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Marta Helena Vechiato Christiane Ceriani AparecidoCelso Dornelas Fernandes
1- Introdução
No início da década de 70
ocorreram as primeiras tentativas para produção local de sementes de
forrageiras em decorrência dos preços elevados das sementes
importadas da Austrália que predominavam o mercado de brasileiro.
Com o sucesso dessas tentativas, rapidamente o País se tornou
auto-suficiente, principalmente na produção de sementes de B.
decumbens.
Com a expansão das
pastagens cultivadas e intensificação da atividade pecuária nos
últimos anos, várias doenças de forrageiras começaram a ter
importância significativa, especialmente nas regiões Centro-Oeste e
Norte do Brasil, causando perdas em produtividade e qualidade das
pastagens. Informações referentes aos agentes causais dessas doenças
nas pastagens e nos campos de produção de sementes, bem como a
influência dos mesmos na capacidade de suporte e produtividade das
mesmas são escassas (VERZIGNASSI, et.al. 2003) Entre as doenças consideradas mais
importantes pode-se citar a mela-das-sementes da braquiária, causada
pelo fungo Claviceps sulcata (forma teleomórfica de
Sphacelia sp.). O Brasil é, sem dúvida, o maior produtor e
exportador de sementes de braquiária no mundo tropical, portanto,
uma doença como a mela causa grande preocupação ao pujante e
dinâmico setor de sementes forrageiras, que movimenta mais de um
milhão de dólares anuais (VERZIGNASSI & FERNANDES , 2001).
De acordo com dados de
2004, a quantidade de sementes de forrageiras tropicais
comercializada anualmente no Brasil está ao redor de 100.000
toneladas, com um valor bruto estimado em US $ 100 milhões,
qualificando o País como o maior produtor de sementes de forrageiras
tropicais do mundo. Da mesma forma, é também o maior exportador de
sementes de forrageiras tropicais, com um volume aproximado de 5 mil
toneladas de sementes exportadas anualmente, principalmente para
suprir os mercados da América do Sul e Central (MATÉRIA TÉCNICA,
2004). A exportação atinge mais de 20 países e
movimenta anualmente mais de 250 milhões de dólares, gerando cerca
de 50 mil empregos no país, uma vez que 95% da produção é exportada
e, destas sementes Brachiaria brizantha cv. Marandu
representa aproximadamente 38%, B. decumbens 26%, B.
brizantha cv. MG-5 Vitória 15%, Panicum maximum cv.
Tanzânia 4%, P. maximum cv. Mombaça 4%, B. brizantha
cv. MG-4 2% e 8% de outras cultivares. Em relação ao mercado
interno, a comercialização de B. brizantha cv. Marandu
representa aproximadamente 60%, P. maximum cv Tanzânia e cv
Mombaça entre 20 a 30%, B. decumbens cv Basilisk, B.
humidicola e B. dictyoneura de 10 a 20% (TSUHAKO, 2008).
Apesar de relevante, a sustentabilidade do
sistema de produção de sementes dessas gramíneas encontra-se
ameaçada pela incidência de patógenos, os quais podem reduzir a
produtividade e/ou qualidade do produto. Tal problema já tem sido
constatado em campos de produção, principalmente em regiões onde se
constata a ocorrência da doença denominada mela-das-sementes, cujo
primeiro relato em sementes de Brachiaria sp. ocorreu no
estado do Mato Grosso do Sul (FERNANDES et al., 1992). Em campos com
elevada intensidade de mela podem ocorrer reduções expressivas de
produtividade e qualidade das sementes de Brachiaria sp.
(FERNANDES et. al., 1995). Diante dos riscos que a mela representa para a produção de sementes de Brachiaria spp. este trabalho teve como objetivo verificar a ocorrência do fungo do gênero Claviceps em lotes comercializados de janeiro de 2007 a março 2009.
