Floração do abacaxizeiro no Extremo Sul da
Bahia em função do tamanho da muda e da época de plantio
Arlene Maria Gomes Oliveira1;
Domingo Haroldo Reinhardt2;
Jackson Lopes de Oliveira3;
Karina Christo4
A floração é um processo integrado, de
natureza complexa. Em decorrência de sua grande importância para as
plantas e a produção agrícola, muitos trabalhos têm sido
desenvolvidos em todo o mundo sobre o assunto. Neste contexto,
destaca-se o abacaxizeiro como a primeira planta a ter o
florescimento induzido artificialmente. A indução floral tornou-se
uma prática cultural de grande importância no cultivo desta
fruteira.
O abacaxizeiro, ao
alcançar um nível crítico de desenvolvimento vegetativo, que pode
corresponder a diversos tamanhos da planta influenciados pelas
condições ambientais, tende a iniciar a floração quando os dias se
tornam mais curtos. No entanto, a sua diferenciação floral natural é
favorecida também por temperatura e insolação baixas e por condições
extremas de umidade (seca ou umidade excessiva) (Cunha, 1999).
Devido a estas características, uma das principais limitações para a
abacaxicultura na região Extremo Sul da Bahia é a ocorrência de
diferenciações florais naturais do abacaxizeiro em junho/julho, que
resulta na concentração da colheita dos frutos do início até meados
de dezembro, época de grande oferta e, consequentemente, de preços
baixos.
A melhoria dos
preços se inicia a partir do final de dezembro, com o início da
temporada de férias na região, quando também cai a produção oriunda
das florações naturais. Combinações de época de plantio e de tamanho
de mudas são usadas para tentar evitar a concentração da safra e
conseguir deslocar a produção para épocas de preços mais altos.
Oliveira et al. (2003 e 2004), a partir de observações relacionadas
às épocas de plantio e à indução do florescimento em unidades
experimentais do Extremo Sul da Bahia, recomendaram para a região o
plantio no período de março a maio, efetuando-se a indução floral em
torno de 10 meses após o plantio, o que determina a realização da
colheita entre julho e outubro do ano subseqüente. O deslocamento da
produção de abacaxi para o período de entressafra com maiores
demandas e preços dos frutos (janeiro a março) na região Extremo Sul
da Bahia é um anseio dos produtores da região. Nesse sentido, têm
sido desenvolvidos pelos pesquisadores da Embrapa estudos de manejo
cultural, testando-se a antecipação do plantio e o uso de mudas de
diferentes tamanhos, como forma de deslocar a época de colheita.
Para tanto,
foram realizados plantios em janeiro de 2006, no município de Santa
Cruz Cabrália, Bahia, com a cultivar ‘Pérola’, plantada no
espaçamento de fileiras duplas 0,90 m x 0,40 m x 0,40 m. A amostra
de solo da área apresentou as seguintes características químicas na
camada de 0-20 cm de profundidade: pH (H2O) 5,9; P (mg/dm3)
0,0; K (cmolc/dm3) 0,04; Ca (cmolc/dm3)
2,1; Mg (cmolc/dm3) 0,4; Al(cmolc/dm3)
0,1; Na (cmolc/dm3) 0,03; H+Al (cmolc/dm3)
2,42; V(%) 51 e MO (g/kg) 14,15. Na cova foi aplicado 0,5 L de
esterco de curral e 13 g de superfosfato simples. Em cobertura,
foram adicionados por planta 42 g de sulfato de amônio e 22 g de
cloreto de potássio, parcelados em quatro aplicações. Foram
estudados dois tamanhos de mudas 1) grandes (> 40 a 50 cm) e 2)
pequenas (30 a 40 cm). Após o plantio, foram realizadas inspeções na
área para erradicação de plantas com sintomas de fusariose (resinose,
gomose), principal doença do abacaxizeiro no Brasil. Observou-se a
incidência do florescimento natural mediante contagem de plantas com
flores, nos meses de agosto e setembro de 2006. Foram avaliados o
peso, comprimento e largura da folha ‘D’ do abacaxizeiro, que é a
folha mais longa e fisiologicamente mais ativa, aos oito meses após
plantio, e o número e peso dos frutos colhidos de dezembro de 2006 a
junho de 2007. Nos meses de junho, julho e agosto, período de dias
mais curtos do ano, foram observadas as menores temperaturas do ano
(19,2; 17,4; 18,9 oC, respectivamente), apontando-se dias
com temperaturas mínimas de até 11,5 oC, condições
favoráveis ao florescimento natural. Porém, o ano de 2006 apresentou
uma boa distribuição de chuvas, com um total acima de 1.800 mm. Nos
primeiros três meses de plantio foram observadas precipitações
mensais de 101, 28 e 185 mm nos meses de janeiro, fevereiro e março
de 2006, favorecendo um bom desenvolvimento das plantas.
