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PORQUE PREOCUPAR-SE COM A BRUCELOSE
BOVINA? Karina Neoob de Carvalho Castro* Andrea Maria de Araújo Gabriel**
Quem nunca
apreciou aquele leite cremoso tirado logo cedo, no curral,
diretamente da vaca? E uma deliciosa fatia de queijo fresco
artesanal? Irresistível, não? Porém, nosso paladar poderá nos
envolver, atraindo-nos a um caminho perigoso: a brucelose. Compondo o grupo das
zoonoses, doenças transmitidas dos animais ao homem, a brucelose é
causada por uma bactéria, que pode alojar-se dentro das
células de defesa, o que dificulta seu controle. Devido à
inespecificidade de sintomas, torna-se difícil o diagnóstico no
homem, sendo conhecida como “Doença das mil faces”. Na fase inicial,
o indivíduo enfermo pode apresentar sintomas como fraqueza,
mal-estar, dores musculares e articulares, cefaléia e febre
intermitente. O quadro pode evoluir e, geralmente, o tratamento é
prolongado. O consumidor pode
contrair a brucelose, através da ingestão de leite cru e derivados,
preparados com leite que não foi submetido à tratamento térmico,
onde a bactéria pode persistir durante vários meses. Em diversas
regiões do Brasil é comum as pessoas consumirem produtos de origem
animal, que não sofreram inspeção pelos órgãos e profissionais
competentes.
O comércio clandestino destes produtos constitui
ameaça à saúde pública.
Vale ressaltar que
a brucelose humana é de caráter principalmente ocupacional, ou seja,
o grupo de maior risco é composto pelas pessoas que lidam
diretamente com os animais infectados, como veterinários, criadores
e tratadores, e ainda os que trabalham com produtos de origem
animal. Portanto, a manipulação de leite e derivados ou carne
contaminada, também pode levar à transmissão da doença ao homem.
A
brucelose não é transmitida habitualmente de um ser humano a outro
e, portanto, a profilaxia no homem deve ser feita pelo controle da
doença nos animais. Uma das principais medidas de controle é a
vacinação, obrigatória em todas as fêmeas bovinas e bubalinas de 3 a
8 meses de idade, sendo utilizada a vacina B19. Sem o certificado de
vacinação, as fêmeas não podem participar de leilões e demais
eventos. Outra importante forma
de controle da brucelose bovina é a eliminação dos animais reagentes
positivos aos testes sorológicos. Estes exames diagnósticos devem
ser realizados por médico veterinário habilitado, sempre que forem
adquiridas fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses, vacinadas
entre três e oito meses de idade, e em fêmeas não vacinadas e machos
com idade igual ou superior a oito meses. Muitas vezes, a introdução
da brucelose no rebanho faz-se a partir da compra de bovinos
aparentemente sãos que, no entanto, estão infectados pela bactéria
Brucella abortus. A emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA)
fica condicionada à apresentação de atestados de exames negativos
para brucelose. A brucelose bovina
encontra-se disseminada por todo o território nacional, sendo uma
das principais causas de aborto em vacas. Animais sexualmente
maduros, especialmente vacas prenhes, são mais suscetíveis à
infecção, porém touros também adquirem a doença, podendo desenvolver
inflamação dos testículos. Quanto aos bezerros, aqueles que não
adquirem a doença via intra-uterina, ao ingerir leite de vacas
brucélicas, poderão infectar-se. Estes animais só manifestarão
sintomas de brucelose na fase da maturidade sexual, parecendo, até
então, animais saudáveis, porém tornar-se-ão fontes de infecção para
o rebanho.
A infecção por B.
abortus em bovinos ocorre principalmente pela ingestão de
alimentos e água contaminados com produtos de aborto, como fetos,
descargas uterinas e restos placentários. Nas vacas brucélicas a
primeira, e muitas vezes, a segunda gestação terminam em aborto,
sendo eliminadas as bactérias junto à placenta, contaminando os
pastos e consequentemente, os animais do rebanho. As gestações
seguintes normalmente ocorrem sem grandes problemas, aparentando que
o animal está curado ou, ainda, que ocorreu apenas algum problema de
menor importância na prenhez anterior. Porém, apesar de não
apresentar sinais clínicos, estas vacas continuam eliminando
bactérias e contaminando o ambiente.
A
brucelose bovina tem importância sócio-econômica e de saúde pública
para o Brasil, podendo determinar consequências significativas para
o comércio internacional de animais e seus produtos. Somente em
2004, no Brasil, foram diagnosticados 81.298 casos. Estima-se que
esta enfermidade leve a redução de 20 a 25 % na produção leiteira,
devido aos abortos, mortalidade de bezerros e demais problemas de
fertilidade, determinando assim, importantes prejuízos econômicos à
pecuária nacional. O leite é um dos alimentos mais completos, devendo ter garantia de qualidade para segurança do consumidor. Uma das medidas mais importantes para assegurar a qualidade dos produtos de origem animal é a educação sanitária, pois visa a conscientização dos diversos profissionais envolvidos neste setor, bem como da população consumidora.
* Karina Neoob de Carvalho Castro é Pesquisadora da Embrapa da Agropecuária Oeste (Dourados, MS) Contato: karina@cpao.embrapa.br
**Andrea Maria de Araújo Gabriel é médica veterinária, doutora em Reprodução Animal, professora da Universidade Federal da Grande Dourados
Dados para citação bibliográfica(ABNT): CASTRO, K.N.C.; GABRIEL, A.M.A. Porque preocupar-se com a brucelose bovina?. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/Brucelose/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 19/02/2009 |