Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com SÃO PAULO AGRONDUSTRIAL-EXPORTADOR NUM BRASIL PRIMÁRIO-EXPORTADOR: AGREGAÇÃO DE VALOR NAS EXPORTAÇÕES NO PERÍODO 1997-2009
José Sidnei Gonçalves No período 1997-2009 as exportações de produtos básicos dos agronegócios paulistas saltam de patamar, saindo de pouco mais de US$ 1,0 bilhão no período 1997-2002, para níveis superiores a US$ 2,6 bilhões no biênio 2004-2005 e atingindo US$ 3,60 bilhões em 2008-2009 (Figura 1 e Tabela 1).
Quando são considerados os produtos processados, os valores das vendas externas dos agronegócios paulistas são maiores, tendo evoluído de patamares em torno dos US$ 5,0 bilhões no período 1997-2002 para níveis muito mais elevados, acima de US$ 13,38 bilhões em 2008, embora tenham recuado para US$ 12,38 bilhões em 2009 (Figura 2 e Tabela 1).
Em função desses indicadores, os agronegócios paulistas apresentam uma baixa participação dos produtos básicos na pauta de exportações. Excetuando-se o ano 2004, quando o câmbio impulsionou as exportações paulistas de grãos, em todos os demais anos do período 1997-2009, tem-se proporções de produtos básicos em torno de um quinto (20,0%). Nos anos recentes há crescimento da participação dos produtos básicos de 17,42% em 2006 para 22,52% em 2009 (Figura 3 e Tabela 2).
Isso em decorrência da condição agroindustrial exportadora dos agronegócios paulistas, uma vez que quatro quintos (80,0%) das exportações setoriais do período 1997-2008 foram de produtos com agregação de valor por transformação agroindustrial. Entretanto, nos últimos anos nota-se um recuo da participação de produtos processados de 82,58% em 2006 para 77,48% em 2009 (Figura 4 e Tabela 2).
Quando se avalia o comportamento das exportações dos agronegócios brasileiros, verifica-se que as vendas de produtos básicos, que eram de US$ 11,20 bilhões em 1997, recuaram para US$ 8,63 bilhões em 1999, face à sobrevalorização cambial do período. Desse ano em diante apresentaram vertiginoso processo de expansão atingindo US$ 39,83 bilhões em 2008, conquanto tenham recuado para US$ 37,64 bilhões em 2009, como decorrência da crise mundial que afetou o comércio exterior desde a segunda metade de 2008 (Figura 5 Tabela 1).
Em termos de produtos processados, os incrementos foram expressivos, uma vez que de US$ 13,77 bilhões em 1997 atingiu-se US$ 36,31 bilhões em 2008, patamar esse que recua para US$ 29,92 bilhões em 2009 (Figura 7 e Tabela 1).
Em termos percentuais, as vendas externas de produtos básicos dos agronegócios brasileiros, não apenas são muito superiores aos verificados para o caso paulista, como são crescentes indo de 44,86% em 1997 para 55,71% em 2009. Nota-se de forma nítida que nos anos recentes as exportações setoriais brasileira reforçam a condição histórica de nação primário-exportadora, ou seja, as vendas externas não consistem num processo que reforce a difusão de agroindústrias multiplicando a renda e o emprego no mercado interno (Figura 7 e Tabela 2).
Essa expressiva participação dos produtos básicos faz com que as vendas de produtos processados, cujos percentuais cresceram de 55,14% em 1997 para 60,17% em 1999, passem a constituir tendência de queda persistente, atingindo 44,29% em 2009, o que confirma o argumento de que a inserção mais recente dos agronegócios brasileiros no mercado internacional deu-se pela maior expansão das vendas de produtos básicos (Figura 8 e Tabela 2).
Isso deriva de que as exportações das demais unidades da federação concentram-se em produtos básicos as quais, após recuarem de US$ 9,90 bilhões em 1997 para 7,51 bilhões em 1999, ganham notável dinamismo para alcançarem US$ 36,22 bilhões em 2008, conquanto tenham recuado para US$ 34,04 bilhões em 2009 (Figura 9 e Tabela 1).