2. Material e Métodos.
Amostras de sementes de Brachiaria, enviadas para análise no Laboratório de Patologia de Sementes do Instituto Biológico (Tabela 1), foram avaliadas para sanidade utilizando-se o método da inspeção direta das sementes secas (NEEGAARD, 1979; LUCCA FILHO, 1987) para verificar a presença de Claviceps. Este método consiste na observação, à olho nu ou sob microscópio esteroscópico (lupa), com amostragem recomendada de 12 a 18g de sementes, verificando-se a presença de esclerócios ou de sementes agrupadas, caracterizando sintoma/sinal de “mela” (Figura 1). Neste caso, retira-se o material por meio da raspagem das sementes e, com auxílio de microscópio ótico, confirma-se a presença de Sphacelia, forma imperfeita ou anamórfica de Claviceps, observando-se as características dos conídios.
Tabela 1 – Número de amostras de sementes de Brachiaria recebidas e analisadas pelo método da inspeção direta da semente seca, de janeiro de 2008 a março de 2009.
3. Resultados e Discussão
Os resultados expressos na Figura 2, obtidos pelo método da inspeção direta das sementes secas, mostram que das 97 amostras de Brachiaria brizantha cv Marandú analisadas a freqüência de Claviceps sp., bem como de seu anamorfo Sphacelia sp. foi de 13,40% e 25,77%, respectivamente. As cultivares Llanero e Humidicola pertencentes à espécie B. decumbens, apresentaram respectivamente 15,38% e 20% de amostras com Sphacelia sp. Com relação aos escleródios de Claviceps, essas estruturas estavam presentes, apenas, na cv. Llanero, em 7,69% das amostras analisadas.
Vale a pena ressaltar que,
embora tenham sido analisadas apenas quatro amostras de B.
brizantha cv. MG-5, detectou-se a presença tanto de escleródios
de Claviceps sp. como de conídios de Sphacelia sp., em
3 amostras, resultando em uma elevada freqüência (75%). Para
B. brizantha cv. Piatã, em quatro amostras analisadas,
observou-se que 50% amostras apresentaram sintomas/sinais de mela, o
que caracterizou a presença de Sphacelia sp. De modo geral, a Figura 2 registra a
presença de, pelo menos, a fase anamórfica (Sphacelia) do
agente causal da mela-das-sementes de
braquiária em todas as cultivares de B. brizantha, B.
decumbens e B. humidicola analisadas. Conseqüentemente,
em determinado momento do ciclo vital do fungo os escleródios irão
se formar, caracterizando a presença da fase teleomórfica
Claviceps, disseminando a doença a curta e longa distância.
Diante deste fato, havendo comercialização, as pastagens formadas a
partir lotes de sementes infectadas podem ser prejudicadas, além de
causar problemas aos animais que delas se alimentam, isto
porque espécies de Claviceps podem produzir alcalóides,
substâncias que ficam armazenadas nos
escleródios, os quais são consumidos pelos animais juntamente com a
alimentação normal. Considerando que o Brasil é o maior
produtor e exportador de gramíneas forrageiras do mundo a
comercialização dos lotes poderá ser prejudicada, principalmente no
que diz respeito ao mercado externo, pois existem restrições para a
presença de Claviceps em inúmeros Países importadores. Além
disso, a presença da mela em campos de produção de sementes
dificulta colheita refletindo na produtividade. Reduções expressivas de produtividade e qualidade das sementes de Brachiaria sp. têm sido observadas em campos com intensiva infecção da doença (FERNANDES et. al., 1995). É importante lembrar que o plantio de sementes livres de patógenos é considerado um dos métodos mais eficientes no controle de doenças. Para isso, as medidas para reduzir ou eliminar os patógenos iniciam-se no campo de produção de sementes com manejo adequado, estendendo-se até o seu beneficiamento e armazenamento.
O uso de sementes de má qualidade é causa freqüente de fracasso na formação de áreas de pastagens. A qualidade de um lote de sementes é o conjunto de atributos que determina seu valor para semeadura. De um modo geral, a semente é um insumo básico de grande valor e só a sua avaliação correta permite o uso adequado, o qual determina o aumento da produtividade e o sucesso da produção agrícola.