Aos oito meses
após plantio observaram-se taxas médias iguais de erradicação de
plantas devido à incidência da fusariose, tanto para mudas grandes
como pequenas (19,3%), demonstrando que o tamanho da muda não afetou
a incidência da doença. As perdas relativamente elevadas confirmam
que a fusariose é um dos principais fatores limitantes para o
desenvolvimento da abacaxicultura na região do Extremo Sul da Bahia.
Aos oito meses de idade, o crescimento das plantas, avaliado com
base no peso e dimensões da folha ‘D’, não diferiu entre os
tratamentos. Os valores médios gerais foram peso fresco de 56 g,
largura mediana de 6 cm e comprimento de 80 cm, os quais foram
inferiores aos recomendados por Reinhardt et al. (2001) como
críticos para a realização da indução floral visando à obtenção de
frutos com tamanho adequado para a comercialização.
A percentagem de
plantas com inflorescência aos oito e nove meses de idade, bem como
a percentagem de frutos colhidos, diferiram em função do tamanho da
muda. As mudas maiores apresentaram os maiores percentuais de
florescimento e, consequentemente, de frutos colhidos. Nas parcelas
plantadas com mudas grandes, foram colhidos 61% dos frutos nas
plantas sadias, enquanto nas mudas pequenas, este valor foi de 42%.
Em plantio realizado no mês de outubro na área do assentamento
Coqueiro Alto, em Porto Seguro-BA, observaram-se altas taxas de
florescimentos naturais em setembro do ano seguinte, mostrando que a
maturidade das mesmas é fator preponderante na diferenciação floral
a partir do estabelecimento das condições ambientais locais
favoráveis.
Houve diferença
significativa na percentagem de frutos colhidos ao longo dos meses.
No caso de uso de mudas maiores (40 a 50 cm), a colheita dos frutos
se concentrou no período de dezembro do mesmo ano de plantio a
fevereiro do ano seguinte (11 a 13 meses após o plantio) e continuou
até junho (17 meses após o plantio), enquanto que no caso de mudas
menores (30 a 40 cm) a colheita se estendeu de janeiro a junho do
ano seguinte ao plantio (12 a 17 meses após o plantio), com picos
em fevereiro e abril. De janeiro a março foram colhidos cerca de 65%
e 50% do total dos frutos colhidos, respectivamente com o uso de
mudas grandes e pequenas. Em termos médios, o maior percentual de
frutos foi colhido no mês de fevereiro 2007, portanto aos 13 meses
após o plantio (38%).
As percentagens totais de frutos
colhidos até 17 meses (junho de 2007) após o plantio em resposta às
florações naturais indicam que 39% e 58% das plantas oriundas de
mudas grandes e pequenas, respectivamente, não deram frutos no
período estudado, exigindo a realização da indução floral
artificial. Esta deveria ser realizada nos meses de setembro ou
outubro nas plantas sem diferenciação floral natural, permitindo que
a colheita dos frutos se realize ainda no período de preços mais
favoráveis (até março) e que a floração das plantas ocorra em
período pouco favorável à incidência da fusariose nos frutos
(novembro/dezembro) devido à umidade menor e temperatura mais alta.
