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Importância e perdas provocadas pelos nematóides das lesões (Pratylenchus spp.) em cafeeiros

 

Roberto Kazuhiro Kubo

Cláudio Marcelo Gonçalves de Oliveira

Mário Massayuki Inomoto

 

Os nematóides fitoparasitos são limitantes ao cultivo do cafeeiro, principalmente em solos arenosos, com baixa fertilidade e deficiência hídrica. Inúmeros fitonematóides estão associados à cultura do café, com destaque para os nematóides das galhas e os das lesões. Enquanto a ocorrência e patogenicidade dos nematóides das galhas radiculares (Meloidogyne spp.) são bem caracterizadas em cafeeiros no Brasil, as observações de campo e os trabalhos de pesquisa relacionados à distribuição geográfica e à patogenicidade dos nematóides das lesões radiculares (Pratylenchus spp.) ainda são  escassos. No entanto, nos últimos 10 anos, pesquisas realizadas por equipe interinstitucional, envolvendo pesquisadores dos Laboratórios de Nematologia do Instituto Biológico e da ESALQ, e financiadas pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), têm obtido resultados que comprovam a importância econômica dos nematóides das lesões em cafeeiro.

 

Distribuição dos nematóides das lesões Pratylenchus spp. em cafezais do Estado de São Paulo

 

Por meio da coleta de amostras de solo e raízes em cafezais do Estado de São Paulo, demonstrou-se a importância e a distribuição geográfica dos nematóides das lesões em cafezais paulistas. A espécie de Pratylenchus mais frequente foi P. brachyurus, mas geralmente em baixas densidades populacionais. Danos foram observados em cafezais jovens implantados sobre pastagens, ou nas quais gramíneas eram utilizadas como cobertura vegetal. O nematóide das lesões do cafeeiro, P. coffeae, ocorreu geralmente em altas densidades, causando danos mais pronunciados que a primeira espécie. Outra espécie, P. vulnus, foi encontrada somente em uma localidade, tratando-se do primeiro relato dessa espécie em cafeeiro no mundo (Figs. 1 e 2).

 

 

 

Patogenicidade de Pratylenchus coffeae em cafeeiros

 

Pratylenchus coffeae é conhecido como nematóide das lesões do cafeeiro, por sua frequente ocorrência em cultivos de café e pelas elevadas perdas causadas à cultura. P. coffeae foi referida como causadora de danos ao cafeeiro em diversos países produtores de café, como Indonésia, Costa Rica, Guatemala, República Dominicana, El Salvador, Porto Rico e Índia. No Brasil, foi relatado como parasita de cafeeiro em apenas duas localidades: Marília, SP, e Barra da Guabiraba, PE (Fig. 3).

 

 

Estudos desenvolvidos pela equipe do Instituto Biológico em parceria com a ESALQ comprovaram a existência de diferenças na patogenicidade de dois isolados de P. coffeae do Brasil sobre plântulas de cafeeiro (C. arabica) cv. Mundo Novo. Ambos os isolados reduziram a fotossíntese, mas o isolado de Marília (hospedeiro: cafeeiro) causou intenso escurecimento das raízes, clorose foliar e menor tamanho das raízes e parte aérea (Fig. 4). Além disso, avaliou-se o efeito de densidades populacionais iniciais (Pi = 0, 333, 1000, 3000 e 9000 nematóides por planta) desse isolado de P. coffeae proveniente de Marília. As maiores densidades populacionais iniciais desses nematóides provocaram a morte das plântulas. Verificou-se acentuado efeito de P. coffeae sobre a fotossíntese a partir da Pi = 1000 e sobre o crescimento do cafeeiro a partir da menor densidade populacional (Pi = 333) (Fig. 5).

 

 

 

Estudou-se também o efeito de diferentes níveis de infestação do isolado de Marília de Pratylenchus coffeae (0, 1000 e 8000 nematóides por planta) na fixação de CO₂ e na partição de fotoassimilados em plântulas de cafeeiro C. arabica ‘Catuaí Vermelho’. As plântulas foram expostas ao ¹⁴CO₂ e a distribuição e a incorporação de radioatividade foram avaliadas nas raízes, caules e folhas. Foram determinadas nessas partes da planta a massa fresca, pigmentos, açúcares solúveis, sucrose e radioatividade específica de sucrose. Nos níveis mais altos de infestação todos os parâmetros avaliados foram significativamente afetados, mostrando que houve decréscimo na fixação de carbono nas folhas e na partição de fotoassimilados nas raízes.

