Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com CULTIVO PROTEGIDO DA VIDEIRA ‘NIAGARA ROSADA’
José Luiz Hernandes,
Na região compreendida pelos municípios de Louveira e
Jundiaí os viticultores utilizam, principalmente, o sistema de
condução em espaldeira a céu aberto para cultivo da `Niagara Rosada`.
Recentemente, em Santa Catarina, a Epagri (Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão de Santa Catarina), visando
orientar o produtor na utilização de cultivo protegido para a
videira, passou a preconizar o uso do sistema de condução manjedoura
em `Y`(Epagri, 2006), para facilitar a colocação de plástico, ráfia
ou mesmo telado plástico.
Com o objetivo de utilizar vinhedos de `Niagara Rosada`, já
implantados, visando a conversão do sistema em espaldeira para
manjedoura em `Y` foi iniciada, em 2004, a avaliação desta técnica
aliada ao uso de cobertura com plástico, em vinhedos de ‘Niagara
Rosada’ (Fotos 1 e 2) existentes no Centro de Fruticultura do
Instituto Agronômico (IAC-APTA- SAA), em Jundiaí, SP.
No município de Louveira, na propriedade de César Veronese, foi implantado em 2007, vinhedo `Y` convencional, como preconizado pela Epagri, para verificar a conveniência e lucratividade do sistema. O material utilizado para cobertura e proteção das videiras de `Niagara Rosada` foi o telado plástico conhecido como clarite (Fotos 3 e 4).
Segundo o viticultor apesar do custo de implantação mais elevado, o
sistema oferece como vantagens: maior produtividade, melhor
qualidade do produto, mais facilidade nas operações agrícolas e
proteção contra granizo (Folha Louveirense, 2007; Caminhos da roça,
2008). Ainda, de acordo com o viticultor: “no sistema de espaldeira,
considerado tradicional, as parreiras ficam um pouco mais baixas e
distribuídas pelas ruas de maneira uniforme, diferente do sistema em
"Y", em que os galhos e as folhas ficam melhor distribuídas,
aumentam a produtividade e facilitam a colheita” (Caminhos da roça,
2008) No caso de cultivares de uva fina para vinho, o uso da técnica de cultivo protegido, na região, pode ser encontrado na propriedade de Daniel Michelleto, que implantou área experimental com 300 plantas contemplando diferentes cultivares, das quais pode ser destacada a ‘Syrah’ conduzida em Y sob telado plástico (sombrite). Também, na propriedade de Antonio José Benvegnu (Figura 5) a mesma cultivar foi utilizada, porém sendo conduzida em espaldeira sob plástico (impermeável) como mostrado na reportagem do Diário Oficial de 28/05/2008.
A vantagem do uso de plástico ao invés de telado plástico
reside no fato que além da proteção contra o granizo, protege as
folhas e cachos da ocorrência direta da chuva consequentemente
reduzindo as condições que favorecem o desenvolvimento doenças
fúngicas. Como o sistema de condução para a videira ‘Niagara Rosada’ mais comum na região é em espaldeira foram realizados ensaios, no Centro de Fruticultura do Instituto Agronômico de Campinas, visando sua conversão para ‘Y’ e propiciando o uso de cultivo protegido com utilização de cobertura com plástico. A seguir são dadas algumas informações sobre a técnica adotada.
O SISTEMA DE CONDUÇÃO O espaçamento é o tradicional de 2 x 1m e as videiras `Niagara Rosada` foram enxertadas sobre o porta-enxertos IAC-766, contando com oito anos de idade por ocasião da conversão de sistema de condução. No primeiro ano o cordão esporonado único foi levantado (forçado) para ficar na vertical até uma altura de cerca de 1,4 a 1,6m e, um ramo vigoroso da ponta do cordão foi utilizado para vir a constituir o novo cordão esporonado na horizontal com cerca de 1m de comprimento.
A montagem do sistema de condução em `Y’ requer oito fios de arame, sendo um para suporte do cordão esporonado (bitola 12 ou 14); dois de cada lado para amarrio dos ramos (bitola 16), dois externos (bitola 16) colocados um de cada lado para amarração lateral e mais um no topo para sustentação do material a ser usado na cobertura do vinhedo e proteção das videiras
O material usado para cobertura foi filme plástico com tratamento de ultravioleta (150 micra) (Fotos 1 e 2) e foi realizada a poda curta, já tradicionalmente feita pelos produtores da região, uma vez que o espaçamento entre as plantas de 2x1m não permite outro tipo de poda. A disposição dos ramos e dos cachos no sistema manjedoura em Y, após a conversão da espaldeira, auxilia o viticultor no manejo e, principalmente, mantém os cachos mais separados melhorando sua qualidade para a época da colheita (Foto 6).
