br


José Luiz Hernandes é Técnico em Agropecuária, formado pela ETAESG Benedicto Storani de Jundiaí (1987), graduado em Ciências com Habilitação Plena em Biologia pela Faculdade de Ciências e Letras Padre Anchieta (1998) e mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical pelo Instituto Agronômico de Campinas (2001). Em 2006 realizou o Curso Superior de Especialização em Viticultura e Enologia em Climas Quentes pelo Instituto de Formação Agrária e Pesqueira (CONSELHO DE INOVAÇÃO, CIÊNCIA E EMPRESA) da Junta de Andaluzia, no Centro de Pesquisa e Formação Agrária RANCHO DE LA MERCED em Jerez de la Fronteira, Espanha. Atualmente é Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Fitotecnia, com ênfase em Vitivinicultura, atuando principalmente nos seguintes temas: microclima, fitossanidade, propagação, sistemas de condução, cultivo protegido, variedades de videira para mesa e indústria e vinificação artesanal.
Contato: jlhernandes@iac.sp.gov.br

 

Mário José Pedro Júnior possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1972), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade de São Paulo (1977) e doutorado em Agrometeorology - University Of Guelph (1980). Atualmente é pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas, revisor de cinco revistas especializadas. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Agrometeorologia, atuando na área de fruticultura, principalmente videira, nos seguintes temas: cultivo protegido, sistema de condução, microclima e zoneamento agrícola. Bolsista de Produtividade em Pesquisa 2.
Contato: mpedro@iac.sp.gov.br

 

Glauco de Souza Rolim possui doutorado em Agronomia (Irrigação e Drenagem) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003), mestrado em Agronomia (Física do Ambiente Agrícola) pela Universidade de São Paulo (2000) e graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1996). Atualmente é pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas-IAC. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Agrometeorologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Modelagem Agrometeorológica, micrometeorologia, Balanço Hídrico, Balanço de Energia, Risco Climático, Citros, Café e videira.
Contato: rolim@iac.sp.gov.br

 

Marco Antonio Tecchio possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1997), mestrado em Agronomia (Horticultura) [Botucatu] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003) e doutorado em Agronomia (Horticultura) [Botucatu] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005). Atualmente é pesquisador científico do Centro de Frutas do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Adubação e nutrição em fruteiras e uso de reguladores vegetais em videira, atuando principalmente nos seguintes temas: vitis, videira, uva, adubação, nutrição, reguladores vegetais.
Contato:
tecchio@iac.sp.gov.br

 

Antonio Odair dos Santos possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); Mestrado e Doutorado em Fitotecnia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Pós-Doutorado pela California State University-Fresno (USA) [Viticulture and Enology Research Center]. Atualmente é Pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), atuando principalmente nos seguintes temas: agrometeorologia da videira, manejo da videira e qualidade de uva/vinho
Contato: odairsan@iac.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

HERNANDES, J.L.; PEDRO JÚNIOR, M.J.; ROLIM, G.S.; TECCHIO, M.A.; SANTOS, A.O. dos Cultivo protegido da videira ‘Niagara Rosada’. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_1/videira/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 08/02/2010

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