O peso médio dos frutos foi maior para
mudas pequenas (1,259 kg) do que para mudas grandes (1,177 kg),
diferença estatisticamente não significativa. Plantas provenientes
de mudas pequenas apresentaram diferenciação floral mais tardia e,
portanto, período de crescimento vegetativo mais longo, o que pode
ter determinado maior acúmulo de fotossintatos favorecendo a
formação de frutos um pouco maiores. O peso médio geral dos frutos
colhidos foi de 1,218 kg, classificado por Souza (2003) como do Tipo
2 (1,201 kg a 1,500 kg). Apesar do peso médio do fruto um pouco
inferior obtido para plantas oriundas de mudas grandes, estas
determinaram a obtenção de produtividade média superior (21,3 t/ha),
sobretudo devido a maior percentagem de plantas com frutos colhidos
(61%) no período de colheita estudado (até junho). Para mudas
pequenas a produtividade média foi de 16,1 t/ha com 42% de plantas
com frutos colhidos no período. No cálculo da produtividade foram
consideradas as perdas de plantas constatadas até o final do período
experimental, que foram de 23% e 21%, respectivamente para mudas
grandes e mudas pequenas, tendo a fusariose como causa
preponderante.
Analisando esses resultados,
conclui-se que nas condições ambientais do município de Santa Cruz
Cabrália, localizado no Extremo Sul do Estado da Bahia, é possível
colher abacaxi da cv. Pérola no período de entressafra com maiores
preços mediante plantio no mês de janeiro do ano anterior, em
condições de boa pluviosidade nos meses iniciais de plantio. Isto
resulta na incidência de florações naturais a partir de julho do
mesmo ano e colheita dos frutos durante o primeiro semestre do ano
seguinte. O uso de mudas maiores resulta em produtividade maior,
embora o ciclo relativamente curto determine a redução do peso médio
dos frutos colhidos, cuja maioria se enquadra nos limites inferior
do tipo II (1,2 a 1,5 kg) e superior do tipo I (0,9 a 1,2 kg) das
normas brasileiras de classificação de abacaxi.
Referências
CUNHA, G.A.P. da.
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CABRAL, J.R.S.; SOUZA, L.F. da S.; COUTINHO, S. da C. Adubação e
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Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2003, CD-ROM.
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D.H.; SOUZA, L.F. da S.; CABRAL, J.R.S. Abacaxi irrigado em
condições semi-áridas. 1ª Edição. Cruz das Almas: Embrapa
Mandioca e Fruticultura, 2001, p. 60-63.
SOUZA, L.F. da.
Abacaxi: tamanho é documento? Revista Cultivar HF,
outubro/novembro, 2003, p.18-19.
1MSc,
Eng. Agr., Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Caixa Postal
83, 45810-970, Porto Seguro, BA,
arlene@cnpmf.embrapa.br;
2PhD, Eng. Agr., Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical, Caixa Postal 007, 44380-000, Cruz das Almas, BA,
dharoldo@cnpmf.embrapa.br;
3BSc, Administrador, Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, Caixa Postal 202,
45810-970, Porto Seguro-BA,
jackson@cenargen.embrapa.br;
4Engenheira
Agrônoma, Secretaria de Agricultura, 45807-000, Santa Cruz
Cabrália,BA,
karinachristo@hotmail.com.
Reprodução autorizada desde
que citado a autoria e a fonte
Dados para citação
bibliográfica(ABNT):
OLIVEIRA, A.M.G.; REINHARDT, D.H.; OLIVEIRA, J.L. de;
CHRISTO, K.
Floração do abacaxizeiro no Extremo Sul da Bahia
em função do tamanho da muda e da época de plantio.
2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/abacaxi/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos
em 21/07/2009
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