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RECICLAGEM AGRÍCOLA DE LODO DE ESGOTO NA FORMA LÍQUIDA: UMA BOA ALTERNATIVA PARA A INDÚSTRIA

 

Ronaldo Severiano Berton
Luiz Carlos Ceolato

 

Já existe uma nova alternativa para o destino final do lodo de esgoto (LE) gerado pelo tratamento de águas provenientes de restaurantes e banheiros de indústrias. De acordo as leis ambientais vigentes, é possível aplicar esse resíduo em áreas agrícolas próximas à indústria. Normalmente, o lodo de esgoto do tratamento de águas que não receberam contribuição da parte industrial da empresa tem sido enviado para aterros sanitários como destino final. Além de contribuir para diminuir a vida útil do aterro, essa prática tem sido cada vez mais desencorajada pelos sistemas de gestão ambiental das empresas, que recomendam reciclar ao máximo os resíduos gerados.

 

No caso do lodo de esgoto de natureza estritamente urbana, ou seja, sem a contribuição significativa de metais pesados e de compostos orgânicos persistentes, o seu conteúdo de matéria orgânica é facilmente degradável em nutrientes para as plantas, o que lhe confere uma forte vocação agrícola. O LE gerado em estações de tratamento de esgoto (ETEs) municipais geralmente passa por um processo de desaguamento, com a finalidade de economizar os gastos com transporte e com o que seria aterrado.

 

Entretanto, para ETEs de pequeno porte, construídas dentro de indústrias, a quantidade de lodo gerado é pequena, e seu desaguamento pode ser dispensado, caso haja uma área agrícola dentro da indústria ou nas cercanias que esteja apta para receber esse resíduo. O emprego do lodo líquido na agricultura proporciona diversas vantagens ao gerador, como economia de mão-de-obra, em eletricidade, na aquisição de equipamento para concentração de sólidos no lodo e nos custos para disposição em aterro.

 

Os requisitos básicos para a implementação de um projeto de aplicação de lodo na forma líquida abrangem um estudo agrícola que deve ser encaminhado para aprovação do órgão ambiental do Estado. Esse documento deve contemplar todas as exigências previstas na norma técnica Cetesb P.4230/99 e na resolução Conama nº 375/2006. Algumas das obrigações são: as quantidades a serem aplicadas devem estar de acordo com as necessidades da cultura explorada e apresentar teores baixos de patógenos, metais pesados e de compostos orgânicos persistentes.

 

Lodos de natureza domiciliar geralmente não apresentam problemas para os dois últimos itens, mas, no caso dos patógenos, pode haver a necessidade de um processo de higienização com cal hidratada, a fim de elevar o pH do lodo para acima de 12.
 

 

A experiência da Motorola

 

Localizada em Jaguariúna, SP, a Motorola conta com uma ETE para tratar esgoto doméstico em sistema de lodo ativado por bateladas e um digestor aeróbio de lodo com tempo de retenção de 120 dias. Antes de ser aplicado, o lodo digerido é tratado com a adição de solução de cal hidratada diluída em concentração de 40% (m/m), que eleva o pH para acima de 12. A empresa conta com uma área cultivada com capim braquiária de 3,6 hectares em  solo de textura média.

 

O lodo de esgoto tem sido aplicado na forma líquida, com o auxílio de um tanque com capacidade de 10 mil litros, do tipo chorumeira, acoplado a um trator. A parte aérea (folhas) é cortada a cada três meses, logo após cada aplicação de lodo, e retirada do local. As quantidades aplicadas de LE são de modo a não ultrapassar 40 kg por hectare de nitrogênio disponível por ano, conforme recomendação do Boletim 100 do Instituto Agronômico. Na semana anterior a cada aplicação de lodo, amostras compostas do solo e também da parte aérea do capim são retiradas do local e enviadas para análise laboratorial.

 

Após cinco anos de aplicação, os resultados têm mostrado que a adição de lodo melhorou a fertilidade do solo e está atuando como fonte de nitrogênio, potássio, fósforo, cálcio, magnésio e zinco para as plantas. Também não se constatou alteração nas concentrações dos metais pesados cádmio, níquel, chumbo e crômio, tanto no solo quanto na parte aérea do vegetal. Assim, pode-se concluir que a aplicação do lodo na forma líquida está ocorrendo de uma maneira ambientalmente segura e viável para a companhia.

 

Origem: Instituto Agronômico - IAC - www.iac.sp.gov.br


Ronaldo Severiano Berton é pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
Contato: berton@iac.sp.gov.br

Luiz Carlos Ceolato é engenheiro ambiental da Motorola



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BERTON, R.S.; CEOLATO, L.C.  Reciclagem agrícola de lodo de esgoto na forma líquida: uma boa alternativa para a indústria. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/Lodo/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 13/03/2009

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