Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Aspectos da resistência do tomateiro aos nematóides de galha por Carlos Eduardo Rossi É comum passar, pelas mãos dos horticultores, latas de sementes de tomate com rótulos descrevendo as características dos cultivares ou híbridos, inclusive a reação às doenças. Para alguns, encontra-se a sigla “N”. Vamos falar um pouco sobre o que isso significa, de onde surgiu e qual a importância. Nematóides são pequenos animais do solo capazes de entrar nas raízes e se alimentar das células da planta. Os mais importantes para a horticultura são os nematóides de galha do gênero Meloidogyne. Algumas plantas possuem um sistema de defesa que impede o desenvolvimento do parasito e esse fenômeno se chama resistência. Portanto, o “N” das latas de sementes significa que aquele híbrido ou cultivar tem resistência aos nematóides de galha. Pode-se explicar a resistência comparando-a com a gripe, uma doença de inverno. Nessa época do ano é possível observarmos pessoas gripadas e outras não, mesmo convivendo juntas. Essas últimas apresentam uma reação natural de resistência, no caso, ao vírus da gripe. Com as plantas acontece exatamente a mesma coisa. Algumas espécies ou cultivares possuem essa característica, cujo processo é ativado quando o nematóide entra e se instala dentro das raízes para parasitá-las. Reconhecia-se essa capacidade de resistir ao ataque dos nematóides de galha desde o início do século 20. Trabalhos de melhoramento de fumo, publicados num boletim do Departamento de Agricultura dos EUA em 1907, incluíam avaliações para resistência aos nematóides de galha. No caso do tomateiro, descobriu-se, em 1940, que uma espécie silvestre dessa hortaliça, encontrada no Peru, era resistente, porém, infelizmente, não se cruzava com o tomateiro tradicional usado na horticultura. Em 1944, Paul G. Smith, da Universidade da Califórnia, conseguiu desenvolver um híbrido, a partir do cultivo de embriões, proveniente do cruzamento destas duas espécies e obter uma única planta fértil. Foi a partir dela, posteriormente cruzada com outros tomateiros com características agronômicas desejáveis, que surgiram as centenas de cultivares e híbridos de tomate resistentes aos nematóides de galha espalhados pelo mundo. É difícil estimar os prejuízos causados exclusivamente pelos nematóides. Muitos fatores desfavoráveis, como doenças, deficiências nutricionais etc, influenciam concomitantemente qualquer lavoura. Mas quem cultiva tomate conhece a importância desses habitantes do solo. Eles podem deformar o sistema radicular, como mostrado na Figura 1, interferindo na fisiologia de absorção e translocação de água e nutrientes da planta. Conseqüentemente, ela murcha e desenvolve sintomas relacionados às deficiências nutricionais. Ocorre diminuição de produção e o tomateiro pode até morrer. Mais um fator negativo é que esses nematóides atacam quase todas as plantas cultivadas e, dessa forma, torna-se difícil recomendar outras culturas não hospedeiras e, ao mesmo tempo, de importância econômica para o horticultor substituir a tomaticultura. Daí a importância singular dessa estratégia, a resistência genética: não necessita gastos extras com insumos para controle dos nematóides, vem incorporada na semente, e permite ao tomaticultor explorar essa cultura em áreas infestadas por nematóides de galha.
Mas nem tudo é perfeito! Pesquisas em laboratório demonstraram que a resistência do tomateiro não é eficaz em temperaturas acima de 28-30º C e também não tem efeito para duas outras espécies de nematóides de galha importantes na horticultura: M. hapla e M. mayaguensis. Na prática, os híbridos têm evitado o crescimento das populações dos nematóides de galha no campo e em cultivo protegido. Mas o cultivo consecutivo de tomateiros resistentes, numa mesma área, propicia a seleção de subpopulações do nematóide capazes de sobrepor à resistência da planta, o que pode inviabilizar o seu cultivo no futuro. Recomenda-se rotacionar as hortaliças com a rúcula, por exemplo, para evitar a seleção dos nematóides. No Laboratório de Nematologia, do Centro Experimental Central do Instituto Biológico, realizou-se um teste para validar a resistência de alguns híbridos e cultivares de tomate ao nematóide M. javanica, cujos resultados são mostrados na Tabela 1. A cultivar ‘Nemadoro’ e os híbridos ‘RPT1570’, ‘Vitória’, ‘RPT1095’, ‘Salvador’ e ‘Santiago’ mostraram-se resistentes e ‘Simeone’, ‘Rocio’, ‘Fortaleza’ e ‘Diva’ moderadamente resistentes. Empresas interessadas em testar a reação de seus materiais aos nematóides de galha podem contatar o autor deste texto.
Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br
Carlos Eduardo Rossi possui
graduação em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Agronomia e
Zootecnica Manoel Carlos Gonçalves (1987), mestrado em Entomologia
pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Entomologia
pela Universidade de São Paulo (2002). Atualmente é pesquisador
científico do Instituto Biológico - Centro Experimental Central. Tem
experiência na área de Agronomia, com ênfase em Nematologia, atuando
principalmente nos seguintes temas: controle alternativo de
nematóides e nematologia em sistemas de cultivo orgânico.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): ROSSI, C.E. Aspectos da resistência do tomateiro aos nematóides de galha . 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/Tomateiro/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 16/02/2009 |