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Cultura do arroz: Importância econômica e principais pragas no Rio Grande do Sul 

 Rita de Cássia de Melo Machado

O arroz (Oriza sativa) é uma gramínea anual, classificada no grupo de plantas C-3, adaptada a ambientes aquáticos, esta adaptação é devido à presença de aerênquima no colmo e nas raízes das plantas, possibilitando a passagem de oxigênio do ar para a camada da rizosfera (SOSBAI, 2005). É uma importante cultura agrícola, sendo o Rio Grande do sul o maior produtor do Brasil, responsável por 58,9% da produção nacional (IBGE, 2006). Considerado o alimento básico para cerca de 2,4 bilhões de pessoas e segundo estimativas, até 2050 haverá uma demanda para atender ao dobro desta população (ALONÇO et al,2006). A maioria dos países produtores não dispõe de área agriculturável necessária para expansão da produção, portanto, a maior demanda deve ser atendida pelo aumento da produtividade (FREITAS, 2007).

O ciclo de desenvolvimento do arroz pode ser dividido em três fases: a fase de plântula que vai da semeadura até a emergência; a fase vegetativa que vai da emergência até o aparecimento do colar da última folha (folha bandeira) no colmo principal e a fase reprodutiva que vai da diferenciação da panícula até a maturação fisiológica (COUNCE apud STRECK et al., 2007). A duração de cada fase depende da cultivar utilizada, época de semeadura, região de cultivo e das condições da fertilidade do solo, a duração do ciclo varia entre 100 e 140 dias para a maioria das cultivares utilizadas (SOSBAI, 2005).

A classe Insecta é o principal grupo de herbívoros no ambiente terrestre (HARTLEY; JONES, 2005), esses artrópodes são importantes no funcionamento dos ecossistemas naturais, atuando como predadores, parasitas, fitófagos, saprófagos, polinizadores, entre outros (ROSENBERG et al., 1986; SCHOEREDER, 1997). Algumas espécies de insetos são considerados pragas das culturas agrícolas.

 Qualquer animal que de alguma maneira possa competir com o homem pelo alimento é considerado uma praga, portanto, os animais são considerados pragas quando sua densidade populacional acarreta perdas econômicas ao homem (GARCIA, 2002). Os danos causados pelos insetos são um grande problema econômico afetando todas as plantas cultivadas. Segundo Gallo et al. (2002) as perdas de produção causada por pragas para o arroz é de 28%, sendo as doenças responsáveis por 9% e as plantas daninhas responsáveis por 10% do total das perdas.

O surgimento de pragas pode decorrer principalmente da implantação da monocultura, como alternativa de exploração agrícola, que favoreceu o desequilíbrio do ambiente, propiciando a explosão populacional de pragas. Quando uma espécie fitófaga encontra as condições ideais para seu desenvolvimento, isto é, grande disponibilidade de alimento, sincronismo fenológico e ausência de inimigos naturais, esta tende a se desenvolver de maneira desordenada no ambiente, tornando-se assim uma praga. A manutenção dos inimigos naturais é de fundamental importância para o equilíbrio biológico nos agroecossistemas, e pode evitar que os insetos fitófagos alcancem níveis populacionais capazes de causar danos econômicos (BERTI FILHO; CIOCIOLA apud COSTA, 2005).

As pragas que ocorrem na cultura do arroz irrigado são classificadas de acordo com a parte da planta que atacam. Sementes e raízes são atacadas por larvas e adultos de coleópteros antes e/ou depois da inundação, colmos e folhas sofrem o ataque de insetos mastigadores, sugadores e raspadores, sendo os dois primeiros grupos mais importantes, e os grãos são atacados por um complexo de insetos sugadores que afetam diretamente a quantidade e a qualidade do produto (SOSBAI, 2005).

A cultura do arroz possui uma fauna muito diversificada, com base em diagnóstico sobre a ocorrência de pragas da cultura no Estado do Rio Grande do Sul, constatou-se que algumas espécies são freqüentemente encontradas em níveis populacionais elevados (SOSBAI, 2005). Dentre as espécies citadas estão:

Cascudo preto (Eutheola humilis): é um inseto de ocorrência cíclica, causa danos às raízes antes da inundação da lavoura. Na fase larval, alimentam-se das raízes e na fase adulta danificam a base da planta. O inseto adulto após a hibernação favorecido pelo aumento da temperatura e irrigação entra na lavoura (OLIVEIRA et al.,2007).

Pulgão da raiz (Rhopalosiphum rufiabdominal): é um inseto-praga de grande importância para a agricultura, provoca alguns danos diretos ao se alimentar e injeta toxinas e suga a seiva, causando o amarelecimento das folhas, paralisando o crescimento da planta (GALLO et al.2002). A utilização de plantas daninhas como hospedeiras alternativas durante a entressafra é um dos fatores que pode explicar o rápido crescimento populacional desse inseto, após a implantação da cultura, pois muitas vezes a praga está dentro da área cultivada (MAZIERO et al.,2007).

Pulga do arroz (Chaetocinema sp.): de ocorrência cíclica, prejudica e causa danos às plantas desde a emergência até o perfilhamento (emissão de hastes laterais), raspa as folhas reduzindo a população de plantas (SOSBAI, 2005) .