Diante desses resultados pode-se observar a deficiência na produção e comercialização de sementes de braquiária de boa qualidade sanitária, o que certamente acarretará prejuízos não somente ao que se refere à produtividade da cultura, mas também ao não cumprimento das exigências do mercado externo no que se refere às barreiras fitossanitárias impostas às exportações brasileiras. É importante salientar que a avaliação da sanidade destas sementes é exigida apenas quando a produção é destinada à exportação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNANDES, C. D.; FERNANDES, A.T.F; BEZERRA, J.L. “Mela”: uma nova doença e, sementes de Brachiaria spp. no Brasil. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.20, n.3, p.501-503, 1995.
LUCCA FILHO, O. A. Metodologia dos testes de sanidade de sementes. In: SOAVE,J.; WETZEL, M.M.V.S. Patologia de Sementes. Campinas:Fundação Cargill, 1987.cap.10, p.276- 298.
NEERGAARD, P. Seed pathology. London: Mac Millan Press, 1977. 2v. 1191p.
TSUHAKO. T. A. Exportação de sementes de forrageiras tropicais. Disponível em: http:// www.matsuda.com.br/administracao/arquivo/Sementes. Acesso em 25.jun.2008.
VERZIGNASSI, J.R.; SOUZA, F.H.D. DE; FERNANDES, C.D.; CARVALHO, J.; BARBOSA, M.P.F.; BARBOSA, O.S.; VIDA, J.B. Estratégias de controle da mela em área de produção de sementes de Brachiaria brizantha cv. Marandu. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.29, n.1, p.66-66, 2003. (Resumo).
Marta Helena Vechiato
- "Possui mestrado em Fitopatologia pela Faculdade de
Ciências Agronômicas - Unesp (1996) e doutorado em Agronomia
(Proteção de Plantas) pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (2002). Atualmente é pesquisador
científico do Instituto Biológico. Tem experiência na área
de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia, atuando
principalmente nos seguintes temas: sementes, fungos,
patologia de sementes, métodos de detecção, PCR e controle
químico".
Christiane Ceriani Aparecido - "Possui graduação em Biologia Bacharelado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998), mestrado em Agronomia (Proteção de Plantas) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2001) e doutorado em Agronomia (Proteção de Plantas) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005). Atualmente é pesquisadora científica do Instituto Biológico. Tem experiência na área de Microbiologia, com ênfase em Micologia, atuando principalmente nos seguintes temas: fungos fitopatogênicos, uredinales, biologia, etiologia e preservação de culturas fúngicas."
Celso Dornelas Fernandes - Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2 - "Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (1985), mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade Federal de Viçosa (1988) e doutorado em Agronomia /Área de Concentração em Proteção de Plantas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003). É pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa desde 1989 e professor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal-UNIDERP desde 1992. As principais linhas de pesquisa que atua são: Doenças de plantas forrageiras; Melhoramento de plantas forrageiras visando resistência a doenças; Patologia de sementes de forrageiras tropicais e; Manejo integrado de doenças de plantas. Obteve resultados de pesquisa que contribuíram para o lançamento comercial das cultivares Xaraés e Piatã, de Brachiaria brizantha; de Tanzânia, Mombaça e Massai, de Panicum maximum; do Estilosantes Mineirão e Estilosantes Campo Grande (principal responsável), de Stylosanthes spp. Na Uniderp, é professor de Fitopatologia I no curso de Agronomia e é professor credenciado pela CAPES para Programa de Mestrado em Produção e Gestão Agroindustrial. Na Universisdade Estadual de Mato Grosso do Sul é professor credenciado pela CAPES para Programa de Mestrado em Agronomia. É consultor "ad hoc" das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa dos Estados de MT e MS e do CNPq. Também, é revisor de artigos das revistas Summa Phytopathologica, Pasturas Tropicales e Tropical Pant Pathology. Já recebeu vários prêmios, sendo o último da Embrapa, na Categoria tecnologia desenvolvida, o Estilosantes Campo Grande.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): VECHIATO, M.H.; APARECIDO, C.C.; FERNANDES, C.D. Ocorrência de Claviceps em amostras comerciais de sementes de Brachiaria analisadas de Janeiro de 2008 a Março de 2009. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_2/claviceps/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 01/06/2009 |