 

Por meio de dois experimentos realizados no intuito de comparar a virulência de P. coffeae a C. arabica em relação à Meloidogyne incognita raça 2, observou-se que ambos os nematóides causaram redução do tamanho das raízes e da parte aérea do cafeeiro nos dois experimentos (Fig. 6)e concluiu-se que P. coffeae é tão virulento a Coffea arabica quanto M. incognita, devendo merecer atenções equivalentes em relação a medidas preventivas (uso de mudas sadias, para evitar introdução e disseminação dos nematóides de áreas contaminadas para áreas indenes).

 

 

Patogenicidade de P.brachyurus em cafeeiros

 

Experimentos conduzidos em casa-de-vegetação demonstraram que a infestação de P. brachyurus em plântulas de cafeeiro cvs. Mundo Novo e Catuaí resultam em baixo crescimento das plantas, apesar de P. brachyurus apresentar fator de reprodução muito reduzido.Comportamento semelhante foi verificado em cultivares de C. canephora, como cv. Apoatã.

 

Atualmente, o projeto em andamento, financiado pelo CBP&D/Café, tem como objetivos avaliar o desenvolvimento das plantas de café em áreas infestadas por P. brachyurus, bem como o efeito da consorciação de cobertura vegetal suscetível (braquiária) e resistente (adubos verdes) na densidade populacional dos nematóides. Este experimento simula condições de campo e terá duração de 5 anos. Concomitantemente, estão sendo desenvolvidos estudos de hospedabilidade e patogenicidade de P. zeae e Rotylenchulus reniformis em diferentes genótipos de cafeeiros, financiados pelo referido consórcio. Ambas as espécies de nematóides, P. zeae e R. reniformis, causam sérios danos em várias culturas de importância econômica e são comumente encontradas em amostras coletadas em cafeeiros, mas não se sabe se são capazes de causar danos em plantas de café.

 

Bibliografia consultada

 

Inomoto, M.M.; Beluti, D.B.; Siqueira, K.M.S.; Kubo, R.K.   Efeito de Pratylenchus coffeae e Meloidogyne incognita no crescimento de cafeeiro ‘Catuaí Vermelho” Nematologia Brasileira, v.28, n.2, p143-147, 2004.

Inomoto, M. M.; Kubo, R.K.; Silva, R.A.; Oliveira, C.M.G.; Tomazini, M.D.; Mazzafera, P. Pathogenicity of two Pratylenchus coffeae populations from Brazil on coffee plants. Nematology, v.9, n.6, p.853-858, 2007.

Inomoto, M. M.; Oliveira, C.M.G.; Mazzafera, P.; Gonçalves, W. Effects of Pratylenchus brachyurus and P. coffeae on seedlings of Coffea arabica. Journal of. Nematology, v.30, p.362-367, 1998.

Kubo, R.K.; Silva, R.A.; Tomazini, M.D.; Oliveira, C.M.G.; Mazzafera, P.: Inomoto, M.M. Patogenicidade de Pratylenchus coffeae em plântulas de cafeeiro cv. Mundo novo. Fitopatologia Brasileira, v.28, p.41-48, 2003.

Mazzafera, P.; Kubo, R.K.; Inomoto, M.M. Carbon fixation and partitioning in coffee seedlings infested with Pratylenchus coffeae . European Journal of Plant Pathology, v.110, n.8, p. 861-865, 2004.

Oliveira, C.M.G.; Inomoto, M.M.; Vieira, A.M. C.; Monteiro, A.R. Efeito de densidades populacionais de Pratylenchus brachyurus no crescimento de plântulas de Coffeae arabica cv. Mundo Novo e C. canephora cv. Apoatã. Nematropica, v.29, p.215-221, 1999.