Lagarta da folha (Spodoptera frugiperda): alimentam-se das folhas e cortam os colmos (caule) novos rentes ao solo. O ataque vai desde a emergência até a inundação da lavoura, os colmos são cortados acima do nível do solo, pois as lagartas se mantêm em baixo de torrões, próximo às plantas, em conseqüência das altas temperaturas e solo seco na época de sua ocorrência. Nessa situação as lagartas abrigam-se durante o dia, atacando as plantas no crepúsculo e a noite (GRÜTZMACHER et al., 1999).

Lagarta boiadeira (Nymphula indomitalis): corta as folhas das plantas novas coincidindo com as inundações, utilizam as folhas cortadas para enrolar-se formando cartuchos que flutuam na água espalhando-se por toda a lavoura (SOSBAI, 2005) .

Bicheira da raiz (Orizophagus oryzae): é uma importante praga da cultura no RS, causando redução no rendimento dos grãos pelo ataque de larvas. Estas ao cortarem as raízes diminuem a absorção dos nutrientes (AMIBILIA; OLIVEIRA, 2006). A denominação “Bicheira da raiz” é dada devido às larvas danificarem o sistema radicular. Os adultos atacam as folhas e as larvas atacam as raízes. Segundo Carbonari et al. (2000) quanto mais tardio o ciclo da cultivar maior será a capacidade de recuperar os tecidos das raízes danificadas pela larva. Cunha et al. (2006) dizem que há ocorrência de maiores perdas de produtividade em cultivares com menor capacidade de absorção de nitrogênio infestadas de O. oryzae.

Broca do colmo (Ochetina uniformis): ocorre na fase vegetativa e perfura a base dos colmos, as larvas se alimentam no interior do colmo em formação provocando redução na população das plantas.

Percevejo do colmo (Tibraca limbativentris): este inseto ocorre em dois períodos de desenvolvimento das plantas, no primeiro após a emergência, ao atacar a bainha das folhas, causa a morte da folha central, causando o “coração morto” e no segundo após o florescimento ataca o colmo, formando a panícula branca (OLIVEIRA et al., 2005). Esta praga é de difícil controle devido à sua ampla distribuição pela lavoura, segundo Oliveira et al. (2005) no período da hibernação nos meses de abril a outubro, os adultos encontram-se abrigados nas plantas daninhas, dentro ou próximos à lavoura facilitando o controle.

Broca do colmo (Diatrea saccharalis e Rupela albinella): ocorrem na fase vegetativa e reprodutiva da planta, causa a morte da folha central e ataca o colmo após o florescimento. É comum ocorrer em arrozais próximos à lavouras cultivadas com milho e sorgo (SOSBAI,2005).

Percevejo do grão (Oebalus poecilus e Oebalus ypsilongriseus): ocorre na fase reprodutiva da plantas, possui vários hospedeiros alternativos, nos quais, durante a primavera, se alimenta, acasala e permanece até a fase de emissão de panículas nos arrozais para onde migram em enxames (FERREIRA; BARRIGOSSI, 2006).

Os estudos em biodiversidade, atualmente, têm assumido um enfoque relacionado com problemas de diminuição da diversidade biológica e, principalmente, com alterações graves em ecossistemas naturais (RODRIGUES, 2006). Para que se possam conhecer métodos de controle de pragas, é necessária a realização de estudos relacionados à biologia e ecologia dos grupos de interesse, sendo o primeiro passo a realização de levantamentos populacionais para então estudar as espécies ocorrentes em um determinado ambiente. Embora os insetos sejam considerados o maior grupo de animais sobre o planeta, perfazendo mais da metade dos organismos vivos descritos, o conhecimento sobre os mesmos ainda é muito pequeno quando comparado a outros grupos (CORSEUIL; TESTON, 2004). O conhecimento da fauna entomológica, ocorrente na cultura do arroz irrigado de uma região, é fundamental em qualquer programa de manejo de pragas que for instalado na cultura (RAMOS, 2005).

Atualmente gasta-se grandes quantias para controlar as pragas, no entanto, o uso exagerado de pesticidas pode ser perigoso para o ambiente e para a saúde humana (RUPPERT;BARNES, 1996). Segundo Menezes (2006), após a ECO-92, a humanidade tem-se mostrado preocupada com os problemas de conservação da qualidade do meio ambiente, inclusive no que diz respeito à exploração agropecuária, essa preocupação tem refletido em buscas de alternativas que garantam uma agricultura sustentável. A identificação e conhecimento de inimigos naturais abrem perspectivas para outros estudos neste sentido, que podem ser utilizados futuramente na aplicação do controle biológico, diminuindo o impacto causado pelos pesticidas lançados no ambiente. No Brasil, existem poucos estudos sobre inimigos naturais em lavoura de arroz, segundo Costa (2005), a maioria obtém a identificação até o nível de família, e poucas identificações até o nível de espécie. Sendo assim, o conhecimento da fauna entomológica nas culturas agrícolas é fundamental para o desenvolvimento de técnicas de controle mais seguras ao meio ambiente e à saúde humana.

 Referências Bibliográficas

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Rita de Cássia de Melo Machado é Bióloga, especialista em Manejo Integrado de Pragas e Doenças de Plantas, atualmente é aluna de mestrado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, programa de pós-graduação em Fitotecnia, ênfase entomologia agrícola.
Contato: machado_ritadecassia@yahoo.com.br 



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


MACHADO, R.C.M.  Cultura do arroz: Importância econômica e principais pragas no Rio Grande do Sul. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_1/arroz/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 29/03/2010