PRODUÇÃO E MASSA DOS CACHOS Durante os anos de 2006/07 e 2007/08 foram avaliadas as produções das videiras e a massa dos cachos (Tabela 1). Os valores de produção nas plantas protegidas pela cobertura plástica, foram elevados (entre 4 e 7 kg/planta) superando a média da região (2,5 kg/planta) para videiras conduzidas em espaldeira. Além disso, comparando as produções das plantas com cobertura plástica verificou-se que foram superiores às das conduzidas a céu aberto. Em relação à massa dos cachos foi observado que os maiores valores (233 a 261g) ocorreram no sistema em `Y` sob cobertura plástica.
OCORRÊNCIA DE DOENÇAS - SEM UTILIZAÇÃO DE PULVERIZAÇÃO O ensaio foi conduzido sem nenhuma pulverização para controle de antracnose, míldio, mancha-das-folhas e podridões, que ocorrem normalmente na videira ‘Niagara Rosada’, visando caracterizar o efeito da cobertura plástica sobre a ocorrência destas doenças. O uso do filme plástico funcionou como se fosse um “guarda-chuvas” impedindo a ocorrência de chuvas nas folhas e cachos da videira proporcionando condições desfavoráveis ao desenvolvimento das doenças fúngicas. Na Tabela 2, são mostrados os valores, em porcentagem, de ocorrência de antracnose e míldio nas folhas e cachos e de podridões nos cachos, avaliados na época de colheita e, da mancha-das-folhas.
Pode-se verificar que praticamente não ocorreu antracnose, míldio e podridões nas videiras conduzidas sob cobertura de plástico. Apenas, no caso da mancha-das-folhas, foi observada uma manifestação da doença de forma mais intensa, sugerindo que poderia ser interessante o uso de pulverização para seu controle logo após a colheita, para evitar a queda prematura das folhas.
Nas Fotos 7 e 8 é mostrada uma comparação entre os cachos de ‘Niagara Rosada’ produzidos sem aplicação de fungicidas no sistema em `Y` a céu aberto e sob cobertura plástica. Verifica-se que os cachos produzidos sob cultivo protegido são de qualidade superior.
A conversão do sistema de condução em espaldeira para `Y` com cobertura plástica para a videira `Niagara Rosada` tem-se mostrado viável na região, principalmente por possibilitar a redução do uso de fungicidas para controle das principais doenças fúngicas das folhas e cachos e proporcionar altas produções por planta, com melhor qualidade dos cachos.
BIBLIOGRAFIA
EPAGRI. Sistema de sustentação da videira na forma de ‘Ypsilon” ou manjedoura com cobertura plástica. Governo de Santa Catarina. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. Folder. 2p. 2006. http://www.louveira.sp.gov.br/mat_6_01.php Agricultura louveirense testa a primeira quadra de uva conduzida em Y. Acesso em 13 de setembro de 2008.
http://eptv.globo.com/caminhosdaroca/ .Técnica
em "Y" aumenta produtividade da uva. Caminhos da roça.
Acesso em 25 de setembro de 2008. Diário Oficial Poder Executivo - Seção IIII – São Paulo, 118 (96) de quarta-feira, 28 de maio de 2008.
Origem: Instituto Agronômico - www.iac.sp.gov.br
Glauco de Souza Rolim
possui doutorado em Agronomia (Irrigação e Drenagem) pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003),
mestrado em Agronomia (Física do Ambiente Agrícola) pela
Universidade de São Paulo (2000) e graduação em Engenharia
Agronômica pela Universidade de São Paulo (1996). Atualmente é
pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas-IAC. Tem
experiência na área de Agronomia, com ênfase em Agrometeorologia,
atuando principalmente nos seguintes temas: Modelagem
Agrometeorológica, micrometeorologia, Balanço Hídrico, Balanço de
Energia, Risco Climático, Citros, Café e videira.
Marco Antonio Tecchio possui
graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (1997), mestrado em Agronomia (Horticultura)
[Botucatu] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (2003) e doutorado em Agronomia (Horticultura) [Botucatu] pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005).
Atualmente é pesquisador científico do Centro de Frutas do Instituto
Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia, com
ênfase em Adubação e nutrição em fruteiras e uso de reguladores
vegetais em videira, atuando principalmente nos seguintes temas:
vitis, videira, uva, adubação, nutrição, reguladores vegetais.
Antonio Odair dos Santos possui
graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC); Mestrado e Doutorado em Fitotecnia, pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Pós-Doutorado
pela California State University-Fresno (USA) [Viticulture and
Enology Research Center]. Atualmente é Pesquisador do Instituto
Agronômico (IAC), atuando principalmente nos seguintes temas:
agrometeorologia da videira, manejo da videira e qualidade de
uva/vinho
Dados para citação bibliográfica(ABNT): HERNANDES, J.L.; PEDRO JÚNIOR, M.J.; ROLIM, G.S.; TECCHIO, M.A.; SANTOS, A.O. dos Cultivo protegido da videira ‘Niagara Rosada’. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_1/videira/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 08/02/2010 |