Já nos produtos processados, após manutenção no patamar de US$ 8,70 bilhões entre 1997 e 2001, também ocorre expansão expressiva alcançando US$ 22,93 bilhões em 2008. Em 2009 esse perfil de agregação de valor nas exportações recuou para US$ 17,54 bilhõdes (Figura 10 e Tabela 1).
Em termos proporcionais, há uma nítida prevalência dos produtos básicos nas exportações dos agronegócios das demais unidades da federação, indicador que após recuar de 53,21% em 1997 para 47,79% em 2000, cresce de forma significativa para atingir 66,00% em 2009 (Figura 11 e Tabela 2).
Com os produtos processados, após crescimento de 46,79% em 1997 para 52,21% em 2000, há o expressivo recuo para 34,00% em 2009 (Figura 12 e Tabela 2). Configura-se assim a realidade primário-exportadora verificada no conjunto das outras unidades da federação brasileira quando se exclui São Paulo.
A análise dos indicadores acima apresentados mostra algumas diferenciações estruturais relevantes no movimento das exportações brasileiras. Numa leitura nacional, nota-se não apenas uma realidade primário exportadora, como também fica patente o fato de que os anos recentes vem reforçando essa característica com percentuais cada vez maiores de produtos básicos (Tabelas 1 e 2). Esse desempenho ocorre na contramão da leitura de desenvolvimento de tradição cepalina que preceituava o aprofundamento do processo de industrialização, o que em economias continentais como a brasileira implicaria na multiplicação de agroindústrias. Um dos elementos fundamentais para estimular esse processo consiste na denominada “Lei Kandir” (Lei Complementar n° 87 de 13 de dezembro de 1996) que desonera as vendas externas de produtos básicos mas mantêm a tributação de produtos processados, num nítido tratamento de desestímulo às exportações de produtos processados.
Noutra leitura da regionalidade das exportações dos agronegócios nota-se as relevantes diferenças estruturais entre os agronegócios paulista e do conjunto das outras unidades da federação, na medida que, em São Paulo, a parcela expressiva das vendas externas correspondem a produtos processados, enquanto que nas demais unidades da federação prevalecem os produtos básicos (Tabelas 1 e 2). Noutras palavras, uma economia agroindustrial exportadora nas terras paulistas face à condição ainda primário-exportadora das demais regiões brasileiras. Nesse sentido o processo de desconcentração produtiva atingiu a moderna agropecuária mas ainda não alcançou expressão na estrutura agroindustrial de processamento. Nos anos recentes (2008-09) a crise econômica mundial, ao impactar mais duramente as economias industriais, levou à redução mais expressiva das exportações de produtos processados, com o que os efeitos sobre os agronegócios paulistas foram mais expressivos. Essa territorialidade mostra o equívoco da centralização da capacidade de realizar políticas públicas no Governo Federal, além de que coloca em discussão o sentido do fulcro da política voltada para a expansão da fronteira agropecuária, com intenso uso da guerra fiscal, apoio de políticas federais que não solucionam a realidade de endividamento crescente e que produzem o aumento da dependência externa na importação de fertilizantes. Isso sem contar que todo esse processo de estímulo às vendas externas de produtos básicos acaba por refletir-se na ocupação dos espaços de vegetação nativa nos Cerrados e mesmo na Amazônia. As obras de infra-estrutura que chancelam a expansão realizada sustentando o pretérito processo de acumulação primitiva pelos ganhos patrimoniais da abertura de novas “fazendas” acabam por dar os contornos mais dramáticos à realidade. Esses elementos devem fazer parte da agenda das políticas para um novo ciclo de desenvolvimento da agricultura brasileira. Palavras-chave: agronegócios, balança comercial, exportações, agregação de valor 03/03/2010
JOSÉ SIDNEI GONÇALVES,
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências Econômicas,
Pesquisador
Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Dados para citação bibliográfica(ABNT): GONÇALVES, J.S. São Paulo agrondustrial-exportador num Brasil primário-exportador: agregação de valor nas exportações no período 1997-2009. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_1/ExportacoesSP/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 07/03/2010 |