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Feijão-miúdo: planta recuperadora de solo e opção na produção de forragem de qualidade

 

Gilberto A. Peripolli Bevilaqua
Irajá Ferreira Antunes

 

O feijão-miúdo (Vigna unguiculata) responde por cerca de 20% dos feijões consumidos no Brasil, sendo uma das principais fontes de alimentação protéica nas regiões Nordeste e Norte do Brasil, assim como na África. A utilização do grão para alimentação do homem e de animais monogástricos apresenta vantagens devido à baixa ocorrência de inibidores da tripsina, inclusive inferiores ao feijão (Phaseolus vulgaris); entretanto, a utilização do grão cru na alimentação, apesar de recomendada, ainda necessita de informações mais detalhadas (KHAUTOUNIAN, 1991).

 

É uma planta da família das fabáceas, substituindo o feijão nos Estados nordestinos, sendo lá conhecida como feijão-macassar ou feijão-de-corda. Planta de excepcional importância, é igualmente cultivada e consumida em outras regiões, onde raramente é utilizada para o consumo humano na forma de grãos.

 

O hábito de crescimento e a arquitetura da planta também são bastante variáveis. No nordeste brasileiro são utilizados genótipos com hábito de crescimento determinado e do tipo arbustivo, o que propicia, inclusive, a colheita mecanizada de grãos. Já no sul do Brasil o tipo de planta mais encontrado apresenta hábito de crescimento indeterminado e do tipo prostrado, o que torna a planta mais adaptada à produção de forragem e à cobertura do solo. Existem muitas cultivares com características variáveis, especialmente quanto ao ciclo e ao tipo de grão.

 

A cultura tem crescido em importância no Rio Grande do Sul, sendo utilizada em sistemas familiares de base ecológica, visando a recuperação de solos e a alimentação de ruminantes. Na região da planície costeira, a cultura apresenta grande desenvolvimento e tem se espalhado, mais recentemente, para outras áreas, no entanto, sem informações técnicas sobre o manejo de sistemas de cultivo. A rusticidade da planta é reconhecida largamente, vegetando bem em solos de baixa fertilidade, salinos e com baixa disponibilidade de água.

 

            A planta produz grande quantidade de biomassa para cobertura de solo, além de proporcionar a fixação de até 100 kg.ha-1 de nitrogênio, substituindo a adubação nitrogenada (ARAUJO e WATT, 1991). As folhas e ramos da planta apresentam boa palatabilidade e digestibilidade, quando em fase inicial de desenvolvimento, sendo uma das principais forrageiras de verão recomendadas para a região Sul do Brasil.

 

 

Manejo da cultura

 

            A época de semeadura estende-se de outubro a janeiro, de acordo com a finalidade da área e o sistema de cultivo utilizado. A semeadura pode ser feita em linha utilizando 40 kg.ha-1 de sementes; a lanço (60 kg.ha-1) ou em covas (50 kg.ha-1), através dos seguintes equipamentos, respectivamente: plantadeira, com 50cm de espaçamento entre linhas; esparramador de calcário mais rolo compactador ou grade; ou semeadura manual. A semeadura ainda pode ser feita em lavouras consorciadas, com milho e milheto, mas o sombreamento causado por outras plantas pode afetar negativamente a produtividade de grãos.

 

O início do pastoreio deve ser entre 30 e 40 dias após a emergência, quando a planta atingir 30 a 35 cm de altura, observando o perfeito enraizamento, para evitar o arranquio da mesma durante o pastejo. A cultura proporciona dois a três pastejos por safra, a uma altura de 8cm do solo, o que objetiva favorecer o rebrote. As áreas cujas plantas apresentam-se bem desenvolvidas podem ser pastejadas e ainda proceder-se à colheita das sementes. No caso de lavouras para produção de sementes recomenda-se redução na intensidade do pastejo, no sentido de obter sementes de maior peso e vigor.

 

            O rendimento de massa verde observado em plantio solteiro, em Pelotas, RS, foi de 22,5 t.ha-1, enquanto o de massa seca foi 6 t.ha-1 (BEVILAQUA et al., 2007). Isto coloca o potencial da espécie como planta forrageira a ser utilizado na região de clima temperado, cobrindo o período do outono, geralmente uma época em que ocorre deficiência na produção de forragem. A folha de feijão-miúdo apresenta teores de proteína total e nutrientes digestivos totais de 17,6% e 60,4%, respectivamente, bastante aproximados de espécies leguminosas de inverno, o que demonstra a excelente qualidade da planta como forrageira.

 

O feijão-miúdo apresenta valores de proteína total no grão bastante superiores ao milho, respectivamente 23,7 e 10,5%, quando cultivados no mesmo sistema de produção. Estes valores estão de acordo com KHAUTOUNIAN (1991), que observou teores de proteína total no grão de 24,1%. Os valores de fibra em detergente neutro e ácido, na folha do feijão-miúdo, alcançaram 47,4 e 39,2 %, respectivamente, valores superiores àqueles observados em leguminosas de inverno, nas quais os valores são, em média, de 30% (BEVILAQUA et al., 2007).

 

A época de colheita das sementes depende da época de semeadura, estendendo-se até maio, pela coleta das vagens que apresentam coloração marrom clara. A colheita das vagens é feita manualmente e de forma escalonada, e inicia-se aos 80 dias após a emergência. No entanto, as primeiras vagens maduras surgem dos 65 aos 70 dias, dependendo do ciclo da cultivar. Normalmente, podem ser feitas de duas a quatro coletas de vagens. O rendimento de sementes observado é de, aproximadamente, 1.000 kg.ha-1. Entretanto, o rendimento pode alcançar até 2.500 kg.ha-1, quando são realizadas quatro coletas de vagens (ARAÚJO; WATT, 1991).

 

Com base nestas informações, o feijão-miúdo pode ser considerado uma das principais espécies de múltiplo propósito para a agricultura familiar. A planta produz alta quantidade de massa seca, bem como a qualidade da forragem, principalmente quanto ao teor de proteína e digestibilidade, é considerada adequada. Por sua alta tolerância a solos de baixa fertilidade, ventos fortes e a deficiência hídrica é considerada uma das principais plantas recuperadoras de solos, especialmente os genótipos provenientes da planície costeira. Além disso, pode ser utilizada para produção de forragem, e, o grão, na alimentação humana e animal.

 

 

Referências bibliográficas

 

ARAÚJO, J.P.P.; WATT, E.E. O caupí no Brasil. Brasília: IITA/EMBRAPA, 1988. 722p.
 

BEVILAQUA, G.A.P. et al. Manejo de sistemas de produção de sementes e forragem de feijão-miúdo para a agricultura familiar. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. 40p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 204).
 

KHAUTOUNIAN, C.A. Sementes de adubos verdes como alimento para o homem, suínos e aves. Londrina: IAPAR, 1991. 44p. (IAPAR. Circular, 69).

 


Gilberto A. Peripolli Bevilaqua e Irajá Ferreira Antunes são Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, BR 392, km 78, CxP 403, Pelotas, RS, CEP 96001970,  email: bevilaq@cpact.embrapa.br e iraja@cpact.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BEVILAQUA, G.A.P.; ANTUNES, I.F.  Feijão-miúdo: planta recuperadora de solo e opção na produção de forragem de qualidade. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_4/FeijaoMiudo/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 18/11/2009

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